Você discou para a Love Line. O que gostaria de ouvir?

Nenhum som saiu, mesmo Hinata abrindo e fechando a boca várias vezes, as palavras engasgadas. De repente, ela tinha tantas coisas para pedir que nenhuma delas se expressaram imediatamente. Mais uma vez ela encerrou a chamada e bufou frustrada consigo mesma. 

A culpada por isso era Ino, que sabe-se lá Deus como, encontrou esse serviço e teve certeza de que ela, Hinata, precisava. E talvez ela precisasse mesmo, porque ela tinha muitos problemas, além de ser carente de vários sentimentos, em especial o amor. 

Ela tentou de novo. O som da discagem se repetindo, várias vezes. Você discou para a Love Line. O que gostaria de ouvir? Sim, o que ela gostaria de ouvir? Conforto?Amor? Talvez um “É claro que você é suficiente!”?

ー Eu… Quero conforto. 

Você será direcionada para o setor “Conforto”. Agradecemos a sua ligação!

Hinata suspirou e esperou enquanto Clair de Lune tocava. Ela gostava da música e, incrivelmente, a fez relaxar. Parecia mais uma linha de gurus ou astrólogos, mas não era tão ruim assim. Alguns minutos se passaram quando o coração dela relaxou, até que a música parou e uma voz masculina, um tanto rouca, atendeu. Ótimo, um homem. 

ー Você está no setor do Conforto. O que gostaria de ouvir?

A voz era calma, mas alegre e muito confortante. Hinata pensou que era a pessoa perfeita para aquela função. Talvez isso não fosse tão ruim quanto ela imaginou que seria. Talvez Ino estivesse certa.

ー Eu me sinto pressionada e insuficiente, então só queria… ouvir que sou suficiente. ー ela disse, a voz abaixando a cada palavra. 

Por ter falado baixo, Hinata imaginou que teria que repetir, já que o homem do outro lado não disse nada por alguns segundos. Ela ia desligar quando ele finalmente voltou a falar com ela. 

ー Qual é o seu nome?

ー Hinata. Hyuuga Hinata. ー fez uma pausa. ー Eu achei que fosse anônimo…

Uma risada. ー E é. Mas não seria estranho falar o que você quer ouvir sem dizer o seu nome? Seria como não falar para você. 

Ela ponderou. De fato, seria extremamente frustrante, afinal de contas era um serviço personalizado. Era para ela, então nada mais justo do que poder ouvi-lo dizendo aquilo para ela. 

ー Hinata, quem te faz se sentir insuficiente?

Hinata mordeu o lábio e voltou a sentar-se na cama. A resposta era um pouco óbvia para ela, mas nunca, em seus 26 anos, se atreveu a falar em voz alta. Fosse por medo ou vergonha, ela sentia que era errado jogar aquela culpa em alguém que apenas queria o melhor para ela (ou era o que ela queria acreditar).

ー Meu pai, minha família… mas meu pai principalmente. ー pausa para engolir o nó na garganta. ー Não é como se eu não tentasse. Todos os dias é um esforço, cada ano eu alcanço uma nova conquista e mesmo assim, não é suficiente. 

ー E é suficiente para você? Como você se avalia, Hinata?

Ela ponderou. Na verdade, Hinata nunca se avaliava, mas sim deixava que os outros o fizessem por ela. Era seu pai, sua irmã, seu irmão, seus amigos, seus chefes e ex-namorades. Sinceramente, como ela se avaliava? Ah, ela tinha feito coisas legais, conquistado outras que eram muito interessantes e mais algumas que ela desejou por anos e também obteve. No entanto, ela nunca comemorava nada disso, porque em grande parte fazia tudo para mostrar aos outros que era capaz. 

ー Eu não me arrependo das coisas que eu fiz, apenas de não ter feito por mim…

ー E por todas elas, você é boa o suficiente, Hinata?

ー Sim. ー respondeu hesitante. ー Eu sou. 

ー Então por que você se vê com os olhos dos outros? ー uma pausa. ー Você não precisa de ninguém, Hinata. Você é suficiente. 

De repente, o nó voltou à garganta e ela não conseguia mais dizer nada, porque provavelmente sairia apenas um soluço. Era verdade; ela se via pelos olhos dos outros. Mas e quanto a si mesma? E quanto a sua própria vontade e felicidade?

ー Mesmo que você falhe, Hinata, tenha orgulho de si mesma, porque você nunca desiste, certo?

ー Uhum. 

ー Então, você é uma falha orgulhosa. E você sabe disso melhor do que ninguém. 

Hinata concordou com a cabeça, depois lembrando que ele não podia vê-la, e tentou controlar o choro, mas as lágrimas caíram sem que ela realmente tentasse impedi-las. No fundo, ela sabia que tudo aquilo era verdade. De algum forma ela passou seus anos de vida tentando melhorar cada vez mais, ser o que todos queriam que ela fosse. Agora, ela precisava de si mais do que nunca. Ela era a única pessoa capaz de entender a si mesma, mas para isso precisava ser mais gentil consigo mais. Mais amorosa. 

ー Espero que você se sinta melhor, Hinata. Você é a melhor versão de si mesma. Tudo bem?

ー T-tudo bem. Obrigada por isso, eu… eu precisava realmente ouvir isso. 

ー Que bom, Hinata. Você pode ligar sempre que quiser. 

ー Espera! Qual é o seu nome?

ー Eu acho que mereço isso. ー disse ele rindo. ー Meu nome é Naruto. 

ー Naruto… obrigada. ー sorriu. 

ー Sempre à disposição, Hinata. 

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