Mais uma chance escrita por Sereia de Água Doce


Capítulo 21
Vinte e um




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O final de semana passou voando, trazendo consigo o melhor ensaio de todos os tempos. Todos da banda tinham suas energias renovadas, compartilhando muito melhor o microfone. Apesar de Julie dominá-lo a maior parte do tempo, durante a sua pausa os garotos ensaiavam o seu solo, permitindo que ela bebesse um pouco de água.

Seu Raul tinha até mesmo ficado de tiete enquanto eles cantavam, maravilhado pela extensão vocal dos três. Segundo o próprio, já panfletava a banda deles por todo o trabalho, divulgando o videoclipe deles por mala direta para o restante dos funcionários.

Aquela era uma das vantagens de ser o chefe.

Mas enfim a segunda feira tinha chegado e com ela o grande dia: Julie estaria livre para não fazer nada por três meses ou precisaria estudar um pouco mais? Ansiosa com o resultado, ela se arrumou cedo e foi com Pedrinho até o colégio, esperando ansiosamente pelo resultado.

—Você vai com a gente para  a loja de discos, Pedrinho?

—É alguma ocasião especial?

—Martin vem buscar a gente na hora da saída para começarmos a reunião sobre o próximo show. Você quer ir?

—Posso não ir…? Não vão precisar de técnico de som hoje.

—Tudo bem, mas promete pensar na disposição para o próximo show? 

—Em algum momento da semana.

Sob o barulho do sinal, cada um seguiu para o seu lado da escola, logo estando nas salas de aula. Por mais que os professores tentassem, não tinham controle sobre os adolescentes naquele dia. Em determinado momento tinha até desistido de tentar, preferindo passarem de fase no candy crush do que revisar algum conteúdo.

—Você não tinha esse sorriso no rosto até quinta feira, Julie. O que foi que aconteceu? - Shizuko perguntou no meio da manhã, se acomodando na carteira da garota.

—Verdade, na hora que eu saí da sua casa você parecia que ia morrer de tanto chorar. - Bia completou.

—Daniel passou lá em casa na sexta feita.

—E vocês conversaram?

—Não exatamente…

Vendo os olhares maliciosos das amigas, Julie corou como um pimentão voltando atrás.

—E também não fizemos nada disso!

—E como se resolveram? É óbvio que isso aconteceu.

—Ele fez uma serenata para mim.

—Como é que é?!

—Oi?!

—Eu também fiquei bastante surpresa, mas lembram que ele saiu correndo no meio da nossa briga sem conseguir se explicar?

—Aham.

—Ele escreveu uma música se explicando e eu não pude aguentar continuar brigada com ele…

—Pensei que vocês tivessem dito que ele fazia o tipo de bad boy… - Shizuko se lembrou de meses antes.

—E ele faz, isso está surpreendendo toda a banda, e sinceramente? Acho que até ele mesmo. A propósito, uma pessoa vem fazer uma visitinha hoje aqui e acho que você vai gostar.

—Quem?

—Martin. Daniel pediu para ele nos acompanhar para adiantarmos a reunião da banda, já que ele vai estar na loja hoje. Provavelmente não precisaríamos de um acompanhante, mas algo me diz que …

—Ele com certeza pediu para Martin dar uma olhada no Nicolas. Certeza. - Bia declarou.

—E como ele não é bobo vai tentar falar com Shizuko.

—Como sabem disso? - A careta desconfortável dela dizia tudo.

—Só um palpite.

—Não sei se seria uma boa ideia…. Ele é legal, mas toda vez que me lembro daquele beijo….

—Acredite, você vai querer vê-lo. Sabia que ele está concorrendo ao colírios da capricho?

—Não sei se posso dizer se estou surpresa ou não, nunca vi o rosto dele.

—Pode deixar que ele não vai tirar seus óculos hoje.

—Conhecendo ele é bem capaz de fazer tudo para ser notado.

Elas estavam tão distraídas que sequer repararam nos olhares irritadiços que Nicolas enviava para as três.

—Que cara é essa, Nicolas? Parece que nem dormiu a noite. - Valtinho perguntou estranhando o comportamento do melhor amigo.

—Julie voltou com aquele…. cara.

—Ela te contou?

—Não precisou, estávamos fazendo uma vídeo chamada quando ela escutou um barulho do quintal. Quase queimei minha caixa de som, mas consegui ouvir a voz dele. Acredita que ele foi fazer uma serenata de desculpas?!

—Cara…. Sinto te dizer mas ele está um nível acima da gente.

—Qual é, Valtinho?! Tá me tirando?!

—Não, mas você sabe cantar?

—Não.

—Sabe tocar alguma coisa?

—Não.

—Então a única coisa que te resta é se vestir de cavaleiro medieval e se declarar, o que vimos que não funcionou.

—Eu te odeio.

—Disponha.

Não demorou muito mais para eles terem os resultados. Como esperado, Bia, Julie, Shizuko e Nicolas tinham conseguido alcançar todas as médias, com Valtinho e Talita ficando de recuperação em algumas matérias. Eles até teriam conseguido ir embora direto, se Valtinho não tivesse interceptado o grupo, pedindo ajuda de Bia para estudar - que disse pensar no caso.

As meninas acabaram fazendo hora no pátio do colégio, esperando pelo garoto que ainda não havia chegado.

—Repararam que Nicolas mal falou com Julie o dia todo?

—Sério? Ele me cumprimentou agora a pouco…

—Bem diferente do comportamento da semana passada, não é? Parecia que tinha passado cola em vocês dois!

—Sério?

—Juliana do céu! Como não percebeu isso?

—Sei lá, eu só não ligava. Estava ocupada pensando em outra pessoa.

—Que Nicolas não te ouça, se não o drama vai ser forte.

—E por falar em drama, olha quem vem lá! - Julie indicou Martin com o queixo.

Shizuku, que estava de costas para a entrada, se virou com a indicação da amiga, tendo sua atenção voltada para a única pessoa vindo na direção deles.

—Aquele é o Martin…?! - Ela estava chocada por sua beleza. Tão loiro, tão bonito.

—O próprio.

Porque ele tinha que beijar tão mal ????— Ela sussurrou para as amigas, que desataram a rir.

—Até onde eu sei nunca vesti uma fantasia de palhaço. - Martin declarou ao chegar próximo o suficiente. - Meninas, Shizuko! Quanto tempo que não nos vemos!

—Eu disse que ele ia fazer isso.

—Tempo é relativo, já que eu nunca tinha chegado a te ver de verdade. - Ela respondeu, fazendo um sorriso abrir no rosto dele.

—Não foi por falta de vontade.

—Então porque tirou os meus óculos?

—Uma troca justa, não acha? Minha máscara pelos seus óculos.

—Não. Sem os óculos eu continuei não te vendo.

—Mas agora estou bem aqui na sua frente, sem ela. 

—Martin, nós estamos aqui, caso tenha se esquecido.

—Jura? Pensei que já tivessem ido para a loja.

—Escuta, gente. Não quero atrapalhar o compromisso de vocês. A gente se vê. - Shizuku se despediu e foi embora, deixando um Martin sorridente para trás.

—Foi comigo que ela falou? - Ele perguntou.

—Certamente que não. - Bia respondeu pegando a sua mochila e se levantando de onde estava.

—Como pode ter tanta certeza? Ela falou alguma coisa?

—Não tinha sido você a ir “estudar” na casa de uma garota na semana passada?

—Não estou chocado em como a fofoca corre rápido, mas muito me surpreende a visão que vocês têm de mim! Nós só estudamos, sério.

Desacreditadas, as garotas continuaram o caminho para a loja de discos. Não muito tempo depois eles pararam em um mercadinho e se abasteceram de cup noodles, preparando o almoço dos quatro. Quando enfim chegaram à loja, Félix tinha acabado de assumir o posto no caixa, deixando Klaus arrumando o estoque das recentes aquisições.

—Trouxemos almoço! - Martin declarou ao entrar, atraindo atenção para eles.

—Comida de verdade ou instantânea? - Klaus perguntou como adulto responsável.

Julie e Bia apenas responderam com um sorriso cúmplice.

—Podemos começar a reunião depois de comer? Martin disse que trariam o almoço, então esperei vocês. - Félix pediu, segurando o estômago.

Quinze minutos depois os quatro estavam reunidos na copa, comendo seus instantâneos.

—Daniel não vai conseguir mesmo participar hoje? - Bia questionou.

—Não, ele pediu para adiantarmos a conversa, que depois os garotos atualizam ele de noite.

—Fiquei feliz que vocês tenham se resolvido. Se não tivessem, acho que o ciclo de shows desse ano já estaria encerrado.

—Nós também ficamos muito felizes com isso, mas precisava ver a melação que estavam no sábado! Não sei como seu Raul não percebeu! - Félix reclamou.

—Estava me dando até alergia, e olha que eu não me importo com isso. - Martin alfinetou ainda mais.

—Ah, para de palhaçada! Fomos obrigadas a ver a sua tentativa de flerte com Shizuku hoje e não falamos nada!

—Ah, ele encontrou com ela? - Félix perguntou sorrindo.

—É, mas ela não deu muita atenção a ele.

—Eu acho contrário. - Martin estufou o peito.

—Deixando isso de lado, será que Klaus consegue marcar um último show antes do Natal? Acho que se for na semana de ano novo corremos o risco do maior público viajar e não aparecer.

—Acho que sim. Eu já tinha dado uma olhada na agenda da loja, e ela estava vazia. - Félix se lembrou. - Mas precisamos confirmar com ele primeiro. Vamos cobrar ingressos?

—Acho que um valor simbólico, apenas para garantir o espaço e a manutenção dos instrumentos. O que acham de cinco reais? - Bia sugeriu. - Da última vez Pedrinho e eu contamos por alto cerca de quarenta pessoas, o que daria um lucro de duzentos reais. O suficiente para a troca de cordas de emergência e futuros gastos com o amplificador.

—Eu acho o valor bom, mas não sei se pagariam para nos ver…. - Julie disse insegura.

—Precisamos tentar para saber. Não deve ser pior que nosso primeiro show.

—Pelo menos daquela vez vocês conseguiam ver o público…

***

Já tinha algum tempo que o horário de almoço tinha acabado, com Félix voltando para o seu posto no balcão. Martin e Julie disputavam no arcade, com Bia agendando com Klaus o próximo show, já trabalhando na publicidade. Tudo isso até o telefone dela tocar.

Pedindo licença, Bia abriu a sua caixa de entrada e leu o e-mail recebido. Em um rompante, ela correu até o caixa, implorando que Félix a deixasse usar o computador.

—Félix, por favor!

—Aconteceu alguma coisa?

—Precisa entrar no site da capricho. Preciso confirmar uma coisa.

Sem entender muita coisa, o rapaz entrou no site, vendo no banner da página inicial o link para os finalistas do colírios daquele ano. Não precisou pensar muito para saber que era lá que ela queria clicar, fazendo a gentileza para Bia. Rolou um pouco a página até dar de cara com a foto de Martin.

—É isso? Martin é um colírio oficial? - Ele falou mais alto atraindo a atenção de todos.

—Em qual posição que fiquei? - E perguntou do arcade.

—Sétima.

—Ah, muito boa para quem acabou de voltar a vida.

Eles não tinham se tocado da real importância daquilo tudo.

—Martin! Eu acabei de receber um e-mail da revista. Por você ter sido um finalista vão fazer uma entrevista presencial! Não acreditei, por isso vim conferir.

—Minha primeira entrevista? - Ele se distraiu do jogo, voltando seu corpo para a garota.

—É. Na quarta feira. Não vamos precisar ir até São Paulo, uma jornalista virá até aqui, porque outros garotos também são da região. Não é um máximo?!

—E como é isso?

—Ah, ela provavelmente vai fazer algumas perguntas da sua vida,  e vai tirar fotos. Então tenha uma boa noite de sono, por favor. Queremos você com aparência viva.

—Tem noção do que está acontecendo, Martin? - Julie se animou. - Você vai aparecer em uma revista! É o primeiro de nós a ganhar visibilidade!

—É, mas não vou poder falar da banda. Se o nosso lance é o mistério por trás das máscaras, não posso entregar o meu rosto assim.

—Vamos pensar em alguma coisa. Você pode dizer que é super fã da banda, vai atrair atenção do mesmo jeito!

—Esse é só o começo de tudo, Martin. O começo do sucesso dos Insólitos.


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