Efêmero escrita por Itslynn, YulYulk


Capítulo 1
As Flores Falam


Notas iniciais do capítulo

- Boa noite, meus queridíssimos ♥
Uma one shot fresquinha de Hatake Kakashi, o Mito, para vocês. Leiam as considerações finais, por favor :)
Boa leitura.



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Desde sua tenra idade, Hatake Kakashi mostrou-se um ninja perpicaz e de inteligência acima da média. Destacava-se por suas habilidades avançadas para um ninja de sua idade. Aos treze anos tornou-se Jounin, enquanto seus companheiros de equipe, Obito e Rin, permaneciam na primeira classificação ninja. Genin.

O Sol havia nascido para Kakashi, o novo Hokage da vila da folha, no país do fogo. Diferente dos outros dias em que tirava uma folga e lia Icha Icha Paradise até o amanhecer, Kakashi acordou por volta das dez da manhã. O clima estava agradável, mas o seu corpo estava pesado, cansado, como se houvesse um grande peso em cima dele o impedindo de realizar qualquer movimento, por mais simples que seja. A cortina verde entreaberta dava passagem para que a luz solar iluminasse seu rosto pálido e suas olheiras.

Levantou a mão em direção a luz que o cegava e a encarou. As pálpebras ainda pesadas. Fechou os olhos com força, juntamente do punho direito erguido em direção a estrela que traz a vida ao planeta. Aquela sensação era familiar, esteve presente por quase toda a sua vida. Sua mente trouxe de volta a lembrança cruel do assassinato de Rin. Era o seu chidori. O chidori não era para amigos. Sua vida era coberta por morte, suicídio. Seu pai, o canino branco, foi o primeiro a ir, deixando-o sozinho, a mercê de seus próprios sentimentos e cuidados. Kakashi entendia que estava perdoado, que aquela havia sido a vontade de Rin, mas lembrar-se de Rin era doloroso, lembrar de Obito...Doía.

Devagar suas pálpebras foram abrindo-se, os olhos marejados. Aquele dia era naturalmente doloroso.

Ninguém o via chorar ou reclamar da vida como se a vida fosse resumida a apenas dor e a apenas suas escolhas. Crescendo na idade, cresceu também em força e sabedoria. Ao lado de sua cama havia um criado mudo dado por Kurenai, como um presente por ter ocupado merecidamente o posto de Hokage. Em cima do criado de cor cinza, havia uma pequena plaquinha com a frase escrita “Trabalho duro gera resultado”, abrigava também um pequeno vaso de cimento com dois cactos ferozes e uma suculenta no meio, e um porta-retratos com dois compartimentos. O primeiro compartimento havia uma foto sua com seus alunos, os novos prodígios da vila. A foto fora tirada antes de Sasuke partir em sua jornada de redenção. O segundo compartimento comportava uma foto antiga, porém bem preservada, de sua antiga e eterna equipe. Namikaze Minato, seu sensei, estava no meio. Do lado direito ele estava, com sua máscara cobrindo seu rosto e seu olhar de quem não queria nada. No meio, a sorridente e doce Rin. Ao seu lado esquerdo, Obito. Uchiha Obito, cujo sonho era ser hokage, cujo objetivo havia passado a ser forçar um genjutsu pela paz mundial. Cujo coração mudou várias e várias vezes.

— Bom, dia.

Kakashi finalmente cumprimentou seus companheiros e seus alunos presentes na foto. Mesmo sendo um mero pedaço de papel, a vida ainda emanava de cada um deles. Sua musculatura relutava para pôr-se de pé e ir até o banheiro fazer sua higiene matinal. Um banho demorado deveria resolver tudo. A água escorria rapidamente pelo corpo másculo do Hokage, que mantinha os olhos fechados e o rosto inexpressivo. Seu pensamento de que aquele dia não seria fácil estava cada vez mais forte, palpável. Era o aniversário de Obito e lembrar-se dele doía. Doía porque ele não estava presente fisica ou espiritualmente. Kakashi vivia com as lembranças e com a certeza de que Obito estava em um lugar ensolarado do mundo espiritual ao lado de Rin. Cerrou as mãos em punho ao lado da chave que ligava o chuveiro elétrico. Os cabelos molhados e a respiração ofegante. Forçou uma, duas vezes, um pensamento sobre o que fazer.

— Eu queria me sentir mais próximo.

Suspirou ao abrir os olhos convencido de que aquela seria a melhor maneira de sentir-se mais próximo de quem sempre levou em seu coração. Uchiha Obito, Rin.

Vestido como de costume, dirigiu-se até a cozinha, retirou do armário três pequenas forminhas redondas, um pote com farinha, açúcar, cacau em pó, alguns ovos, fermento, e da geladeira leite e manteiga. Iniciou o preparo dos cupcakes após cobrir-se com avental para que a roupa não ficasse suja. As mangas da blusa não sujariam, já que estava utilizando uma regata simples na cor preta. Kakashi bateu os ingredientes com velocidade e despejou-os cuidadosamente nas forminhas prateadas. Em sete minutos estariam assados, pensou sozinho. Assim que assados, Kakashi tirou-os para esfriar e limpou a sujeira que a farinha havia feito ao esparramar-se em sua mesa. Vestiu-se com sua blusa de mangas e seu colete, e desceu até a floricultura da família Yamanaka.

Ergueu a mão esquerda para acenar para Ino, que o recebeu sorridente.

— Olá, Hokage Kakashi. Como está?

— Eu vou bem. E você? Como vão as vendas?

— Estão indo bem, exceto para a Tenten. Desde que a guerra acabou sua loja de armas e utensílios ninja não tem vendido muito. Ela sempre se queixa sobre os lucros estarem abaixo da média.

— O fim da guerra é a nossa esperança.

Ino acenou positivamente, sorrindo meiga para o homem a sua frente.

— O senhor está procurando por algo específico?

— Sim. Duas camélias rosas, duas camélias brancas e dois pares de jacintos roxos.

— Desculpe, o senhor entende o significado dessas flores? São para alguém em específico?

— São para mim. Enrole dois pequenos buquês com as combinações.

— Certo.

Ino o olhou apreensiva. Sabia que Kakashi era um homem inteligente, que conhecia muito de muita coisa, além sua força ser extraordinária e seu poder de liderança ser naturalmente desenvolvido com o passar dos anos, mas não entendia se ele realmente sabia sobre o significado dessas três flores. Desde criança crescera cercada pelas flores da floricultura de seus pais. Sua mãe lhe ensinara tudo sobre as flores. Ela até mesmo tentou ensinar a Sakura a beleza por três de cada semente germinada. Embrulhou dois pequenos buquês perfeitamente combinados em um pacote branco com um laço roxo, para que a cor contrastasse com o dos jacintos roxos. Kakashi realizou o pagamento a loira que não se atreveu a fazer mais perguntas diretas ao homem, acenou despedindo-se e retornou a sua casa.

O cheiro dos cupcakes de chocolate invadiu imediatamente suas narinas. Depositou os buquês em sua cama e vestiu-se novamente com o avental após despir-se ficando somente com a regata preta. Chacoalhou o pote de chantily três vezes, removeu a tampa e em movimentos circulares, enfeitou o bolo fora da forma de aço e desta vez dentro da forminha de papel para cupcakes. Com uma cereja cor de vinho, Kakashi finalizou os cupcakes. Aparentemente simples, porém, com a massa fofa e bonitos.

Em sua sala de estar haviam dois sofás e uma cadeira dobrável. Respirou fundo antes de vestir-se para sair. Apanhou a cadeira e com a mesma mão segurava os buquês. Na outra mão, dentro de uma caixa fechada levava os três cupcakes

O sol raiava forte, queimando a pele do mais velho. Por onde passava recebia acenos e palavras de gratidão. Algumas crianças chegavam a dizer que gostariam de ser como ele quando se torna-sem adultas e tudo o que Kakashi podia desejar dentro de si é que seguissem o bom caminho e tornassem pessoas melhores do que ele já foi um dia. Sua companhia costumava ser Maito Gai, no entanto, aquele dia ele não o veria. Não veria Kurenai e sua filha. Não veria seus alunos e sequer folhearia seu tão amado livro, Icha Icha Paradise.

Chegou ao lugar mais silencioso de Konoha. O cemitério. Procurou tristemente por Obito e Rin. Seus tumulos foram cavados próximos. Era costume visitá-los, contar-lhes as novidades. Posicionou a cadeira de frente para os túmulos dos amigos e com o pé esquerdo forçou que se abrisse de modo que pudesse se sentar. Depositou a caixa de cupcakes em cima da cadeira, e entregou carinhosamente cada buquê para cada um dos dois amigos. Pode visualizar os sorrisos nos rostos infantis de seus amigos ao receberem os presentes. Sentou-se no lugar da caixa, apoiando-a nas coxas.

Diferente das outras vezes, Kakashi não fazia ideia do que contar. Deveria dizer a Rin como preparou os cupcakes e afirmar ao Obito que ele era ruim com coisas da cozinha e deixá-lo puto? Raso demais. Sua vida, seus sentimentos sempre foram tão intensos, sempre transbordaram. Transbordaram tanto ao ponto de que nem mesmo ele sabia descrevê-los com exatidão. Cruzou as mãos e encarou o céu, ainda em silêncio. Ele poderia vasculhar dentro de si por horas e jamais encontraria o que dizer exatamente. O aniversário de Obito nunca foi tão silencioso como o deste ano. Nunca foi tão triste e pesado como o deste ano.

“Eu vou deixar que as flores falem por mim”, pensou, movendo o olhar do sol para as flores no túmulo de Obito.

Aquilo era tudo o que ele sempre guardava. Rin, a pessoa doce e inteligente que ele admirava, que ele sabia que ela mantinha sentimentos por ele, havia se sacrificado - ainda que tudo fosse cautelosamente arquitetado por Uchiha Madara - e ido de uma forma tão dolorosa. Quantas vezes lavou suas mãos, visualizando o sangue que jorrara do peito de Rin? “O Chidori não é para ser usado contra os amigos”, lembrou-se de tê-lo dito ao Sasuke. Sasuke era a personificação de toda a experiência negativa, e triplicada, de Kakashi. E isso o preocupava. De certa forma, Via Obito em Sasuke, sem esquecer-se quem realmente é quem, sem deturpar a verdade de um aluno e um companheiro de equipe. O amor que sentia por cada um deles era intenso e se ele podia demonstrá-lo a sua maneira a Sasuke, repor o que não pode dar a Obito em vida, ele o faria. Apertou os punhos com a lembrança de seu Chidori. Por alguma razão concreta, Rin sabia o que estava fazendo. Passou anos de sua vida pensando se havia alguma outra forma e toda vez que chegava perto de algum possível resultado, voltava a estaca zero.

A Imagem do Obito em baixo da pedra apertava o seu coração. Mas a lembrança da doação de seu sharingan, que era um presente por ter tornado-se um jounin o desmontava. Analisando toda a situação, juntando todos os pensamentos de Obito, montando o quadro com as falas de Obito na guerra, Kakashi pode entender um pouco mais do amigo. A dor fora enorme, insuportável, e o levou a loucura. O seu cérebro e coração foram moldados por Madara, para uma realidade deturpada, para escritos divinos distorcidos pelo Zetsu Negro secretamente. Obito tinha sua culpa, mas também tinha sua inocência. Não sabia exatamente como era a dor de Obito, mas suas dores de perder as pessoas era tão semelhantes que podiam ser como estrelas negras gêmeas.

As pessoas manipulavam as outras, às vezes sem perceber, com gestos ou palavras. Indubitavelmente, Zetsu Negro e Uchiha Madara foram extremamente inteligentes e persistentes quanto a execução do plano da lua. O Sharingan já não mais lhe pertencia. Algumas pessoas ainda o conheciam por Kakashi do Sharingan. Parte do Obito viveu dentro dele durante mais da metade de sua vida e aquele havia sido o melhor presente recebido no mundo.

 Seus olhos migravam do nome da Rin, para o nome de Obito, até chegar as belas flores embrulhadas e deixadas ao chão. Kakashi não percebeu, mas horas haviam se passado e o sol estava se pondo. Nem mesmo com seu silêncio, o silêncio dos céus, pode notar o relógio da terra girando e levando consigo o dia. Abriu o pote de cupcakes, e colocou uma vela na diagonal, atravessando a ponta do chantilly, que havia trago em seu bolso da calça. Com um isqueiro, acendeu a vela do bolo de Obito.

— Parabéns, amigo.

O parabéns de Kakashi soou como um sussurro. Seu sistema nervoso não o obedecia e liberava filetes quentes de lágrimas em seu rosto, molhando sua máscara. com a mão livre, removeu a máscara, deixando visível a pele branca e pinta que fazia questão em esconder. As lágrimas continuavam a deslizar por sua bochecha.

— Durante todos esses anos vocês me conheceram mas nunca viram o meu rosto. Eu o estou mostrando agora à vocês. Esse é o Kakashi.

Diferente de seus primeiros anos de despedida, Kakashi não se sentia fraco e sujo. A sensação de liberdade tomava conta de si. O Amor que exalava de Rin e de Obito ainda o preenchiam, mesmo que lutasse com o sentimento de perda, e do sentimento chamado saudade. O céu estava escuro. Com um sopro apagou a vela. Colocou os cupcakes em cima da caixa, posicionada entre os dois túmulos. Comeu rapidamente um dos três doces que fizera. Tendo cobrido-se com a máscara, apanhou a cadeira e seguindo em frente, ergueu a mão livre para o alto, despedindo-se dos amigos e retornando a sua casa.

“Feliz aniversário, Amigo. Obito, Rin, eu amo vocês!”


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Notas finais do capítulo

Todos sabem que eu ainda estou voltando a escrever, certo? Dia 30/09 é o meu aniversário, e para mim é uma data um tanto triste. Essa tristeza me fez pensar e tentar colocar em palavras em como o Kakashi se sentia ao lembrar dos amigos, em como seria uma comemoração do aniversário do falecido Obito.
Significados das flores: Camélias rosa significam saudade e camélias brancas são o mesmo que dizer “admiração”! Já os jacintos de cor roxa pedem “Perdão!” São portanto uma boa oferta para se redimir.

Eu poderia fazer um NaruHina, SasuSaku, Shikatema ou até mesmo o SaIno, mas seria comum demais para mim que sempre li e escrevi sobre eles (Mesmo que algumas histórias não tenham sido postadas)então o Kakashi e sua amizade com seu time me pareceram interessantes o suficiente para a narrativa. Eu espero de coração que tenham gostado e se é a primeira vez que visitam o meu perfil, peço que entrem em histórias postadas e vejam as duas que tenho, sendo uma finalizada e outra em andamento. Sobre a em andamento (SasuSaku)eu estou escrevendo um capítulo recheado para vocês, ainda na primeira quinzena de Outubro será postado ♥ Agradeço a todos e tenham uma ótima vida ♥



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