Os Desqualificados escrita por S Q


Capítulo 27
Crise Interna




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—  VÊM AÍ, AS MAIORES BANDAS DE ROCK DO PAÍS ATUALMENTE: OS DESQUALIFICADOS E POLO 91! 

Os três irmãos entraram sorridentes, cumprimentando o público, enquanto somente Ana e Patrick os acompanhavam. Milena se preparava para ficar atrás do telão, onde apareceria somente sua silhueta, como de costume. Os três membros da DESQ estavam tensos pelo sumiço de Ricardo, mas tinham o compromisso para cumprir. 

 Mal se posicionaram no palco, a guitarra de Nícolas começou a entoar os primeiros acordes, antes que Ana conseguisse acompanhar. Assim que a voz de Milena entrou na música, todo o público que estava presente no auditório começou a aplaudir, sem perceber que a guitarrista da DESQ estava sobrando ali. E a audiência só foi aumentando conforme Kevin e Patrick entravam na música:

 

 Vamos lá, agora me digam

O que é que há?

Estão todos notando vocês

 

De sua mansão, Graziele assistia à apresentação, surpresa. Ela abriu rapidamente o celular checando a última mensagem:

 

 “Feito chefia, capturamos”.

 

A herdeira dos Barbosa tinha subornado alguns de seus seguranças para que sequestrassem os integrantes da banda, dando a seguinte ordem: que pegassem quem saísse do camarim  deles, assim que se afastassem da portaria, para que ninguém notasse o sequestro. Porém, com certeza alguma coisa tinha dado errado.

Graziele tentou ligar para esses comparsas, mas só caía na caixa postal. Começou a ficar nervosa, e caminhar de um lado para o outro de sua mansão. Tinha adiado uma gravação só para acompanhar o sequestro, não podia ter colocado a carreira abalada de lado por algo que não desse certo. Olhou para o teto alto da casa e gritou para as paredes:

—  Não posso perder dinheiro. Não posso perder minha fama! Não quero aquela vida mequetrefe que essa Milena, cagona filha d’uma égua levava! — Mas ninguém respondeu ao seu desespero, somente os instrumentos e a voz de Milena no vídeo de sua TV. 

Era a primeira vez em anos que Graziele via uma quantia modesta ser adicionada à sua fortuna no final de mês. Nada que não desse para sobreviver e com muito conforto, obrigada, mas para a herdeira dos latifundiários isso era o mesmo que estar na ruína, principalmente quando via alguém que já tinha subjugado tanto chegar perto de sua condição social; na cabeça da Barbosa, pobre é um tipo de gente que não tem classe suficiente para ser rica. Eles não tem dinheiro porque não merecem. Pelo menos, era assim que a cantora pensava. Essa era, inclusive, uma das razões para nunca ter ido atrás de sua mãe. Ela realmente acreditava que se a mulher era pobre e ficou na rua da amargura, sem conseguir lhe sustentar era porque não prestava. Graziele cresceu ouvindo os tios falarem assim quando perguntava pela mãe biológica, e pouco se esforçou para mudar de pensamento ao longo da vida. 

Enquanto bufava de raiva e se perguntava o que podia estar acontecendo, outra pessoa fazia o mesmo, mas por motivos diferentes: Ricardo. O baterista estava amarrado no porta-malas de um sedan, sem ideia do que podia fazer. Porém, por outro lado, estava também com uma espécie de alívio por ter saído sozinho, sem Patrick, nem Ana e Milena. “Não é que a empáfia dos engomadinhos serviu de alguma coisa? Se fosse um show normal, e a gente tivesse saído em grupo, podia ter sido sequestrada a banda inteira”. Claro, ele ainda não sabia dos objetivos por trás do que estava acontecendo, mas conseguia imaginar que a fama da banda tivesse atraído os bandidos. 

 No banco da frente, os seguranças comprados por Graziele reclamavam de não ter nem  um carregador de celular no carro. Para melhorar, começou a cair uma baita tempestade, obrigando eles a dirigir mais devagar. 

 Enquanto isso, a música das duas bandas se encerrava com uma ótima repercussão, e o público presente aplaudindo de pé, apesar do entrosamento péssimo entre as bandas. O apresentador os elogiava longamente enquanto os membros davam somente uns sorrisos forçados. Magno, enquanto isso, que assistia e recebia a gravação da apresentação dos agentes da Polo 91 em seu escritório, liberou a canção no Spotify, dando início a mais uma larga contagem de números de reproduções. Nas redes, já havia quem achasse que a voz da Ghost combinava bem demais com os efeitos do guitarrista da Polo 91 e perceberam que ele sorria mais quando ela cantava, então até se perguntavam se eles não estariam vivendo um romance. A repercussão foi extremamente ótima e estava óbvio que vinha mais hit por aí. Porém, nos camarins, voltando da apresentação, os irmãos da Polo 91 só deram um aceno de cabeça na direção da DESQ e se encaminhavam para ir embora. Porém, não antes do guitarrista Nícolas dar uma corridinha em direção à Milena e falar:

—  Quanto à sua identidade, fica tranquila. Eu não vou deixar meus irmãos te atrapalharem.

—  Claro, né? —  falou Ana, irritadiça, por trás —  vocês não vão querer correr o risco de atrapalhar o próprio trabalho. 

Nícolas passou a mão pelos cabelos, meio sem-graça.

—  Bom, é claro que revelarem a identidade da Milena não seria benéfico para a repercussão da música que fizemos juntos, mas… eu tentaria te ajudar mesmo assim —  falou para a morena numa tentativa frustrada de mandar uma cantada. E antes que ela respondesse qualquer coisa, deu-lhe um beijo no canto dos lábios e foi embora assim, sem mais nem menos.

A vocalista ficou parada em choque, enquanto a prima bufou, foi terminar de guardar as peças de sua bateria e saiu dando passadas firmes para ver se achava o namorado por perto. Um telefonema que tirou a vocalista do torpor: Marizete, que estava assistindo ao show pela TV da ONG.

—  Sua voz parece que melhora a cada dia. —  disse a senhora. Só nesse momento a cantora percebeu como estava tensa até então, pois dera um suspiro de alívio. 

—  Nossa, você não sabe o perrengue que foi aqui nos bastidores. Aliás, ainda está sendo… O Ricardo, nosso guitarrista, sumiu!

Então Milena explicou sobre as brigas entre as duas bandas e contou que ele tinha saído com raiva e não tinha voltado até agora, perdendo a apresentação e tudo. Depois de ouvir tudo, Marizete deu um gritinho de alegria, bem diferente do que Milena esperava:

—  Poxa! Mas então o baixista Patrício é ainda mais incrível do que eu imaginava! Nem senti falta do outro! — falou na cara dura.

— Ahn, o nome dele é Patrick,  — nisso, o rapaz, que guardava seu instrumento e o de Ricardo, tristemente, preocupado com o outro, ergueu a cabeça ao ouvir o próprio nome  —  e na verdade foi o guitarrista da outra banda que cobriu o Ricardo. Mas ele vai gostar de saber do elogio. E fica tranquila, assim que souber de algo eu dou notícias. Tchau.

Milena, então se virou para falar com Patrick, mas ele cabisbaixo, deu um sorriso triste e disse:

—  Não precisa falar mais nada, eu ouvi tudo. E vi também.

Milena torceu as sobrancelhas

—  O que quer dizer?

—  Ahn, nada não… só… quanto cara gosta de você não é mesmo? Primeiro o Ricardo dividido, agora, esse beijo do Nícolas, desejo… felicidades pra você e o Nícolas. — ele disse, com uma rouquidão atípica na voz. Então sacudiu a cabeça. — Bom, vamos nos concentrar em achar o nosso baterista, não é mesmo? —  tentou completar fingindo que estava tudo bem, porém, atropelando as palavras. Milena arregalava os olhos e ria de nervoso enquanto ele falava.

—  Não tem nada entre eu e o Nícolas! Ele nem deu um beijo direito…

—  Mas você não afastou  — Patrick falou, com um ar dolorido, porém ainda assim compreensivo. 

—  Eu… entrei em choque. E que história é essa do Ricardo dividido? — Milena dando um sorriso no meio de uma careta, como se fosse uma afirmação absurda. Nisso, Ana que entrava de volta no camarim, replicou:

— É, que história é essa? 

Patrick sacudiu a cabeça, enquanto os três caminhavam pra fora:

—  Vocês não notaram mesmo?


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