Era tarde de céu nublado com uma fina chuva caindo sobre os guarda-chuvas e capuzes dos pedestres. Em meus ouvidos tocavam “Tenho Paz” e havia um delicioso cheiro de pastel vindo de um dos mini trailers de comida da calçada que ficava perto de paradas de ônibus ou algum cursinho do centro da cidade. Mesmo nesse tempo, a cidade não ficava fria, mas ao menos a temperatura estava amena.

Meu coração e estômago brigavam pelo que era mais importante naquele momento; minha fome ou as mágoas recentes do término com meu namorado, enquanto meu pobre cérebro tentava dar a resposta final.

Quinzinho havia me chamado para comer ao ar livre em uma das mesas de plástico de um trailer de comida da praça. Eu estava feliz com o convite já que ele estava agindo estranho ultimamente e sempre dava desculpa ou mudava de assunto quando eu tentava conversar sobre isso. Ao mesmo tempo, eu tinha muita curiosidade pelo que ele iria falar e até um pouco de preocupação, mas tentava cobri-la com a esperança de que finalmente pudéssemos resolver seja o que for e tudo voltasse ao normal.

No final, minha preocupação venceu a disputa de quem estava certo.

As palavras de Quinzinho mostravam que ele tentava dar a notícia da forma mais reconfortante possível, mas sua voz, como sempre, tinha uma expressividade quase nula. Ele havia conhecido outra menina que eu não conhecia e começou a se apaixonar por ela. Ele não havia chegado a me trair e quis acabar nosso relacionamento antes que o fizesse e para não me enganar.

Joaquim podia ser quase um robô quando o assunto era se expressar e se comunicar com os outros, mas ao menos ele tinha dignidade e empatia suficiente para não me iludir ou me trair. Ele estava estranho porque não entendia ainda se gostava da outra garota e quando percebeu que sim, logo me chamou para acabar o namoro.

Eu engoli as lágrimas, a mágoa e a raiva que tive e reconheci que ao menos ele foi justo comigo. Nos despedimos e começou a chover no caminho para a parada de ônibus. Para minha alegria, mamãe insistiu que eu levasse o guarda-chuva porque tinha visto na previsão do tempo do celular que ia chover. Levei só para agradá-la, mas no final veio a calhar.

O sinal ficou verde para os pedestres e caminhei quase sozinha para o outro lado da rua, já que as outras pessoas que estavam comigo na calçada estavam esperando um ônibus.

Contando com este, agora são cinco namoros que deram errado em 5 anos. Já tenho 20 anos e nada de achar o amor que vejo nos livros ou nos filmes. Nenhum Tedros, um Tobias ou Percy. Nem sinal de príncipe encantado da modernidade ou com armadura e cavalo branco.

Só alguns garotos interessantes, mas que no final, assim como eu, não sabiam o que é e como amar e só procuram uma namorada para dizer que tem ou já tiveram uma, ou pela sociedade insistir que devem ter.

Um suspiro de cansaço e decepção escapa de meus lábios e quase em seguida uma coisa me vem à mente.

Depois de muitas paixões falidas, tudo o que eu quero é a paz de um amor tranquilo e existe um único livro em que esse amor existe e é real.

— Senhor Deus, obrigada por falar tão rápido em meu coração a solução para este meu problema amoroso. Dá-me força, paciência e esperança para trilhar este caminho que escolho agora. Em nome de Jesus, amém. — Oro em voz alta ao ver que não há alguém por perto para ouvir. Ainda tenho vergonha de orar em público, quem dirá no meio da rua.

Sinto um tanto de felicidade com minha decisão, como se houvesse tirado um problema a menos na minha vida. Ainda sou jovem, fazendo faculdade e me preparando para o futuro. Não sei o que vai acontecer amanhã, mas não irei me preocupar com o amor igual ontem.

Tomando novamente cuidado para não falar perto de alguém, afirmo em voz alta a escolha que fiz a mim mesma para marcá-la ainda mais.

— Eu escolho esperar.