Desejo e Reparação escrita por natkimberly


Capítulo 13
A Abadia de Northanger


Notas iniciais do capítulo

Eu não esperava que esse capítulo fosse ficar gigante! Mas, espero que gostem.



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Foi como uma explosão de champanhe. Emma gritou pela sala que seu irmão mais velho, Charles Dashwood, estava, enfim, noivo da srta. Preston. O casamento iria ocorrer no começo de setembro, ou seja, faltavam apenas alguns dias. Agosto já tinha ido embora por um instante de tempo. 

Com essa notícia, se despedir de Windsor não seria uma tarefa difícil. O que seria realmente difícil seria a viagem de volta para Meryton com Jane no estado que se encontrava. A loira ainda sentia fortes dores de cabeça, enjoo e fraqueza. Queria ficar deitada na cama no escuro das cortinas o dia todo, mas, quando Emma contou tudo que estava se passando, enquanto a mesma preparava as roupas da irmã, Jane ficou animada por voltar para seu querido lar.

Os criados arrumaram suas bagagens e o cocheiro a carruagem. Em dez minutos, tudo já estava preparado, mas foi apenas quando a irmã do meio se viu atravessando as portas principais de Windsor, que ela percebeu que sentiria saudades daquelas duas semanas. 

Os quatro viajantes se despediram de Gerald, Fitzwilliam e Charlotte - as irmãs Collins não se deram o trabalho de fingir se importar. Emma ficou chateada pela ausência de Sir Collins, e não haviam notícias concretas sobre seu paradeiro desde a noite anterior.

Anne não parava de fazer promessas e planos mirabolantes para manter contato com sua amada autora, Charlotte Fairfax, que respondia a menina com educação e carinho por ser tão enaltecida, mesmo assim, Emma percebia um semblante de desconforto naquele sorriso aberto. A morena apenas não implorou para que sua irmã mais nova abaixasse o tom de voz e parasse de tagarelar porque sabia que aquele seria o seu último encontro com sua ídola, pois as chances de srta. Fairfax voltar o mais rápido possível à Rosings eram imensas. 

— Então, irei lhe enviar algumas cartas, para detalhar sobre cada uma de minhas obras preferidas suas - disse Anne. - Na verdade, poderíamos marcar para tomar um chá no Hyde Park, não acha? Eu posso vir para Londres sozinha, meu pai não se importaria. Ah! Que cabeça de vento a minha, esqueci que vocês virão para o casamento do meu irmão, não é? Eles não foram convidados, Emma?

Emma tomou um susto, havia esquecido de contar para os três esse detalhe. O seu pai havia deixado claro em sua carta que todos de Windsor estavam totalmente convidados para presenciar a união matrimonial de Charles e srta. Preston. A garota assentiu com a fala de sua irmã, mas achava impossível que Fitzwilliam e Charlotte fossem viajar novamente, pois haviam voltado de Rosings no dia anterior. Mesmo assim, Emma torcia para que Gerald arrumasse um jeito de estar presente em Meryton em quatro dias.

Enfim, já estava na hora de partir. Emma se despediu de Charlotte de uma maneira simples, sem nenhum afeto entre ambas as partes, srta. Fairfax percebia que Emma não a tratava com importância como todo mundo fazia. Fitzwilliam apenas fez uma reverência fria e sem dizer nada, já os dois não trocaram uma palavra desde a desavença durante a dança. Já Gerald, Emma esperava que o loiro fosse ser mais caloroso, mas ele apenas se despediu de um jeito formal, ela estranhou isso. Era óbvio que eles não podiam se beijar na frente de todos, mas a garota estava à espera de, pelo menos, um simples beijo na mão. O que não aconteceu.

Jane, Noah e Anne já tinham subido na carruagem. Quando foi a vez de Emma, a garota sentiu alguém segurar sua mão para a ajudar a escalar os degraus, pensou que tinha sido um gesto cavalheiro de Gerald, mas aquela mão fria era de Fitzwilliam. Ela não esperava isso vindo dele, o agradeceu com um sorriso sem graça. Quando se acomodou no seu assento, virou-se para a janela, preparada para acenar para Gerald, mas percebeu que o garoto já estava de costas para eles caminhando para dentro de Windsor na companhia de Mr. Knightley e Charlotte Fairfax.

— Pensei que não iam entrar naquela carruagem tão cedo - reclamou a srta. Fairfax. - Aquela garotinha, Anne Dashwood, estava me dando nos nervos com aquelas perguntas, mas nada que eu não fosse acostumada a lidar. - Como percebeu que nenhum dos irmãos a respondeu, continuou: - E, aquela Emma, nunca vi uma pessoa tão seca, não faz nenhuma questão de mostrar que gosta de mim, eu tenho certeza que ela conhece meus livros, apenas finge que não para não se sentir ameaçada pela minha presença. E, vocês dois, não vão falar nada?

— Acredito que você mudou muito desde que passou tanto tempo em Rosings, Charlotte. Tem que se acostumar a lidar com pessoas que não fazem tanta questão de serem cordiais, percebi isso quando viajei para Meryton. - Concluiu Fitzwilliam, de maneira que ela não pudesse continuar mais no assunto. 


        Não era de se esperar que a viagem fosse ser tranquila para Emma, já que a garota detestava viagens longas de carruagem por conta de seus enjoos, isso sempre a deixava de mal humor. Ela gostaria que existisse algum jeito de ir para Meryton de trem, mas a pequena cidade não era moderna demais para isso. Jane estava sentada na sua frente de olhos fechados tentando dormir, apoiando a cabeça no ombro de Mr. Russell, enquanto Anne estava ao lado de Emma a perguntando quando iriam pisar na capital da Inglaterra novamente. 

Enquanto as imagens do centro de Londres passavam pelas janelas da carruagem, Emma se questionava se algum dia ela iria conseguir morar em algum lugar tão movimentado e divertido como aquele. Se fosse para ela escolher, entre morar em uma cidade grande ou em uma cidade litorânea com belas praias, a morena demoraria semanas para tomar sua decisão, já que Londres e Bath eram seu ponto fraco.

Emma foi distanciada e seus pensamentos com o barulho das rodas do veículo freando devagar. Só tinham se passado cinco minutos desde que haviam partido, era impossível estarem fora de Londres.

— Por que paramos? - ela perguntou, se virando para a janelinha do concheiro.

— Eu pedi - disse Noah, abrindo a porta para sair. - Quando estava em Windsor, pedi para o concheiro fazer uma pausa nessa rua, pois tenho que resolver algo, mas prometo que será rápido. Volto em menos de três minutos, certo?

As três irmãs não o questionaram, Noah saiu de vista deixando a porta ao lado de Anne aberta. Um silêncio se manifestou dentro daquele lugar, elas não trocavam palavras sobre a noite anterior em hipótese alguma, nem elas sabiam o porquê, mas aquele era o clássico clima dos Dashwood após uma noite de baile, uma espécie de ressaca de espírito. No caso da Jane, ressaca de corpo também.

Como não estavam discutindo nada, Emma se virou para sua janela, Jane encostou a cabeça na madeira e fechou os olhos, já Anne ficou encarando a rua. O silêncio foi quebrado pela voz de Anne, sussurrando para as irmãs:

— Gente, vocês têm algum dinheiro?

— Quanto?

— Um pouquinho, alguns centavos.

Emma tirou algumas moedas de sua bolsa, desconfiada dela. Quando a entregou, Anne se separou delas. A morena estava tão cansada que nem se deu ao trabalho de perguntar o que ela ia aprontar. “Bom, ela tem dezesseis, então tem juízo”, pensou.

E, ela realmente tinha, voltou em menos de trinta segundos segurando um enorme pedaço de papéis com cheiro forte de tinta fresca.

— Não sabia que você lia jornais - disse Emma. - Acho que só são interessantes para homens velhos.

— Eu concordo parcialmente com sua fala, mas, essa manchete me chamou muita atenção.

Anne virou a página para Emma e Jane. Emma não sabia se ficava chocada com o que estava escrito ou com fato se sua irmã mais nova ter uma visão muito mais ampla do que a sua para conseguir ler isso com tantos metros de distância.

 Futura Lady Collins a caminho?

Era o que estava escrito na manchete da página principal em letras grandes e escuras. Emma e Anne correram os olhos para ler a chamada embaixo em voz alta. Jane sentiu um arrepio de medo pelo seu corpo.

Na noite de ontem, 27 de Agosto, o duque de Windsor, Sir Collins, providenciou um baile luxuoso em sua residência, para toda a elite londrina prestigiar a chegada surpresa de sua grande amiga, a autora dos clássicos “Díspar” e “Luxúria e Desavenças”, Charlotte Fairfax. No entanto, a sua visita foi ofuscada em partes por um rumor que começou a se alastrar em Windsor naquela noite. Fontes seguras afirmam que Sir Collins está prestes a se casar em breve com a srta. Dashwood, a questão é: qual das três irmãs foi a sua escolhida? 

Filhas do baronete Sir Dashwood, de Meryton, as irmãs aparentemente estavam hospedadas em Windsor nessa temporada. Então, apenas o tempo irá providenciar as respostas de quem será a futura esposa de um dos nobres mais adorados e afortunados da Inglaterra.

A continuação da matéria era focada na volta da srta. Fairfax e só Anne continuou a ler. Jane ficou sem palavras, já Emma cheia de dúvidas:

 - Como eles podem saber de tudo isso tão depressa? Com certeza Sir Collins convidou jornalistas para aquele baile - Emma falou aquilo sabendo que não era muito provável, pois apenas pessoas mais abastadas estavam presentes. - Ou, ele possui criados traiçoeiros, que venderam essas informações. Miseráveis! Cretinos!

— Ou, naquele baile estava o próprio dono desse jornal - respondeu Anne, como se fosse óbvio.

Emma se calou, era de certeza que aquela era a teoria mais aceitável, mas alguns criados poderiam ter duas caras também. Esse havia sido seu primeiro contato com o meio de notícia londrino, não sabia que era tão invasivo e bisbilhoteiro. Pensava que jornais apenas serviam para publicar sobre economia ou o falecimento de alguém importante. Na verdade, os jornais de Meryton eram assim, por isso seu pai os adorava. 

Jane, finalmente, abriu a boca para falar algo pela primeira vez que saíram de Windsor:

— Aí diz alguma coisa sobre o paradeiro de William? - perguntou a Anne, que estava entretida lendo tanta informação.

A caçula negou, mas disse que se encontrasse algo a avisaria. O jornal era tão recente que, se ela passasse os dedos pela página com muita força, a tinta mancharia seus dedos.

Mr. Russell entrou na carruagem com as mãos vazias aparentemente, mas ninguém fez uma pergunta. Cada um estava em seu mundo particular, refletindo sobre o que acabaram de ler.

Duas horas já tinham se passado desde que o grupo deixou Londres. Jane, Mr. Russell e Emma, felizmente, haviam conseguido cair em um sono profundo, enquanto Anne se entretia analisando a vista do campo pela janela. Porém, chegou um momento em que a paisagem verde não a interessava mais, e, como não havia ninguém para compartilhar seus pensamentos aleatórios, ela resolveu terminar de ler aquele jornal por completo. Afinal, aqueles cinco centavos de sua irmã precisavam ser válidos por completo.

O que Anne não esperava, era encontrar uma matéria que iria captar todos seus sentidos, a fazendo até se ajeitar no assento para ler melhor o que estava na frente. Precisou ler e reler mais de três vezes até ter certeza que não estava delirando. Imediatamente, levantou o rosto para chamar suas irmãs, mas elas pareciam tão tranquilas em seu repouso, que Anne achou melhor que elas descobrissem sozinhas quando chegassem em casa.

A quilômetros de distância daquela carruagem, estava Sir Dashwood sentado em frente a sua mesa do escritório. Revezando sua atenção entre as papeladas do casamento de seu filho e a presença feminina de Alexandra March, sentada à sua frente.

A Sra. March tinha o seu clássico olhar intimidador e postura de quem não nasceu para ser contrariada. Seus modos continuavam severos, como da última vez que Sir Dashwood a viu, porém sentiu que suas expressões faciais demonstravam uma feição de abatimento. O que era viável, decorrente do infeliz acontecimento que lhe havia ocorrido.

— Tem certeza que planeja isso? - perguntou Sir Dashwood.

— Você já me viu fazer algo sem convicção absoluta, Andrew?

Sir Dashwood quase engasgou com seu chá, faziam anos que não ouvia alguém pronunciar seu primeiro nome. As únicas pessoas que tinham essa permissão eram sua falecida esposa e Alexandra. 

— Pois, então, lhe dou minha autorização para seguir seu plano. Acho que é uma boa ideia, porém devo lhe avisar que minha filha mais velha, Jane, não estará disponível, pois quando ela chegar de Londres, trará consigo o aviso de que está noiva.

— Posso perguntar com quem? E, como você tem tanta certeza disso?

— Certamente não está ciente de que fiz um incrível planejamento nesse verão. Consegui convencer a figura do duque de Windsor a propor um noivado a Jane nessa viagem dela a Londres. Você tinha que ver como ele estava fascinado com a beleza dela quando a viu pela primeira vez, foi aí que percebi que minha sementinha precisava ser plantada. Ele prometeu que pediria sua mão nessa viagem.

— Bom, não posso negar que faz muito tempo que não leio suas cartas. Mas, se esse noivado realmente acontecer, você irá se dar muito bem. Não seria o duque de Windsor o primo de segundo grau do Rei George I?

— Não tenho noção do seu paradeiro familiar, apenas me importo com suas posses e fortunas. É um dos homens mais ricos que já conheci, Alexandra. Não posso perder a oportunidade de tê-lo unido a minha linhagem. Acredito que o dote de suas irmãs deverá ser inimaginável.

— Já lhe disse para ter cuidado com suas expectativas altas e ambições. Entre nós dois, sabemos que você é muito mais aluado do que eu. Bom, mas vejo que diante desse suposto noivado, Jane está distante do propósito, terei que me contentar com as outras duas menininhas.

A sra. March terminou de tomar seu chá e se distanciou dos assuntos corriqueiros de finanças que Sir Dashwood balbúrdia. Se conteve em apenas observar os defeitos no revestimento da madeira da lareira, da poeira em excesso no tapete e do descaso com leves arranhões no vidro da janela. Não era possível que em todo esse tempo que esteve ausente, aquela casa tivesse ficado tão descuidada. A morte de Lady Dashwood claramente teve influência nesse abandono.

X

A sra. March e Sir Dashwood foram avisados sobre a chegada das meninas, o homem mandou que o criado as chamassem para o escritório. 

Emma ficou extremamente chateada por ter chegado em sua casa e não ter encontrado ninguém para a receber na entrada. Será que seu pai e Charles não haviam sentido sua ausência? Ao passar pela porta do escritório sentiu um calafrio escorrer até pela sua espinha.

Aquela figura alta que estava em pé as encarando não era nova. Seus cabelos eram loiros iguais aos de Jane, porém agora com alguns fios brancos. Seu corpo era alto e extremamente magro, que nem o de Emma. Já seu rosto agora estava mais enrugado e seu olhar ainda mais severo. Seus lábios eram finos e suas bochechas sugadas, claramente acentuando uma aparência de perversidade. Tia March tinha a mesma essência de antes.

As garotas ficaram perplexas, nem disseram nada. Anne foi a primeira a fazer uma reverência. Jane e Emma a acompanharam, mas sendo totalmente desengonçadas. Faziam exatos quinze anos que Emma não via aquele rosto. 

— Que expressões são essas? Parece que estão vendo um fantasma.

Bom, não deixava de ser um pouco verdade. Tia March não era uma pessoa que costumava fazer visitas, a última vez que Emma a viu foi quando tinha três anos, quando ela veio para o funeral de sua mãe. 

Tia March era casada com Hobbes March, um famoso maestro de orquestras, que já tocou em quase toda a Europa. Era por isso que ela nunca pisava na Inglaterra, sempre estava em turnê com seu marido, viajando o mundo. Era um estilo de vida que Emma admirava, você trafegar por diversos lugares do globo, conhecer novas culturas e sem contar o dinheiro que isso fornece. Apesar de que, aparentemente, o casal tinha uma grande casa na França, onde eles moravam fixamente.

Hobbes era uma celebridade, um marco na história da música, o francês sabia tocar diversos instrumentos e nunca falhava com seus shows, pois eles sempre lotaram. Era, sem dúvida, o maestro mais conhecido de toda a Europa. Uma pena que Emma nunca teve a chance de ver sua apresentação, já que ele recusava a vinda para o seu país com veemência.

— Bom, vou liberar vocês para arrumarem suas malas e descansarem - “liberar” quem era ela para mandar nelas? - Espero que no jantar a boca de vocês consiga gesticular algumas palavras, pois sei que vocês não são nenhumas tolas. Podem sair.

Ela estava ainda mais assustadora que antes, pensava Emma. As meninas caminharam para fora da sala quando foram interrompidas pela voz do pai:

— Jane, querida, você tem alguma novidade para nós contar? - perguntou, com um tom de voz esperançoso e os olhos verdes brilhando. 

— Não - disse a garota, firmemente.

— Tem certeza?

— Absoluta.

Jane fez uma reverência e foi embora. 


 

— Não é possível que ela tenha conseguido parecer mais malvada do que antes com aquelas novas rugas na testa - disse Emma se jogando na cama. - Será que ela vai ficar aqui por muito tempo? Nós, literalmente, saímos do paraíso para vir para o inferno.

— Emma! - retraiu Jane, depois de checar se a porta estava realmente fechada e que ninguém escutou nada no andar de baixo, a loira voltou: - Acho que depois do casamento ela já estará de volta no seu universo corriqueiro junto com seu marido - respondeu, se deitando ao lado da irmã.

— Na verdade, não vai ser bem assim - sibilou Anne, separando suas roupas das demais.

— Como não?

— Mr. March faleceu.

Emma e Jane levantaram imediatamente.  

— O quê? Como assim? - indagou Emma. - Quando? Como? Como você sabe disso, Anne?

A caçula andou para o outro lado do quarto e jogou na cama um amontoado de folhas de papel. Era aquele bendito jornal que ela havia comprado em Londres.

— Página 8.

Jane folheou e encontrou a matéria. Lá estava escrito que Mr. March partiu já fazia duas semanas, decorrente a uma forte gripe em junção aos problemas respiratórios que ele já tinha. O jornal avisava da chegada surpresa da sra. March na Inglaterra, ressaltando que a vinda deve ter sido influenciada pelo casamento de seu sobrinho Charles, que ocorrerá no dia 2 de setembro.

— Bom, nós nunca chegamos a conhecê-lo, mas eu não percebi nenhuma feição de tristeza vindo da nossa tia - disse Emma. - Certeza que ela deve estar, pelo menos, feliz com a pensão gigantesca que vai ganhar anualmente por causa de sua morte.

— Que horrível, Emma - emitiu Anne. - Tia March não deve ser tão chata como você tanto diz.

— Você diz isso porque só tinha um ano quando conheceu ela, então nem se lembra. Essa vai ser a pior semana do ano, anote o que estou dizendo - conclui Emma, jogando a cabeça no travesseiro e se preparando para seu descanso profundo.


 

No primeiro jantar de volta ao lar, Emma e suas irmãs estavam ansiosas para o enfim encontro com o novo noivo, porém Charles se atrasou tanto, que Emma já estava quase no final de sua sopa quando ele chegou na sala. A irmã do meio quase jogou as mãos para o céu para agradecer ao Todo Poderoso por ter feito ele dar as caras, já que ela não aguentava mais ouvir a voz de sua tia March fazendo perguntas pessoas sobre as três, como se estivessem um sério interrogatório: 

— Finalmente, você veio! Pensei que só o veria no altar - disse Emma.

Charles cumprimentou todos da mesa e se sentou ao lado do seu amigo Noah. As irmãs o fitaram esperando que ele mesmo as fizesse o anúncio do noivado:

— Calma, me deixem respirar. Estou faminto. Martin, poderia me servir um pão quente e sopa que nem a de Emma, por favor. Ah, e uma taça de vinho tinto, estou precisando.

— Você é um imprestável, Charles. Conte logo! - respondeu Emma, com fervura. Tia March quase derrubou o pedaço de torta que estava degustando ao ouvir a sua sobrinha falar com tanta falta de sutileza, repreendeu Emma firmemente com o olhar. 

Emma voltou-se para sua sopa, com amargura. Estava na sua própria casa depois de duas longas semanas, e não podia agir como se sentia confortável. Por isso, odiava visitas de pessoas velhas, agora era obrigada a ser delicada e recatada até aquela megera ir embora.

A comida do irmão chegou, ele se virou para todos e perguntou sobre o que estavam conversando antes de sua chegada, tia March falou:

— Estávamos discutindo sobre os passatempos das meninas enquanto estão em Meryton - disse ela, tomando um gole de chá. - Percebi que das três, só Anne faz algo de que útil.

— O quê? - indagou Emma, rindo de nervoso. - Eu disse que bordô e costuro, e Jane consegue cuidar dos jardins e dos animais. Como isso não é útil?

— Isso é o básico que qualquer moça com mais de quinze anos deve saber. Entretanto, Anne destaca- se por estar informada das novas tendências da Europa.

— Tendências? - questionou Jane.

— Ah, falha a minha. Às vezes eu esqueço que vocês nunca saíram desse país - bufou tia March, Emma revirou os olhos sutilmente. - Agora, a moda entre as mulheres é o intelecto, a inteligência. Em todos os países que eu vou, vejo mulheres conseguindo ficar ricas escrevendo livros, inacreditável! Nunca iria imaginar viver um cenário desse, mas, enfim, isso se adequa a casamentos. Pois, virou uma verdade absoluta que homens miseráveis se interessam pelo dote, mas homens bem sucedidos, pela intelecto  - disse tia March, apontando o dedo indicador para a sua cabeça. - Por isso, Anne está no caminho certo, minha querida, seu pai me contou que você já leu a biblioteca da sua casa inteira? Impressionante. Quando terminarmos o jantar, quero que me mostre os rascunhos das suas histórias, quem sabe não estamos lidando com uma mina de ouro sem saber.

Tia March falava com um tom esperançoso e Sir Dashwood pediu para que ela se acalmasse, pois estava fazendo Anne ficar vermelha que nem um tomate. 

Emma estava aborrecida, será que era verdade isso? Anne poderia se tornar uma próxima Charlotte Fairfax em ascensão e Jane… bom, Jane, se quisesse, já poderia estar agora vivendo no luxo de Winston. Mas, e enquanto Emma? Não tinha nenhuma inteligência e ninguém normal nunca pediu sua mão, o que dirá um duque! Iria acabar abandonada e dependendo do seu pai para sempre? Emma passou de aborrecida para assustada, porque percebeu que comparada a suas irmãs, ela estava completamente em desvantagem.

A morena ficou se martirizando sobre isso o jantar inteiro, o que a fez ficar completamente dispersa das conversas que vieram a seguir.

— Mas, me digam sobre a viagem a Londres? Como está Sir Collins? - perguntou Charles, tentando desesperadamente mudar o rumo da conversa desconfortável que tia March deixou.

Sir Dashwood e Jane se calaram quando ouviram esse nome. Como Anne viu que ninguém ia falar nada, tomou partido:

— Foi uma viagem incrível. Conhecemos diversos lugares, quase todos os pontos turísticos. Sir Collins foi um doce e Winston era… gigante, parecia um castelo! Bem, ele deu um baile e… Ah! E Charlotte Fairfax esteve presente! Ela é esplêndida, parece uma princesa. Se antes eu já era sua fã, agora sou sua maior admiradora de todas.

— Quer dizer, vocês não só tiveram a chance de conhecer a residência de um duque tão prestigiado quando William Collins, como presenciaram um baile com a mais alta nobreza do país - falou tia March. - Sinceramente, como as três voltaram solteiras? Não, Charles, eu preciso entender. Vocês se apresentaram para todos os homens? Se eu estivesse aqui antes de vocês terem partido, eu com certeza acompanharia vocês e todos os jovens voltariam para Meryton comprometidos com alguém, até você, belo oficial, qual seu nome mesmo? - perguntou à Noah.

Jane estava se sentindo sufocada novamente, tia March era uma versão piorada de seu pai. Só queria subir para seu quarto ou escutar Charles contar sobre o seu noivado. Aquilo não estava sendo bom para sua dor de cabeça.

Ainda bem que o jantar logo acabou. As meninas negaram ir para a sala de descanso conversar, pois estavam cansadas da viagem - e da presença daquela mulher -, seu pai deixou que elas fossem se arrumar para dormir.

Emma estava de pijama, pegando um papel para escrever uma carta para Gerald contando que chegou tranquilamente em Meryton, sobre sua tia muito “amável” e perguntando se ele estaria presente no casamento de seu irmão. Mas, foi interrompida por batidas na porta. 

“Por favor, que não seja ela”, pensou. Porém, a voz de Charles se sobressaiu pelo lado de fora:

— Venha pro quarto de Jane, o mais rápido possível.

Seu pedido foi uma ordem. Chegando lá, Emma encontrou a sua vista Jane, Anne, Charles e Noah. 

— O que é isso? - perguntou Jane. - Uma reunião secreta? Você quer planejar sua fuga, Charles? Agora, já é tarde, você vai se casar sim! - brincou.

Emma e Anne se juntaram na cama com Jane e os homens ficaram em pé.

— Bom, convoquei todos aqui para poder conversar sobre vocês sobre… tudo. Pois, devo a minhas irmãzinhas uma explicação sobre isso. Apenas preferi conversar sobre isso em paz, sem papai ou tia interferindo. Um momento mais íntimo, entre família - Charles citou isso, incluindo Noah. Jane achou super fofo. - Por onde posso começar? Alguma sugestão, Noah.

— Que tal pelo primeiro encontro de vocês?

— Isso, tem razão. Bem, vamos pelo começo: Lydia sempre foi nossa vizinha, certo? Mas eu só fui a notar na primeira noite que ela estava… diferente. No baile que nosso pai deu ano passado, aqui em casa.  

— Espera - interrompeu Anne -, ano passado? Você demorou um ano para pedir a mão da srta. Preston? 

— Pobrezinha, como você é cruel, Charles - disse Emma. 

— Quietas, deixe ele continuar - ordenou Jane.

— Vocês estão se precipitando. Se não fosse a minha insistência, Lydia estaria sem anel nenhum em seu dedo, pois… ela me odiou quando nos conhecemos.

As meninas arquearam as sobrancelhas. Charles não era conhecido por ser uma pessoa desagradável, muito pelo contrário. Elas indagaram o motivo da desavença, e ele continuou:

— Acontece que Lydia tinha a ideia de que eu era… um libertino pervertido.

Gargalhadas altas ressoavam pelo quarto.

— E ela estava errada? - perguntou Emma. - Você não pode fugir do seu passado sombrio, Charles.

— Calada, você. Eu não sou libertino coisa nenhuma, nunca trataria mulher nenhuma assim. Todas as damas que me relacionei posso contar nos dedos de uma mão, o final só não foi bom pois não éramos compatíveis. Acontece que uma delas… srta. Collins, não aceitou muito bem meu término, e ela era amiga de Lydia, na época.

— O que você disse?!

— O quê?

— Srta. Collins? - questionou Emma, bruscamente se levantando da cama. - Irmã de Sir Collins?

— Ah… sim - ao responder isso as meninas os rodearam de perguntas, completamente chocadas com a informação, até Noah estava surpreso com isso. - Acalmem os nervos, pelo amor de Deus, sentem-se e me deixem explicar essa história direito. Se vocês continuarem me interrompendo, só vou sair desse quarto no dia do meu casamento. Bom, isso foi há anos, eu ainda estudava na Eton School, a conheci nos rodeados de Londres, estou me referindo a Collin mais velha, Amelie. Nós dois éramos muito novos, eu tinha dezessete, era imaturo, não imaginava que alguns flertes iriam fazer ela se encantar por mim tão facilmente. Infelizmente, ela começou a me mandar MUITAS cartas e ir me visitar na escola (me perseguir, na verdade), meus amigos não paravam de caçoar de mim, mas eu não tinha coragem de quebrar o coração dela. Quando entrei nas férias de verão e estava com as malas prontas para vir aqui para Meryton, ela apareceu na porta da escola na sua carruagem implorando para que eu passasse algumas semanas na sua casa para que ela pudesse me apresentar a seu irmão mais velho. Eu fiquei apavorado! Não tive outra escolha a não ser ter que acabar com aquilo ali, na frente de todos os estudantes. Ela surtou, jogou minhas malas no chão e me bateu. Eu sei que mereci, não deveria ter terminado com ela assim na frente de toda a escola, mas não tive escolha! Era isso ou Sir Collins iria me conhecer e achar que eu tinha interesse de me casar com sua irmã! Acho que eu devia ter interrompido aquilo quando recebi a primeira carta dela.

Todos ficam chocados. Talvez, aí estivesse a razão por todo ódio das Collins pelas Dashwood, Emma sempre sentia que quando elas ouviam seu sobrenome, as irmãs Collins bufavam ou reviravam os olhos. Bom, agora, estava explicado.

— Você não errou, não - disse Emma. - Você vingou suas irmãs, sem nem perceber - Charles não entendeu a afirmação dela, então ela prosseguiu: - Nada demais, enfim, foi apenas ela que você partiu os sonhos?

— Bem… Na verdade, foi. Amelie foi meu único “romance”, uma pena que não foi correspondida por mim. Enfim, a londrina quando soube que Lydia era minha vizinha, me difamou de todas as formas possível, disse que eu era o ser mais deplorável e que não valia nada. Inventou mentiras. Por isso, a srta. Preston me tratou tão mal quando eu lhe disse qual era meu nome, me olhou de cima abaixo como se eu tivesse alguma doença contagiosa. Claro, eu como sou um homem e tenho meu orgulho, me senti abatido por ter sido tão esnobado, precisei saber o motivo daquilo.

— Percebo que a curiosidade é uma característica presente em todos os Dashwood - complementou Noah. - Está no sangue.

— Com certeza. Acontece que eu tive que batalhar muito para conseguir fazer Lydia para de evitar. Quando ela começou a perceber que eu poderia ser inofensivo, me perguntou sobre o meu passado com Amelie e eu, óbvio, disse toda a verdade. Ela ficou confusa e trocou correspondência com sua amiga, conseguiu notar que aquilo não passava de uma birra da srta. Collins comigo. Começou a desacreditar de sua “doce” amiga, quando notou que todas as relações de Amelie com homens tinham sempre o mesmo trágico final, sem contar que ela começou a ameaçar Lydia se ela resolvesse virar minha amiga. Pois bem, srta. Preston não era mais ingênua, e notou que estava lidando com uma completa maluca. As duas, enfim, se afastaram.

— Ainda bem! - exclamou Emma. - Fiquei com medo de você me dizer que elas ainda eram próximas e que eu teria que encontrar Amelie na igreja.

— Mas ela não conseguiria passar pela porta, não dizem que o Diabo queima quando entra numa catedral? - respondeu Noah. Todos riram. - Mas sim, agora conte-as sobre quando você entrou para o exército.

— Sim, quando meus estudos em Eton chegaram ao fim, como vocês sabem, resolvi servir ao país. Nisso, pensei que minha amizade com Lydia estaria completamente arruinada, mas foi o contrário. Escrevi para ela todo dia, nem que fosse apenas uma página em branco com 3 linhas. Mandava todas as cartas aos domingos, e ela fazia o mesmo. Eu não podia esperar para vê-la novamente, pois sabia que quando encontrasse aqueles olhos, seria para a pedir em noivado. Naquele momento da viagem, eu tive certeza que ela era a pessoa certa, não tinha outra.

— Agora, imagine como foi para mim aturar esse homem loucamente apaixonado que é seu irmão - Noah cochichou para Jane. 

— Eu estou achando isso o máximo, nunca pensei que o veria um dia assim.

— Então, foi uma de suas cartas, que ela me revelou que seu irmão mais velho, George Preston, também era um oficial, com o mesmo cargo que o meu. Porém, enquanto naquele momento, eu e Noah estávamos instalados em Netherfield, do outro lado do país, George estava em Reading, a algumas horas daqui. Tive que mandar cartas para ele, perguntando se tinha planos para passar por Meryton. Ele assentiu, me contou que seu grupo e eles seriam recebidos na casa de seu pai com uma festa de boas vindas e que ficariam aqui por muito tempo, já que George passou 2 anos fora do seu lar. Foi difícil convencer meu superior a me dar autorização para desviar a rota e fazer parte da patrulha de George, tive que abusar da minha influência como filho de um baronete e também assinar papéis assegurando que perderia minhas próximas três férias como uma medida de punição, Noah não excitou em entrar nessa comigo. Enfim, partirmos para o meu tão amado lar. E, bem, quando cheguei, confesso que nunca me senti assim, esse último mês de Agosto foi incrível, eu e Lydia nós vimos todos os dias, não demorou muito para que as pessoas percebessem na casa dela, mas vocês três são tão lerdas que se eu tivesse a beijado na sua frente, ainda não notariam!

— Não fale assim! - falou Emma. - Óbvio que nós percebemos que tinha algo acontecendo, onde já se viu, alguém virar oficial e voltar para casa, de férias, 10 meses depois! Bom, eu confesso que nunca havia reparado muito em você e a srta. Preston juntos, mas é porque eu nunca fui próxima dela, logo, pensei que ela era calada demais para conversar com você. Mas, continue a história , por favor.

— Eu sei que vocês querem saber do pedido, e, ele aconteceu no dia do nosso passeio a cavalo no Parque de Bridgerton.

— Aquele em que eu me perdi e a peste do cavalo da Anne quase matou Mr. Knightley? Ótimo dia para fazer um noivado! - sibilou Emma, fingindo um drama.

— Não seja exagerada, Emma. Você sabe que aquele lugar é romântico, as árvores  e o clima chuvoso me influenciaram. Quando eu e ela caminhávamos de volta a casa, eu a propus, mas prometemos guardar segredo até que tudo estivesse resolvido, o local de casamento e para onde iriamos após. Ambos viemos de famílias grandes, o que nós dois não queríamos eram palpitações sobre nosso futuro. Enfim, como Lydia vem de uma família muito bem sustentada, o seu dote é razoável. Portanto, nós casaremos na Abadia de Northanger de manhã e à tarde partiremos para Bath.

— Bath?! - As três irmãs gritaram tão alto que Noah tomou um susto e saltou da cama. 

— Como assim Bath? - indagou Jane. - Tão longe assim? Pensei que iria adquirir uma casa aqui em Meryton ou quem sabe Reading, sei que Lydia não tem um dote tão alto a ponto de conseguir comprar Mansfield Park, isso é quase impossível. Mas, pensei que continuaria aqui no campo com a gente.  

— Por favor, não falem desse jeito, me farão me sentir culpado. Nós os visitaremos o máximo de vezes que pudermos. Eu e Lydia  já fizemos a compra do terreno onde será construída nossa futura casa no começo de Agosto. Na verdade, ela já está quase pronta, só faltam alguns pequenos detalhes. Não é grande como essa casa aqui. Entretanto, tem tudo que precisamos, é pequena, mas modesta, seu valor foi alto pois ela tem uma bela vista para o Oceano Atlântico. Quando ficar pronta, poderei convidar uma de vocês para ir nos visitar, infelizmente, não acho que haverá quarto para três pessoas, ou, se Lydia vai conseguir cozinhar comida para tantos, mas tudo terá seu tempo. Ela estará aprendendo a ser uma dona de um lar e eu um esposo trabalhador, feliz por não ter que depender mais de terceiros. Uma pena que passarei tempo fora, por conta do trabalho, mas ela vai estar satisfeita em contemplar a brisa do mar todo dia de manhã, eu acredito.

As meninas não acrescentaram nada. Não tinha como reclamar da distância percebendo a felicidade nos olhos de seu irmão ao contá-las sobre seu futuro. Se ele estava feliz, elas também estavam.

A noite os fez se despedirem, cada uma foi para o seu quarto. Emma ficou feliz por ter tido essa conversa esclarecedora com Charles, mal podia esperar para poder ficar mais próxima da srta. Preston, ou já deveria chamá-la de sra. Dashwood? Enfim, Emma teria a sua primeira cunhada na família, como se fosse uma nova irmã para a conta. Mas, será que elas duas se dariam bem? Apenas o tempo trará as respostas.


 

O dia seguinte estava passando devagar, Emma  não aguentaria passar mais quinze minutos tendo que conversar educadamente com sua tia, então, acordou cedo para ir às mesas do jardim para poder escrever sua carta para Gerald em paz, apenas ouvindo os sons dos passarinhos cantando ao ver o sol raiar.

Emma conseguiu fazer uma página completa dos acontecimentos das últimas vinte quatro horas, contando sobre a morte de seu tio, coisas inconvenientes ditas por sua querida tia e contou o que seu irmão a havia dito na noite passada. E, claro, perguntou se Gerald iria vir ao casamento. Caminhou até o correio o mais rápido possível, quanto antes aquela carta chegasse em Windsor melhor, não é?

Depois disso, ainda não era de tarde, então, a garota resolveu se empenhar em ir ao lago mais próximo de si para fazer um dos seus passatempos preferidos: pescar. Não era um caminho curto. Na verdade, lembrava o trajeto para chegar em Mansfield Park. O que só fez a morena refletir sobre como as coisas mudaram desde que o verão de julho chegou em Meryton.

X

— Tem certeza que não quer que eu use isso? - indagou tia March. - Em Paris, poderia ser um sucesso, você tem um talento. Pena que sua letra é horrenda.

Anne estava nervosa com sua tia, fuxicando seus papéis do seu mundinho particular. Implorou para que seu pai não os mostrasse para ela, porém foi inútil. Seu pai não tinha ouvidos para ela, desde sua volta para casa, os olhos de Sir Dashwood estavam vidrados em uma única coisa: Jane Dashwood. 

Seguia a filha mais velha em todos os cômodos, fingindo que estava lendo o jornal de Meryton em poltronas diferentes da casa. Não teve a oportunidade de conversar com ela em particular, por conta de uma presença ilustre que acabou se tornando um estorvo: Noah Russell. O jovem não saia do lado de Jane, pois sabia que o pai da garota iria fazer com ela, e se Jane já estava afundada agora, iria se afundar ainda mais quando seu pai descobrisse a escolha que sua filha tomou em Windsor. 

Jane estava parecendo um semi fantasma, metade morta metade viva. Como se tivessem sugado sua energia. Nem sua tia aguentava ficar perto de sua presença cabisbaixa e negativa. Noah tentou a convidar para ir colher flores ou treinar arco e flecha, mas a menina preferia ficar em casa esperando que alguma hora o mensageiro fosse trazer alguma carta lhe contando como estava o paradeiro de William. Ele devia estar pior que ela.

Sem aguentar o silêncio ensurdecedor que o afligia, Sir Dashwood resolve tirar todo o direito de sua filha de privacidade e perguntou no meio da sala com todos os presentes:

— Como estava o Sir Collins, Jane? Vocês conseguiram passar muito tempo juntos?

A garota estava fazendo um bordado, com a ajuda de Noah. Sua mão escorregou na hora que o ouviu, Noah engoliu seco e a fitou, sentindo que essa conversa não tinha como ter um final bom. Anne quase cogitou levantar da sala e sair de fininho, porém sua tia estava segurando sua mão, enquanto segurava suas pequenas histórias na outra.

— S-Sir Collins estava muito bem. Educado como sempre, se é o que quer saber. 

Jane rapidamente voltou ao que estava fazendo, virando as costas, como um sinal de que não queria prosseguir com o assunto. Claramente, seu pai não estava satisfeito.

— Ele é uma figura, nunca conheci alguém tão bondoso. Mas, então, não houve nenhum tipo de comportamento diferente, da parte dele, por você? - Sir Dashwood falava com os olhos pregados no jornal, tentando parecer desinteressado. Sua irmã, logo, notou o que ele estava tentando descobrir, e, rapidamente, as fantasias de Anne pareceram ficar desinteressantes para ela. 

— Comportamento diferente? Claro que não, Sir Collins sempre me tratou com muito respeito, por isso, somos bons amigos.

A última palavra fez o pai começar a ficar preocupado. Tia March começou a segurar o riso, e Sir Dashwood começou a perder a boa postura.

— Eu e Sir Collins também usufruímos de uma boa amizade. Amizade essa que me faz ser informado de seus respectivos planejamentos e sonhos, assim como a sua com Emma.

— Com licença, Sir Dashwood, mas, onde esta conversa está querendo chegar? Ela já lhe contou tudo que tinha para dizer - interrompeu Noah. Mas, isso só piorou as coisas.

— Apenas seja direto, Andrew. Conte a ela - falou tia March, querendo ver o circo pegar fogo.

— Me contar o quê? - indagou Jane. Sir Dashwood jogou o jornal na mesa com força e se levantou da poltrona, andou em direção a Jane e a disse:

— Antes de vocês embarcarem nessa viagem, Sir Collins e eu tivemos uma longa conversa, na qual, ele me disse que tinha planos de… pedir a sua mão, em Windsor. Estou me remoendo desde que você chegou, esperando que você me confirme sua resposta, mas parece que você está fugindo de mim. Tem algo a esconder do seu pai, Jane?

A loira estava congelada. Completamente embasbacada e sem nenhuma respostas que queria dar, nada que ela dissesse seria bom. Seu pai ficaria furioso com ela da mesma forma. Estava em um beco sem saída. Iria se afogar em um oceano, sem nenhuma chance de conseguir uma boia salva-vidas. Ela tinha muito medo da reação do seu pai, e de como seria tratada depois disso, nunca iria ser como antes. Nunca.

Ele, com certeza, iria a mandar para um convento. Iria planejar o pior castigo da história. E, quando os boatos se espalhassem de que Sir Collins não vai se casar com nenhum srta. Dashwood, Jane ficaria manchada, as pessoas iriam falar dela, a julgar por não ter feito o certo. Ela apenas conseguiu falar o que achou que seria menos pior:

— Eu não tenho ideia do que você está falando, papai.

O rosto de Sir Dashwood pareceu tomar uma expressão de dúvida. Ele limpou a garganta e prosseguiu:

— Não tem ideia? Como assim “Não tenho ideia”?

— Eu simplesmente não sei de onde você tirou isso - continuou Jane, sem medir suas palavras. - Ele… não me pediu em casamento.

Jane rezava para que seu pai não notasse que estava mentindo, seus olhos estavam prestes a lacrimejar. Preferia mentir do que ser humilhada na frente de todos. Não tinha outro jeito, era isso, ou ser a decepção da família Dashwood.

— Como eu disse, Sir Collins foi muito educado e respeitoso, mas não teve nada além disso. Sinto muito - ela disse se levantando e indo embora. Tentando parecer natural, mas querendo ir para o seu quarto se trancar para poder chorar que nem um bebê.

Sir Dashwood foi de confusão para fúria em instantes. Como poderia ter sido enganado assim? Sir Collins havia feito uma promessa! Mas, não iria passar a perna em Andrew Dashwood assim tão facilmente. O que o fez mudar de ideia? Será que se arrependeu quando percebeu que o dote de Jane era baixo? Será que os londrinos foram cruéis quando ele os disse sua escolha, por Jane ser uma menina do interior e não uma garota esnobe da capital? Na verdade, ele sentia que poderia ser um misto de tudo isso, somado com a chegada daquela menina de Rosings, a tal celebridade. Com certeza, William se absteve de Jane para tentar impressionar aquela dama estúpida. 

Sir Dashwood correu para o seu escritório, pegou papel e sua pena. Assim, transcreveu toda sua raiva naquelas folhas. Por fim, endireitou no envelope a palavra “Windsor”. Em seguida, chamou seu criado e o informou para enviar aquele documento imediatamente.

X

A atmosfera pesada que rodeava a casa dos Dashwood conseguiu se acalmar quando o dia do casamento do primogênito chegou. A srta. Preston se tornaria, enfim, sra. Dashwood. Ou seja, Jane, Emma e Anne ganhariam uma nova irmã. Emma torcia para que ambas se darem bem, uma pena que o casal iria morar tão longe, as chances de que elas duas se aproximassem era mínima, isso a deixava levemente chateada.

Jane estava no jardim, pegando algumas maçãs. Pensando como as coisas estavam mudando tão rápido, sentindo falta da antiga estabilidade. Foi surpreendida com Noah chegando por trás, parecia ainda mais bonito com o sol da manhã iluminando seu uniforme e seus cabelos castanho claro:

— Ansiosa para hoje? - ele perguntou tentando puxar algum assunto, mas não estava dando certo. Jane apenas assentiu com a cabeça. - Jane, não ouse agir como se ninguém soubesse que você está estranha desde que voltamos de Londres. Eu sei que você está mal, mas você não pode ficar se martelando pela decisão que tomou na semana passada, é irreversível agora. Você tem que seguir em frente, assim como William deve estar seguindo.

— Não vai brigar comigo?

— Brigar com você? Por quê?

— Por ter mentido para meu pai, ter escondido a verdade. - Ela voltou a sentir seu rosto queimar.

— Jane, não cabe a mim julgar sua decisão. Eu sei que você estava com medo de decepcioná-lo, mas, você tem que ter plena consciência que quando ele descobrir a verdade, vai ficar chateado por você ter dito “não” e por ter mentido para ele.

Os lábios de Jane começaram a tremer, ela encostou suas costas na árvore e desabou no chão. Colocou as mãos no joelhos e começou a chorar:

— Eu não aguento mais, Noah. Sinto que tudo que eu faço é errado. Tudo que eu fiz vai me fazer mal no futuro. Aí se você soubesse o quanto eu queria poder voltar no tempo e ter recusado ir para essa porcaria de viagem! Não teria sido pedida em casamento, não teria que estar mentindo para meu pai agora e… não… não… não teria sido abusada por aquele pervertido!

Noah se ajoelhou do lado dela, não tinha nada que ele pudesse dizer que fosse curar a dor que ela estava passando. Apenas poderia garantir que ela não estava sozinha, a abraçou e deixou que ela chorasse em seu peito.

— Meu pai vai me odiar tanto, Noah. Você não tem ideia.

— Mas, você sabe que ele está errado em pensar assim. Você sabe que o errado é ele. Jane, ele vai superar isso e, enquanto não superar, você não vai estar sozinha… eu vou estar aqui com você. - Ele disse passando as mãos na sua mecha de cabelo para a colocar atrás da sua orelha. Jane o abraçou fortemente.

— Mas, e se não estiver? Você vai ter que voltar para o exército, e eu não vou ter ninguém. Anne está ocupada sendo amiga da minha tia e Emma… Emma não está falando comigo como estava antes de voltarmos para aqui. Acho que ela está com raiva de mim...

Noah deu um sorriso de lado. E mexeu a cabeça negativamente.

— Emma está apaixonada, Jane - disse com convicção. - Não consegue perceber? Olhe para ela.

Emma estava longe. Jane tem a visão ruim, então teve que se esforçar para ver a irmã andando em voltas na entrada na casa, passando as mãos escuras na cerca, tentando ver se conseguia avistar alguém novo na rua. Ela estava esperando algum sinal de Gerald ou pelo menos algum carteiro.

— Ela está sentindo falta dele - disse Noah. - É só notar o comportamento dela, mas se você for perguntar, ela irá negar com toda suas forças.

Jane percebeu que ele estava certo. Mas, logo pensou em outra coisa:
 

— Posso perguntar como você sabe disso? - ela fez uma pausa melodramática, cerrou os olhos e perguntou: - Você já se apaixonou muito, não é, Noah?

— Por que está fazendo essa cara? - ele diz, rindo. - Na verdade, não. Nunca me apaixonei por nenhuma mulher… Não que eu me lembre - Jane ficou boquiaberta.

— Então, você já gostou sim, pare de mentir. Por isso, que você sabe sobre todos esses sentimentos que Emma está sentindo.

Noah respirou fundo. Eles estavam em setembro, supostamente era para o calor começar a ir embora, mas ele continua o sentindo em seu corpo. Apenas, respondeu sinceramente:

— Eu sei desta partes dos sentimentos, porque… foi assim que eu me senti quando você foi embora - a loira ficou sem palavras, embasbacada. - Acho que foi por isso que eu agarrei tão fervorosamente a oportunidade de ir para aquele baile. Fitzwilliam nem me convidou, eu que me ofereci. Bom, mesmo assim, ele não me destratou nem um pouco.

Jane ainda estava sem o que dizer. Não sabia o que dizer!  Sentia que se fosse falar alguma coisa, iria gaguejar infinitamente. O sol batia no rosto dos dois, fazia os olhos âmbar de Noah parecerem verdes, mas mais bonito do que os verdes dela.

— Jane, tudo bem, você não precisa dar uma resposta, foi apenas um desabafo. Não vou lhe inferni...

Nessa hora, ela sentiu que queria fazer ele parar de falar. Sentiu uma vontade muito grande de o beijá-lo. Inclinou seu rosto para perto do dele quando ele ainda estava falando. Noah parou e percebeu o que ela estava fazendo, a olhou nos olhos e depois para sua boca. Jane estava tão perto que podia sentir sua respiração.

Mas nem tudo é um mar de rosas. Noah colocou sua mão quente no rosto dela:

— Jane! Para dentro, agora! Emma, venha logo! Os preparativos já estão prontos, vão se arrumar, estamos atrasadas - era a voz seca de sua tia March. Gritando na porta.

Se o coração de Jane estava acelerado antes, agora estava a mil por hora. “Ela nos viu, com certeza nos viu”, pensava Jane. 

Noah tentou acalmá-la e falar que não poderia, pois apenas quem estivesse fora da casa poderia tê-los visto. Mas, nada que ele falava adiantava, Jane estava com certeza absoluta que ela havia visto.

— Emma, tia March estava com você aqui fora de casa quando nos chamou? - perguntou Jane, puxando a irmã para perto da cerca. Emma ficou extremamente desnorteada com esse tom da voz de Jane.

— Ah… Eu acho que não, não prestei atenção. Estava distraída.

Era isso, Jane estava arruinada. Sua tia iria contar para o seu pai, e ele teria mais um motivo para odiá-la: trocar um duque por um oficial. "Parabéns, Jane”, eram as palavras que repetiam na sua cabeça.

Quando os três entraram em casa, ouviram uma voz vindo do salão, ela estava sentada na poltrona lendo os papéis de Anne:

— Vão se arrumar, logo. O casamento é às 12h, vocês têm vinte minutos apenas.

— Só isso? - indagou Emma. - Droga - a garota saiu correndo as escadas acima. Noah também saiu de vista, assim que percebeu que era isso que Jane queria que o fizesse.

— Tia March, precisamos conversar, eu…

— Não temos nada para falar, acho que você deveria ir se arrumar agora, srta. Dashwood. 

— Não, eu preciso explicar sobre o que aconteceu...

Tia March jogou as folhas bruscamente na mesa, tirou o seu óculos meia-lua e disse em tom severo para a sobrinha mais velha:

— O que aconteceu foi que você se empolgou colhendo maçãs e perdeu a hora, foi isso que aconteceu. Agora, saia da minha frente.

Jane sentiu um alívio repentino. Porém, passou rápido demais, pois quando ela virou as costas sua tia sibilou:

— Não lhe culparia também. Pois, desde os tempos de Adão e Eva, podemos perceber que nós, mulheres, temos que... digamos, uma aptidão por experimentar o “fruto” que é proibido, pois ele sempre parece ser mais interessante do que os demais que já temos aos nossos pés. Concorda?

Jane apenas assentiu com a cabeça, e sumiu de vista.

X

A Abadia de Northanger era como um conto de fadas, essa foi a primeira vez que Emma iria à um casamento. Desceram da carruagem, Emma, Anne, Jane e Noah. As duas primeiras foram correndo atravessar o campo florido para entrar e ver como ela era por dentro. Emma vestia o vestido lilás que Gerald a havia presenteado, mas ainda não recebeu nenhuma carta dele, dizendo se viria ou não.

Jane não queria entrar agora, seu irmão ainda não estava no altar, então a cerimônia não havia começado, isso foi apenas uma mentira de tia March. Jane sentiu do nada algo gelado no seu pescoço e deu um grito.

— O que é isso?!

Quando virou viu que Noah estava segurando um fio em suas mãos, com cara de confuso mas querendo rir:

— Está querendo me matar? - indagou Jane. - O que é isso?

— É um colar que eu comprei para você em Londres, Jane.

A garota só queria cavar um buraco e enterrar a própria cabeça, de onde ela tirou que ia ser enforcada desse jeito. Ficou completamente vermelha:

— Desculpa, eu… tô ficando louca - colocou a mão no colar e ele era tão delicado, tinha o cordão dourado e um pingente verde no meio em formato de coração, mas era tão pequeno que de longe nem dará para perceber que era isso, pareceria uma pedra normal. - É lindo. Onde comprou isso? - perguntou se virando de costas para que Noah colocasse.

— Quando pedi para descer da carruagem, fui numa loja que tinha visto quando havia chegado em Londres com Fitzwilliam, ele disse que era um lugar muito bom e com preços não tão caros. Claro que os colares que vendiam ali não são os do mesmo nível dos das irmãs Collins, cheio de pedras, parecendo um arco-íris, mas, eu achei que…

— Esse é perfeito, obrigada. Muito mais bonito do que o delas. Na verdade, as irmãs Collins são a prova de que nenhum dinheiro no mundo consegue comprar bom gosto. Eu prefiro assim - disse Jane, olhando para baixo, segurando o pingentezinho verde, da cor dos seus olhos. - Bom, é melhor entrarmos, antes que Charles sinta falta do seu padrinho!


 

Quando Lydia Preston entrou na abadia, Emma ficou perplexa. O vestido que ela usava era simples mas tão lindo. Era branco que nem as rosas que estavam na igreja. O momento da entrada da noiva era algo tão único e hipnotizante. Emma desejava que o resto da cerimônia também fosse, mas estava enganada, já que a partir do momento que aquele padre careca abriu a boca, foi como se ela tivesse tomado seis xícaras de chá de camomila. Aquele discurso não acabava nunca! 

Emma ficava a cada dois minutos virando o pescoço para olhar a porta da abadia, queria ver se teria algum sinal que Gerald tivesse chegado. Mas, nada.

Foi na sua décima primeira virada que sua tia não aguentou:

— Eu juro pelo Santo Senhor todo poderoso que se você virar esse pescoço mais uma vez, faço seu pai lhe deixar de castigo até o ano que vem! - cochichou para ela. Não havia nada que a tia March abominava mais do que maus modos.

Emma resmungou algo baixinho, mas sabia que ela estava certa. Deveria estar comemorando o casamento do irmão, mas estava obcecada por um garoto idiota. Quem Emma havia se tornado? Nem ela estava se reconhecendo.

Depois do então aguardado “Eu aceito”, os noivos finalmente se beijaram. A família Dashwood agora estava maior. O Sr. Preston chorava num canto, ao ver sua garotinha, enfim bem casada e agora saindo do seu teto. 

Os noivos saíram da igreja e todos os familiares foram atrás. Todos se abraçaram e se despediram. Emma estava se segurando para não soltar uma lágrima sequer, Charles tinha virado um homem, mas ele sempre seria seu irmão bobão que a assustava pregando peças antes de dormir, ou que fingia ficar com ciúmes quando Emma dançava com algum de seus amigos em um baile.

Charles e Lydia entraram na sua carruagem branca e acenaram para todos os presentes, acenaram até sumirem de vista. O seu destino era Bath, o lugar em que, enfim, começaria essa sua nova etapa da vida, e respectivamente, a sua família.

— Percebem que talvez no próximo ano, quem sabe, alguma de nós vai estar naquela carruagem se despedindo - disse Emma. - Não consigo nem imaginar nós três se separando.

As duas concordaram. Jane estava segurando a emoção, mas Anne não estava sendo nem um pouco recatada ao limpar seus olhos encharcados na manga de seu vestido.

— Vocês são as mais velhas, vão se casar primeiro e eu vou ficar sozinha!

Jane e Emma correram para abraçar ela, negando que isso fosse acontecer tão cedo. Todas no final estavam rindo do drama de Anne, pois aquilo era uma realidade muito distante, que estava muito improvável de acontecer. Pelo menos, isso era o que pensavam.

X

— Então, essa é sua resposta? - perguntou Sir Dashwood. - Tem certeza absoluta que é isso que deseja? 

— Quantas vezes vou ter que repetir que quando eu escolho algo, não mudarei minha opinião. Essa é minha escolha - retrucou a sra. March. - Vim para esse fim de mundo de país com um objetivo principal, o qual você sabe. Depois dessa semana aqui, já está claro a resposta para mim, não adianta você tentar mudá-la.

Sir Dashwood resmungou, se inclinou na cadeira de seu escritório e disse:

— Não estou tentando mudar sua escolha. Só achei que o mais certo seria ir para a opção mais viável… a Jane.

— Dentre as três, Jane seria a que eu nunca escolheria de primeira. Acredite em mim, ela não está com cabeça para isso, está vivendo por suas próprias escolhas agora. Não há nada que posso fazer por ela - Ele não entendeu o que sua irmã quis dizer com isso, mas os dois estavam sem tempo para discutir sobre o que sra. March estava sabendo e ele não. Ela se virou para a porta e disse com convicção: - Já disse e repito: quero a Anne. Você já me viu fazer algo sem convicção absoluta, Andrew?


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