Não é comum, mas é normal escrita por apenasmay


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

De longe, essa foi a fanfic mais difícil de escrever na minha vida. Como deixei nos avisos da história, ela foi feita para o projeto "Pride Month" em uma comunidade de Harry Potter, em junho deste ano (2020). Digo que foi difícil porque é complicado falar de um tema sem vivenciar ele.

De modo genérico, omnissexualidade engloba pessoas que sentem atração por todos os gêneros. Diferente dos pansexuais, os omni não são "cegos ao gênero" e podem, também, ter preferência por algum.

Então não posso deixar de agradecer Faggot e Misko, duas pessoas omni com quem conversei para poder compreender melhor o tema e que me abriram os olhos da compreensão. E também o Josh, a Pat e a Dri, que aturaram meus surtos e me deram dicas construtivas durante o processo de criação da fic.

Espero que vocês gostem e que sirva de reflexão. Boa leitura!



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O Profeta Diário pousado sobre a mesa do escritório trazia como manchete principal uma notícia um tanto quanto triste. Os olhos de Luna Lovegood encaravam a imagem do rapaz sorridente que acenava na imagem, contrastando ironicamente com a manchete que anunciava sua internação no St. Mungus, em estado grave, após sofrer agressão física. Os agressores ainda estavam sendo investigados, assim como a causa, segundo o jornal.

 

William Jones, ou Bill, como era conhecido pelos mais próximos, trabalhava com Luna já há alguns anos e era bastante conhecido por sua notável atuação no campo de pesquisa da Magizoologia. Embora a causa da agressão gratuita estivesse apenas no plano dos boatos para a maioria das pessoas, já que fora ocultada pelo jornal, Luna sabia que por trás daquilo havia um crime: LGBTfobia.

 

Ela sentiu o coração apertar e as lágrimas se acumularem em seus olhos, acompanhando o nó que resolveu se formar em sua garganta. Ela e Bill tiveram inúmeras conversas sobre esse tipo de situação e agora ele estava lá, entre as vítimas de violência. A mulher suspirou e passou as mãos pelo rosto, numa vã tentativa de conter as lágrimas que, agora, já tomavam conta de seus olhos por completo.

 

Luna sentia que precisava fazer algo. Por Bill. Pelo namorado de Bill. Por ela. Por todos aqueles que sofrem preconceito e violência pelo simples fato de serem quem são e amarem quem amam. E por isso ela estava sentada ali, no seu escritório do prédio onde funcionava a redação d’O Pasquim. Ao contrário do que fora um dia, O Pasquim agora se tornara uma referência, sendo lido por grande parte da população bruxa, por sempre trazer à tona assuntos interessantes — por vezes polêmicos — e, principalmente, por trabalhar com a verdade.

 

Assim, ela começou a escrever um desabafo que, em breve, tomaria um lugar de destaque no jornal.

 

Hoje, O Pasquim vem lamentar um incidente ocorrido recentemente com o nosso companheiro e grande amigo, William Jones. Bill foi hospitalizado gravemente ferido após ter sofrido agressões físicas quando voltava do trabalho, com seu namorado. Até quando ficaremos quietos diante de situações de violência que não passam de reflexo do ódio? Enquanto fecharmos os olhos e preferirmos não enxergar os fatos, não teremos como melhorar. Se a própria imprensa do mundo bruxo não noticia os fatos como efetivamente são, como poderemos despertar compaixão, empatia, solidariedade?

 

Bill Jones foi vítima desta vez. Antes dele, foi a vez de tantos outros. E amanhã, bem… amanhã pode ser a minha vez. Hoje, ao contrário do que costumo fazer nos meus artigos d’O Pasquim, eu decidi agir com o coração e me expor, falar de mim, numa tentativa desesperada que cada leitor possa olhar para si mesmo, para familiares, amigos e até desconhecidos com um olhar diferente.

 

Durante toda a minha vida eu fui vítima de piadas e até mesmo rejeição. Por ser estranha, por não ser reflexo dos padrões. Isso se estendeu também para a minha sexualidade. Com orgulho, escrevo para vocês hoje que sim, Luna Lovegood é omnissexual. E sim, a minha sexualidade existe. Não, eu não amo seres que não são reais. E, sim, eu tenho um relacionamento estável com o meu marido, que não é apenas fachada para ocultar uma vida leviana. Eu, assim como o meu amigo Bill, assim como seu namorado Patrick, assim como meu marido Rolf e assim como você, tenho o meu jeito de amar. E, por mais que não seja comum, é normal.

 

Hoje, este artigo faz um apelo pelo amor, pelo respeito, pela empatia e pela compaixão. Eu sei que se cada um de nós deixarmos o nosso preconceito de lado, tudo vai ficar bem. Não é simples e fácil assim, mas espero que não precisemos do sofrimento de muitos “outros Bills” para que isso aconteça. Ame hoje. Respeite hoje. Seja diferente hoje. Só assim faremos uma sociedade melhor.

 

Luna finalizou o artigo e caiu num choro compulsivo, que continha um misto de preocupação, tristeza, indignação e impotência. O artigo alcançaria um número razoável de pessoas, mas isso não garantia que elas fossem realmente pensar sobre o assunto. Paralelo a isso, havia Bill internado, sem nenhuma perspectiva de quando — e se — ficaria melhor.

 

O corpo da mulher estava tremendo, devido ao estado de choro em que se encontrava. De repente, ela sentiu um abraço a envolver. Era Rolf Scamander, seu marido. Ele a envolveu com todo o cuidado e ternura que era capaz de expressar, enquanto seu próprio coração estava devastado com toda aquela situação.

 

— Rolf… Não p-pode ser… O Bill… Nunca… Nenhum mal… — As palavras saíam da boca da loira de maneira desconexa, entre lágrimas, mas Rolf era capaz de compreendê-la, até mesmo se ela não proferisse nenhuma palavra.

 

— Luna… Vai ficar tudo bem. Ele vai melhorar. Logo nós vamos estar juntos de novo. Eu, você, o Bill e o Patrick. O Lorcan e o Lysander ainda vão poder passar as férias na casa deles depois que eles se casarem. Você vai ver, meu amor. Vai ficar tudo bem.

 

Luna suspirou profundamente e escondeu o rosto no pescoço do marido. Ela sabia que nada daquilo era garantido, mas gostaria de acreditar. Não era apenas uma questão de querer acreditar, ela precisava que aquilo efetivamente acontecesse. Precisava que Bill se recuperasse, na mesma intensidade que precisava que a sociedade se tornasse melhor.

 

Ela precisava que o amor prevalecesse e que ninguém fosse punido apenas por ser quem é. Assim como ela não deveria ser julgada por amar todos os gêneros, Bill não deveria ser agredido por amar um gênero igual ao seu, nem tampouco Rolf por sentir-se atraído pelo gênero oposto.

 

— Mais respeito e amor... — A voz fraca de Luna interrompeu o silêncio. — É só isso que precisamos pra tudo começar a melhorar.


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Notas finais do capítulo

Bom, foi isso. Eu espero, de verdade, que a fic tenha tocado o seu coração como tocou o meu. Reviews são sempre bem-vindos.



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