Mais uma chance escrita por Sereia de Água Doce


Capítulo 30
Trinta




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Ah, finalmente os refrescos!

Com o sucesso estrondoso do clipe e do single, trabalho era o que não faltava na gravadora! Em menos de uma semana eles tinham se dividido entre apresentar novas músicas para Rick, ensaiar e falar com a imprensa. A primeira entrevista deles estava marcada e isso arrepiava cada fio de cabelo deles!

O próximo single já havia sido escolhido, com a música dos garotos sendo preparada para a gravação na semana seguinte. Eles estavam apenas ajustando os últimos acordes e testando com outros instrumentos naquela manhã, apenas esperando o grande momento na parte de tarde.

Como combinado, os rapazes estariam vestidos com suas máscaras, apenas tirando quando a repórter já tivesse saído do prédio. Ao menos o plano era esse, caso Julie não tivesse se sentido mal.

Tinha começado com uma leve dor em sua barriga - que apesar de não estar em seu período de TPM, cólicas não eram tão anormais assim. Poderia ser culpa da quantidade de refrigerante que ela tinha tomado no almoço. Julie tinha aguentado bem vendo o ensaio dos garotos, mas conforme a hora chegava a pontada piorava, chegando ao ponto dela precisar se sentar no sofá e se encolher, na falha tentativa de passar.

—Julie, tá tudo bem? - Martin foi o primeiro a perceber que tinha algo de errado com a garota.

—Deve ser só nervoso. - Ela tinha dificuldades de falar, suando frio.

Não convencido, Martin se aproximou e colocou a mão em sua testa, verificando que ela estava com febre.

—Juliezinha, você não tá legal.

—É claro que eu tô-ô….

—Então levanta. - Martin fez uma cara desconfiada, ajudando a garota quando ela tentou e gritou de dor, voltando a se encolher.

—JULIE? - Daniel escutou o grito, tirando os seus fones e olhando para a sala de espera. - O que houve?

— Baseado na minha experiência, ela precisa ir para o hospital. - Martin declarou.

—Pode me dizer onde você conseguiu o seu certificado de medicina, Martin?

—Cara, a sua namorada tá suando frio, com febre e mal aguenta esticar o tronco sem berrar de dor! Acha mesmo que um dipirona vai ajudar?

—Vou avisar Rick. - Daniel deu meia volta, saindo da sala.

Ele só precisou descer um andar e bater na porta dele para que o produtor abrisse bastante contente.

—Animados?! É a grande chance de voc….

—Garoto, vamos precisar adiar.

—Porque fariam isso?

—Julie não tá nada bem. Eu e Martin vamos levá-la para o hospital.

—O que aconteceu? Crise de nervos?

Daniel apenas olhou torto para ele.

—Não. Ela está com febre e com muita dor na barriga, mal consegue se mexer.

Aquilo pareceu despertar uma lembrança muito dolorosa em Rick.

—Vou cancelar com a revista. Tem como avisar ao pai dela? Se eu estiver certo, ela não vai poder ficar lá com vocês.

—Como sabe o que é?

—Também já tive apendicite e sei como dói. Podem ir, e me avisem quando ela for atendida.

Por não terem um carro, os garotos precisaram chamar um táxi - já que a ambulância demoraria demais. Podia não parecer, mas Martin era o mais forte dos dois, sendo o responsável por carregar Julie no colo até o carro, enquanto Daniel ligava para seu Raul e informava o que tinha acontecido. Ao chegarem no hospital, Martin ficou ajudando Julie a se manter na posição de bola na sala de espera enquanto Daniel cuidava em parte da documentação inicial, passando tudo para seu sogro ao vê-lo chegar vinte minutos depois.

Apesar de Julie não ter demorado para ser atendida, o momento em que tentaram fazê-la se esticar na maca tinha sido de partir o coração e os ouvidos.

—O agudo dela é bom. - Martin não deixou de comentar, com Daniel concordando ao mesmo tempo que fazia uma careta.

Mas diante da impossibilidade de ficarem tantos acompanhantes, Martin foi o primeiro a ir embora, deixando apenas seu Raul e Daniel, que tentava ao máximo não demonstrar a sua preocupação romanticamente falando. Mas seu Raul não era burro, tinha percebido o carinho que o rapaz olhava para a sua filha sedada, vendo ele segurar discretamente em sua mão. Ora, ele estava gostando dela? Sua filha saberia? Aquela música tinha sido para ela?

Ele não perguntaria naquele momento.

Mas conforme foi ficando tarde, Daniel também tinha sido mandado embora.

—Ela vai ficar bem, cara. - Félix tentou acalmar na loja.

—Eu sei que vai, mas fico preocupado pelo tempo de sedação. Ela pode acabar acostumada com a anestesia, não é?

—Para de viajar, Daniel! Também não é tão rápido assim.

Raul: Ela acabou de entrar em cirurgia, disseram que em meia hora termina.

Raul: Eu aviso assim que ela sair, mas provavelmente deve só acordar pela manhã.

Raul: Descanse, rapaz. As apendicites são rápidas na recuperação depois, essa não é a primeira na família.

—Seu Raul disse que ela acabou de entrar em cirurgia. - Daniel avisou aos dois amigos - Disse que em até meia hora acaba.

—E você está fazendo o que aqui então? Tem meia hora para tirar uma soneca! - Martin exigiu, tomando o telefone da mão do amigo e o enxotando para o quarto.

Manu: Como foi a entrevista?

Félix sentiu o seu celular vibrar, contente com a mensagem no twitter. Ele não veria Manu por algum tempo, já que ela tinha voltado para a casa dos seus avós na capital de São Paulo, onde estudava e gravava - vez ou outra voltando para a casa dos seus pais e usando o estúdio da cidade.

Félix: Não teve, precisamos adiar

Félix: Julie teve uma crise de apendicite e precisou ir para o hospital

Manu: Nossa… Que barra. E como vocês estão?

Félix: Preocupados  e chateados, mas isso não foi culpa dela, não tinha como saber que teria isso e justamente hoje. E você? Suas aulas já começaram?

Manu: Eu deveria estar fazendo uma redação sobre as minhas férias, mas conversar com você é mais legal. A propósito, peguei algumas patty hoje vendo o clipe de vocês, eu alternaria o estilo para elas não se apropriarem.

Félix: Patty?

Manu: É, patricinha, nariz em pé, aquelas que se acham e tomam propriedade de alguma música e você não pode escutar sem se lembrar delas.

Félix: Tá tudo bem, Manu?

Ele riu com aquilo. Patty ouvindo os Insólitos? Ou aquilo mudaria com o próximo single ou pioraria.

Manu: tudo sim, ué.

    Ainda bem que ele não estava mais na escola.

—______________

Apesar de ter corrido tudo bem na cirurgia, não tinha sido apenas a entrevista cancelada nos eventos sociais de Julie. Ela estaria se recuperando até a próxima quinta feira, voltando à escola somente na sexta - perdendo os quatro primeiros dias do seu último ano.

Mas a culpa não era dela, e sim do seu não mais apêndice!

O que não significava que soubessem da sua situação. Logo após o incidente, Bia tinha ficado responsável por avisar seus professores sobre o motivo das suas faltas - mas somente eles e mais ninguém.

—Eu não achava que Julie era dessas, sabia? - Nicolas comentou como quem não queria nada perto de Talita e Valtinho.

—Dessas quem? - Talita estranhou o assunto repentino. Eles não estavam só tomando um guaravita no recreio?

—Desapareceu depois que estourou nas rádios. Isso tem o quê? Três semanas? E só por isso não vem mais à aula?

—Vai ver ela mudou de escola. - A garota opinou.

—Mudou de escola e não deram baixa na lista de chamada? - Valtinho estranhou. - Acho que não esqueceriam disso. Você tentou falar com ela?

—Tentei, mas ela nem se dá ao trabalho de me responder. E para que teria mesmo, não é? Com tantas coisas mais importantes e interessantes para fazer. - Nicolas revirou os olhos.

—Se quer a minha opinião, ela quem está perdendo, Nick. - Talita piscou para ele, sendo ignorada.

Mas ele estava mais interessado em descobrir o que tinha acontecido. Abandonando os dois amigos, Nicolas seguiu em direção à Bia, que conversava no canto com Shizuko e seu celular.

—Bia, Julie não vai voltar não? - Ele perguntou afoito.

—Como é?

—Já é quinta feira e ela não apareceu na escola. Ela vai prejudicar o último ano com a banda?

—Nicolas! - Valtinho puxou o braço dele.

—O que? Se ela for fazer isso, ninguém vai alertar o pai dela sobre aquele namorado? Ele também está na banda e se ele não se importa com a educação dela….

—Ela teve uma apendicite na semana passada, Nicolas. - Bia cuspiu, revirando os olhos. - Não veio porque está se recuperando da cirurgia. Isso tudo são ciúmes? 

Nicolas não respondeu nada, apenas ficou de olhos arregalados, chocado.

—Porque se for, sinto em te dizer, mas não tem a menor chance. O relacionamento dela com Daniel vem de outro plano, ele conseguiu conquistar ela muito antes que você a notasse de verdade.

Nicolas focou no outro plano. Outro plano? Mas ele parecia bem vivo para ele na loja.

—Teve três anos para a enxergar, mas só a viu quando não dava mais tempo. Está feio já os seus ciúmes exagerados, Nicolas. - Bia soltou. - Deveria ajudar o seu amigo, Valtinho, ou as coisas esse ano vão ser complicadas.

—Quer conversar sobre isso mais tarde? - Valtinho tentou chamá-la para sair.

—Não, tô de boa.

Bia queria mesmo era saber o que Arcrebiano faria para tirar alguém do pé dele, já que Valtinho não estava tendo muito sucesso com o amigo. Não que é ele era uma boa companhia e conversa? Não era à toa que ela e Shizuko conversavam conjuntamente no recreio pelo celular até serem interrompidos pela crise de ciúmes atrasada.

Eles que se cuidassem, ao que tudo indicava Valtinho tinha acabado de levar um fora.

Pelo menos Nicolas tinha com o que se ocupar agora: ajudar a catar os poucos cacos do coração (ou ego) de Válter.


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