É incrível, me lembro de tudo tão detalhadamente. Lembro do cheiro, do gosto, da sensação. Lembro da vontade, lembro do desejo. Lembro exatamente como te conheci.

Você não era alguém que eu esperava. Um homem que do nada surgiu na minha casa e abalou minha convivência. Você vestia um terno azul escuro sob medida, esbanjava um perfume amadeirado e possuía o sorriso mais lindo que já tive o prazer de pôr meus olhos.

Era um dia ameno de verão, eu estava na área da piscina da minha luxuosa casa, deitada em uma esteira vestindo nada além que um conjunto de biquínis vermelhos que se moldavam nas minha curvas. O vermelho se destacava na minha pele leitosa combinando perfeitamente com meu longo cabelo ruivo. Sentia o sol pinicando minha pele, se deleitando em meu corpo. As árvores, que rodeavam a área da piscina,  se balançavam e  traziam um vento gostoso, me trazendo uma sensação de frio e calor ao mesmo tempo. Eu fechei os olhos e me concentrei no barulho dos pássaros, da cascata da piscina, o barulho do vento soprando em meus ouvidos. 

Eu passava a maior parte do meu dia em casa fazendo nada de útil. A vida me levou a isso: um mulher que esbanja dinheiro sem precisar suar para consegui-lo. Eu sempre repudiei tanto isso. Eu tinha ambições, desejos, sonhos e então...me tornei apenas o que eu sou hoje, uma mulher e nada mais, ou melhor, me tornei um esposa. Acho que nunca me senti tão infeliz.

Engraçado como a perspectiva de alguém muda diante do dinheiro e da infelicidade. As pessoas acham que o dinheiro é a solução sem imaginar que na verdade ele é o problema, o que ele torna as pessoas. Ele não faz você feliz, não te deixa realizada, não te supre, dinheiro não é mágico. E há um caminho longo para se perceber isso.

Eu adormeci após odiar toda minha existência. O barulho relaxante ao redor, a sensação do vento, tudo isso me fez cair em um mundo perfeito, meus sonhos.

Fui acordada algumas horas depois com barulho de passos e uma voz que me fez arrepiar - Amor? - meu marido chamou pela casa.

Ao contrário do que todo mundo pensa eu me casei por amor e não por dinheiro. Meu pai e Jason tinham negócios que nunca ousei me intrometer. Era tudo secreto e mulheres na minha família não tem permissão para saber e eu fui boba o suficiente para nem tentar.

Estava na faculdade quando em um jantar de família finalmente o conheci, Jason. Ele era muito lindo, educado e ele parecia realmente se interessar nos meus devaneios, algo que ninguém tinha se importado. Ele era exatamente o sonho de toda mulher.

Gosto de pensar que nos apaixonamos com o decorrer dos meses, e o amor era tão forte que ele me pediu em casamento. Nós casamos 8 meses depois de conhecê-lo.

E então tudo mudou. Do nada. Como mágica, um príncipe que ao contrário das história infantis, sempre foi um sapo e nunca um belo homem.

— Amor? - a voz repetiu

Abri os olho ainda confusa e olhei para o meu relógio de pulso, se passava das 4 horas da tarde. O sol já não se encostava mais em mim e o vento tinha aumentado, me trazendo um ar frio que me arrepiou. 

Passei a mão pelos meus braços para tentar me aquecer e olhei sobre meu ombro para a porta de vidro que dava para uma sala de estar. - Oi, querido. Estou aqui na piscina. 

Então a figura surgiu, meu marido. Apareceu eufórico e trazia um largo sorriso no rosto. Se aproximou de mim e plantou um beijo em meus lábios, senti o frescor de menta como se tivesse acabado de escovar os dentes. 

Ele me ajudou a levantar e rapidamente tirou o paletó e cobriu meus ombros - Você vai ficar doente assim - exclamou - Eu trouxe alguém para você conhecer - E foi aí que eu o vi, em um terno azul escuro e uma gravata vermelha. Tinha ombros largos, e eu tinha certeza que por baixo daquele paletó existiria um muro de músculos. Eu olhei para o rosto, notando primeiro a boca, lábios pequenos com um leve V nos superiores. Os olhos acinzentados com sobrancelhas grossa sob eles. Era como se tudo tivesse sido feito calculadamente, cada característica. Lindo. Instintivamente senti a necessidade de passar a mão sob seus volumosos cabelos negro. 

Será que era tão macio quanto aparentava. 

Naquele momento era como se algo tocasse meu coração. Então eu percebi. Percebi onde estava. Percebi que meu marido tentava falar algo para mim e que provavelmente estava corada e não era do sol. Pisquei os olhos e a voz dele tocou meus ouvidos, era como se tivesse acabado de despertar. - Desculpe - voltei a piscar meus olhos para se ajustar a figura do meu marido - O que estava dizendo? - sorri trêmula contorcendo as mãos junto ao meu corpo.

— Esse é o Noah, um novo parceiro de negócios. Estamos com planos promissores - Sorriu enquanto ia até Noah e dava batidinhas em seus ombros 

Eu sorri e caminhei hesitante em direção aos dois. Meu coração estava acelerado, parecia que tinha corrido uma maratona. Sentia as batida fortes sobre o peito, como se fossem socos. 

Como pude me sentir dessa forma, nem te conhecia 

— Muito prazer Noah, eu sou Olívia - estendi a mão para ele. Ele a olhou e depois voltou para meu rosto. Sorriu e apertou. Firme. Não disse nenhuma palavra. Só me encarava. Como se tivesse todas as respostas. Como se tivesse descoberto algo, como se soubesse cada pensamento pecaminoso que enchia minha mente.

Então vocês se foram e me deixaram lá, sem saber o que fazer, como reagir 

Eu corri para meu quarto, ainda trêmula e muito envergonhada. Como pude ter pensamentos impróprios. Em frente ao meu marido. Por Deus, eu sou casada.  Fui até o espelho e falei como um mantra - Eu sou casada - sussurrei. Minhas Bochechas estavam avermelhadas e eu parecia ofegante. E foi naquele momento que decidi. Eu não podia chegar perto de você, deveria evitá-lo para o bem de todos. Para o seu bem.