Fear escrita por TigerxFox


Capítulo 1
Capítulo Único




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Zoro pensou em poucas e boas para dizer a Sanji quando se reencontrassem. Ele poderia dizer bem-vindo de volta, mas até parece. Poderia xingá-lo até o outro dia. Poderia até não dizer absolutamente nada e ignorar a existência daquele cozinheiro e de suas sobrancelhas esquisitas.

Mas só aquelas palavras conseguiam expressar o que ele sentia.

“Eu te odeio. ”

Sanji não parece surpreso. Como se fosse natural e esperado.

“Agora me diga uma novidade. ” 

Não. Não é desse jeito.

Zoro confiou em Sanji, ele sempre confiava. Por mais que estivesse sempre falando em deixá-lo para trás a cada ilha pela qual passavam, por mais que fizesse questão de esfregar na cara de todo mundo o quanto detestava aquele cozinheiro mulherengo e irritante.

Sanji não fazia o mesmo, aparentemente. Era assim que Zoro encarava aquela carta que deixou, aquele sumiço. Não era uma traição, nem uma covardia, simplesmente um eu não confio em você.

 Você não é forte o suficiente.

É claro que era muito egocentrismo se colocar no centro daquilo, como se o mundo girasse em volta do seu próprio umbigo e da sua espada, mas Zoro era arrogante e egocêntrico, nunca escondeu isso.

“Por não confiar na gente. Em mim. ”

"É essa sua interpretação?"

"Qual mais seria?"

Sanji continua tragando o cigarro calmamente, soltando a fumaça tão lentamente como se tivesse o dia inteiro apenas para fumar aquele único cigarro.

"Só porque eu tenho medo não quer dizer que eu não confio."

Zoro o olha com espanto, como se Sanji estivesse dizendo um absurdo. Talvez o espadachim apenas não estivesse acostumado a ouvir o cozinheiro falando tão sinceramente sobre algo assim. Deixando sua fraqueza exposta como uma ferida aberta na sua frente, enquanto continuava tragando o cigarro de forma tão casual quanto se estivessem falando sobre o clima ou qualquer outro assunto banal.

"Você parece surpreso. Talvez eu tenha ficado também." Sanji ainda não encara Zoro diretamente, apesar da suposta casualidade que seu tom tenta passar. "Fazia muitos anos que eu não usava essa palavra. Que eu não sentia tanto medo."

Sanji parece tão calmo quanto antes, mas Zoro conseguia perceber o cabelo escondendo o rosto magro ainda mais do que usualmente. Sanji odeia demonstrar fraqueza, principalmente na sua frente. Zoro só consegue entender tão bem o sentimento por ser exatamente igual, a dupla mais teimosa daquele bando.

"Eu também tive." Zoro responde na mesma moeda.

"Hn?"

"Medo." A palavra soa estranha saindo dos seus próprios lábios. Fora do seu elemento, da sua personalidade.

Mas era verdade.

Sanji era o cara mais rápido do mundo para se descartar e se desmerecer. Se ele nunca mais voltasse? Substituível. Se ele morresse? Era só arranjarem um novo cozinheiro. Zoro detestava quando ele agia dessa forma. Como se sua existência fosse tão sem valor.

Zoro sabia muito bem que as pessoas não eram substituíveis assim.

E ele sentiu medo que Sanji descartasse sua própria vida num piscar de olhos. Que aquela vez em que gritaram um com o outro disfarçados ridiculamente com bigodes falsos tivesse sido a última.

"Achei que o incrível senhor espadachim número um do mundo não se rebaixaria a um sentimento desses." Sanji faz questão de demonstrar seu espanto na forma de escárnio, embora Zoro perceba que sua fachada casual está começando a ruir um pouco.

"Cala a boca."

"Você consegue se lembrar? Da primeira vez em que se sentiu assim?"

"Quando eu era moleque." Zoro admitiu rapidamente, a honestidade fluindo pela correnteza calma daquela conversa. "Mas eu nunca disse que sentia. Eu não tinha casa, vivia sozinho nas montanhas, e tinha muita coisa assustadora. Eu achava que se eu nomeasse aquele sentimento ele se tornaria real, então eu só fingia que não existia."

"E funcionou?"

"Nem um pouco." Zoro lembrou um pouco envergonhado e uma parte dele achando graça de quando era minúsculo e magrelo e insistia que não ficava assustado na hora de dormir, mesmo que seu corpo tremesse pensando na possibilidade de um animal atacá-lo à noite. "Só melhorou quando arranjei onde morar."

Os dois continuaram exatamente onde estavam, Sanji ainda fumando seu cigarro que à essa altura nada mais era que uma microscópica bituca e Zoro tentando ler os movimentos dele. O cozinheiro parece menos descontraído, sua linguagem corporal defensiva, e as mãos geralmente tão rápidas para substituir os cigarros na boca enterradas nos bolsos como se nunca pretendessem sair

"Eu nem lembro quando foi minha primeira vez." Sanji fala depois de um tempo, quando já não há mais cigarro, nem bituca nem nada, e Zoro quase havia pegado no sono de tanto tempo que passaram sem dizer nada. "Acho que eu já nasci com medo..."

Zoro fica esperando mais palavras que nunca vêm, enquanto observa Sanji tirar as mãos dos bolsos para acender o isqueiro. E de repente tudo faz sentido, porque as mãos pálidas tremem como se estivessem numa ilha de inverno, em seu rosto brilha uma trilha fina e molhada que escapa dos seus olhos e o cozinheiro vira de costas para ele para que Zoro não o observe mais.

Não que Zoro vá forçá-lo a olhar para si se não ele não quer, mas ele vai obrigá-lo sim a aceitar seu abraço. Mesmo que Sanji esperneie e diga que Zoro está fazendo muito peso.

O cozinheiro não faz nada disso, entretanto.

Sanji derrete em seus braços como ele teve medo que nunca mais faria, e solta uma tragada que soa mais como um suspiro que estava segurando há muito tempo. Como se ele também estivesse com medo.

Não precisa ter medo. Você está em casa. Seus braços fortes e quentes dizem, e ele sabe que o corpo de Sanji entende.


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