Esperança Perdida escrita por Lady Liv


Capítulo 1
Oneshot


Notas iniciais do capítulo

FALA SÉRIO LÍVIAN, O QUE É ISSO
meu querido amigo gafanhoto, eu não faço a menor ideia



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Leia Organa já tinha perdido as contas de quantas vezes havia sido presa, e dessa vez era pelo o que mesmo? Por dar esperança as pessoas? Por lutar pela justiça? Certamente não por ser bonita, há! Não de novo. Parecia arrogância se fazer de desentendida com as leis que a jogaram naquela cela, mas naquele ponto de sua vida, ela se recusava a aceitar. Havia o luxo de uma cama e um banheiro, no entanto. Era mais do que ela poderia ter imaginado, tudo cheirava a forte limpeza, o bastante para ser encarado como zombaria. Ela estaria furiosa se o vazio não fosse tão grande.

Ele estava vindo, ela podia sentir. Muitos anos antes, ela também pode sentir quando Vader se aproximou. Era assustador o quanto as sensações eram parecidas, mesmo sendo tão distintos.

Leia, perdemos nosso filho.

Todavia, talvez seu julgamento sempre esteve errado, afinal.

A porta metálica finalmente se abriu e o próprio Supremo Líder da Primeira Ordem entrou para vê-la – ou para matá-la, ela não duvidava que ele fosse capaz –, e assim como ela, ele parecia ter acabado de sair do campo de batalha, carregando as cinzas da Resistência.

“Adorei meus novos aposentos,” Leia enfrentou, de cabeça erguida. “Estava me perguntando se os droids de tortura viriam pra me fazer companhia.”

Kylo Ren deu um passo à frente, sua voz distorcida ecoando pelo local. “Dependendo de como nossa conversa se resolver, tenho certeza que terá uma resposta.”

“Hum, e o que você quer conversar? Deve ser muito importante se-”

“Onde eles estão?”

“Quem?”

“Os traidores.”

“Terá de ser mais específico.”

Ele não se deixou afetar pelo seu sarcasmo, continuando de modo automático e tedioso, quase como uma máquina. “O stormtrooper, FN-2187. A mecânica, Rose Tico. Há imagens dos dois na batalha de Ajan Kloss entrando em um cargueiro corelliano YT-1300. Uma equipe está no enlaço deles, mas por que desperdiçar tempo quando temos a fonte de tudo bem aqui?”

“Oh,” Leia diz. “Cargueiro, você quer dizer a Falcon?”

Ele deu outro passo à frente, e Leia não precisava ser sensitiva a Força para notar a energia pesada que ele carregava, realmente, estava quase defensivo na presença dela, como se ela precisasse ser detida, como se ela fosse o monstro.

Observando de perto, perguntou-se o que seriam as linhas vermelhas em sua máscara. Perguntou-se se eram sangue. Porque devia ser, certo? Porque todos se foram.

Porque Kylo Ren não havia poupado ninguém.

“Oh, estou vendo,” Ele murmura. “Agora a culpa é minha.”

E Leia não conseguiria mais ficar calada.

“Olha pro que você fez!”

“O que eu tinha que fazer.”

Não, não é justo chamar de batalha o ataque que você cometeu! Explodindo nossas bases, queimando nossos soldados, condenando os que restaram e pra quê?” Ela se ergue, a indignação crescendo em seu peito. “Pra quê?!” Ela pressiona, pois mesmo que ele se mantenha imóvel como uma máquina, ela sabe que ele não é. Ela sabe que aquela voz distorcida não é a dele. Ela sabe que ele é humano, mesmo que não haja mais humanidade em seu coração. Ela sabe porque ele já foi... o seu filho. “Eu vi amigos morrerem pelas suas mãos hoje, pelas mãos da Primeira Ordem, mortes que poderiam ter sido evitadas, e pra quê?!”

“Pra quê?” Ele repete, a cabeça virando para o lado de modo quase curioso. “Acho que a pergunta que você procura é por quê.”

Leia fecha os olhos. É claro.

“Mas você já sabe a resposta, não é?”

Sim, ela sabia, sua consciência a acusava.

“Me diga... ela sofreu?”

Mas Leia Organa, Princesa de Alderaan, Senadora da República, General da Resistência, sabia como lidar com a culpa.

“A explosão não a matou, se é isso que quer saber,” Leia informou de modo clínico, tendo a impressão de que quebraria se deixasse se levar pelos sentimentos que havia se esforçado tanto para enterrar. “Ela não viveu o suficiente pra saber o que você fez e só por isso me sinto grata! Não queria ser aquela que daria a notícia do monstro que você se tornou... Ben.”

E talvez Leia tenha ido longe demais, pois quando Kylo Ren ergue a mão, ela pensa que morreu por um momento-

Porém ele apenas usou da Força para empurrá-la contra a parede, o metal em suas costas e a pressão ameaçadora ao redor de seu pescoço lhe trazendo calafrios.

“Nunca mais-” Ren rosna, furioso. “Nunca mais use esse nome, General!”

“Então vai me matar também, hum? Vai ser você ou vai mandar alguém fazer o trabalho? Vai ser agora? Achei que ia transmitir minha execução para toda a galáxia, assim como fez com todos os inocentes que encontrou-”

“Inocentes,” Ele repetiu, em incredulidade ou zombaria, ela não sabia dizer, era difícil entende-lo com aquela máscara. “Quem, exatamente? Os espiões que mandou contra mim? O que esperava que eu fosse fazer com eles? Ou será que está falando dos ladrões que costumava receber de braços abertos? Ou talvez é claro, dos assassinos que tomavam as decisões da sua patética rebelião? Os mesmos que bombardearam a base em Hoth para-”

Você bombardeou a base em Hoth!”

“Oh por favor, até quando vai continuar bancando a cega?”

Leia piscou.

“O que raios você está-”

“Foram os próprios rebeldes que bombardearam a base em Hoth, os ataques iniciaram do seu lado,” Ren a interrompe, explicando. “Um acordo com a Primeira Ordem? Achou mesmo que todos fossem aceitar tão facilmente? E se tratando dos líderes, tão apegados há valores antigos... Eles sabiam que precisavam de uma faísca para lutar. E quando viram que uma criança com o precioso sangue Skywalker estava para nascer, eles encontraram um meio para se livrar daquela nova ameaça. Pessoas que você confiava foram responsáveis pela morte dela.”

“Mentira,” Leia nega sem hesitar, porque não é verdade. Não pode ser. Kylo Ren é um monstro, um assassino – um assassino de Jedi, de fato –, mentir não seria nada para a longa lista dele. “Nós fomos cuidadosas, ninguém sabia que você era o pai!”

“Que você saiba.”

“E como você sabe!?”

“CHEGA!”

Leia foi obrigada a fechar os olhos, sentindo a energia rondar sua mente de modo perigoso, prestes a quebrar qualquer escudo que ela seria capaz de fazer.

“Eu não vou perder mais meu tempo, General, onde estão os fugitivos?”

Ele queria uma resposta.

“Diga!”

Ele teria.

“O que aconteceu com Rey não foi culpa minha, Ben-”

Nem que para isso ele tivesse que força-la.

 

As primeiras memórias são rápidas e fáceis, memórias que ela estava tentando a todo custo não pensar.

O estudioso Beaumont Kin, ainda com um livro em mãos quando o sabre girou em seu pescoço, uma morte rápida e chocante; ninguém esperaria um ataque pelas costas daquele jeito. Querida Connix, a salvando de tiros de blasters, fechando a porta que lhe daria alguma chance de fuga. Poe, oh Poe, sempre tão impulsivo, tão corajoso, explodindo no ar com as tropas que havia jurado não abandonar. E também outros que Leia não sabia o nome, seus corpos caídos pelo chão que ela passava, a questionando, foi para isso que você nos liderou?

Ela ouve Ren bufar impaciente, e sua cabeça queima com a força de sua busca.

Líderes que estavam ao seu lado há tanto tempo, amigos, ela acreditava, agora faziam um discurso para motivar as perdas em Hoth.

“E o que a Primeira Ordem fez não vai ser esquecido...”

Ren ultrapassa a cena com grande fúria, e Leia geme de dor quando ele finalmente alcança-

Finn está diante dela, um olhar determinado em seu rosto.

“Não vão nos encontrar. Eu prometo.”

“Cuidem-se.”

Rose está com um mapa, Jannah a ajuda com algumas localizações distantes. As duas estão sorrindo. Era bom ver alguém sorrir de novo, ela pensava, voltando-se para ajudar Finn que se enrolava com-

 

“Não!” o instinto a faz puxar, e a Força em si a ajuda a empurrar Kylo Ren para fora de sua mente.

“Você vai me dar o que eu quero.”

Leia se desespera, ela sabe que não pode segurar por muito tempo. Ele é mais poderoso. Ele sempre foi. Ela não tem como mantê-lo fora. Ele quer ver.

E então ela faz algo diferente.

Ao invés de esconder, ela mostra.7

 

“Leia,”

A voz de Rey ecoa em sua cabeça, trazendo alívio contra o ataque de Ren. Ele recua e observa chocado a memória exposta.

Os escombros da base estão ao redor das duas, presas em um buraco sujo. Rey tosse agoniada, a fumaça e o ar congelante se misturando em um só, aquele era sem dúvidas o pior lugar para um parto.

“Leia!”

“Sim, estou aqui,” Ela se lembra de sorrir, tentando transmitir uma segurança que não sentia realmente. “Só mais um pouco, Rey, você consegue!”

“Não... não consigo... não consigo mais...”

Era de se esperar, Leia não consegue não pensar, vendo os inúmeros machucados pelo corpo da garota. Buscou pelas mãos dela, e tentou aliviar a dor que ela sentia, sem sucesso.

“Não sabe o que está dizendo, é claro que consegue! Eu consegui, ainda mais você! É mais forte do que eu! É uma Jedi, não é?”

Mas a garota apenas balançou a cabeça, os olhos se fechando, ameaçando desmaiar mais uma vez.

“Rey! Por favor! Ajuda está a caminho, Chewie já nos localizou! Só mais um pouco! Precisa ser forte agora, ‘tá? Não desista, Rey.”

“Não sou... Jedi... Não sou Jedi...”

“Confie na Força! Você está quase lá.”

“A Força?”

“Sim, vamos, você consegue.”

“A Força,” Rey respira suavemente. “Ben...”

“O que?”

“Ben. Ben. Ben.” Ela repete e repete, fechando os olhos quase delirante. Leia sente um bolo se formar em sua garganta e se esforça para não chorar. Pobre garota, ela realmente o amava, mesmo depois de tudo, mesmo depois disto. Ela não via que Ben não mais existia.

Quando o bebê nasce, nenhum som é produzido.

Leia declara as duas mortas horas depois.

 

A pressão desconfortável fugiu de sua cabeça e Leia abriu os olhos, escorregando pelo chão, de volta a cela. Estava feito então, ela esperava que aquilo fosse o suficiente para mantê-lo afastado de-

Tocando o próprio rosto, limpa as lágrimas teimosas que haviam lhe escapado, o cansaço e a fome e o luto finalmente a afetando e fazendo seus ombros pesarem. A imagem de Kylo Ren andando de um lado para o outro como um animal também a afeta, mas ela é boa em ignorá-lo-

“Eu sinto muito, ela não merecia,” ou talvez nem tanto, ela pensa ao dizer. “Mas nenhum deles merecia! Pessoas boas... que você destruiu.”

Um som estranho o escapou, como uma risada ou um choro. Talvez os dois.

“Você nunca teve fé em mim.”

“Meu filho-”

“Não, não tem o direito de me chamar assim! Não antes e com certeza não agora,” ele se aproximou apontando em seu rosto, acusador. “Eu posso ter perdido o controle, mas você também! Rey estava sob os seus cuidados, Leia Organa, e você abusou da confiança dela! Da minha! Deixando-a sozinha em meio a lobos, não banque a ignorante comigo! Você sabia dos riscos! Você sabia! Você sabia e mesmo assim... mesmo... ainda...”

Ele parece sufocado, a respiração alta e falha, e de repente-

Um click.

Um baque.

Leia o observa tirar a máscara pela primeira vez, assombrada.

 

A barriga começou a aparecer, mesmo assim, ela continua ajudando no que podia. Seu trabalho tanto preocupa quanto traz uma sensação calorosa no peito de Leia Organa-Solo. Aquela garota era um presente de tantas maneiras.

“Como ele é?”

“Quem? Oh!” Rey entende, largando a ferramenta. “Ele é... intenso.”

Leia arqueia a sobrancelha. Um rubor surge nas bochechas da jovem.

“Não desse jeito, quer dizer, desse jeito também, mas... err... em tudo, quer dizer,” Rey gagueja, parando pensativa. “Ele não é muito bom com palavras, mas... ele não precisa dizer nada porque, quando se olha nos olhos do Ben... parece até que você vai se afogar com o que está lá dentro.”

“E isso é bom?”

“Sim.”

“Tem certeza?”

Rey abaixa a cabeça, sorrindo. “É maravilhoso.”

“Humm.” Leia assente. “Mas eu estava me referindo a aparência, sabe. Faz anos que eu não vejo o meu filho.”

“Aaaah claro!”

“Sim.”

“Errr, ele é... ele tem os traços do pai.”

 

Quando seus olhos se encontraram, Leia espera.

Ela lembra da conversa que teve com Rey, meses antes de sua morte, e ela espera pela sensação maravilhosa que... que não chega. Na verdade, o que ela encontrou a encarando de volta era horrível.

E era Ben.

Seu filho, ela reconhece segurando o choro.

Seus profundos olhos castanhos tinham um leve brilho dourado, carregando um mar de sofrimento, e o rosto suado- não, não suado, aquilo eram lágrimas, lágrimas secas, lágrimas constantes, lágrimas que não tinham fim. Ele sempre chorou na infância, oh, como ele chorava! Se ela soubesse... ela devia... ela devia ter sido mais... Não importava, era passado. Ela teria que conviver com os erros até seu último suspiro. E ele apenas estava... tão parecido com Han. Seu filho, crescido. Mais destruído do que ela jamais poderia ter imaginado.

“Eu sei.” Ela diz, desviando o olhar. Era demais. Vê-lo daquele jeito era demais para aguentar sozinha. “Eu falhei com você de novo... eu sei.”

Há um momento.

“Por favor,” E ele implora, as mãos trêmulas se fechando em punhos. “Você me deve isso.”

E assim, Leia tem certeza de que ele sabe. Ele sabe a verdade.

“Ben...”

“Você me deve! Não minta mais! Por favor, só me diga-”

“Eu... eu não posso... eu não posso...”

“Onde eles estão?!”

“Ben-”

“ONDE?! ONDE ELES ESTÃO?!”

Leia balança a cabeça, chorando. Ela não podia dizer, por mais que ela quisesse, não depois do que ele fez, era impossível. O ataque da Primeira Ordem havia a atingido mais do que muitos pensavam, havia acabado com tudo. Eles estavam tão perto de um acordo de paz e então-

Aniquilação.

Leia nunca se sentiu tão impotente. Ela tinha que proteger qualquer esperança que tivesse sobrado... até mesmo a de seu filho. Não poderia arriscar outra perda de controle do lado dele, não poderia. Talvez em alguns anos... talvez... porém não agora... ele estava muito instável.

Parecendo perceber que ela não o responderia, a expressão dele escureceu. A sombra de Han, do homem que ele poderia ter sido, do homem que Rey amava, desaparecendo de seu rosto e-

Vader, inconscientemente, Leia foi lembrada com repulsa, a voz de seu marido ecoando em sua mente com pesar. Tem muito do Vader nele.

Kylo Ren se aproxima, extinguindo a luz sobre ela, como um eclipse.

“FN-2187. Rose Tico.” Ele volta a citar, e mesmo sem a máscara, seu tom não carrega humanidade alguma. “Onde eles foram? Para onde... eles levaram... a minha filha?”

Oh, estrelas.

Ela estava com esperanças que ele não fosse perguntar.


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Notas finais do capítulo

Final bem aberto, né? Mas pra quem ficou confuso, aqui um pequeno background: basicamente após TLJ, depois de muito drama e muita conversa, a Rey engravida do Ben e só a Leia sabe(Finn e Rose também), ele resolve tentar entrar em um acordo com a Resistência mas alguns rebeldes não aceitam isso muito bem e depois de meses planejando um plano ardiloso, explodem as próprias bases para causar um mártir. Rey estava em uma dessas bases e morre após complicações no parto. Kylo dá uma de Anakin e dane-se acordo, mataram minha pitanguinha e é isso---- mas o bebê ainda vive, Finn e Rose fugiram com ela.

Também pessoal, eu estive lendo A Figure in Black no AO3 (recomendo muito!) e não descansei enquanto não escrevia algo super trágico como a Rey morrendo no parto---- aqui está o link pra quem se interessar: https://archiveofourown.org/works/10655619