Entrelaçados escrita por Ocarina


Capítulo 1
Para sempre


Notas iniciais do capítulo

Essa fanfic se passa após os acontecimentos do volume 11 do mangá, então mais uma vez deixo aqui o alerta de SPOILER pra quem só está assistindo o anime.

Se você é leitor do mangá e já passou de Goldy Pond, tenha em mente a cena em que Emma acorda na enfermaria do abrigo, amparada por todos. A fanfic se passa justamente nesse período.

Boa leitura!



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Emma acordou com dor. O efeito do analgésico provavelmente estava chegando ao fim.

Imersa na escuridão do cômodo, ela não se mexeu. Deitada, apenas encarava o teto, enquanto tentava ignorar a sensação ardente e latejante que crescia em seu abdômen, nos pontos exatos onde Lewis a havia perfurado quase que fatalmente. 

Era inacreditável que ainda estivesse viva.  

Um gemido escapou de seus lábios. Um murmúrio de lamento pela sensação torturante que parecia aumentar cada vez mais naquela região. Mas ninguém a ouviu, e Emma preferia que fosse assim. O silêncio no abrigo era absoluto. Estavam dormindo, todos eles. 

Emma não queria incomodá-los, afinal, não era somente ela que precisava de um descanso. O últimos dias haviam sido insano pra todos e alguns de seus colegas ainda estavam se recuperando dos ferimentos adquiridos em Goldy Pond.

Uma lágrima involuntária escorreu pelo seu rosto, deixando-a confusa. Seria de dor? Felicidade por estarem todos bem? Angústia pelas crianças ainda estavam Grace Field? Ou talvez uma mistura de todas as possibilidades? 

Ela inspirou fundo. Seu primeiro impulso foi limpar o rosto, mas antes que pudesse movimentar a mão direita, percebeu que algo a impedia. Desviou o olhar do teto e, sob a luz distante do corredor — que invadia o quarto e precariamente o iluminava —, ela percebeu que Ray estava ali. Sentado numa cadeira ao lado da cama, ele terminou se debruçando em cima do único espaço vazio que encontrou naquele colchão estreito em que Emma repousava. Em seguida, dormiu profundamente. A sua mão permanecia sobre a dela, segurando-a da mesma forma que ele havia feito quando Emma abriu os olhos pela primeira vez em semanas. 

Naquela ocasião, assim que Emma recobrou a consciência, todos a rodearam, dando-lhe abraços e desejando-lhe melhoras. Agora, porém, eram só os dois. Dessa vez, a mão de Ray estava pousada suavemente sobre a sua, sem pressão alguma. Totalmente relaxado naquele estado exaustivo em que ele se encontrava. 

Emma reparou que ele dormia com a coluna desalinhada e imaginou que provavelmente ficaria todo dolorido no dia seguinte. Ela cogitou acordá-lo, mas se deteve em seguida. Por um lado queria que ele fosse descansar numa cama de verdade, todavia, por outro, não queria ficar sozinha. Soaria meio estranho, mas a presença de Ray a deixava feliz. Lógico que tê-lo por perto sempre a deixou feliz, no entanto, agora era diferente. Quando se separaram a caminho de Goldy Pond, a sensação foi devastadora, quase corrosiva. Emma temeu nunca mais vê-lo de novo. Por isso, na quietude da enfermaria, permaneceu calada, apenas apreciando a companhia do amigo. 

Aquela tranquilidade era reconfortante.

Quando o seu polegar deslizou sobre o dorso da mão de Ray, ela notou como a sua pele estava áspera, repleta de arranhões e feridas menores, fruto de toda a agitação daqueles últimos tempos. A dela própria não estava muito diferente. A vida que levavam em Grace Field agora parecia até outra realidade, muito distante e difusa. Emma então deixou-se levar pelas lembranças daqueles dias felizes e calorosos que na realidade não passavam de uma triste ilusão. E por mais que agora vivesse constantemente em apuros, se sentia livre pela primeira vez na vida. Ela sabia que tudo ficaria bem, até porque, não estava sozinha. Ela tinha a família ao seu lado. Tinha Don, Gilda, Yugo, Lucas e todos os demais. E é claro, ela tinha Ray.

E mais uma vez os seus pensamentos recaíram sobre o garoto adormecido ao seu lado. A emoção de tê-lo ali junto dela era indescritível. Não era uma mera felicidade, mas algum algo muito maior. Algo especial.

O coração de Emma disparou de repente quando o som estridente de um alarme tocou. Ela procurou pelo dispositivo às cegas, mas era tarde demais. Mais ou menos desperto, Ray já se levantava, desligando em seguida o aparelho. Ainda no escuro, ele esfregou os olhos, se forçando a encarará-la. 

— Você está bem? — ele perguntou.

O silêncio novamente perdurou no cômodo. Ao perceber que Ray segurava a sua mão bem mais firme do que antes, ela enrubesceu meio agitada. Porém, Ray não notou graças à iluminação precária no ambiente. 

— Pra quê esse despertador? — Emma o questionou.

— Porque você já precisa tomar outro analgésico. A essa hora, o efeito do anterior já deve estar no limite. Não está sentindo dor?

 Emma assentiu, fazendo uma careta. 

— Um pouquinho. 

— Não me diz que já estava acordada antes do alarme tocar? Por que não me chamou? 

— Não queria te incomodar — ela deu de ombros, sendo o mais franca possível. 

— Preferiu ficar sentindo dor? Como você é boba, Emma.

Ele finalmente a soltou, deixando-a com uma sensação esquisita. A sua pele, que por horas tinha estado em contato direto com a de Ray, agora formigava como se houvesse algo de errado ali. Emma abaixou o olhar, tentando esconder o semblante discretamente descontente que trazia consigo.

Sem perceber qualquer sinal do conflito interno que ela vivenciava, Ray lhe entregou um copo d’água e um comprimido, sentando-se novamente ao seu lado. Em seguida, Emma ingeriu o remédio, voltando-se então a ele. 

— Não precisa ficar aqui, Ray. Daqui a pouco a dor já vai passar.

— Não vou te deixar sozinha. E se você precisar de alguma coisa? 

— Mas você também deveria descansar. 

— Eu estou descansando. 

— Não tão bem quanto deveria. Se continuar dormindo de mau jeito, amanhã vai estar pior do que eu.

— Você fala demais, Emma. Eu vou ficar aqui e pronto. Isso não está em discussão. 

Ela sorriu. O tom ríspido de Ray não a incomodou. Emma já estava acostumada com a forma com que o amigo encerrava uma conversa cujo o rumo não lhe agradava. Ela então desistiu de retrucar, até porque não queria mesmo que ele fosse embora. 

Se Ray desejava estar ao seu lado, não seria Emma que o impediria.

— Obrigada por ficar comigo — ela disse por fim — Obrigada por tudo.

Ele apenas sorriu em resposta, de um jeito discreto. Ameaçava dizer alguma coisa, mas não o fez.

Alguns minutos se passaram naquele silêncio absoluto. A dor aos poucos foi desaparecendo e Emma enfim pôde relaxar novamente. Sonolenta, vislumbrou Ray uma última vez antes de fechar os olhos.

— Sua idiota. Não vai se livrar de mim tão fácil. Eu sempre vou ficar com você.

A voz de Ray soou como um sussurro distante aos seus ouvidos, e por isso ela não reagiu. Cansada demais, Emma não sabia se já estava sonhando ou se aquelas palavras realmente haviam sido reais. Mas antes que sua mente se apagasse completamente, um perfeito encaixe em sua mão lhe tirou a dúvida. O contato morno e áspero da pele de Ray — agora com os dedos entrelaçados aos seus — era inconfundível. 

De repente, não havia mais dor, medo ou preocupação. 

Por um único momento, nada mais importava. Somente Ray, Emma e o elo irrompível que os unia para sempre.


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