as coisas estão cada vez mais difíceis e estranhas

tudo está um tédio

tudo piora

e eu nem sei o que eu quero mais

existe um pedaço de mar no futuro

futuro que nem sei se vou alcançar

esta cidade está me dando nos nervos

não sei mais o que eu quero encontrar

os carros cortando o ar

numa batalha invisível

que eu também tenho que travar

efêmera e imaginativa

vaso de planta a moldar

aquário vestido de céu

perfeição ao olhar

feliz ou infelizmente

não vou conhecer metade das pessoas

que hoje estou a observar

dadaísmo é trabalhoso

mais do que você possa imaginar

estou querendo fugir de mim

mas você ainda está longe

cada dia mais longe

cada dia mais longe

estou na reserva da esperança

cada alegria eu conto na poupança

tenho medo do futuro,

mas quem é que não tem?

tenho medo do sucesso,

mas quem é que não compra?

tenho medo do dinheiro,

mas quem é que não paga?

colho tudo o que posso dos meus dias

pois o agora é tudo o que me resta

o passado é como leite derramado

resto do que eu já fui

resto do que eu queria ser

quero pintura nas minhas poesias

não é a caligrafia um traço?

estou cansada desta pouca sincronia

desta péssima sinfonia

chega dessas correntes na minha cabeça

eu quero me libertar

amigos que eu já não tenho mais

conversam perto de mim

mas eu também já deixei de escutar

pois eles estão longe de mim

eu falo sabendo que você não vai ouvir

e você não fala sabendo que eu vou escutar

vida boa, fase ruim

que fase. que fase!

economicamente em perfeito estado

mas e o emocional? cadê?

eu não quero morrer, eu só quero que as coisas melhorem