Geisterfahrer - a Menina do Tempo escrita por seethehalo


Capítulo 36
Wake Me Up When September Ends


Notas iniciais do capítulo

Fiiiiiiiiiinalmente o capítulo que todo mundo estava esperando! É.
Esse é outro daqueles cujo nome tem mais a ver que a música em si - porque eu sabia que a música desse capítulo seria essa desde antes de começar a escrever.
Cenas imaginadas que eu tinha desde dezembro do ano passado na cabeça. Foi difícil escrever. Espero não desapontar o povo. [a]

Ah. Leiam escutando Green Day. E coloquem WMUWSE pra tocar quando começar ali no capítulo, e leiam a partir dali devagar. Dá certinho no tempo da música. #fikdik
Enjoy (:



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O verão chegou e passou

A inocência nunca dura

Me acorde quando setembro acabar

Toquem os sinos novamente

Como fizemos quando a primavera começou

Me acorde quando setembro acabar

Lá vem a chuva de novo

Caindo das estrelas

Encharcado na minha dor novamente

Tornando-se quem nós somos

Enquanto minha memória descansa

Mas nunca esquece o que eu perdi

Wake Me Up When September Ends - Green Day

*-*-*-*-*

 

     A última opção falou mais alto e eu desatei a chorar. E comecei a cogitar seriamente em contar tudo pra ele.

     Mas eu não sei se vou conseguir. Bill pode me odiar por isso. E eu sou muito fraca.

     Pelas duas semanas seguintes foi definitivamente impossível ter acesso a Bill e Tom. Eles quase não saíram de casa; e quando saíram, era pra resolver alguma coisa a festa que inventaram de dar no aniversário, e acho que nem precisa comentar que foram perseguidos. Já tiveram que trocar os números de telefone, e essa ultimamente tem sido a nossa única comunicação, já que vão fazer a dita festa no salão daqui do prédio (ideia da D. Silvíe, que se encarregou de reservar e se responsabilizar).

     - Hoje já é 29 de agosto. Eu vou embora no sábado. E nunca mais poderei voltar à Alemanha.

     - Pois é. Eu fico imaginando que repercussão vai ter o seu sumiço. – disse Tom.

     - Tem noção da proporção que isso vai tomar, Tom?

     - Não muita.

     Breve silêncio.

     - Não quero ir embora, Tom.

     - Não tem um jeito de você ficar mais um tempo?

     - Não sei. Mas de qualquer forma... eu só ficaria aqui por vocês, e vocês estão começando a dar certo com a banda... Então, resumindo, é melhor mesmo que eu vá embora.

     - Sente falta...?

     - Um pouco. Ultimamente eu tenho falado sozinha pra ver se eu lembro como é o Português, desenho mapas dos lugares que eu costumava frequentar na cabeça... Eu tô... começando a lembrar algumas coisas do meu tempo. Mas eu vou sentir falta daqui. De você e do Bill. Da mãe de vocês. Da D. Silvíe e da Brenda, que me deram teto.

     - Nem tenho nada pra falar.

     Eu ri.

     - Não fale nada.

     - Não. Não fale nada você. Chore, ria; pense pelo lado bom, ninguém nunca vai passar pelo que você está terminando aqui tão cedo...

     - É, tem razão. Mas eu não sou a reles cobaia de uma experiência científica... Sou uma reles pessoa egoísta que roubou uma máquina do tempo dos laboratórios do FBI pra realizar um capricho da adolescência. E ninguém nunca poderá ficar sabendo dessa façanha. Senão, em 2020, o mínimo que possa acontecer comigo é... ser trancafiada numa cela solitária de uma prisão de segurança máxima com monitoramento 24 horas... sei lá.

     Ele riu.

     - Melhor que eu siga como as coisas devem ser, não? Ou não, já que eu já alterei a ordem dos acontecimentos mesmo.

     - Não fica assim, Maria. Me lembro de você ter dito uma vez que ganhou o controle justamente para alterar algo na História. Bom, você fez isso.

     - É, eu fiz. Mas não deixo de ter certo medo das consequências que a minha brincadeirinha vai levar para fora desta redoma de vidro chamada Passado. E o pior é que, se for alguma coisa muito diferente do que eu deixei “lá fora”... eu vou ser a única que não vai saber agir.

     Depois de conversar com Tom, fui atrás do Bill. Preciso fazer algumas coisas antes de sumir do mapa, e a minha primeira providência será cortar o cabelo. Definitivamente não há condição de eu voltar pra 2009 com o cabelo grande desse jeito.

     - Oi, Bill. - disse parada na porta de seu quarto.

     - Mari! Oi. Tudo bem? Entra.

     - Tudo. Ahn, Bill, posso te pedir um favor?

     - Claro. O quê?

     - Pra você cortar o meu cabelo.

     - Hmm, quer mudar o corte?

     - Não. Quero cortar. Deixar curto.

     - Por quê? Você fica linda de cabelo comprido.

     - Obrigada, Bill. Mas eu quero deixar curto, é mais prático. Além do mais, estou voltando para o Brasil e nesta época está começando a fazer calor por lá...

     - Ah... Então tá, né. Vem aqui. Molha o cabelo ali no banheiro... o aquecedor já foi consertado.

     - Ok. – fui molhar o cabelo enquanto ele reunia o que era necessário para atender o meu pedido.

     - Quer cortar quanto? – ele perguntou me indicando a cadeira.

     - Deixa... Lembra como tava quando eu cheguei na Alemanha?

     - Aham.

     - Bem daquele jeito. Mantenha o corte, não mexa na franja, mas o comprimento é aquele.

     - Você manda.

     Bill levou pouco mais de meia hora pra cortar o meu cabelo, e ao terminar disse:

     - Incrível como você fica linda de qualquer jeito.

     - Obrigada, Bill. Duas vezes. Você é um amor.

     - Não tem de quê. Mari... – ele disse chegando mais perto – você tem mesmo que ir embora no sábado?

     - Tenho, Bill. Eu preciso voltar. Não sou a pessoa mais patriota do mundo, mas é o meu país, a minha cultura... E tudo o que eu aprendi e o que eu tenho está lá.

     - Vou sentir sua falta.

     - Não vai. Você tem a banda pra ocupar a cabeça. E eu, que quando chegar lá, vou tirar minha carteira profissional, montar um currículo e procurar emprego. Eu tenho o direito de sentir falta daqui.

     Ele deu um risinho.

     - E a coisa da qual eu mais vou sentir falta é você. – falei abraçando-o como uma criança.

     - Será que a gente volta a se ver, Mari?

     - Quem sabe quando você for pro Brasil em turnê com a banda...

     - Hey, espera um pouco aí. Sou EU que tenho a banda e VOCÊ que tá sonhando... Isso não dá certo não...

     - Besta. Sou sua primeira fã. Tenho direito.

     - Somos uma banda alemã! Acho dificílimo alcançar alguma fama do outro lado do oceano!

     - Você sonha muito baixo pra quem teve sucesso instantâneo no país inteiro com uma única música em duas semanas.

     - Não se trata de sonhar baixo, Mari. É um pouco de realismo. Mas ok, então vamos ver quando, digo, SE e quando a gente for pro Brasil, a gente combina de dar uma voltinha pelo seu território.

     - Não viaja, Bill. O Brasil é enorme, eu moro na capital de um estado no sul do país e praticamente só saio de lá pra ir pra uma cidade do interior.

     - Não tem problema, eu não faço questão de muito luxo.

     - Hãhã. Eu bem sei.

     A quinta-feira chegou mais rápido do que eu imaginava. A única coisa que eu podia fazer pelo aniversário dos gêmeos era estar ali, por isso, passei o dia todo na cola deles.

     As fãs enlouquecidas que já trataram de descobrir a data de nascimento deles fizeram a mesma coisa. Resultado: não tivemos um pingo de paz (fora os boatos que começaram a correr, de que o Bill tinha uma namorada: eu).

     Apesar de atribulado, o dia primeiro passou rápido, e logo já era sexta-feira. A festa de Bill e Tom será logo mais à noite, e já está tudo quase pronto no salão. D. Silvíe e D. Simone estão lá desde cedo. Tom e Bill foram proibidos de aparecer aqui antes que escureça. E eu fiquei em casa cuidando dos meus afazeres. Coisas a serem resolvidas para alguém que vai viajar no tempo e quer passar despercebida no momento em que sumir no ar.

     POV BILL

     Tom e eu chegamos no prédio onde a Mari mora por volta de 18h20 e subimos direto para o salão de festas.

     O salão fica localizado no andar superior de uma construção paralela ao prédio, onde ficam todas as coisas relacionadas à administração, o “escritório” da síndica e o almoxarifado (foi a Mari quem me disse isso ontem). Subi as escadas apressado e vi primeiro a decoração. Não tinha nada muito simplório nem muito espalhafatoso; combinando perfeitamente algumas coisas que eu gosto com outras ao gosto do Tom. Minha mãe é um gênio.

     Foi nessa brisa que apareceu a Mari, do outro lado do salão, despenteada ofegando.

     - Mari? O que há?

     - Aah! Bill, você já chegou! Cadê o Tom?

     - Não sei, eu... Vim pra cá correndo, nem o vi.

     - Caramba... Olha, vá procurá-lo e fiquem aqui em cima; eu tenho que me arrumar, e daqui a pouco os convidados começam a chegar.

     - Ok. Tá precisando de alguma ajuda?

     - Ahn, não, já tá tudo pronto. Fique tranquilo. Não demoro. – ela disse, me deu um selinho e desceu as escadas correndo.

     Tom apareceu um minuto depois. E depois de mais meia hora o povo começou a chegar. O salão já estava cheio quando a Mari voltou. Fui direto ao seu encontro, dizendo:

     - Demorou, Mari.

     - Fiz falta?

     - Nem imagina o quanto. Hãm... as outras meninas já chegaram, se você quiser ir falar com elas...

     - Ah, sim, Bill, vou lá. Depois eu volto pra fiar junto contigo, ok? – Mari falou e foi andando na direção das amigas.

     Uma velha ideia tornou a povoar a minha mente. Mari vai embora amanhã de manhã cedinho e eu... Tsc ah. Eu sou um idiota. Fiquei todo esse tempo enrolando em contar tudo pra ela... O que ela pensaria agora? Eu tenho medo de como ela reaja. Sempre tive. Tenho tentado fazê-la se dar conta do que eu sinto pelas minhas atitudes, mas eu acho que não deu muito certo.

     E agora eu só tenho esta noite. Se não for agora, não será nunca mais. Ela está indo embora; daqui a uns meses me esquece e eu vou continuar guardando isso. Eu tenho que falar com ela... Eu preciso fazer isso.

     Ok... então depois eu faço. Vou curtir a festa, afinal, ela também é pra mim; e depois do parabéns eu procuro a Mari.

     Assim fiz. O primeiro pedaço do bolo do Tom, ele dividiu em três e dedicou à banda. Acusando-o de roubar a minha ideia (e recebendo os gracejos gerais dos convidados com piadinhas de gêmeos que o meu bom humor pediu pra ignorar), dei o meu primeiro pedaço para a mamis e fiz questão de cortar o segundo para dar à Mari.

     Passado o alvoroço típico do ritual, quando os ânimos já estavam calmos e a minha mãe mandou distribuir os bolos para todos os convidados, cheguei para a Mari e disse:

     - Vem aqui, eu preciso falar com você.

     Ela me seguiu para fora do salão para perto do estacionamento.

     - Mari, eu... preciso muito falar com você e é muito importante. – falei enquanto nos sentávamos num murinho baixo, de costas para o salão.

     Ela sorriu e disse:

     - Tudo bem. Aqui dá pra gente conversar tranquilo.

     O som estava alto suficientemente para que pudéssemos escutar bem a trilha sonora da festa. Enquanto eu tomava coragem para falar alguma coisa, começou a tocar Wake Me Up When September Ends e ela falou:

     - Ah, por que fomos descer logo agora? Eu amo essa música.

     - Eu também. Mas daqui dá pra ouvir. Quer dançar?

     - Claro.

     Levantamos e começamos a dançar o “passinho-pra-lá-passinho-pra-cá” como na festa da escola do ano passado. E como na mesma ocasião, me pus a observá-la. Ela usava um vestido branco jeans tomara-que-caia, os cabelos soltos, a pulseira que lhe dei de presente e um sapato preto que a deixava quase da minha altura.

     - Er... o que você ia falar, Bill? Você tá lindo hoje. Mais do que de costume. Você seduz muito de branco.

     - Seduzo, é? – falei olhando a minha jaqueta branca. – Você também. – breve pausa. Respira, Bill. – Inclusive... – suspiro – Escuta, Mari, você se tornou uma pessoa muito especial pra mim desde o começo. E acabou... o meu afeto por você depois de um tempo tomou uma proporção inesperada... Você é minha amiga, tentei me convencer disso... Mas já era tarde demais.

     Ela me ouvia sem dizer uma palavra. Trouxe-a para mais perto e olhei para cima para conseguir continuar falando:

     - Tem... praticamente um ano e meio que eu descobri... No começo, e um pouco antes, eu tentava negar pra mim mesmo com todas as minhas forças. Mas uma hora eu tive que desistir e aceitar o que eu tava sentindo. – a essa altura já voltáramos à posição normal. – Eu tentei ocupar a cabeça, esquecer...

     Aproximei os nossos rostos e acariciei-lhe a face.

     - Eu não vou conseguir dizer isso olhando na sua cara... Mari... Eu te amo. Eu sou completamente apaixonado por você.

     - É recíproco. Tudo. – ela sussurrou.

     Virei o rosto e a beijei. Pela primeira vez ela não tentou se soltar, se esquivar, controlar, nem ignorou ou repeliu. A correspondência foi espontânea, sincera e direta. Ela pos as mãos em volta do meu pescoço, o que me fez arrepiar. Segurei-a pela cintura inspirando desejo e ao mesmo tempo respeito. E de repente senti o meu rosto úmido. Estranhei; não podia ser chuva, o céu estivera limpo todo o dia e as últimas previsões disseram que não choveria tão cedo.

     Soltei-a e vi que o motivo eram lágrimas. Ela estava chorando.

     - Mari... o que foi?

     Ela deu um passo para trás.

     - Eu já tinha te falado... EU TINHA TE FALADO, BILL – me deu um empurrão, gritando -, que NÃO ERA pra você se apaixonar por mim! – e saiu correndo em direção à entrada do prédio.

     E eu fiquei ali parado, imóvel, sem saber o que fazer.


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Notas finais do capítulo

Foi difícil, foi difícil. Este capítulo está escrito metade num caderno e metade no outro.
Ando dando spoiler dos capítulos que eu tô digitando no twitter, galëre. Curiosinhos podem espiar, @lassdichfallen (:

Ah, gente..
E me desculpem a podridão da edição da epígrafe dos capítulos, é que o Nyah ultimamente acho que tem estado de TPM, porque ele não me obedece em nada -'
Até semana que vem.