Espera escrita por clini abidemi


Capítulo 1
Dia após dia após dia


Notas iniciais do capítulo

"Tai Hua Jiangjun" significa "General Tai Hua", é um dos títulos de Lang Qianqiu. Boa leitura!



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Guzi tenta entender, mas não entende. Guzi é pequeno e tem olhos grandes e uma cabeça redonda, e tenta entender, mas não consegue. O pai estava lá e disse que ele era seu filho, e seu coração bateu mais forte mesmo que ele já soubesse disso, porque foi igual, mas foi diferente. E então o pai se foi. Como dente-de-leão desfazendo-se ao vento, chama verde apagando-se, o pai se foi.

É estranho pensar nisso, porque Guzi teve medo tantas vezes de que o pai se fosse, tantas pessoas pareciam não gostar dele... Não importava muito, é claro, porque Guzi gostava do pai e o pai gostava de Guzi. Mas depois que o pai se foi, o que sobrou?

Tai Hua Jiangjun veio e levou Guzi para a casa dele no céu. Uma mansão grande e bonita, tal como aquelas em que o pai disse que eles viveriam um dia. Agora Guzi vive em uma. Dorme e acorda em uma cama macia, almoça e janta com talheres de jade, leva um banquinho de madeira para a janela e espera que o pai surja ao fim da rua brilhante da cidade celestial. O dia nasce, morre, torna a nascer, mas ele não vem. Guzi espera e espera, vendo os oficiais celestes indo e vindo, suas vestes um mar colorido, mas o verde do pai nunca está entre elas.

Ele aproxima-se timidamente de Tai Hua Jiangjun e pergunta para onde o pai foi. Tai Hua Jiangjun veste uma armadura brilhante e uma linha nos lábios. Ele o encara com seriedade e diz que não sabe. Guzi espanta-se um tanto. O pai sabia tudo. Tai Hua Jiangjun não sabe muito.

Guzi não se abate. Os machucados do fogo se curam, até mesmo os mais profundos, e Guzi pensa que se até ele se curou, talvez o pai tenha se curado também. O pai era invencível, afinal, mais forte do que Guzi poderia sequer sonhar ser. Ele pergunta a Tai Hua Jiangjun, "Será que agora meu pai não está bom e poderá vir me buscar?", mas Tai Hua Jiangjun ainda não sabe.

Mais dias nascem e morrem e nascem de novo. Guzi não sabe contar direito e não pode dizer quantos foram, mas sabe que são muitos. Ele pergunta do pai todo dia e todo dia recebe a mesma resposta. "Não sei", diz Tai Hua Jiangjun. Não sei. Não sei. Não sei. Há dias em que um "Não sei" é demais para suportar e ele chora. Guzi tem olhos grandes e chora muito, Tai Hua Jiangjun nunca sabe o que fazer quando isso acontece.

Um dia, Tai Hua Jiangjun vem com uma lamparina, uma luz verde fraca brilhando. Ele diz que é a alma de seu pai, mas Guzi não entende direito o que é uma alma e aquele objeto, além da cor, não parece em nada o seu pai. Ainda assim, ele carrega a lamparina para todos os lados, nunca a perdendo de vista. Guzi tem olhos grandes e braços curtos, mas quando dorme, deixa a lamparina ao alcance de seus dedos. Quando sai, leva a lamparina em suas mãos pequenas.

Um dia, ele espera, a tal alma dentro da lamparina vai crescer, feito uma semente que se torna árvore. Nesse dia, talvez ele possa abraçar seu pai como da última vez, mas sem todo aquele fogo terrível que machucou tanto a ambos. Por isso ele cuida dela como se fosse um tesouro. Seu tesouro mais precioso.

Ele pergunta a Tai Hua Jiangjun quando é que a alma vai crescer e voltar a ser seu pai, mas ele não sabe responder. Guzi já se acostumou com essa resposta, mas não deixa de perguntar. E ele pergunta no dia seguinte e no dia após esse. Dia após dia após dia. E espera que algum dia a resposta seja diferente.


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Notas finais do capítulo

:)



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