3 vezes Potter escrita por Rose blu


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Essa fic foi escrita para o jilytober, ela se passa nos anos 30/40 e em diferentes anos, as datas são importas exatamente para se localizar nos anos, sendo 1945 o ano atual e os outros lembranças



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1946

 

O sol iluminava todo o jardim enquanto trazia um calor agradável depois de um inverno rigoroso, as flores voltavam a crescer por todo o jardim e dezenas delas poderiam ser encontradas nas antigas mudas que ela lembrava de ter plantado alguns anos atrás, a primavera sempre vinha como um novo começo, o que fez com que a ruiva tivesse certeza de que havia sido uma boa ideia viajar para antiga casa da família no campo.

Entre todas as plantas do jardim, bem na parte em que a grama crescia mais alta, um jovem rapaz brincava com algumas margaridas, era impressionante como com apenas quase 3 anos, Harry James Potter era tão inteligente, com sua própria visão de mundo infantil ele era a luz que mantinha a família Potter sã naqueles dias, o que era bom. Era um fato inegável de que Harry era especial, assim como ele gostava de brincar com sua mãe no jardim, tinha os olhos verdes brilhantes de Lily e o sorriso com covinhas de James, na verdade, ele era muito parecido com o pai, os cabelos rebeldes que não paravam quietos, o jeito doce, mas com uma habilidade de criar pequenas confusões que sempre deixavam a ruiva preocupada e de cabelos em pé. A Potter sorriu vendo seu pequeno menino distraído, eram aqueles pequenos momentos que ela o via tão parecido com o pai, que seu coração mais se apertava.

Levando a mão até o pequeno relicário que tinha uma foto dela junto a James e Harry e outra apenas de seu marido, ela desejou mais uma vez que seu amor estivesse ali ao seu lado, vendo o menino deles crescer. Fazendo um pequeno carinho, que infelizmente era na foto de seu marido e não em sua bochecha real, ela fechou o relicário.

— Harry querido, está na hora do almoço. Entre e venha lavar as mãos. - O menino sorriu correndo até ela e agarrando sua mão enquanto era guiado até a pequena casa.

Era um belo lugar, paredes brancas com janelas azuis, um belo jardim e um balanço de pneu na árvore, claro que era uma fazenda, então também contava com os mais diversos animais para manter Harry entretido, o menino parecia gostar principalmente dos cavalos, talvez se recordasse das poucas vezes que montou junto ao pai para um pequeno passeio nas temporadas que passavam ali. Aquele era o local dos sonhos de menina de Lily, de quando andava com seus sapatos polidos e laços no cabelo pelas ruas de Londres, enquanto se apaixonava pelo rapaz que vinha do interior, com uma família rica que deixaria sua mãe feliz, mas afastada para que ela fosse feliz longe do tumulto de Londres, e sonhava em um dia se mudar para uma fazenda ao lado dele, começar uma família, ter um casamento de jardim que faria Rose Evans ficar de cabelos em pé por não casar sua menininha com o luxo que esperava. Aquele era o local dos sonhos de Lily, mas sem o homem de seus sonhos, seu James, e ela amaldiçoaria até seu último dia a guerra e cada homem poderoso que a causou e tirou o amor de sua vida dela.

Ali era uma vida calma, administrando a fazenda e cuidando do filho, talvez devesse se mudar de vez para lá, como James planejava fazer assim que voltasse da guerra. Burro, James havia sido tão burro em apenas ir, ela sabia que havia uma questão de honra e várias bobagens que ele falava e ela nunca seria capaz de entender enquanto ele secava suas lágrimas e beijava sua testa dizendo adeus. Mas sim, talvez devesse se mudasse de vez para fazenda.

Tirando a torta da sobremesa do forno para esfriar até terem terminado a refeição, garantiu que Harry estava com as mãos limpas para se sentar à mesa do almoço, era uma sorte ainda tê-lo.

Tão parecido com o pai.

Ela serviu um pouco do macarrão ao filho e encarou o próprio prato, perdida em pensamentos, de um outro tempo, de um tempo em que ainda era uma menina.

 

. . .

 

1932

 

Lily encarou os próprios sapatos, geralmente eles sempre ficava um pouco sujos com lama, mas hoje estavam impecáveis, sua mãe havia até mandado poli-los. Era o primeiro dia de aula e ela estava não sabia a quanto tempo parada na frente de uma loja qualquer esperando Petúnia terminar de olhar os vestidos. A mais velha das irmãs Evans tinha essa mania, sempre parava na frente de lojas caras para imaginar como seria poder comprar algum daqueles vestidos, mas Lily admitia, algumas vezes era divertido se imaginar com um belo vestido azul como o céu noturno e um colar de pérolas como o de sua mãe. 

— Terminei. Já podemos ir. - Petúnia disse e acenou para que a irmã a acompanhasse.

O caminho até a escola era curto, mas Petúnia, alguns anos mais velha e bem mais alta que Lily, no auge de seus 11 anos e sendo um tanto baixa para idade, era difícil para Lily acompanhar o ritmo da mais velha, o que sempre fazia a ruiva andar dois passos atrás da irmã. Como agora, que Petúnia andava carregando seus livros, com a postura reta e a fita roxa feia nos cabelos, isso fez com que Lily colocasse a mão na fita vermelha que insistiu em usar, muito mais bonita na opinião da ruiva, além de que vermelho combinava melhor com ela.

Chegaram aos portões da escola, as árvores começavam a ter folhas amareladas por conta do outono e logo esfriaria mais, os portões de ferro da escola as receberam como todos os anos e Lily se sentia empolgada para mais um ano. Alguns meninos brincavam do lado de fora, o que fez com que uma bola rolasse até os pés de Lily, que curiosa a segurou enquanto Petúnia olhava com desprezo o objeto enquanto questionava porque a menina havia a pego.

Então ele apareceu.

Ele tinha cabelos bagunçados escapando da boina que usava e ajeitando os óculos no rosto, os sapatos já sujos por conta do jogo e a camisa amassada, mas quando a encarou com aqueles olhos castanho-esverdeados e sorriu, Lily quis sorrir também.

— Prazer, meu nome é James, James Potter. - ele esticou a mão para Lily, enquanto Petúnia bufafa. — E a bola é minha.

— Prazer, Lily Evans. - ela aceitou a mão dele e após um instante estendeu a bola de volta para ele.

— Obrigado. Você tem um nome bonito, Lily.

A ruiva se sentiu corar um pouco, mas antes que pudesse responder algo, Petúnia se cansou da pequena interação deles e pegou a mão da irmã a puxando para dentro.

— Porque fez isso, Tuney?

— Não devia ficar conversando com meninos em qualquer lugar, ainda mais na hora da escola.

— Mas ainda não é hora da aula, e ele estuda aqui também.

— Mesmo assim Lily, mamãe diz que você também está virando uma mocinha, precisa se comportar como uma. - a morena revirou os olhos e largou a mão da irmã.

— Então acho que não quero ser uma. - a ruiva cruzou os braços.

— Acho que nenhuma de nós quer. - Petúnia disse, fazendo Lily seguir para sua sala bufando.



Durante o intervalo daquele dia Lily insistiu em ir para o pátio, não tinha alguém para sentar e conversar, mas aproveitaria o pouco de sol que tinha no fim do verão, Petúnia estava afastada em pé com outras garotas mais velhas, então a ruiva se sentou em um banco com sua lancheira. Encarando o sanduíche que ela não fazia ideia ainda do que era, ela apenas suspirou o pegando, mas antes da primeira mordida ela sentiu alguém sentar ao seu lado no banco. Era o mesmo garoto de mais cedo, que também estava na sala dela, não que fizesse alguma diferença já que meninos e meninas sentavam de lados opostos da sala, qual era o nome dele mesmo? James! Sim, James Potter, era isso.

— Posso ficar aqui? - ele perguntou tímido, tirando o chapéu e mexendo no cabelo.

— Sim. - a ruiva voltou a olhar para o sanduíche, então vendo que ele também tinha uma lancheira. — Bom, minha irmã diria que eu não deveria, já que estou crescendo, então não posso ficar conversando com meninos. Mas eu não gosto de fazer o que ela manda mesmo.

O menino riu, o som da risada dele era melodiosa, realmente boa de ser ouvida.

— Também não sigo muito o que o Remus diz.

— Remus?

— Ele é meu amigo, mas é como um irmão para mim. - ele explicou.

— E tem irmãos?

— Um, ele se chama Sirius. Ele está lá dentro, aparentemente a gente não pode mesmo ficar sem esse troço apertando o pescoço. - ele disse afrouxando a gravata do uniforme ao redor do seu pescoço.

— Ele já arrumou problemas? É o primeiro dia.

— Você ficaria surpresa… Lily, né?

— Uhum. - então voltou a encarar seu sanduíche, dando uma mordida e fazendo careta. Atum. Ela odiava atum, devia ter pego o de Petúnia sem querer.

— Quer trocar de lanche? - James ofereceu, em seguida abriu a própria lancheira como se provasse que era uma proposta real. — Eu ajudei minha mãe a fazer, é de geleia de morango, ela que faz a geleia, é muito boa.

— O meu é de atum, gosta?

— Um pouquinho, mas posso comer e te dar o meu.

— Não precisa.

— Meu pai sempre me ensinou que ser educado é importante. - então ele deu de ombros como se não fosse nada, pegando o sanduíche dela e trocando.

A ruiva encarou sua lancheira com agora o sanduíche de geleia de morango, então olhando James, não parecia algo justo. Então partindo ao meio o, agora seu, sanduíche de geleia, entregou metade para o Potter.

— Minha mãe também me ensinou que educação é importante. E se a geleia é boa, fica com metade e eu com a outra. - então deu uma mordida, vendo James sorrir satisfeito.

— Gostei do seu cabelo. - o Potter disse entre uma mordida e outra. — É muito bonito e… Laranja, como uma cenoura. Nunca tinha visto alguém com o cabelo laranja.

— Obrigada. É igual o da minha mãe, geralmente as pessoas não gostam muito, mas quando a gente morava na Escócia era mais comum.

— Imagino… Mas eu gostei, também parece o fogo, vivo e bonito. Combina com você e com as fitas vermelhas.

Lily sorriu segurando uma das duas tranças em que seu cabelo estava preso, ele havia gostado de seu cabelo e uma alegria infantil a invadiu por causa disso. Talvez esse pudesse ser o começo de uma grande amizade, na primeira vez que o Potter entrou na vida dela.

 

. . .

 

1946

 

Lily parou de ler seu livro percebendo que havia se perdido em meio as memórias mais uma vez, pensava em como aquele pensamento infantil havia se tornado verdade. Com o tempo havia conhecido Remus e Sirius e os quatro se tornaram inseparáveis, eles insistiam em se chamar de marotos e ela se tornou uma também com o tempo, como na vez que acabaram colocando uma aranha nas coisas de um professor para tirar Sirius e James do castigo, ou todas as vezes que tiraram Lily escondida das aulas de dança para irem até a casa na árvore que era o esconderijo de deles, e quando não conseguiam, os meninos também participavam das aulas de dança e era bom. Sirius era um excelente dançarino, parecia ter o talento naturalmente, dançar com Remus era mais difícil porque ele sempre tinha medo pisar no pé dela e realmente se atrapalhava, mas com James era diferente, dançar com ele era sempre uma aventura, ele dançava com algo que apenas ele possuía, como se a música que o seguisse, não o contrário, com aquele brilho divertido no olhar e a mão na cintura da ruiva que com o tempo, sentiu como se o local que ele tocasse ficasse e chamas.

Também haviam momentos mais simples, eles conversando sobre o futuro, quando James a trazia flores, as melhores era quando ele achava um lírio para ela, até mesmo quando começaram a discutir a guerra que havia começado, pois quando estava com eles, não era uma mulher e tinha obrigações e aparências para cumprir, era Lily, uma marota, e enquanto fosse apenas eles, escondidos, tudo era possível. Crescer ao lado deles havia sido absolutamente perfeito.

Tirou os olhos do livro que não lia e viu Harry brincando com os soldadinhos que havia ganho em seu último aniversário. Ele parecia tão concentrado e sorria sozinho, era realmente adorável. Então a música no rádio mudou, era uma música de Frank Sinatra que havia feito muito sucesso no ano anterior, era uma das favoritas de James.

— Harry. - a mulher chamou, fechando o livro e o deixando na mesinha ao lado de sua poltrona de leitura e vendo que os enormes olhos verdes de seu filho agora prestavam atenção nela, Lily sorriu. — Quer dançar com a mamãe?

— Quero. - ele respondeu afobado já se levantando.

Se havia mais uma coisa que Harry havia herdado de James, era o fato de também amar dançar. O pequeno menino segurou as mãos da mãe e encaixando seus pézinhos sobre os da mãe, foi guiado para uma dança calma ao redor da sala de estar. A lareira estava acesa apesar de não fazer muito frio e as sobras do jantar ainda estavam na mesa, mas naquele momento tudo que importava para Lily era o pequeno momento que dançava com ela.

 

“Dream, when you're feeling blue

Dream, that's the thing to do

Just watch the smoke rings rise in the air

You'll find your share of memories there”

 

Criar uma família havia sido a coisa mais fácil que Lily já havia feito, e com certeza a melhor decisão. O que a fazia rir de pensar que um dia já havia rido da ideia de se casar com James, não porque não gostava dele, mas porque não achava que seria possível que depois de tantos anos juntos, ele gostasse dela mais do que como sua melhor amiga. E logo, enquanto rodopiava pela sala e via os porta retratos pendurados na parede, ela deixou que a música a guiasse novamente para o mundo das memórias.

 

“So dream when the day is through

Dream, and they might come true

Things never are as bad as they seem

So dream, dream, dream”

 

. . .

 

1940

 

— Corra mais rápido Lily. - James disse, segurando a mão da ruiva para que pudesse guiá-la ao mesmo tempo que a puxava para seu próprio ritmo.

Estavam atrasados, isso era inegável, já deviam estar na missa a alguns minutos e com certeza a mãe de nenhum deles deixaria isso escapar. Corriam agora de mãos dadas pelas ruas movimentadas de Londres, enquanto tentavam chegar à igreja de St. George o mais rápido possível.

— Espere James, meu véu vai cair.

— Então o tire e coloque novamente na igreja. - e foi isso o que a ruiva fez, ao invés de continuar a tentar segurá-lo em sua cabeça, puxou o véu branco rendado de sua cabeça bagunçando um pouco seus cabelos.

James estava apenas passando as férias em Londres, agora ele assim como Remus e Sirius haviam ido fazer faculdade em Oxford, e Lily ficara ali, trocando cartas com os amigos e vivendo de poucas visitas anuais que eram possíveis. Então era óbvio que ambos acabaram perdendo a hora, mesmo que a mãe de Lily falasse que contava com a filha para não se atrasar, já que estava indo mais cedo para ver a Petúnia, que já era casada e não morava mais com elas.

Ambos desviaram de um carro ao atravessar a rua, o que causou uma gargalhada em James e fez com que LIly finalmente corresse ao lado do rapaz, não atrás dele. Ao alcançar a porta da igreja, James e Lily sorriram um para o outro enquanto respiravam fundo e a mulher ajeitava o véu em sua cabeça, colocando os grampos que havia levado para prendê-lo.

— Acho que é aqui que nos separamos, cara dama.

— Também acho, gentil senhor.

— Te vejo depois, Lírio. - então pegando a mão dela para depositar um beijo, James se afastou.

Ela pode vê-lo andar pela lateral da igreja, fazer uma reverência exagerada para o sacrário, então olhá-la para que soubesse que aquilo era para fazê-la rir e que ele tinha se saído bem sucedido da missão, por fim andar até os pais e Remus. Lily respirou fundo e adentrou a igreja, não era uma pessoa realmente muito religiosa, mas estava em todas as missas de domingo como era vontade da mãe. Andando até a frente, ela encontrou o cabelo ruivo já ficando levemente grisalho da mulher e se sentou ao lado dela.

— Finalmente chegou. - Petúnia sussurrou, mas a morena ainda encarava o padre.

A mais velha das irmãs Evans havia se casado há dois anos e agora, estava grávida, desfilava por aí com uma barriga enorme que fazia Lily questionar se não eram gêmeos, e tinha um marido que se assemelhava a uma morsa, mas era feliz, sem dúvidas feliz, então a ruiva preferia se abster de mais comentários.

— Perdi a noção da hora. - a ruiva sussurrou encarando a mãe, que não havia falado nada ainda, mas ela sabia que logo isso mudaria.

— Não pense que não vi você chegando com o mais velho dos Potters, James. - Rose Evans disse enfim.

— Que bom mamãe, pois se não ficaria preocupada com a sua visão.

— Então não estava escondendo nada?

— Não. James é meu amigo, assim como o irmão dele Sirius e Remus.

— Amigo... Acho uma bobagem. - a mulher disse após um instante pensando.

— Sempre achei que seriam um belo casal. - Petúnia disse também. — Vocês sempre andaram para cima e para baixo juntos, além de que é óbvio que ele nutre um grande afeto por você.

— Porque é meu amigo, claro que sente afeto por mim, e eu por ele.

— Bobagem. - Rose voltou a repetir.

— A família tem uma fazenda no interior, além de várias propriedades que eles arrendam. Os Potters tem dinheiro, seria um bom casamento. Além de que você gosta dele, já o conhece, torna tudo mais fácil. - Petúnia comentou.

— Mas eu não vou me casar com ele. - Lily disse, querendo dar um ponto final nas coisas. — E chega disso.

— Tudo bem. - Petúnia e Rose disseram em uníssono.

— Silêncio. - uma mulher no banco da frente, que provavelmente estava ouvindo tudo, disse. — Não se respeita nem mais a igreja, a casa do Senhor.

Então Petúnia e Lily tiveram que se esforçar para não rir, enquanto a ruiva olhava para o lado, do outro lado da igreja, atrás de James, o encontrando a encarando de volta, então ele sorriu, e ela sorriu de volta.

Não se casariam, mas talvez não fosse tão ruim caso fantasiasse isso.




A risada de Sirius era o que preenchia toda a casa da árvore em que eles estavam, ainda era de tarde, mas talvez ele já estivesse um pouco alterado por conta da garrafa de vinho que haviam trazido escondido. Na verdade, haviam levado vinho, alguns sanduíches e Lily escondida, para a última tarde dos marotos juntos antes que os três rapazes tivessem que voltar para faculdade.

— Eu estou falando sério, Remus está apaixonado. - Sirius contava, deixando o Lupin corado.

— Não estou apaixonado.

— Não? Então porque olha para sua Dora como se ela fosse o mundo inteiro, e não esqueça que eu vi a sua tentativa de poema para ela. A garota ainda é minha prima de sangue.

— Já disse que não é nada, é só que…

— Admita logo Moony, ninguém aqui vai lhe culpar, até Sirius está rindo. - James disse dando o gole final em sua taça e se encostando na parede.

— Deixem ele, Remus tem seu próprio tempo. Se ele estiver apaixonado, falará na hora certa. - Lily disse, um tanto sonolenta por conta da bebida, estava com a cabeça apoiada no ombro de James, e sorria levemente quase pegando no sono.

— Quer voltar para casa Lírio? Parece que irá dormir a qualquer instante. - o Potter sussurrou, para que apenas ela pudesse ouvir.

— Não. Gosto de estar aqui, queria ficar só mais um pouquinho, mesmo que… - ela bocejou — Esteja um pouco sonolenta.

— Qualquer coisa lhe carrego. Posso dizer que a vi desmaiando na rua.

— Isso só iria preocupar minha mãe. - outro bocejo.

— Sua mãe já é preocupada naturalmente. - ele se moveu para que Lily pudesse se ajustar em seu peito, e a abraçou. — Ela ainda comenta sobre você ter um marido?

— Você sabe que sim. Faço 20 no começo no ano que vem e ela está empolgada com isso, eu achei que melhoraria quando Petúnia casou.

— Doce ilusão.

— Exato. Naquele dia da missa ela até começou sobre uma nova opção de pessoa, Petúnia também não ajudou.

— Quem? - James questionou, mesmo que agora se sentisse um tanto desconfortável com o assunto.

Então Lily corou e o sono lhe escapou por um instante, ela não poderia contar isso para ele, correto? Encarou Sirius e Remus do outro lado da antiga casa na árvore, eles pareciam presos em sua própria conversa e nem ligavam para eles. James se remexeu e ela levantou o rosto para encará-lo, devia contar?

— Pode falar, Lírio.

— Você. - ela disse em um impulso e então pode ver que algo nele mudou, talvez fossem os ombros que se aprumaram ou um brilho novo que transpassou seus olhos, mas algo nele mudou. — Petúnia insistiu que já que somos tão próximos sempre achou que seríamos um casal, e minha mãe entrou na onda, mas eu falei que não fazia sentido, já que…

— Você nunca pensou nisso? - James a interrompeu.

— No que?

— Em nós… Juntos… Como um casal. - ele continuava falando como se precisasse explicar, deixar claro.

— Depende, você pensou?

— Sim. Muitas vezes ao longo dos anos, mais do que eu devia talvez.

— Eu também pensei, Jay.

E de repente foi como se tomassem consciência de suas posições, Sirius e Remus ainda não prestavam atenção neles, Lily tinha o queixo apoiado no peito de James  e ele por sua vez estava com a cabeça baixa a encarando, poucos centímetros separavam suas testas, então quando o Potter se abaixou, apenas alguns centímetros, seu narizes agora se encostavam. Os lábios rosados de Lily, todas as sardas que ela tinha no rosto e havia contado ao longo dos anos, a pequena manchinha azul, quase imperceptível se não olhando tão de perto assim, no verde de seus olhos. Por Deus, como ele queria beijá-la, e agora, finalmente iria.

Os lábios de Lily se entreabriaram e a respiração de James atingiu seu rosto, então, ele a beijou. E aquilo foi mágico.

Lily nunca havia beijado outra pessoa, mas sentia que não era assim sempre, essa era a sensação do beijo de James porque ele era James, seu melhor amigo, a pessoa que lhe entendia tão bem e estava sempre ali, a pessoa que ela não se permitiu ser apaixonada mesmo que já tivesse pensado como seria casar-se com ele. Mas ao contrário dela, o Potter já havia beijado outras pessoas, e ele sim poderia dizer que não era sempre assim, pois com ela era mais, sempre era mais, as risadas eram mais prazerosas, as horas pareciam passar mais rápido, as pequenas coisas tinham mais valor, então óbvio que beijá-la não seria diferente. James passou as mãos ao redor da cintura de Lily tentando trazê-la mais para perto, enquanto a ruiva encostou na pele quente das bochechas dele. Então eles se separaram, cedo demais.

— Finalmente isso aconteceu, achei que teria que bolar um jeito de vocês se beijarem. - Sirius comentou, fazendo com que ambos se lembrassem que o mundo não era formada apenas por eles dois.

— Você acabou de estragar o clima, Padfoot. - Remus exclamou.

— Queria que eu fizesse o que? Fingisse que não tô aqui? Eles iam notar uma hora nem que fosse pelo fato de que a escada faz barulho quando alguém desce.

— Está tudo bem, Pads. Certo? - James perguntou a Lily, como se para ter certeza que ela não se arrependia.

— Certo. - então para provar que não, ela se acomodou novamente no peito dele.

— Então podemos comentar como vocês são lindos juntos? - Sirius voltou ao assunto.

— Podemos? - Remus reforçou.

— Depende. Lírio, você aceita a minha mão em compromisso? - o Potter perguntou, fazendo Lily engasgar com a própria saliva.

— Está falando sério?

— Estou. Levei 8 anos para beijá-la, farei isso para o resto da vida se puder.

— Sabe que precisar falar com meus pais, certo?

— Posso encarar John e Rose Evans, afinal, eles me amam.

— Eu aceito, James.

— Isso merece mais vinho. - Sirius comentou servindo as taças dos quatro, mas James e Lily haviam voltado a se beijar e estavam novamente presos em seu próprio mundo.

 

. . .

 

Oxford                                                                                                            28 de agosto, 1940

 

Meu Lírio — 

Quero que saiba que cheguei bem até a faculdade e desarrumei minhas malas, Remus obrigou a mim e a Sirius a fazer isso 10 minutos após nossa chegada. Tudo continua igual a quando deixamos, o clima continua igualmente o mesmo, o outono parece que chegou mais rápido esse ano, mas agora algo é diferente pois posso comentar finalmente que estou namorando a mulher mais bela do mundo para os meus amigos.

Sirius comentou que todos vão finalmente agradecer que pararei de falar sobre você, pena deles, mal sabem que provavelmente falarei o dobro. Já sinto falta de tudo em Londres, até mesmo as missas intermináveis de domingo, de estar na casa da árvore com o grupo completo, sempre sentimos falta da nossa quarta marota, meus pais também, só sinto por não ter podido passar mais tempo na fazendo junto deles, mas creio que passar esse tempo com você fez valer a pena.

Cheguei a apenas um dia, então não tenho muito a comentar além do fato de que a estrada estava esburacada como sempre, Sirius passou a maior parte do trajeto dormindo e Remus finalmente conseguiu terminar aquele livro que você indicou. Então tudo que falarei é que sinto saudades e espero que você tenha novidades melhores.

 

Com saudades, do agora seu

Jay

 

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Londres                                                                                                       02 de setembro, 1940

 

Querido James — 

Estou muitíssimo feliz de saber que chegou bem e tudo está correndo de acordo com o planejado. É estranho que a saudade de você tenha aumentado? Claro que eu já sentia sua falta antes, mas talvez o fato de agora ser meu namorado tenha feito isso aumentar. Minha mãe ainda está eufórica com o nosso compromisso, sinto que ela seria capaz de comprar alianças de casamento hoje mesmo se pudesse fazer. Petúnia é outra que está em festa, vive repetindo que estava certa sobre nós, falando nela, parece que irá explodir a qualquer instante, o bebê nascerá muito em breve, estou ansiosa para ser tia logo.

Por favor diga a Remus e Sirius que sinto muito saudades deles também, todos vocês sempre fazem tanta falta, gostaria de que não precisassem estudar tão longe de mim. Também diga a cada um dos rapazes que você passou anos falando de mim e que agora parece que falará o dobro que sinto muito, já devem ter enjoado de mim sem nem ao menos me conhecerem.

Não aconteceu muita coisa por aqui também, mas comecei a dar aulas de piano para dois irmãos. São gêmeos e tem 10 anos. Não sei exatamente como isso aconteceu, mas quando vi minha mãe havia comentado sobre eu tocar e a mulher me ofereceu o emprego, é divertido dar aulas, gosto de crianças.

 

Morrendo de saudades,

Lily

 

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Londres                                                                                                       13 de outubro, 1941

 

Meu querido Jay — 

Suas cartas estão demorando menos para chegar, o que me deixa muito feliz. Também amei o relicário que me enviou, acho que Petúnia tentou roubá-la em algum momento, acho que a vi tentando colocar em sua bolsa. Como achou um que tivesse o desenho de um lírio? Bom, é perfeito, mas gostei especialmente da foto que escolheu colocar dentro, você está lindo nela, também me ajuda a saber como você está na faculdade, acho que ficou melhor sem barba.

No mês que vem o Dudley fará um ano, já sabe se conseguirá vir? Sabe como ele ama o tio Jay, além de que minha mãe está contando com a sua visita, mesmo que eu tenha falado para ela se acalmar, não falta muito para que você se forme, precisa se concentrar nas aulas para ir bem, mas eu estaria mentindo se não pensasse algumas vezes que queria que você largasse tudo para voltar (por favor não faça isso, será um advogado brilhante). Mas ignorando a mim e toda a minha saudade como você está? Está tão em frio aí quando Londres está começando a ficar? Amos Diggory continua sendo insuportável? Por favor me mande notícias dos meninos, Remus me escreve regularmente, mas Sirius insiste em escrever poucas vezes, diga que baterei nele se não me escrever em breve nem que seja sobre um pássaro que viu na janela. Como vão as aulas? Me conte o que quiser, acho que qualquer coisa ficaria mais interessante nas suas palavras.

Estarei esperando por suas respostas, meu amor.



Com ansiedade para seu retorno,

Sua Lils

 

. . .

 

Oxford                                                                                                               04 de abril, 1942

 

Meu Lírio —

Acho que as cartas voltaram a demorar mais, a última que recebi tinha uma grande diferença até a data que você escreveu.

Essa noite sonhei com você, e de manhã passei pelo jardim de uma senhora que plantava lírios, acho cada vez mais que a ideia de ter um relicário igual ao seu com uma foto sua foi uma ótima ideia minha, assim posso ver sua foto sempre. As aulas já estão quase no fim, passo mais tempo junto a Sirius e Remus arrumando as coisas para voltarmos de vez a Londres do que em uma sala de aula agora, em breve terei meu diploma e estarei novamente em casa te beijando.

Ultimamente tenho ido bastante ao parque, o que é interessante já que acho que tem um menininho que passou a reparar isso e agora gosta de conversar comigo sempre, sabe, acho que nunca comentei com você sobre filhos. Sei que ama crianças e o Dudley é seu protegido, mas acho que nunca comentei que quero ter filhos com você. Sim, comentei que poderíamos um dia nos mudar de vez para o campo, e que eu mal posso esperar por passar cada dia da minha vida ao seu lado, mas nunca comentei que quero ter filhos um dia com você, meu amor. Porque eu quero, e eu espero que eles tenham seus olhos, sua personalidade, aparência, acho que se fossem uma cópia de você eu gostaria porque o mundo ainda não tem o suficiente do esplendor que você é. O que acha de ter uma família comigo Lírio?

Acho que já estou divagando demais, Sirius manda lembranças e pediu para perguntar se percebeu que o número de cartas dele dobrou, acho que ele tem medo de você. Remus pode dizer seus sentimentos nas próprias cartas.

Voltarei para casa no mês de maio, e volto com uma surpresa para você, então se prepare.

 

Finalmente voltando para casa,

Seu Jay

 

. . .

 

Londres                                                                                                              11 de abril, 1942

 

Meu amor — 

Definitivamente a ideia dos relicários combinando foi incrível, a ideia de que falta tão pouco para sua formatura me deixa tão mais animada, finalmente poderia parar de vê-lo tão poucas vezes no ano, meu pai continua repetindo que sou igual a minha mãe e não paro mais quieta em algum lugar, acho que é a saudade. Até mesmo meus alunos de piano me lembram você, acredita que eles arrumaram uma amiga ruiva, achei interessante.

Você me deixou muito curiosa com o fato de me ter uma surpresa, não pode contar algo assim para as pessoas James Potter, agora eu vou ficar até o dia que você voltar me questionando sobre o que se trata. Mas se for tão bonito quanto o relicário ou as flores que você já me deu acho que está tudo bem.

E Jay, teremos muito tempo para falarmos sobre ter uma família quando você voltar, mas sim, eu quero ter uma família com você, podemos ter um jardim com um balanço de pneu e flores, onde passaremos a tarde, mas acho que eles se pareceram com você, talvez possam ser uma mistura de nós dois, seria uma visão que eu veria pelo resto da minha vida totalmente agradecida.

Por fim, diga o Sirius que eu reparei sim e reforce para o Remus que amei o livro que ele me indicou, Dudley manda lembranças e quando voltar meus pais te querem aqui para um jantar. Te amo.

 

Cheia de saudade e amor,

Seu Lírio

 

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Londres                                                                                                             01 de maio, 1942

 

Meu amor — 

Essa é a última carta que eu te escrevo antes de você voltar, e estou a escrevendo com a esperança que você mesmo possa me devolvê-la logo, pois isso quer dizer que você veio para ficar. Ficar novamente em Londres e novamente junto a mim, mesmo que eu possa estar sendo uma boba emotiva no momento.

Não sinto mais sua falta porque sei que está voltando, então decidi trocar esse sentimento pelo da espera, aquele breve momento antes de ter meu namorado de volta, ter um relacionamento com você morando tão longe não foi a melhor coisa do mundo, mas não trocaria isso  por nenhum outro relacionamento com alguém que estivesse em Londres.

Não tenho muito o que dizer, escrevi mais para dizer que te amo, até breve meu amor.

 

Completamente apaixonada,

Seu Lírio

 

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1942

 

Naquela manhã de 15 de maio Lily estava logo pela manhã na estação de King’s Cross, James, Sirius e Remus voltariam hoje e ela sentia a empolgação tomar todo seu ser, era como se a eletricidade emanasse das pontas dos dedos dela e o sentimento de ansiedade fosse tudo que sobrava nela.

Faltavam poucos minutos para o trem chegar e ela já estava acompanhada de sua mãe para recebê-los. Sentada no banco da estação, Lily se focou nas pequenas coisas, as crianças que estavam acompanhadas dos pais, uma senhorinha que lia seu livro em paz em um banco não muito longe do dela, o pequeno canto dos pássaros que entrava pela estação e chegava aos ouvidos da ruiva, até mesmo o trem que se aproxima.

Espera.

A Evans olhou mais uma vez se dando conta de que um trem se aproximava da estação, em seguida olhando para o relógio da estação e vendo que já era sim 8 da manhã, e aquele era o trem que eles chegavam. Antes que percebesse, ela já estava de pé e se aproximando vendo o trem fazer o mesmo.

Pareceu uma eternidade ver ele parar, então aos poucos começarem a sair diferentes passageiros, mas nenhum deles era um dos que ela procurava. Então a cabeleira negra inconfundível de Sirius chegou ao seu campo de visão. No último vagão, ajudando Remus a descarregar suas malas do trem, estavam eles.

Rose Evans não pode impedir a filha que saiu correndo em direção a eles, com um sorriso enorme no rosto e não ligando se a achariam maluca, ela estava pronta para abraçar novamente os amigos.

— Sirius! Remus! - ela gritou fazendo com que os homens a encararem e sorrirem também.

— Lils. - foi Sirius que gritou enquanto recebia Lily em seus braços.

Era um abraço de compreensão, de pessoas que se conheciam desde a infância, e quando ela largava Sirius e abraçava Remus com igual energia, ela não pode refrear a sensação de estar de volta ao seu lar que a tomou. Tinha seus dois maiores amigos ali consigo.

— Cadê James? - ela perguntou se afastando de Remus, segurando a mão dele e de Sirius.

— Estou bem aqui, Lírio. - descendo do trem com a última mala em mãos, o Potter apareceu sorrindo no campo de visão da mulher.

— Jay. - Lily disse em meio a um suspiro, então antes que percebesse estava dando um passo para frente e mais outro, até estar novamente nos braços do namorado.

Ele tinha o mesmo cheiro amadeirado com um toque de bala de menta, os cabelos continuavam bagunçados como sempre e o seu abraço completamente acolhedor. O Potter passou os braços ao redor de Lily e abraçou como se pudesse fundí-la a si mesmo, como se pudesse juntar sua alma a dela. Isso apenas o deixou mais ansioso para o que faria em breve.

Quando ela se afastou levemente, ainda sendo mantida perto por ele, a ruiva rodeou o rosto dele com as mãos o puxando para um beijo, que tinha o gosto de promessas, de um começo, as boas-vindas a uma realidade que não teria mais que partir em pouco tempo.

— James, é bom vê-lo novamente. - a senhora Evans disse se aproximando enquanto Sirius pigarreava para chamar a atenção para que se separassem.

— Olá senhora Evans, é um prazer vê-la também. - James disse se aprumando e apertando a mão da mulher após ter finalmente soltado a filha dela.

— E onde estão seus pais? Imaginei que estariam aqui.

— Eles devem ter se atrasado. - foi Sirius quem disse.

E como se apenas esperassem serem introduzidos para chegarem, Fleamont e Euphemia Potter chegaram a estação a procura de seus filhos e afilhado.

— Ali Fleamont, veja, são nossos meninos. - Euphemia exclamou chamando a atenção de todos ali.

— Mama. - Sirius e James disseram em uníssono e partiram em direção aos pais.

O abraço de Euphemia rodeou seus dois meninos maternalmente, enquanto sorria e chorava por tê-los novamente. Remus se aproximou lentamente deles, observando tudo quando os olhos da mulher caíram sobre ele.

— O que está fazendo aí meu menino, se junte ao meu abraço. É meu afilhado, um Potter também. - Euphemia disse esticando a mão para puxar a de Remus para o abraço.

Logo Fleamont abraçou a mulher junto de todos os seus meninos e eles apenas ficaram ali, por um momento, sendo a família que Euphemia um dia havia sonhado. Com muitos filhos e claro, sua futura filha também, então abrindo os olhos ela encontrou a ruiva também que em uma troca rápida de olhares, entendeu exatamente o que a Potter falava e se juntou ao abraço. Resultando apenas em uma Rose Evans um tanto confusa encarando a comoção.

— Bom, já que estão todos aqui, insistam que venham almoçar na minha casa. - a senhora Evans disse, chamando a atenção de todos. — Já havíamos planejado algo para os rapazes, minha filha Petúnia também irá com o filho, podemos colocar mais dois pratos na mesa.

— Será um prazer. - Fleamont disse.

— Vai ser ótimo, posso lhe contar tudo o que aconteceu na última semana na faculdade, Lily. - Sirius disse.

— E o que houve de tão interessante?

— Remus também está amarrado agora.

— Ele finalmente se rendeu ao amor. - James completou a informação de Sirius enquanto oferecia o braço para que Lily entrelaçasse o seu, o que ela aceitou de bom grato.

— Então quer dizer que Remus está namorando a Dora? - Lily questionou.

— Sim. - o Lupin corou em meio a própria fala — Estou namorando com ela, talvez vocês a conheçam em breve.

— Esperarei ansiosamente. - a Evans finalizou enquanto Sirius começava a comentar as coisas que ocorreram pouco antes da volta deles.



O almoço havia sido calmo, todos os Evans e Potters reunidos para comemorar a volta a Londres dos rapazes e, por tabela, a formatura deles. Tudo estava calmo e tranquilo, totalmente dentro do planejado, até o momento em que James se levantou e pediu para que Lily o acompanhasse até o jardim. Os pais de Lily concordaram e todos a encararam em expectativa como se soubessem de algo que ela não, o que nesse momento, a ruiva desconfiava que era o que estava acontecendo.

James a sentou no pequeno banco que tinha no jardim da casa dos Evans sendo acompanhado por Lily, então segurando a mão dela, ele encarou o céu.

— Se recorda de quando éramos pequenos e brincávamos no parque? - ele questionou.

— Sim, ficávamos horas lá até a hora do jantar.

— E quando ficávamos cansados nós deitávamos na grama e encaramos o céu. Mesmo quando estava frio e cinzento por ser Londres, fazíamos isso. Acho que foi em uma dessas vezes, com o passar dos anos que percebi que era apaixonado por você.

— James…

— O que quero dizer é que, cada vez que encaro o céu, penso em você. Assim como quando vejo um lírio ou alguém carregando mais livros do que consegue aguentar. E cada vez que vejo uma pessoa ruiva.

— Se é assim, também acho que posso comentar o que me lembra você.

— E seria? - ele abaixou os olhos do céu, agora encarando o verde dos olhos dela.

— Cada vez que vejo uma criança jogando futebol, sinto o cheiro de bala de menta, escuto um piada meio sem graça ou penso como a vida é bonita, eu me lembro de você. Porque você torna meu mundo mais belo.

— Ah meu Lírio… - ele suspirou puxando Lily para um beijo, algo simples e rápido, apenas um encostar de lábios.

E quando se afastou, James se ajoelhou no chão, de frente para Lily enquanto ainda segurava uma das mãos dela. A ruiva era esperta, mas antes que ela pudesse realmente ligar os pontos, ele puxou uma pequena caixinha do bolso da calça e abriu em direção a ela.

— Meu Lírio, você me daria a honra e o enorme prazer, de se casar comigo?

Lily suspirou extasiada, talvez aquele fosse o momento mais importante de sua vida toda, se sentia paralisada, queria gritar, sorrir e beijar James para sempre. Então juntando todas as suas forças, ela respondeu.

— Sim! Mil vezes sim! - sorrindo James se levantou para beijar novamente Lily antes de deslizar o pequeno anel para o dedo dela.

O anel era de prata, com uma pequena esmeralda que combinava perfeitamente com os olhos de Lily. Se levantando junto ao agora noivo, Lily rodeou o pescoço dele com seus braços ainda em êxtase, gargalhando e desejando que aquele sentimento nunca tivesse fim, aquele sentimento que novamente James estava entrando em sua vida, para mudá-la completamente.

 

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James e Lily Potter se casaram poucos meses depois do pedido de casamento, apenas pelo fato de que nenhum deles poderia esperar mais pois isso. Foi uma pequena cerimônia de jardim em Londres, algo íntimo apenas para aqueles considerados família, mas completamente lindo. E quando eles disseram seus votos e se tornaram marido e mulher, o amor vindo deles era algo quase palpável.

Logo se mudaram para uma pequena casa em Londres onde todos os dias eram repletos de alegria. Lily havia conseguido mais alguns alunos de piano, e agora os ensinava em sua própria casa, enquanto James havia se juntado a Sirius e eles estavam montando seu próprio escritório de advocacia que contava com a ajuda de alguns de seus professores de Oxford. Em pouco tempo, cada cantinho daquela casa havia ganhado o toque especial deles, era um bom lugar para se chamar de lar.

Também passavam algum tempo na casa de interior dos Potters, mas ambos chegaram à conclusão de que, contanto que estivessem juntos, qualquer lugar era um lar. E os dias eram repletos de danças na sala ao som do rádio, Lily lendo para o marido após ele ter um dia cheio, James que adorava surpreender a esposa com um buquê de flores e tardes com os pais de cada um, sem contar Remus e Sirius.

Haviam conhecido a famosa Dora um pouco antes do natal daquele mesmo ano, então não foi uma surpresa quando ela foi passar o dia após o natal junto de Remus na casa de James e Lily, e tudo estava bem.

Mas mesmo com tantos dias felizes, nenhum deles foi tão bom quanto um dia simples de inverso, afinal, dizem que os melhores dias da nossa vida são aqueles que começam normais, aqueles que você não espera. Durante a viagem de fim de ano de James e Lily para a fazenda da família, enquanto Lily andava pelo jardim coberto de neve.

— Você irá congelar se continuar aqui fora. - James disse a esposa, enquanto colocava um cobertor por sobre os ombros dela e a abraçava por trás.

— Eu queria olhar o jardim. Adoro o inverno e a neve, mas sinto falta das flores.

— Podemos plantar algumas aqui depois do inverno. Quantas quiser, um jardim inteiro com margaridas, lírios, peônias hortênsias, narcisos e cada flor que você quiser.

— Isso vai ser bom. - então pegando as mãos do marido que repousavam em sua cintura e movendo até o seu ventre, ela disse quase em um sussurro, o tom em que se revelavam segredos — Talvez possamos fazer isso junto com o bebê.

— Claro, porque não poderíamos… - James se interrompeu pensando no que ela falava, então a girando para que pudesse encará-la. — O bebê?

— Sim.

— Lírio, você está grávida?

— Estou.

Então James a abraçou novamente, a levantando no ar e girando enquanto gargalhava e gritava “eu serei pai”.

— Não acredito que estamos realmente fazendo isso, virando pais.

— Pois acredite, meu amor.

Então puxando o marido para um beijo, nem o frio que fazia importava mais para Lily.

 

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1943

 

Harry James Potter nasceu na tarde de 31 de julho de 1943, completamente saudável e igualzinho ao pai, com a exceção dos olhos, ele tinha os olhos de Lily, e isso foi a primeira coisa que James reparou assim que pode dar uma boa olhada em seu filho.

Lily parecia exausta deitada naquela cama de hospital, mas carregava em seus braços um pequeno ser, e nada mais importava para ela. Assim que James foi autorizado a entrar no quarto, ele voou até onde eles estavam para vê-los.

Harry era um bebê gorducho, com enormes bochechas e enormes olhos.

— Bem-vindo ao mundo, meu filho. - James disse quando a esposa passou o menino para seus braços.

Ele nunca havia segurado realmente um bebê, então era um pouco desajeitado, mas Harry apenas o olhou com aqueles enormes olhos verdes como se pudesse olhar no fundo da sua alma.

— Tudo que eu tenho, tudo que eu sou, sempre será seu. Para todo sempre só seu e da sua mãe, e eu irei passar cada dia da minha vida tentando dar um mundo melhor para você, irei mostrar a cada dia o quanto te amo e tentarei ser o melhor pai do mundo. Eu te amo tanto, Harry. - então depositando um beijo na testa do filho, ele encarou a esposa e a beijou também. — Obrigada meu Lírio, por me dar uma família.

— Eu que te agradeço. Eu te amo.

— Eu te amo.

 

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Nem todos os anos são completamente alegres, James teve essa certeza quando meses após o nascimento de seu filho, ele perdeu seus pais. Ele sabia que o mundo não era sempre cor de rosa, alegre e as mil maravilhas, mas quando estava sentado na cama do quarto vazio de seus pais, ele nunca se sentiu tão quebrado.

— Meu amor? - Lily disse com o pequeno Harry de apenas três meses no colo. Ela o encarou por um instante e se sentou ao lado dele.

— Eles se foram Lírio, eu nem consigo acreditar que eles realmente se foram.

— Eu sei, também não consigo acreditar. Mas eles viveram uma vida alegre, repleta de coisas boas e no fim de tudo, eles viram você e Sirius se formar, te viram casar e construir uma família e viram que Sirius nunca seguirá esse mesmo caminho, mas será feliz. Eles cumpriram seu propósito, amaram e foram amados, foram felizes e distribuíram felicidade.

— Sei que sim.

— E de qualquer forma, aqueles que amamos nunca nos deixam por completo. - então esticando uma mão para tocar no peito do marido, ela continuou. — Eles vivem para sempre dentro de nós.

— Eu te amo.

— E nós te amamos também, eu e Harry. - então como se precisasse reforçar as palavras da mãe, o pequeno Harry se acordou no colo de Lily. — Parece que alguém cansou de dormir.

— Vem aqui meu garoto. - ele disse pegando o menino com delicadeza.

Havia aprendido aos poucos como segurá-lo corretamente, assim como havia aprendido a dar banho, trocar fraldas e fazer cada pequena coisinha. Lily era uma professora muito paciente e contente em passar o que sabia para o marido.

— Nem todos os dias serão bons, mas passaremos eles juntos. Em família. - Lily garantiu.

— Eu vou sentir tanta falta deles, a cada dia da minha vida sei que sentirei.

— Sei que sim, mas a dor vai melhorar com o tempo. Então restará apenas o sentimento de saudade, que não doerá tanto.

— Obrigado por estar aqui, obrigado por me dar o Harry, obrigado por ser a minha família. - ele havia começado a chorar, agora encarando o pequeno menino em seus braços que havia voltado a dormir.

Lily fez um carinho no cabelo do marido, se demorando um pouco mais acariciando o cabelo macio de James, então beijando a bochecha dele e encostando a cabeça no ombro dele, um gesto que ela fazia com certo costume.

— Eu te amo James, sempre amei e sempre amarei. Eu e Harry somos sua família, eu que te agradeço por tudo, por cada coisa que fez por nós.

Então trazendo Harry para mais perto de seu corpo, James deu um beijo na testa dele, sabendo que morreria por eles dois se fosse preciso. Achando que finalmente havia entendido o que seu pai o havia dito tantos anos antes “quando se ama alguém de corpo e alma, não há barreiras para o que você faria para que eles ficassem bem”.

 

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1944

 

James terminou de estender a última toalha de picnic no jardim da casa de campo deles. A guerra parecia ter piorado nos últimos tempos e os Potters haviam decidido que era uma ideia melhor se mudar para a fazenda da família, logo Sirius, Dora e Remus haviam se juntado a eles. Mas naquela tarde, a guerra não importava, pois era o aniversário de Harry.

Um ano havia se passado rápido como nunca, e quando se deram conta o menino já havia crescido tanto. Era impressionante como definimos tão rápido as coisas como grandes ou pequenas, um elefante era grande, assim como a pena de uma ave pequena, mas Harry conseguia ser ambos ao mesmo tempo. Quando se vê alguém nascer, tão pequeno e frágil, precisando de você, é fácil vê-lo como alguém pequena, mas quando o tempo passa e você vê que ele ainda é tão pequeno ainda, mas que já cresceu tanto, ele se torna gigante ao mesmo tempo que pequenino. E esse é um sentimento que ninguém nunca conseguiria explicar para James e Lily, se eles não vissem o filho ali, em seu aniversário de um ano andando pelo jardim.

Pouco tempo antes a ruiva havia realizado seu desejo de encher o jardim das mais belas flores, e logo mudas de várias espécies foram plantadas por ela com a companhia do marido e de um pequeno Harry que não entendia realmente o que estavam fazendo, mas havia se encantado pelas margaridas, talvez fossem as flores favoritas dele agora.

Haviam decidido fazer um picnic no jardim para comemorar o primeiro ano de vida do menino. Então Sirius, Remus e Dora se juntaram a eles; Infelizmente Petúnia com a família e os pais de Lily ficaram presos em Londres, mas mesmo assim, era um dia de festa.

— Papai. - Harry disse, dando seus pequenos passinhos e esticando as mãos gorduchas em direção a James, que se abaixou para pegá-lo.

— Como você está garotão? - ele perguntou mesmo sabendo que não receberia uma resposta, em seguida fazendo cosquinhas na barriga do filho.

— Acho que ele está animado para parte do bolo, adorou ele, isso porque não o provou ainda. - Lily disse se aproximando e abraçando seus garotos.

— Então porque não pulamos direto para parte do bolo?

— James! - a mulher disse indignada.

— Escute Lírio, nós temos refrigerante, sanduíches e mais comida, podemos manter essa festa por mais um tempo. Porque não cortar logo o bolo se o Harry está animado com ele?

— Você mima demais ele, o bolo é para o fim da festa.

— Apenas se nós quisermos que seja. A festa é nossa, podemos criar nossas regras.

— James…

— Por favor. - então fazendo carinha de cachorrinho ele apontou para o próprio filho — Olha a carinha dele, negaria bolo para ele.

— Boio. - Harry disse meio desajeitado, fazendo James gargalhar e Lily suspirar.

— Tudo bem, vou pegar o bolo.

— Ótimo.

James foi em direção ao resto de sua família carregando o menino enquanto a mulher voltou para dentro. Estava realmente animado para o dia de hoje, e ter pessoas importantes ali apenas contribuia para isso.

Logo Lily voltou com o bolo e fósforos, o que deixou Remus um tanto confuso com o bolo ser cortado tão cedo, mas por outro lado, deixou Dora e Sirius bem animados, assim como James estava e Harry, que ainda era muito pequeno para entender tudo, apenas ficou feliz por todos estarem tão felizes e por sua mãe ter trazido o bolo de volta.

Ela acendeu a vela e eles bateram parabéns todos juntos, então no fim, James espalhou um pouco do glacê do bolo no nariz de Lily e no de Harry, rindo disso. Lily deu um sorriso e sujou o nariz do marido também, antes de ser beijada por ele.

 

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1945

 

“Eu irei me alistar, Lírio.”

Aquelas palavras haviam saído da boca de seu marido cerca de uma semana atrás, ela não fazia ideia do que havia causado essa decisão. Talvez fosse a necessidade de James de garantir que ela e Harry estavam seguros, mas ele já não entendia que eles estavam melhores tendo James ali, junto deles, em casa, são e salvo.

Não houve argumento ou discussão o suficiente que o fizesse mudar de ideia, mas mesmo assim haviam sido muitas discussões. Cerca de uma semana depois ele e Sirius haviam sido chamados para servir. A Potter não entendia o que acontecia, guerras não eram coisas boas, entendia que homens cruéis tinham planos de dominação e alguém tinha que tentar pará-lo, mas porque seu marido? Porque seu James? Essa guerra não havia começado hoje, era antiga, então porque justo agora ele havia decidido ir?

— Quando eu voltar, será porque lutei para Harry ter um mundo melhor para crescer. E eu vou porque ele tem você aqui, lutando para que ele seja uma boa pessoa para o mundo. - James disse parado na porta da frente da pequena casa de campo.

Ele tinha o rosto de sua esposa entre seus dedos, tão linda, ele queria que ela fosse uma das últimas visões dele antes de ir. Harry estava em seu colo, ainda meio sonolento por ser tão cedo, a cabeça apoiada no ombro da mãe e as mãos coçando os olhinhos. James acariciou a cabeça do filho e em seguida deu um beijo demorado em sua esposa.

Sabia que precisava ir, não havia sido uma ideia que surgiu de repente, mas sua vida estava cheia de começos ainda, a faculdade, seu casamento, seu filho, mas sentiu que aquela era a hora, não poderia ficar em casa parado, devia fazer algo. Mas não imaginava que deixá-los seria tão difícil, e olha que ele havia imaginado que seria muito.

— Por favor, não vá.

— Você sabe que eu preciso, não ficaria bem sabendo que não tentei ajudar.

— Isso é apenas um sentimento estúpido, nós precisamos da sua ajuda aqui.

— Voltarei logo, é uma promessa, irei chutar a bunda de alguns nazistas e volto o mais rápido que puder. Sempre me terá aqui perto de seu coração. - ele disse tocando no velho relicário que havia dado a ela quando ainda namoravam, em seguida tocou no igual que ele carregava. — Assim como eu terei vocês dois perto do meu.

Começando a dar alguns passos para trás, ele os encarou um pouco mais enquanto se afastava cada vez mais.

— Tchau papai. - Harry disse meio sonolento e balbuciante em sua voz infantil

— Tchau meu amor, cuide da mamãe. Amo vocês. - essas foram as últimas palavras de James antes de se virar e cruzar o quintal para longe.

Em breve, a guerra acabaria e Lily decidiria voltar para Londres com Harry, ela apenas não imaginava, que seria sem seu marido.

 

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1946

 

“ — Não soube compreender coisa alguma! Deveria tê-la julgado por seus atos, não pelas palavras. Ela exalava perfume e me alegrava… Não podia jamais tê-la abandonado. Deveria ter percebido sua ternura por trás das tolas mentiras. As flores são tão contraditórias! Mas eu era jovem demais para saber amá-la.”

Lily lia para Harry, já era tarde e o menino havia começado a bocejar. Então a ruiva havia o feito escovar os dentes e vestir seu pijama para ouvir a mãe ler uma história para ele. Essa em especial já estavam lendo a dois dias e o livro havia sido presente do tio Remus, o pequeno príncipe era um livro francês que não havia sido publicado a tanto tempo e Harry havia demonstrado bastante interesse.

A Potter amava ler para o filho.

Tirando os olhos do livro, viu que o menino já havia adormecido. Fazendo um carinho nos cabelos pretos rebeldes dele, Lily suspirou fechando o livro. O aniversário de 3 anos dele seria no final do mês, o segundo sem James. Seu marido havia ido embora junto a Sirius em fevereiro do ano passado e não pode voltar para o aniversário de dois anos do menino e agora, ele não estava vivo para voltar para o de 3 anos. Remus havia ficado, ser professor o fez ser necessário em Londres, havia finalmente se casado com Dora e tinha um menino chamado Edward de apenas 1 ano. Seu amigo insistia que James gostaria que fizessem uma festa e a ruiva sabia que ele tinha razão, cada memória com James emanava calor, energia, felicidade e amor, até as dos piores dias.

Beijando a testa do filho, a ruiva desligou o abajur do quarto dele e se afastou. Andando até seu quarto, Lily não resistiu em ver a segunda gaveta de sua mesinha de cabeceira, era onde guardava todas as cartas de James. As que trocaram quando ele estava na faculdade antes e depois de namorarem e as de guerra, essas sem dúvidas eram as piores. Com o tempo foram ficando cada vez mais curtas, mas cada vez que ele enviava uma era mais um dia que ela sabia que estava vivo.

Então um dia simplesmente elas pararam.

Ele havia ido em fevereiro de 1945, a guerra havia acabado em setembro de 45, mas a última carta dele foi em julho, quando falava que gostaria de poder estar no aniversário de dois anos do Harry. Então um mês se passou, dois, e esse mês virou um ano. Quase um ano que não tinha mais James. Depois de um tempo conseguiu saber que Sirius estava em um hospital se recuperando de uma lesão, não havia recebido nenhuma carta do amigo, mas ele estava vivo e retornaria assim que estivesse recuperado. Mas nada de seu James, nem mesmo uma linha, uma informação sequer.

E por fim, ela perdeu as esperanças de ter seu marido de volta.



As missas de domingo ainda eram algo que Lily frequentava, mesmo com os anos passando e ela não tendo mais que ir por causa da mãe, havia se tornado um hábito. Ajeitando seu longo cabelo ruivo a mulher se permitiu se encarar no espelho por um instante. O vestido preto era simples, algumas pregas simples na saia e um decote redondo e alto, ela não costumava usar preto com tanta frequência mesmo que ainda estivesse no período de luto, Lily sabia que James jamais aprovaria isso, então apesar da tradição ela passava a maior parte dos dias com amarelo, vermelho e azul, pois eram as cores que seu marido mais gostava quando ela vestia, reservando suas roupas pretas para saídas. James poderia até preferir que sua esposa em luto vestisse cores, mas não quer dizer que outras pessoas achariam também que era uma boa escolha.

— Mamãe, eu tenho mesmo que usar esse troço que aperta o pescoço? - Harry disse afrouxando a pequena gravata, o que causou uma risada em Lily por ter certeza que já havia escutado essa frase antes vinda de outra pessoa.

— É a sua roupa de missa de domingo meu amor, você tem que estar bonito, né?

— Vovó diz que é o dia do senhor, então a gente tem que se vestir bem. Mas até agora eu não entendi bem que senhor é esse, a gente nunca encontra homem nenhum.

— Um dia você vai estender. - ela se abaixou abrindo os braços para receber o filho.

— Porque você sempre veste preto quando vamos sair?

— Porque é a cor que a mamãe tem que usar para sair, porque o papai não tá mais aqui. - ela passou as mãos no cabelo dele, não tentando arrumar, mas fazendo um carinho. — Entendeu?

— Um pouco, se é assim eu também só tenho que vestir preto para sair?

— Não meu amor, você pode usar a cor que quiser.

— Mas você pode usar qualquer cor para ficar em casa ? - ele a viu concordar e franziu a testa de forma fofa — Não entendi.

— Algumas coisas não fazem sentido até que você cresça.

— Como o papai ter ido embora? Porque eu ainda não entendi.

— Sim, como o papai ir embora.

— Eu sinto falta dele. O titio Remus conta que o papai me levava para andar de cavalo e me carregava nas costas.

— E você é igualzinho a ele, meu amor.

Lily encarou o filho por um instante contente por tê-lo, achava que nunca seria capaz de agradecer o suficiente a James por ter deixado essa pequena partezinha dele ali na terra junto a ela. Olhou para o relógio de seu quarto e viu que já estava na hora.

— Vamos? Nós iremos encontrar o titio Remus e a titia Dora.

— O Teddy vai estar lá também?

— Claro que sim meu amor.

— Então vamos. - ele se esticou para alcançar a mão que a mãe oferecia.



— Lily. - Remus gritou do lado de fora da pequena igrejinha ao ver a amiga.

O Lupin havia chegado com a família a apenas um dia e tinha se instalado em uma pequena casa que tinham ali na cidade, era bom sair um pouco de Londres, ainda mais com Teddy sendo tão pequeno ainda. A família estava feliz por encontrar mais dos seus.

— Titio. - o menino correu em direção a figura do homem que logo se abaixou para receber o pequeno sobrinho.

— Olá, campeão.

— É tão bom rever vocês. - Lily disse se aproximando. — Como vocês vão? O Teddy cresceu tanto.

— Mais do que nunca. Estamos muito bem, Lily. - Dora disse entregando o pequeno menino para madrinha.

— E sempre bom reencontrar a família Potter. - Remus comentou, enquanto Harry brincava com os cabelos castanho claros dele.

— Interessante como essa frase pode ser aplicada a vocês também. - então diante da cara de confuso do amigo ela explicou. — James sempre disse que vocês são a família Potter, assim como nós. Todos nós somos, foram nossa família depois da morte dos pais dele e bem antes disso, também merecem o sobrenome.

— Gosto de todos eles serem da família. - Harry disse, causando uma risada em Dora.

— Eu acho que se o Harry disse, todos devemos acatar. - a Lupin disse.

— Aceito ser um Potter com orgulho então.

Logo todos entraram para missa, Lily ajeitando o véu que agora também era preto. Era um local bem menor que a igreja em Londres, mas muito mais acolhedor. Se sentaram todos juntos em um banco mais ao fundo ao lado de algumas senhorinhas.

Um tempo depois Harry ainda não estava muito contente com a gravata e insistia em mexer nela, a voz do padre era lenta e calma e Lily tinha certeza que Dora estava quase cochilando no ombro de Remus, que segurava o filho.

— Você ouviu que o Potter finalmente apareceu? - uma das mulheres disse captando o interesse de Lily.

— Fale mais baixo, a família deles está aqui atrás. - ela disse sussurrando mais baixo. — Qual deles?

— Aquele que foi adotado, o Sirius. - a primeira mulher disse mais baixo dessa vez, mas a ruiva escutava tudo. — Estava na guerra junto do James, mas o viram aqui próximo mais cedo. Acho que se hospedou no three broomstick.

O coração batia a mil, será que seu amigo havia voltado mesmo? Será que ele tinha uma explicação sobre James morreu? Porque nunca escreveram? Lily olhou Remus que parecia ter escutado as senhoras também, um olhar de compreensão chegou aos olhos do homem e ele sabia o que viria a seguir.

A Potter tirou seu filho do banco ao seu lado, o pegando no colo e se dirigindo para fora da igreja, nem pensando se sua família faria o mesmo. Se Sirius estava ali ela estava finalmente mais próximas das memórias de seu marido, ela precisava encontrá-lo.

O coração batendo a mil, ela parecia ter esquecido como se respirava, mas quando estava na porta da igreja ela correu, correu como se não houvesse um amanhã enquanto trazia o filho junto a si.

Se havia alguma explicação, alguma peça faltando na história, Lily Potter nunca esteve tão perto de encontrá-la.

 

. . .

 

1945

 

O grito de James era alto e repleto de dor. Filas de corpos se estendiam pelo local,  maioria em macas enquanto eram tratados, os com menos sorte estavam estirados sem vida no chão a espera de que alguém desse um fim neles.

— Fique calmo Prongs, você irá ficar bem. - Sirius repetia enquanto fazia força contra o corpo do amigo para prendê-lo na cama.

A enfermeira rasgava parte da calça de James enquanto Sirius segurava os ombros do irmão, ele não devia se mexer, mas estar sentindo dor enquanto saía sangue de sua perna não era o melhor cenário do mundo para ficar parado. Alguém desconhecido segurava as pernas do homem, não tinham anestesia, então quando a mulher encarou o ferimento na perna do Potter, não tinha muito o que fazer além de tentar parar a hemorragia do corte profundo e suturar mais tarde.

As mãos dela se enchiam de sangue, assim como a roupa, o sangue pingava no chão sujando as botas de todos e respingava no rosto da mulher. Aquilo havia explodido muito perto dele, o homem quase não sentia mais do cotovelo para baixo, mas sua perna parecia estar sendo arrancada para fora. Sirius ainda repetia que daria certo, que logo ele voltaria para casa, mas quem garantia? Se ainda tivesse uma perna no final do dia quem garantia que não infeccionaria?

— Segurem ele mais forte. - a enfermeira disse vendo Sirius aumentar a força — Vou tentar grampear a artéria femoral antes que ele morra de hemorragia.

— Pads. - James praticamente sussurrou enquanto fechava os olhos de dor.

— Diga irmão.

— Se eu morrer, se mais algo explodir, se eu infeccionar ou qualquer coisa… Se eu não puder voltar para casa, me prometa que dirá para Lily… Que dirá que a amo, assim como amo Harry. Falará que morri pensando neles, na minha famíla.

— Você falará isso, não morrerá.

— Só me prometa. - ele disse gritando novamente de dor e segurando o pequeno relicário que carregava no pescoço com uma foto do filho e da esposa, o relicário que combinava com o de Lily.

— Eu prometo.

— Assumimos daqui enfermeira. - um homem apareceu dizendo, em seguida injetando uma seringa em seu braço.

Parecia ser anestesia, pois finalmente doía um pouco menos. Mas se esses fossem seu último pensamento, ficava feliz de se tratar de ser Lily rodeada pela grama, sentada segurando Harry no colo no primeiro aniversário do menino.

Era uma boa visão para se ter quando morria.

 

. . .

 

1946

 

Lily corria, e logo percebeu que Remus a acompanhava de perto, Dora que agora era quem carregava Teddy estava um pouco para trás. Os dois, acompanhados de Harry que ainda estava no colo da ruiva, foram em direção ao three broomstick onde as mulheres haviam dito. Se houvesse qualquer sinal real de Sirius, eles encontrariam.

Não foi tão difícil quanto parecia, levando em consideração que quando chegaram as portas da hospedaria, um carro estava parado na entrada e Sirius tirava uma bolsa do porta-malas. Parecia outra versão de Sirius, seu cabelo estava um pouco mais curto e ele tinha uma barba rala, também estava um pouco mais magro e tinha uma aparência um pouco cansada, mas era ele, ela sentia em seu coração que era ele.

— Padrinho. - Harry gritou, também reconhecendo o homem, e isso chamou a atenção dele.

— Harry? Lily? Remus? - ele disse largando a bola no chão e vendo sua família ali, correndo em direção a ele, como no flashback de uma vida que ele não pensou tantas vezes que não que teria novamente.

Correndo também ele abraçou a amiga que segurava o afilhado, em seguida sentindo Remus agregar ao abraço também, então ele se permitiu chorar também. Lily e Remus já choravam a muito tempo, nem acreditava que um deles havia voltado ao menos.

— O que aconteceu? Você não escreveu, soubemos que estava em um hospital, mas não recebemos uma carta. - Lily questionou, tocando nos braços e ombro dele para ver que estava bem com a mão que segurava Harry.

— Eu escrevi. Houveram problemas e quando tudo acabou, estávamos muito feridos para voltar, mas eu escrevi, nenhuma das minhas cartas chegou?

— Nenhuma. Ficamos tão preocupados. - Remus disse.

— Conseguimos abrigo em um hospital de feridos, deve ter sido onde me reconheceram e te avisaram de mim, mas só pude chegar agora, é meio difícil viajar muito machucado. Achei que estariam em Londres, por isso nem passei na fazenda.

— Estávamos, voltamos a pouco tempo. - a ruiva disse.

— Sirius! - foi a vez de Dora gritar enquanto se aproximava de Sirius.

— Dora. - ele se aproximou e abraçou a mulher, com cuidado vendo que ela carregava um bebê. — E quem é esse?

— Edward Remus Lupin, seu sobrinho. - foi Remus quem respondeu, recebendo um olhar surpreso de Sirius.

— Ele é lindo. - Dora concordou, então ele se virou para Lily e Harry. — E você cresceu tanto meu menino, fico feliz que se lembre do seu dindo.

— Tem fotos suas lá em casa, eu lembro de você e do papai. - ele disse fazendo Sirius rir.

— É claro. - então olhou no fundo dos olhos de Lily. — Ele está lá dentro.

— Ele? - ela questionou confusa.

— Sim. Se tiveram notícias de mim, tiveram dele também, não?

— Como assim, Sirius? - Lily sentiu seu coração disparar, do que ele falava?

Então como se soubesse que era sua deixa, o som de passos lentos e de uma bengala pode ser ouvido, e então uma voz, mas não qualquer voz.

— Padfoot, o que está fazendo aí fora seu cão sarnento?

James. Aquele era seu James.

— Dando um oi para nossa família, Prongs.

— Lírio. - o Potter disse baixo, mas ela ouviu e seu coração se acelerou.

Lily sentiu as lágrimas voltarem e seu coração parecia que sairia pela boca, era possível? Ela tinha medo de se virar e ser apenas uma ilusão, mas com medo a ruiva se virou e o viu, no topo da pequena escada que dava acesso a pequena hospedaria. Com uma bengala na mão demonstrando que havia machucado a perna e as mangas dobradas até o cotovelo, deixando a mostra algumas cicatrizes, incluindo as marcas dos pontos que foram tirados em seu braço direito. O mesmo cabelo bagunçado de sempre, os mesmo olhos brilhantes e o sorriso enorme.

Então Lily Potter gritou, não podendo acreditar que ele havia voltado. Harry também parecia extasiado com a volta do homem, tanto que começou a gritar também.

— Papai! - o menino repetia gritando.

— Olá meus amores.

Então a mulher andou a passos lentos até os degraus, subindo um por um até estar ao lado de James. Ela apenas esticou uma mão para tocar no rosto dele, a barba por fazer era mais nítida de perto e os óculos um tanto tortos.

— Você voltou. Você voltou para nós.

— Eu prometi que voltava. - ele disse pegando a mão dela e levando ao lábios, em um beijo longo.

— Não tivemos notícias de você por mais de um ano. Nenhuma carta chegou, nenhum telegrama, achei que havia morrido.

— Jamais morreria antes de poder ver a minha família novamente.

Então como para provar que estava vivo, que estava ali, James puxou com a mão livre da bengala a cintura da esposa a aproximando dele e a puxando para um beijo lento, com o gosto salgado por conta das lágrimas de Lily, mas cheio de amor, com a sensação de reencontro, de estar novamente em seu lar.

— Então você não vai mais embora, papai? - a voz de Harry chegou aos ouvidos de James, o que o fez se separar da esposa e olhar o filho.

— Nunca mais. Eu te prometo.

— Mamãe disse que promessas não podem ser quebradas.

— Eu não irei quebrar essa.

Então abraçando Lily e Harry novamente, enquanto sentia o abraço deles novamente, James sabia que havia voltado para o seu lar, sua família. Aquele pequeno mundo que havia criado para chamar de seu e que nada no muito, jamais tiraria dele novamente, nunca mais.

Os Potters estavam novamente juntos, na terceira vez que James Potter, voltou para a vida de Lily.


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