Midnight Lovers escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

"Season of the Witch" - Donovan



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Seja bem-vindo a Salém, uma pequena cidade no interior de Massachusetts. Ela é cercada por uma densa e misteriosa floresta. Dentro da mata há um volumoso rio de águas negras, que passa maior parte do ano congelado, exibindo orgulhosamente um fenômeno de beleza única: gelo tão escuro quanto pedras de ônix.

A cidade é conhecida pelos julgamentos e punições de bruxas no ano de 1692, momento na história americana onde diversas mulheres, homens e animais foram condenados por, supostamente, praticar bruxaria. Uma das atingidas pela histeria foi Bridget Bishop, a irmã gêmea de Blair, que, ao ver sua única família enforcada, fugiu para bem longe de Massachusetts, afinal sua espécie não era aceita pela pequena vila de colonizadores.

O que o político William Phips não sabia era que ao condenar Bridget Bishop à forca, ele também estaria condenando o seu próprio neto. Anthony, seu filho primogênito, era apaixonado pela bruxa e não sabia que seu amor resultaria em uma criança. Descobriu apenas quando o amor de sua vida estava no palanque e a ouviu gritar: “A Terra cobrará a vida não vivida da criança em meu ventre!”

E com isso a ordem foi dada. Bridget não falava nem gemia, apenas aceitava seu destino ciente de que o mundo mágico faria questão de retribuir os feitos de William Phips mais cedo ou mais tarde. O mundo bruxo era assim: tudo em equilíbrio e no momento em que a ordem natural das coisas fosse alterada, a Lei do Retorno seria cruel com aquele que interrompesse o equilíbrio da balança.

Com o passar do tempo Salém foi crescendo, se industrializando. Novas lojas foram abertas, como um Starbucks ao lado da Phips High School. Se tornou um centro turístico no mês mais assombroso do ano, lucrando com a morte de diversos bruxos. Nos outros meses do ano a cidade é pacata, com poucos moradores, incluindo uma senhora chamada Celeste Bishop, descendente de Blair Bishop, que estava ansiosa para receber novamente seus netos: os gêmeos Selena e Sebastian.

Sua filha Andrômeda estava retornando, pois em menos de um ano ocorreria o aniversário de seus filhos. Selena e Sebastian comemoraria seu décimo sétimo aniversário no dia 31 de outubro e descobririam seu verdadeiro rumo no mundo mágico.

Celeste se lembrava muito bem o dia do aniversário de dezessete anos de sua filha. Andrômeda estava radiante, com seus cabelos ruivos escuros correndo pela casa anunciando a todos que seu Chamado havia vindo em seus sonhos. Ela era, de agora em diante, uma Medicana, uma bruxa capaz de apaziguar qualquer dor por meio de ervas, poções e, é claro, sua magia.

— Eu não quero ir… — Selena reclama no banco de trás, desviando seu olhar de seu livro.

— Meio tarde para isso, mana — Sebastian comenta tirando um de seus fones e lhe entregando a sua irmã — Se for ficar com essa cara de chupa-cabra, ao menos faça isso ao som da melhor banda do mundo!

— Metallica? — O pai no volante indaga, olhando para seus filhos pelo retrovisor.

— Como sempre! — O menino responde com um largo sorriso no rosto.

— Para com isso, Bash… — A garota resmunga se afastando ainda mais de seu irmão — Mãe!

— Meninos, parem, por favor… — A voz de Andrômeda soa serena, como sempre — E quanto a você, Lena, sabe muito bem o por quê da estarmos nos mudando!

Selena sabia muito bem o motivo da mudança, ela é uma bruxa e seu décimo sétimo aniversário definiria toda a sua vida, mas isso não significava que está contente por ter que abandonar sua antiga e aconchegante casa para morar em Salém. Era óbvio que amava sua avó, na verdade adorava passar seu aniversário com Celeste, seu problema era com a cidade.

Toda vez que retornava a Salém sentia algo estranho se revirar dentro de si, afinal sangue de seu sangue já havia sido derramado por lá. Uma Bishop tinha sido enforcada, pior ainda, estava grávida. A cidade de Salém era uma bomba-relógio, mas nenhum dos moradores pareciam se importar, nem mesmo aqueles que pertenciam ao mundo sobrenatural. Além disso, a cidade era conhecida por hostear eventos com os Caçadores, inimigos mortais de todo ser sobrenatural. Ninguém sabiam quem eles eram, muito menos quando atacavam, mas sabiam que eles se reuniam ali.

Sua avó sempre disse que era importante manter os inimigos perto, mas Selena odiava a proximidade. Os Caçadores podiam estar a espreita em qualquer esquina e isso deixava a garota com os nervos à flor da pele.

Um deslize e ela estaria morta.

— Eu não gosto dessa cidade…

— Mas nossas raízes estão aqui, minha querida — Sua mãe fala virando-se para trás — Quando sangue mágico é derramado em um lugar…

Nossas raízes se fincam no chão como vinhas… — Selena suspira e volta seu olhar para o livro em seu colo.

— Filha? — Se pai a chama com uma voz protetora.

— Hum… — Ela resmungou olhando nos olhos escuros de seu pai, que a analisavam pelo retrovisor.

— Você carrega dois nomes poderosos — Ele fala com calma — Bishop e Nightingale, acreditem em mim quando eu digo que será preciso um exército de Caçadores para acabar com a nossa linhagem…

E era verdade. Os Nightingale são conhecidos pelo mundo sobrenatural como a família bruxa mais influente em Nova Orleans, uma linhagem praticamente intacta de Imperinos, bruxos capazes de possuir outras pessoas e objetos.

— Mas os Bishop… São só uma bomba-relógio — Ela comenta olhando para a floresta pela úmida janela no carro.

— Sim, meu nome possui uma maldição… — Andrômeda tenta falar mas é interrompida.

— Uma maldição que foi lançada em mil seiscentos e lá vai bolhinha… Nunca se realizou, mana! Até onde sabemos Bridget Bishop pode ter nascido humana e só a nossa muitos-tátaras-avó era bruxa.

— Sebastian Bishop Nightingale, não fale assim de sua linhagem! — O tom de voz sereno de Andrômeda some de sua voz

Selena sorri.

Amo o seu sorriso, maninha.

A voz de Bash percorre a sua mente.

Obrigada, Bash.

Ser bruxo tinha suas vantagens. Ainda crianças, os gêmeos descobriram que podiam de comunicar mentalmente e, de acordo com Andrômeda, tal poder apenas significava de os dois eram, em suas vidas passadas, uma única alma que agora estava bipartida.

— Me desculpe, mãe — O gêmeo fala e sorri enquanto se aproxima de Andrômeda — Não vai impedir um menino de pensar, não é?

— Não ache que vai escapar dessa, Sebastian!

— Oh! Céus! Vai começar então o seu monólogo sobre a linhagem Bishop! — Sebastian fala e se atira no banco fingindo estar morto — Vamos, mãe, me mate com a chatice!

Bash, quando você vai crescer?

Nunca, maninha!

A risada de Seth Nightingale preenche o automóvel, logo sendo acompanhado por um suspiro de reprovação de Andrômeda. Aquele momento trouxe um pouco mais de alegria para o dia de Selena, mesmo ela indo contra a sua vontade para o lugar que ela julgava ser o mais perigoso.

Se anime, Lena, logo estaremos na casa da vó provando seus doces maravilhosos!

Você consegue pensar em outra coisa senão comer?

Jamais, maninha e…

A conversa mental dos dois é interrompida por um estalo alto, uma parada brusca e o grito fino de sua mãe. Selena se levantou desajeitadamente do bando e guiou seu olhar para frente. Seus olhos não podiam acreditar no que estavam vendo.

Seu corpo enrijece e suas mãos agarram o estofado do banco.

Isso não é um bom sinal, mana…

Não mesmo…

— Seth? — A voz de Andrômeda soa inquieta e fraca, como se ela fosse uma criança assustada.

O corvo que atingira com tudo o vidro do carro estava morto, todos podiam sentir isso. Faltava pouco para que os cacos de vidro caíssem na parte da frente do veículo, mas o pai fora mais rápido que o tempo. Com apenas um mover de dedos o dano feito pelo pássaro parecia não existir.

Mesmo com o corvo fora do campo de visão de Selena e com o vidro concertados, a garota não conseguia parar de tremer. Um corvo vivo era sinal de mau agouro para as bruxas, agora um morto era muito além de má sorte, significava perigo.

Você está bem?

E você está, Bash?

De forma alguma.

— Estou todos bem aí atrás? — Andrômeda indaga segurando a mão de sua filha.

Selena engole em seco e olha para Sebastian, na esperança de que seu irmão está em melhores condições emocionais do que ela.

— Na medida do possível sim, mãe…

— Não minta para mim, Bash!

— Estamos bem! — Selena resmunga se afastando do toque de sua mãe — Eu falei que ia ser uma péssima ideia a gente se mudar para lá!

Lena, se acalme…

Desculpa, eu só…

Eu sei, maninha.

— Foi só uma pássaro desatento, crianças — Seth fala recuperando o fôlego e dando partida no carro — Nem tudo o que acontece significa alguma coisa, Lena. Entenderão isso quando forem mais velhos.

Selena respira fundo e volta a sua atenção para o pára-brisa intacto. A placa de Salém continuava a mesma, exceto pela mudança no tamanho da população. Se a memória de Selena não estivesse falha, haviam três pessoas a mais, já que era óbvio que havia uma alteração recente: a placa marrom bem escuro apresentava um quadrado branco onde deveria estar um número “3” e agora estava um “6”.

Esse ano vai ser longo.

Porque diz isso, Bash?

Apenas um pressentimento, mana.

Você adora ser vago nas horas inconvenientes… 

Juro que não consigo explicar, apenas sinto!

Talvez essa seja o seu Dom… Talvez quando for Chamado, descubra que é um Davino.

É, talvez…

Sebastian coloca novamente os seus fones de ouvido e permanece o resto da viagem de olhos fechados, recuperando suas energias depois do susto com o pássaro. Selena, por outro lado, estava inquieta, olhando pela janela enquanto seus dedos passavam apressadamente pelas páginas de seu livro.

Selena sabia muito bem que o encontro com o corvo não havia sido uma coincidência. Talvez se ela fosse humana o sinal da natureza teria passado despercebido. Porém, ela era uma bruxa e tudo ao seu redor eram mensagens que precisam apenas serem lidas com cuidado.

 

⇻♡⇺

 

E lá estava a casa da Sra. Bishop. Uma pequena mansão de dois andares e muitas sacada, rodeada por uma floresta densa e com um pátio amplo que Sebastian e Selena costumavam brincar quando crianças. Celeste a recebera de herança após a morte de seu segundo marido e, então, se tornara dona da Mansão Blackwaters.

A avó de Lena e Bash não era só uma Bishop, mas mantivera o sobrenome de seu falecido marido: Blackwaters. Mas tal nome não tinha nenhuma significância no mundo sobrenatural. Bernard Blackwaters era humano, dono de uma indústria de bordo no sul do país e fabulosamente rico e, consequentemente, Celeste é fabulosamente rica.

— É enorme… — Selena deixa escapar saindo do carro — Sempre esqueço como esse lugar é gigantesco.

— Eu não! — Bash fala e logo assobia bem alto, estava chamando seus amigos de longa data.

— Ainda não acredito que ela mora aqui sozinha… — Andrômeda suspirou, desviando dos dois cachorros altos e pretos.

Os dois Dobermans aceleram em direção ao seu dono. Sebastian sorri enquanto cai no chão com seus cães, Luna e Draco. Bash amava o universo de Harry Potter, para ele era engraçado como os humanos imaginavam o mundo sobrenatural, achava ainda mais cômico o romance de Stephanie Meyer: “Vampiros não brilham e sim, medonhos!”, ele havia dito uma vez “Lobisomens são horripilantes e não perdidamente apaixonados como Jacob”

— Ainda não entendi o por quê de chamá-los assim… Harry Potter errou em tantos quesitos… — Selena reclama retirando suas malas do carro.

— A escritora é uma humana, Lena, pega leve! — Ele fala fazendo carinho em seus animais — Gosto de saber como eles imaginam a gente!

— Usando varinha e lutando com dragões?

— Mais interessante do que realmente acontece no mundo bruxo! — Ele retruca enquanto observa sua irmã com dificuldade.

Vai demorar quantos anos para tirar essa mala?

São meus livros, Bash, e está bem pesado.

Tenho coisas para tirar do porta-malas também!

Não pode esperar um pouco?

Sebastian revira os olhos, sua irmã sempre foi assim: teimosa como uma mula. Selena jamais pediria ajuda, mesmo quando realmente precisasse, porém seu irmão gêmeo sempre sabia, ou melhor, sentia quando ela precisava de amparo. O peso de sua mala de livros era um pedido de ajuda silencioso.

— Deixe-me ajudá-la, Lena… — Ele tenta falar, mas é cortado por sua irmã.

— Desde quando eu pedir ajuda?

— Você não pediu — Bash fala passando sua mão por seus ruivos e curtos cabelos — Foi a mala!

— Socorro! Socorro! Uma ruiva doida quer desfazer toda a minha costura! — Uma voz fina e estridente emana da mala.

Selena se assusta e dá um pulo para trás, logo percebendo que tudo se tratava de uma brincadeira. A garota atinge seu irmão no ombro com um soco forte, mas esperado.

— Vê se cresce, Bash!

— Estou apenas ajudando a mala… Tadinha, sofre tanto em suas mãos!

— Eu estava quase tirando ela!

— Não, não estava! — Sebastian fala tirando a mala com facilidade — Muito pelo contrário, maninha, a costura ia rasgar e você ia cair de bunda no chão!

— Mentira!

— Verdade! — Bash suspira e olha desafiadoramente para sua irmã — E a meu ver eu apenas te salvei de passar vergonha e…

— Lena e Bash, apenas tirem suas coisas do carro — Seth fala voltando sua atenção para seus filhos — De preferência sem brigar, por favor!

Os gêmeos ficam em silêncio. Selena ardia de raiva, seu irmão era mestre em deixá-la irritada. Por outro lado, Sebastian estava radiante, orgulhoso pela peça que pregara, mesmo que isso tivesse ocasionado uma leve discussão seguida pela bronca de seu pai.

Apesar de serem gêmeos, os dois são extremamente diferentes e iguais, como as duas faces de uma moeda. O lado exterior era o mesmo, cabelos ruivos cor de fogo, diferentes de Andrômeda, pele levemente bronzeada por ter abandonado sua casa perto da praia em Miami. A garota era relativamente alta, maior que sua mãe, tudo graças aos dez anos jogando vôlei, esporte preferido de Seth. Sebastian era mais alto que o próprio pai, mas isso é a combinação entre genética e muitos anos jogando basquete, esporte que até hoje pratica.

Entretanto, o interior dos dois divergiam em muitos aspectos. Selena amava a confusão e a união do esporte, mas preferia a solidão de um bom livro e uma noite chuvosa. Amava descobrir coisas novas pela leitura e fez questão de trazer todos os seus livros para a Mansão Blackwaters. Sebastian, por outro lado, gostava de festejar, fazer amigos e estar sempre rodeado de pessoas. Andrômeda costumava compará-los ao Sol e a Lua, astros importantes para as bruxas: um radiante e majestoso e a outra pensativa e reclusa, os dois separados não trariam à vida a Terra, mas juntos criaram a belíssimas fauna e flora.

— Bem-vindos! Bem-vindos! — Uma voz rouca e familiar ecoa pelo chão de cascalho até os ouvidos de todos os membros da família que ali estavam.

Era Celeste em carne e osso, vestindo um robe vermelho de veludo e com suas madeixas brancas presas em pequenos bob's. Selena e Sebastian abrem grandes sorrisos, esquecendo completamente o que tinha acabado de acontecer, afinal estavam em casa.


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Notas finais do capítulo

Comentem: ideias, sugestões, elogios; estou sempre aberta para novos aprendizados.



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