Sieghart odiava amarelo.

E embora alguns membros da caçada pudessem afirmar que aquela aversão pela cor fosse bobagem, o Imortal afirmava com firmeza que tinha motivos muito válidos para desprezar a cor.

Mesmo que nunca contasse exatamente quais eram aqueles tais motivos.

E, honestamente, ele não tinha nenhuma intenção de revela-los. Até porquê, como explicar para aquelas crianças que amarelo era a cor das flores que enfeitavam o vestido branco da mulher com quem se casara, tantos séculos atrás?

Ou, então, que também era a cor da aliança que dividia com aquela mesma mulher, e que, no final, foi deixada sobre a mesa de cabeceira enquanto a mulher e a criança ainda dormiam, quando finalmente não conseguiu mais suportar ficar parado daquele jeito. Amarelo, igual ao papel, manchado por suas lágrimas, que continha suas palavras de despedida para elas.

Como dizer que amarelo era a cor da capa do uniforme dos imortais que o salvaram e o acolheram? A cor das histórias que eram contadas, dos sorrisos e ensinamentos que lhe foram passados por aquele grupo que se tornou sua família.

Mas, que também era a cor das chamas que queimaram tudo e lhe arrancaram tudo o que foi construído por si e pelos outros nos últimos anos. Era a cor que sobrara, misturado ao vermelho do sangue dos seus semelhantes, quando o genocídio enfim chegou ao fim e o responsável por ele foi embora, sem nem mesmo ver que ainda tinha alguém vivo ali.

Amarelo era a cor de Thânatos, quando o atacou sem mais nem menos e o ameaçou expulsar de Xênia depois de todo o tempo que passou com os deuses. Era a cor dos campos em que viu gerações de Sistinas nascerem e perecerem.

Como explicar para a caçada que mesmo a cor lhe trazendo memórias boas, as ruins eram tão mais poderosas que não tinha forças para ir contra?

Amarelo era a cor que, mesmo presente em tantos momentos em sua existência, lhe fazia sangrar.