Ela escrita por Amanda Lis


Capítulo 1
Você em mim




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ELE simplesmente estava ali, no meio do salão, me olhando, olhos perfurando. Ele esperava.

Parecia lindo, tão inquebrável e intocado, duro como uma estátua de mármore, não movia nem um centímetro. Vestido como realeza, senhor de todos os deuses, roupas douradas em ouro, esculpido em completa perfeição, mais que divino, inalcançável. Ele permanecia estranhamente parado, sério, encarando, enquanto o caos atingia o salão. Risos, suor e música. Penas, máscaras e vestidos, homens e mulheres, monstros e anjos, todos juntos. E ele.

Eu não podia evitar, ele esperava, chamando meu nome sem nem mexer os lábios. Seus olhos, ah, seus olhos. Seus olhos diziam tudo, todas as coisas. Passando pelos corpos, borrões rápidos que giravam e giravam suas danças em roupas vibrantes, tento o alcançar.

Mãos suadas de antecipação, toda a noite eu o busquei. Corria para ele, apenas para encontrar o nada, tão escorregadio e irreal que era. Toda a noite dançamos juntos uma valsa distante. Ele fugindo, eu buscando. Se estava lá, eu seguia. Se voltava, eu me virava e acompanhava seu passo. Não desta vez.

Empurrando os últimos casais dançantes que separavam ele de mim, me vi diante dele. Ele, sempre ele, toda a noite, ele. Não sorriu, nem disse algo, nem eu esperava que o fizesse. Palavras não eram necessárias, ele estava acima delas. Estendeu o braço, aceitei. Toquei sua mão e o mundo explodiu ao meu redor. Cores passavam em movimentos inexplicáveis, a música estridente machucava os tímpanos, demônios mascarados se juntavam em círculo, nós dois ao centro, e riam desdenhosos, julgando nossa interação. Era demais para mim. Nada o atingia.

Seu olhar continuava a me perfurar. Super estimulada, sons e cores e sensações, senti o mundo girar. Aos poucos, fui caindo, desmaiando. Tudo continuava, o mundo não parava. Os casais se debruçavam sobre mim, sempre rindo, seus rostos embaçados pela lágrimas que não notei que caiam. A música ainda gritava os sons, agora abafados. Ele nunca veio, nunca me amparou. Assistia a cena, a mão que segurou a minha estendida junto ao corpo, desistira de mim. Eu não era nada, ele sempre foi tudo. Nunca houve um nós, mal existira um eu. Tudo que houve foi ele.


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