Os Desqualificados escrita por S Q


Capítulo 6
Uma Grande Surpresa




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Sempre com seu fã-clube a postos, Graziele chegou à Asa-Norte para mais um show. Obviamente Jaques estava no meio da multidão na grade, e berrava enlouquecidamente:

— EU JÁ BEIJEI ESSA MULHER!

Um segurança pessoal foi correndo para onde ele estava, querendo saber que balbúrdia era aquela que estava acontecendo ali. Reconheceu o jovem imediatamente.

— Hey, você é aquele rapaz da firma advocatícia da patroa! Você não precisa ficar aqui! Vem comigo!

O restante do público, ao seu redor, foi à loucura. Uns aplaudiam, outros berravam que isso era uma injustiça, um verdadeiro caos, como acontece na maioria das multidões. O segurança precisou trabalhar duro para não deixar que Jaques acabasse saindo machucado dali. 

Enquanto isso, dentro do camarim de Graziele, uma equipe de maquiadores trabalhava para deixar seu rosto totalmente dentro dos padrões de beleza mais relevantes no momento e esconder cada mínima imperfeição. Alguns cabeleireiros escovavam e retocavam seu cabelo pela 67454786688 vez antes de fazerem o penteado do show. Manicures colavam unhas de acrigel, e os figurinos sensuais caríssimos que usaria durante a apresentação, já estavam separados. A cantora, por sua vez, permanecia confortavelmente deitada, com fones de ouvido, ouvindo podcast, para não ser incomodada por seus funcionários.

De repente, levou uma cutucada que lhe fez olhar para seus subalternos. Ficou profundamente irritada.

— Eu espero que vocês tenham um motivo realmente sério para estarem me chamando. - falou, lançando seu pior olhar de desdém.

— Er, perdão, esse seu conhecido estava no tumulto da grade, achei que seria apropriado trazer ele para a área vip.

Jaques deu  um aceno bobo, sorrindo encantado. Graziele o olhou de cima abaixo com desprezo.

— O que esse nerd está fazendo no meu camarim?

Rapidamente o rapaz se adiantou:

— Desculpe, eu não queria incomodar. Talvez… eu possa ser útil! Sei um pouquinho de música. - terminou rindo sem graça. Não pensou que fosse colar, mas Graziele ficou mais pensativa. A verdade era que ela precisava de alguém para ajudar com a eletroacústica, principalmente porque usaria playback no show. A verdade é que não precisa muito de conhecimento musical para fazer isso, mas ela achava que sim. Jaques, como nunca foi incentivado a seguir seus estudos em música, acreditava que Graziele saberia mais do que ele, então, embora tenha achado a ideia de passar o som, bastante estranha, acabou aceitando o serviço, feliz por poder ajudar a artista. 

Assim, o mesmo segurança o encaminhou para a ala onde estavam os outros técnicos de som. Não preciso dizer o quanto ele ficou deslocado. Sua presença ali era inútil. Mas o advogado ficou deslumbrado de simplesmente poder assistir ao backstage de um show, tantas pessoas juntas trabalhando pela música e pela arte. (Ainda que as condições de trabalho oferecidas por Graziele não fossem exatamente as melhores, mas Jaques não sabia disso também).

O show durou até de madrugada, e até desmontarem tudo, a cantora só saiu de lá de manhã. Jaques tentou ficar até o último minuto, sempre catando algum fio que faltava soltar ou algum cabo que tinha ficado largado. Mas o objetivo final disso era conseguir mais tempo naquela atmosfera de palco e perto da cantora. Quando ela estava saindo, ele ainda teve a cara de pau de perguntar se queria uma carona. Graziele riu na cara dele, sem nem disfarçar. 

—  Tá tudo bem com você? Sério. Porque eu tenho uma limusine, e qualquer fã meu sabe disso. 

Porém, inesperadamente, ele acabou mandando:

— Então você pode me dar carona?

Graziele nem se deu ao trabalho de responder. Só gritou:

— Seguranças!

— Espera, não precisa fazer isso.

— E por que eu não faria?

— Primeiro, porque eu sou um dos seus advogados. Eu sei processar as pessoas por danos morais e você também depende da minha defesa.- Jaques falou, recuperando minimamente a sua moral. - Segundo porque… eu percebi que você talvez esteja precisando, quem sabe, de alguém para te ajudar a… não sei, fazer canções tão boas quanto as suas mas que bem, funcionem no seu tom. Eu sou compositor!- ele acrescentou depressa- pelo menos nas horas vagas...

Graziele ficou lhe encarando por uns instantes que pareceram uma eternidade, até falar secamente:

— Entra no carro.

Conforme Jaques foi se acomodando na luxuosa limusine, surpreso por realmente ter sido chamado, junto da equipe de seguranças. Depois de um tempo mexendo no celular, Graziele acabou falando com ele de novo:

— Eu preciso mesmo de ajuda com teoria musical. A verdade é que eu não sei nada sobre isso… Mas não conte para ninguém ou eu te escalpelo vivo! - disse, fazendo subitamente uma cara de psicopata que Jaques até deu um pulo no banco.

— Nossa, não precisa de toda essa agressividade, bebê. Só de você me deixar estar perto de novo dessa boca, com um beijo que eu não consigo esquecer… ah, só isso é o suficiente para que eu faça qualquer coisa por você. - O Vieira nem ligava para o fato de Graziele estar agindo como se isso nunca tivesse acontecido e só ter lhe tratado mal a noite inteira. Seu fanatismo era maior que seu amor-próprio. O homem era tão fissurado pela famosa que tinha até tatuado “Grazi” na parte interior do braço. Não que nesse momento ela soubesse disso.

— Acho bom.- foi a única coisa que Graziele respondeu. Depois, colocou seus fones de ouvido e procurou no Spotify a playlist “Pop Brasil” onde suas músicas tinham mais destaque. Apesar do fã-clube e da boa repercussão, nenhuma de suas canções tinha chegado ao Top nacional até agora. Tentou disfarçar a frustração olhando a rota pela janela, que Jaques nem fazia a mínima ideia de para onde ia. Ele também não se importava, apesar do forte sono que sentia. 

No caminho, o veículo parou em um sinal, onde foi abordado por uma moradora de rua pedindo esmola. Quase imediatamente Graziele disse:

— Motorista, não ouse abrir o vidro. Finge que ela não está aí que já vai embora. Esse povo, tem que tratar assim.

Assim, que o semáforo ficou verde, a limusine arrancou, quase derrubando a indigente no chão. Pouco mais a frente, passaram por uma lanchonete com um cheiro de comida muito forte. Graziele exclamou:

— Nossa, que fome! Não jantei e nem tomei café da manhã ainda… Motorista, para aqui por favor?!

A cantora prendeu o cabelo em um coque, colocou óculos escuros e saltou, acompanhada de um segurança, e Jaques, que também estava morto de fome. O plano  era comer algo lá rápido e não ser reconhecida. Mas  não contava com a surpresa ao chegar no balcão e ser atendida por Milena...


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