Com elas escrita por Melody Holy


Capítulo 1
vozes; único




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Ainda estava no circo quando aconteceu pela primeira vez.

Foi algo discreto, rápido e que pensou ter sido fruto de sua mente, mas podia escutar uma voz feminina murmurando uma canção no fundo de sua mente, algo sobre flores e o nascer do sol.

Aquilo não voltou a se repetir por alguns meses, quando uma sequência ritmada contando de 0 a 10 infinitas vezes lhe fez se distrair da dor que sentia pelas chibatadas que recebia. A voz não parecia a mesma, mas aquilo não importava quando estava grato demais por não ter que pensar na dor.

A partir dali, aquelas vozes começaram a aparecer com mais frequência, fosse com reflexões sobre o uso de espadas ou cuidados para se ter na liderança de um grupo, até mesmo reclamações sobre braços doerem ao se fazer uma trança no cabelo ou o esmalte de uma unha lascada.

Com o tempo, aprendeu a distinguir as vozes que passaram a ser o melhor momento de seus dias. A primeira sempre parecia mais séria, mais preocupada com alguma coisa, algo sobre um irmão, enquanto a segunda estava constantemente com vontade de gritar ou xingar alguém.

E mesmo não entendendo o porquê de ouvir aquelas duas mulheres falando em sua mente, só ter algo a que se agarrar já era o suficiente. Porque, escutando elas falarem indiretamente sobre suas vidas, Lass se sentia menos sozinho. Era como se elas forem suas amigas.

Só foi entender o que era aquilo durante o tempo com Cazeaje. A Rainha das Trevas costumava reclamar sobre ter três vozes em sua mente e que se soubesse que ele tinha duas almas gêmeas, jamais teria o escolhido.

O termo alma gêmeas foi o suficiente para deixa-lo reflexivo e sem forças para lutar por tempo o suficiente para que Cazeaje fizesse o que bem quisesse.

Tinha a impressão de já ter escutado Zildler falar sobre algo do tipo no picadeiro, mas francamente não se lembrava de nada com exatidão. Se perguntou se aquelas duas mulheres — que se chamavam Edel e Elesis, aprendeu com o tempo — também escutavam seus pensamentos de vez em quando e sentiu culpa por não ter tido nada além de autodepreciação para oferecer a elas.

Mas agora, tantos anos depois da primeira vez em que escutara alguém em sua mente, via como aquela preocupação em específico era idiota. Principalmente quando Edel confessou o ter escutado em algum momento triste e ter começado a cantar uma canção sobre flores e o nascer do sol justamente porque queria que, fosse quem fosse aquela outra criança chorando em sua mente, ele se alegrasse ou pelo menos parasse de chorar.

E Elesis dissera muitas vezes ter partilhado de sua dor e aquilo a motivar a ser melhor nos treinos, porque sonhava, durante a noite, em se vingar de quem fazia aquele menino em sua mente chorar e sofrer tanto.

E saber que, mesmo não podendo oferecer nada de positivo à elas durante sua vida, havia as incentivado a serem melhores, já era o suficiente para esboçar um sorriso diante delas.

Um mero esboço, porque o sorriso de verdade estava reservado para os momentos em que estavam os três juntos, essencialmente os três, não importa se era Edel reclamando sobre a bagunça que Elesis fazia no quarto ou Elesis lhe pedindo ajuda para fazer algo para Edel. Estar com elas lhe dava energia, lhe dava vida, e não podia pedir mais do que isso.

A mais pura paz, com as mulheres que amava e que o amavam de volta.


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