—Eu não sei quanto tempo você pretende se esconder dessa forma. —Sussurrei para Scorpius que virou de costas no momento em que ele percebeu que Rose estava passando próximo de onde estávamos na biblioteca. —Já se passaram praticamente três semanas desde que você deu um soco naquele babaca da Lufa-Lufa.  

—Eu consideraria que o mais correto seria você ser cavalheiro o suficiente para ir conversar com ela. —Zabini comentou, tentando segurar o riso enquanto Scorpius voltava a se sentar no local na nossa frente.  

—O que eu vou dizer necessariamente? “Oi Rose, eu estava bêbado dançando com a sua amiga, ouvi você reclamar de algo e simplesmente virei e dei um soco no cara. Ah, e só pra constar, eu nem lembro desses detalhes, me contaram.” —Eu e o Zabini começamos a rir na mesma hora deixando o loiro com raiva.  

—Não esqueça de comentar que você desmaiou logo em seguida! —Zabini retrucou e Scorpius atirou um pergaminho nele que foi facilmente desviado.  

—Sabe o que foi isso, Al? Aquela sua amiguinha colocando coisa na minha cabeça. Falando: “É só dá um passo, blá blá” E o que ela sabe? Devia nem lembrar também do próprio nome! —O loiro empurrou os pergaminhos e as penas que estavam na frente dele, irritado.  

—Pobre, Malfoy. Tão facilmente influenciado, nem parece que realmente queria fazer isso. —Ironizei. Scorpius bufou com raiva, mas seus ombros abaixaram com um sinal de derrota. 

—Pensa pelo lado positivo, Malfoy, você vai poder se exibir na sexta já que é o jogo da Sonserina. —Zabini tentou animá-lo. —Pena que é contra a Lufa-Lufa... 

—Quero fingir está doente. Não tenho um bom pressentimento sobre esse jogo.  

(...) 

—E Malfoy marca de novo pela Sonserina! 80 a 60 pra Sonserina até então. Parece que o Capitão da Lufa-Lufa está prestes a estourar de tão vermelho que se encontra.  

—Viu, Malfoy! Tudo dando certo como deveria. —Comentei parabenizando meu amigo enquanto observava o campo ao redor atrás do pomo de ouro.  

—Presta atenção na sua parte, Al. —O loiro resmungou saindo de perto de mim para iniciar outra jogada.  

O tempo estava apenas nublado, um bom tempo até. Todas as Casas estavam presentes e o jogo era comentado por alguém da Corvinal que eu não reconhecia. Eu me encontrava um pouco afastado de todo mundo esperando o momento em que eu poderia de fato jogar já que feliz ou infelizmente havia herdado a habilidade do meu pai de ser um ótimo apanhador.  

E lá estava ele... Uma pequena bolinha dourada no lado oposto do campo em que eu me encontrava. Imediatamente voei naquela direção percebendo que a apanhadora da Lufa-Lufa ainda não havia notado o pomo. Desviei dos jogadores com facilidade enquanto tentava me aproximar do pomo, e então olhei pra frente rapidamente, percebendo que no meio da arquibancada estava Elizabeth Dorian.  

—Cuidado! —Ela gritou um pouco antes de eu puxar a vassoura pra esquerda desviando de um balaço. Seus olhos dourados me olhavam atônicos e eu apenas consegui sorrir e piscar na sua direção antes de voltar para a minha busca.  

Talvez eu seja um pouco exibido quando estou na frente dela. A apanhadora da Lufa-Lufa tentava se aproximar do pomo, mas ele acabou desviando pra cima e começou a subir e a subir. Desta forma eu consegui ultrapassá-la com facilidade e me lancei atrás dele no momento em que mudou a trajetória pra baixo.  

A velocidade do vento era intensa, e eu já não conseguia distinguir direito os gritos nas arquibancadas, apenas conseguia olhar para aquela pequena bolinha dourada que estava a apenas alguns centímetros de ser pega. E foi assim, no momento em que meus dedos prendiam o pomo de ouro, pelo canto do olho eu vi Theodor Hepburn, artilheiro da Lufa-Lufa, rebater um balaço na direção de Scorpius.  

—A Sonserina ganha por 230 a 60 com Albus Potter apanhando o pomo de ouro, e por Merlin vocês viram aquilo, o capitão da Lufa-Lufa pegou o bastão de um dos batedores. Scorpius Malfoy está caindo da vassoura, conseguiram pegá-lo, foi um truque sujo vindo da Lufa-Lufa? E está tendo confusão no campo! —O comentarista começou a atropelar palavra em cima de palavra enquanto os dois times já tinham pousado e começaram a discutir, eu incluso.  

—Chega! —Minerva utilizou sonorus para acalmar a situação enquanto Hagrid e outros professores se colocavam entre os times. —Todo mundo dispensado.  

—Olha aqui seu babaca! —Zabini, com uma velocidade incrível, havia descido das arquibancadas e tentava avançar em Hepburn.  

—Scorpius, cara, acorda. —Scorpius estava desacordado no chão sendo amparado por nossas duas artilheiras. Pelo que eu tinha visto o balaço havia pego diretamente em seu rosto e não me admirava que ele estivesse desmaiado.  

—Quietos! Todos voltem para o castelo, e por favor façam a gentileza de levar o senhor Malfoy para a enfermaria. —A diretora comandava, furiosa. —E quanto a você senhor, Hepburn, vou deixar que o diretor da sua casa resolva essa questão já que o jogo já havia sido apitado.  

Concordamos em silêncio, e Minerva começou a se retirar enquanto ajudávamos a colocar o Malfoy na maca para ser levado pra enfermaria.  

—Isso é o que acontece quando tentam se meter entre mim e a minha garota. —Theodor comentou em alto e bom som, esperando que estivéssemos ouvindo. Mas antes que eu ou o Zabini tivéssemos a reação de avançarmos contra ele, Rose Weasley lhe deu um soco no rosto.  

—Eu não sou a sua garota! E essa foi uma das coisas mais repulsivas que você fez! —O capitão da Lufa-Lufa olhava abismado com a mão no rosto. Eu estava apenas estático, observando tudo. Os amigos de Hepburn tentaram reagir e partir pra cima da Rose, porém Elizabeth estava com a varinha apontada para eles e balançando a cabeça em um sinal de reprovação.  

—Mas não pode ser possível! Rose Weasley?! —Minerva estava escandalizada. —50 pontos a menos pra Grifinória, e a senhorita está em detenção! E Dorian, abaixe essa varinha imediatamente antes que eu também tire pontos da Corvinal.  

Ambas concordaram em silêncio enquanto a diretora finalmente conseguia sair de perto de nós.  

—Por Merlin, Weasley. Por essa ninguém esperava! —Zabini comentou animado enquanto guiava as meninas para podermos irmos todos para a enfermaria. Rose estava completamente vermelha.  

—Um jeito bem trouxa de lidar com isso. —Elizabeth comentou rindo e deixando a amiga ainda mais sem graça e tentando se esconder.  

—Percebi que estava preocupada comigo, Dorian. —Comentei quando já nos encontrávamos na enfermaria, porém nós dois estávamos encostados na parede oposta onde Malfoy estava deitado já que havia muitas pessoas a sua volta.  

—Deve ter sido só impressão sua. —Dorian sorriu de canto e me deu um leve empurrão com o ombro.  

—Não, com certeza! Eu sei porque eu agradeci do meu jeito. —Respondi piscando pra ela da mesma forma que havia feito no jogo.  

—Talvez eu só estivesse preocupada com você porque o próximo jogo você vai levar uma surra da Corvinal.  

—E por que levaria? O apanhador da Corvinal é o mais lento. —E então Dorian sorriu pra mim, de um jeito que claramente dizia: Você não sabe de nada.  

—Você vai levar uma surra de mim, Potter. Trocaram o apanhador da Corvinal. —Elizabeth me olhava de forma triunfante enquanto eu apenas a olhava chocado. Eu nem sabia que Dorian jogava quadribol e definitivamente não sabia que ela jogava na posição de apanhadora.  

—Liz, vamos? Eu já tratei a minha mão. —Rose a chamava enquanto claramente tentava não olhar na direção em que Scorpius se encontrava.  

—Estou indo, Rose.  

—Espere minha carta. —Comentei rapidamente e baixo enquanto a segurava levemente pela mão, ato que inclusive me surpreendeu. —Queria comemorar.  

—Tudo bem, Potter. —Dorian parecia um pouco corada quando soltou a minha mão e foi acompanhar Rose para fora da enfermaria.  

—Eu vi isso, ein. —Zabini sussurrou quando eu me aproximei da cama de Scorpius.  

—Cala a boca, Zabini.  

(...) 

—Meia noite, Potter? É ter muita confiança que eu conseguiria passar... O que é isso? —Elizabeth entrava falando pela porta da Sala Precisa e acabou parando imediatamente enquanto observava em que a Sala havia se transformado. Cortinas vermelhas, uma sala acústica com várias fileiras de poltronas confortáveis, uma imensa tela e um projetor escondido no canto oposto. Como a Sala não fornecia comida, eu havia me encarregado de trazer pipoca.  

—Um cinema! —Respondi animado levantando os dois sacos de pipoca que estavam na minha mão.  

—Imagino que pra você essa palavra seja esclarecedora. —Elizabeth zombou enquanto descia as escadas até onde eu me encontrava. Ela não usava mais o uniforme, na verdade, usava uma calça jeans com um suéter creme. Seus cabelos estavam presos em um coque que parecia ter sido feito às pressas.  

—É um lugar no mundo trouxa onde eles veem filmes. E filmes são como nossas fotos só que com som! —Dorian me encarava de forma suspeita, mas aceitou quando eu entreguei o saco de pipoca pra ela.  

—E o que nós vamos ver?  

—Eu pensei muito sobre isso e cheguei à conclusão que ver como eles retratam algumas bruxas seria divertido. Eu trouxe Abracadabra. —Respondi animado enquanto a menina apenas me encarava com as sobrancelhas franzidas. —Eu juro que você vai gostar.  

A sala ficou mais escura e o projetor começou a rodar o filme na tela. Dorian desistiu de tenta obter mais informações e apenas olhou pra frente enquanto de vez em quando pegava uma pipoca pra comer.  

—Então quer dizer que eu deveria usar essas roupas incrivelmente estilosas? —Elizabeth sussurrou em um determinado momento no filme.  

—Talvez uma mudança no guarda roupa fosse o ideal. —A respondi e pelos cantos dos olhos a observei rindo.  

Tirando esse momento, vimos o filme em completo silêncio, e para ser sincero eu não considero que eu tenha visto algo. Eu apenas não conseguia desviar os olhos de Dorian enquanto ela aparentemente estava se divertindo. Talvez eu estivesse realmente começando a desenvolver algo mais do que apenas uma atração, e perceber isso naquele momento me deu um soco no estômago.  

—Está decidido! Eu preciso ir até o primeiro ano imediatamente para começar a me alimentar com criancinhas. —Elizabeth comentou batendo as mãos e balançando a cabeça de forma decidida.  

—Me diga quando que eu a ajudarei. —A morena riu e se levantou. Eu a acompanhei me levantando em seguida e comecei a caminhar na direção das escadas, quando parei de repente. —Eu quase me esqueci!  

—O que?  

—A nossa noite trouxa está faltando mais um detalhe. —Eu caminhei rapidamente e peguei minha mochila que estava jogada próximo da porta. Mexi nela a procura de algo e depois voltei rapidamente pra onde Dorian estava. —Uma foto! 

—Isso existe no meu mundo também, Potter. —Elizabeth me encarava com uma das sobrancelhas levemente arqueadas.  

—O plus é que ela não se mexe, e você sempre pode se lembrar como o melhor encontro que você teve. —Sorri para ela, animado. Seus olhos dourados estavam presos no meu e eu simplesmente não conseguia desviar deles.  

—Então estamos em um encontro? Teria me vestido de forma apropriada. —Imediatamente eu percebi o que eu havia falado e senti minhas orelhas ficarem vermelhas. Eu sabia que Dorian estava brincando, mas apenas fiquei sem graça.  

—Por Merlin, Dorian. Só se aproxima. —A respondi tentando conter meu embaraço. A morena se aproximou rindo e eu levantei a máquina de fotos que imprimia na hora uma polaroid. Tirei a primeira com a gente sorrindo, e a segunda Dorian me pegou de surpresa quando beijou minha bochecha no momento em que a foto foi batida.  

Foi um beijo rápido, inocente até, mas no local em que seus lábios tocaram estava quente e eu tentava muito conter um sorriso.  

—Eu fico com a primeira e você com essa. Boa noite, Potter. —Elizabeth pegou a primeira foto que estava terminando de revelar e saiu imediatamente pela porta, me deixando a sós com um sorriso bobo surgindo nos meus lábios.  

—Boa noite, Elizabeth. —Respondi pra ninguém enquanto observava a foto tomando forma e aparecendo os lindos olhos de fogos da menina olhando me beijando enquanto eu mesmo estava com os olhos arregalados de surpresa.