Kim Taehyung não era alguém triste, só.... não era feliz e há muito tempo isso não era mais um problema. Obviamente tinha momentos em que ria da barriga doer, que os olhos molhavam de tanta risada. Ele tinha sim momentos alegres e divertidos, mas isso não mudava o fato dele não ser, essencialmente, feliz.

"Sentimentos ruins são nosso maior sinalizador de algo que precisa ser reajustado! São nosso principal caminho para a evolução"

"É normal se sentir triste, uma vida só com dias felizes não nos permitiria aproveita-los"

O rapaz já havia escutado todas as variações de frases como essas. Sua mãe, seus amigos, suas 5 terapeutas, todos tratavam como se aquele devesse ser o objetivo máximo da vida do Kim. Mas depois de tanto tratamento e esforço ele optou pelo mais simples: aceitar. Depois disso, seguir seu caminho foi muito mais fácil e tirou toda culpa de seus ombros.

Estava tudo bem não olhar a vida pelo prisma colorido que é esperado. Estava tudo bem não ter grandes aspirações, seu emprego na corretora do bairro e o pequeno apartamento, que ainda pagava as prestações, o ofereciam uma boa vida. Talvez não feliz, mas boa.

Seus dias passavam sem grandes surpresas, tomava café com as torradas encharcadas na mesma geleia de maçã, pegava a mesma linha de metrô, ao chegar no escritório abria o mesmo notebook e definia sua semana, de acordo com os agendamentos de vistas. Apesar de cada semana encontrar novas pessoas para mostrar os apartamentos ou casas, elas, no fundo, eram todas iguais.

Taehyung via os mesmos sorrisos entusiasmados nos diferentes recém casados que buscavam a primeira casa, as mesmas sobrancelhas franzidas nos variados estudantes preocupados com o preço do aluguel, as mesmas feições cansadas de pessoas já na meia idade, que procuravam em um novo lar, forças para recomeçar.

Ao final de cada dia, fazia o mesmo percurso de volta para casa. Sua rotina era basicamente a mesma da manhã, porém no modo inverso. Tomava banho, jantava e finalmente se ajeitava entre os travesseiros. As vezes lia, assistia algo na televisão ou falava com Jimin pelo telefone, mas ele andava tão ocupado com o último casamento que estava organizando, que evitava perturba-lo. Aparentemente, uma noiva grávida não conseguia manter a decisão de nada por mais de dois dias.

Taehyung assoprou uma risada só de lembrar o jeito desesperado que encontrou o amigo, na última vez que estiveram juntos, quando o corretor fez uma visitação próximo ao trabalho do loiro. Enquanto se esparramava no lençol recém lavado, esticando as costas que doíam, não reparou no celular acendendo, indicando uma nova ligação.

Quando bocejou e alcançou o aparelho, mal teve tempo de abaixar a aba de notificações para descobrir quem havia ligado, pois um número desconhecido efetuava outra chamada. Um sulco se formou entre suas sobrancelhas ao conferir o horário e perceber que sim, já passava das 22h. 

— Alô? -vencido pela inquietação, o moreno atendeu ao telefonema, ouvindo uma barulhada danada do outro lado.

— Alô! Oi, boa noite! Eu preciso muito ver um apartamento, mas teria que ter dois quartos. E se tiver uma varanda seria melhor aind-AH, no centro. Ser no centro seria essencial. Só que talvez sejam muito caros, não é? Bom, eu...

Taehyung realmente se esforçou para acompanhar, mas o homem do outro lado da linha falava muito rápido e apesar do tom alto, os barulhos ambientes deixavam tudo uma grande bagunça. Seu cérebro juntou apenas as informações principais: era alguém buscando um imóvel. Será que ele sabia o que significava horário comercial?

— Desculpe, mas a corretora só abre novamente amanhã, às 8h.

— Oh, desculpe! Eu só-TAEEE, O HOBI PRECISA DE AJUDA -antes que o homem pudesse terminar, Taehyung ouve a voz alta de Jimin, o interrompendo.

— Jimin? Huh, o que está havendo? -por um momento, só se ouviu algumas palavras emboladas e barulho na chamada, até que o amigo o respondesse, com seu tom melodioso.

— Tae! O Hobi trabalha comigo, é aquele que está me ajudando com os preparativos do casamento da grávida.

— Ahn, sim, você comentou. Ele precisa de um imóvel, então? Pode ir até a imobiliária amanhã.

— Ta bem, a gente veio tomar uma cerveja depois de ter cancelado as orquídeas da decoração, merecemos depois de lidar com a cara feia do fornecedor -ao fundo uma risada alta pôde ser ouvida, logo sendo acompanhada pela de Jimin- Ai o Hoseok disse que precisava se mudar, eu lembrei de você, óbvio, mas não era pra ele te ligar agora. Ele é doido. Você não quer vir pra cá?

Taehyung sorriu pelo jeito engraçado do amigo falar, provavelmente não havia sido uma cerveja apenas. Olhou o relógio analógico na parede do quarto e franziu o nariz de leve.

— Quem sabe em uma próxima? Preciso acordar cedo amanhã para ajudar seu amigo desabrigado.

— Okay, Tae, vou salvar seu número aqui no telefone dele. A gente se fala amanhã -o loiro disse prolongando a última palavra.

— Certo, boa noite, Chim.

Depois de desligar a chamada, rapidamente salvou o número do rapaz em sua lista de contatos e largou o telefone na cabeceira. Jimin era mesmo uma figura, eles tinham uma amizade de longa data, se conheciam desde o colegial. Ter o Park em sua vida era lidar com coisas aleatórias desse tipo. Com um longo bocejo, Taehyung se acomodou no travesseiro e não demorou a pegar no sono.

Quando amanheceu, repetiu mais uma vez a mesma rotina diária. Mas algo muito fora do comum a interrompeu em sua totalidade: cabelos vermelhos, não ruivos alaranjados, mas realmente vermelhos. Do tipo que refletia o fraco Sol que os envolvia, fazendo Taehyung, ainda um pouco sonolento, fechar um pouco os olhos pelo reflexo.