O matiz das tulipas escrita por Amystar


Capítulo 1
David Basset e Louise Bridgerton


Notas iniciais do capítulo

Queridos leitores, vocês acreditam no amor? Imagino que sim, se não, do contrário, não estariam lendo um romance de época. A questão é: vocês acreditam que o amor vai acontecer para vocês? É muito fácil acreditar que os outros encontrarão o amor um dia, mas é difícil crer que você mesmo pode ser o felizardo, principalmente quando se tem cicatrizes de traumas passados. Foi com essa ideia que criei o conto de Louise: uma jovem que deixou de acreditar que, um dia, podia ser amada.Que sorte que o belo filho de um duque pode mudar isso, não é mesmo?
Aviso: Este é o 6º conto da série das flores, onde cada conto é sobre o romance de um neto Bridgerton. A ordem é: A rosa mais linda, O jardim de lírios, O cravo vermelho, O segredo das acácias, O amanhecer dos crisântemos e, agora, O matiz das tulipas. Se ler fora de ordem haverão spoilers, mas, se já leu tudinho, então, boa leitura! ♥



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Londres, 1846

O visconde não tinha outras opções. Depois de três dias pensando, após receber a carta de seu primo Thomas Rokesby – que não era seu primo de fato, mas o considerava assim desde sempre. - pedindo para que ele casasse sua filha com seu filho mais novo, não vira outra alternativa a não ser aceitar. O grande problema em questão era que Miles, o filho a quem Thomas se referia, estava casado há alguns meses, e Edmund há um ano e meio – inclusive, já lhe dera até um neto, o bebê Hugo.

Por isso, o jeito seria sacrificar um de seus sobrinhos.

Sacrificar. Que palavra detestável. Sentia-se detestável.

— Casar? - Charles, o mais velho dos três filhos homens de Benedict, foi o primeiro a falar, após segundos de silêncio. Estavam os três em seu escritório, na Casa Bridgerton. - o senhor disse… Casar?

— Ele disse. - Alexander engoliu o seco.

— Não pode estar falando sério, tio Anthony! - William se levantou, debruçando-se sobre sua escrivaninha. - eu só tenho vinte e quatro anos, não posso me casar agora!

— Sinto muito meninos. - respondeu em voz baixa. - mas a srta. Louise precisa se casar. Vocês sabem o que aconteceu, também estavam lá.

— Claro que sabemos. - disse Charles. - mas não temos culpa alguma do que houve, e sim aquele maldito do Chervil!

— E afinal, por que temos que ser nós? - Alexander perguntou. - não existem outros cavalheiros adequados para se casar com ela?

Anthony suspirou. Já esperava essas reações.

— Thomas quer que seja um Bridgerton, porque ele confia em nós. Juro a vocês que se Edmund e Miles já não estivessem casados, pediria a eles, mas vocês são minhas únicas opções no momento.

Os três ficaram em silêncio, com expressões nada boas.

— E se recusarmos? - Charles, sentindo-se a opção mais viável por se tratar do mais velho, cruzou os braços.

— Não podemos.

Devia aquilo a Thomas. Uma vez, quando eram crianças, Daphne tinha apenas dois anos e a babá, num descuido, não percebeu quando Anthony, Benedict e Colin levaram a irmãzinha para a casa da árvore, com a intenção de ensiná-la a brincar como eles. Como três crianças descuidadas e desatentas, eles a deixaram cair, mas felizmente fora salva a tempo por Thomas, de treze anos na época, que conseguiu pegar a menininha antes que caísse de cabeça no chão e quebrasse o pescoço.

Ninguém nunca mais tocara no assunto, mas Anthony, como mais velho, sentiu-se responsável, e deixou bem claro para Thomas naquele dia que estava em dívida com ele.

— ...por isso, não posso negar o pedido dele. - ele terminava de narrar a história aos sobrinhos, que escutavam atentamente. - é uma questão de honra.

Naquele momento a porta do escritório fora aberta por David, que mantinha uma expressão inescrutável no rosto.

— Ele salvou a minha mãe. - dissera ele, olhando fixamente para o tio. - então serei eu o que se casará com Louise Rokesby. Pode mandar uma carta a ele confirmando tudo.

~

Louise Rokesby estava arruinada.

Durante toda a sua vida, ouvira as pessoas cochichando e julgando as moças que, por vários motivos, viam a queda de sua reputação sem poder fazer nada. Louise era não santa ao ponto de jamais tê-las julgadas, mesmo que um pouco, e não conseguia compreender como podiam ser bobas ao ponto de ceder aos avanços de homens aos quais não eram casadas. Será que não poderiam esperar até o casamento?

Mas a questão era que ela não sabia que, nem sempre, homens pediam permissão antes de tentar algo a mais com uma mulher. Ela é que era boba e ingênua por pensar isso durante vinte e três anos, sempre cometendo a gafe de pensar que a culpa nesses casos era tanto da mulher quanto do homem.

Por isso, no momento em que Cedric Chervil a beijou durante uma valsa no meio do baile da condessa de Rudland, sabia que estava condenada para sempre. Sua primeira reação foi a surpresa, assim como todos que estavam a sua volta, e logo em seguida a raiva a dominou, e deu uma bela bofetada nele, fazendo uma perfeita marca vermelha de sua mão no rosto do rapaz, para seu prazer.

Mas sua felicidade interior durou pouco, pois segundos depois todos já estavam comentando.

Ela só tinha duas alternativas: ou se casava com ele, e permaneceria o resto da vida casada com um asno, ou…

Seria uma solteirona para sempre, o que foi sua escolha.

— Ah, ele estava tão lindo, Louise… - sua melhor amiga, Bailey Sidwell, dançava pelo quarto em uma valsa com um homem invisível, com os olhos brilhando apenas em lembrar da noite passada. - o sorriso dele, seus cabelos sedosos, seus cílios longos… Oh, e as covinhas! Elas eram tão encantadoras… Você já reparou nelas?

— Nunca teria reparado - respondeu ela, francamente, enquanto tentava ler um livro. - se você já não tivesse me dito pelo menos meia dúzia de vezes.

— Não foi meia dúzia de vezes. - contestou a outra, sentando-se em sua própria cama de braços cruzados. - devo ter comentado por alto uma vez, no máximo. Você sempre foi dada a exageros, Louise.

Louise decidiu não acrescentar mais nada, na esperança do assunto morrer.

— Onde eu estava mesmo? Ah, sim, as covinhas de lorde Kenneth. - para seu pesar, ela voltou a rodopiar. - elas aparecem sempre que ele sorri para mim, e apenas para mim. Parece que elas me escolhem, entende?

— As covinhas a escolhem?

Bailey tinha vinte e três anos, como ela, e ainda era solteira. Quando começou a se tornar sua amiga, no segundo ano dela no mercado e seu debút, Louise tinha certeza de que Bailey se casaria rapidamente com algum duque muito rico e poderoso e abandonaria os vestidos tons pastéis virginais. No entanto, ano após ano, vira a amiga rejeitar diversos pretendentes – entre eles, dois condes, um barão, um marquês e até mesmo um duque. - de olho em apenas uma pessoa: Kenneth Ravenscroft, o filho mais velho do visconde de Darnsby, melhor amigo de seu pai.

Era uma paixão de infância, começou desde que a menina mal andava, mas que com o tempo só fizera aumentar. Para a tristeza de Bailey, Kenneth jamais a tratara de uma forma diferente de como tratava sua irmãzinha Marabelle. Porém, mesmo assim, ela continuava a se agarrar em qualquer mínimo tratamento diferenciado que recebia, e cabia à Louise sentar e ouvir.

Ou fingir que ouvira. Seu livro estava muito interessante.

— ...está me ouvindo, Louise?

Tirou os olhos do livro, surpresa.

— Sim?

— Não está. - a moça pulou para a cama dela, olhando em que página estava. - oh, essa parte é muito boa. Adoro Sarah Gourley.

— São bobinhos e irreais, mas bem divertidos.

— Não são bobinhos! São histórias de amor, Louise. O amor é a coisa mais linda que existe no mundo, que nos faz respirar e…

— Achei que os pulmões faziam esse trabalho. - interrompeu irônica.

Bailey bufou, revirando os olhos.

— Queria que fosse um pouco mais romântica. - ela sentou novamente na cama, de frente da Louise, agora com um olhar mais fraternal. - sei que depois do que houve com o Sr. Chervil você ficou um pouco traumatizada, mas aos poucos podemos retornar a nossa vida normal.

Alguém bateu à porta, felizmente livrando Louise de responder.

Ela estava morando na casa de Bailey, filha mais nova do marquês de Riverdale há um mês. Claro que ela tinha sua própria casa em Londres, mas depois do escândalo de um mês atrás se mudara provisoriamente para a casa da amiga, onde a família dela a protegia e tratava como um dos seus. Louise não tinha irmãos, sua mãe morrera ao dar à luz e seu pai, Thomas Rokesby, estava nas colônias, muito longe para ajudá-la. Como já estava apadrinhada por Lady Riverdale há quatro anos e as visitas à Casa Riverdale eram constantes, a única coisa que realmente mudara era que agora dormia ali, no mesmo quarto que Bailey – a pedido dela.

Seus tios e primos ofereceram suas casas para acolhê-la e não deixá-la sozinha, e amava-os por isso, mas aquele era o lugar em que ela se sentia feliz. Seu primo Peter, o visconde de Kennard, tinha sido um dos mais insistentes, visitando-a por quase uma semana inteira na esperança de fazê-la mudar de ideia.

Mas Louise não queria ver ninguém. Queria se esconder naquela casa palacial, ler seus livros e esperar a temporada terminar. Ela poderia passar o verão em algum lugar diferente àquele ano. Sua tia-avó Georgiana já estava tão velhinha, talvez fosse uma boa ideia visitá-la em Bath. Com certeza ela entenderia melhor sua situação, visto que passara pelo mesmo quando jovem.

— Bom dia, Louise! Eu vim brincar! - ouviu uma voz infantil entrando no quarto. Era Clara, uma pestinha encantadora, prima de Bailey. - que tal fazermos um chá com as bonecas?

Mesmo que Louise não tivesse oito anos como a pequena loirinha Clara Hotchkiss, era um convite tentador.

— Clara, não a incomode. Tia Frances a deixou vir? Não deveria estar em aula? - perguntou Bailey.

— Hoje é fim de semana, só tenho aula de manhã cedo - retrucou de queixo erguido. - e papai disse que eu poderia vir brincar aqui se terminasse todas as lições de francês.

— Adoro sua companhia. - Louise sorriu para ela. - mas tem certeza de que prefere brincar comigo do que com seus irmãos?

— Robin e Emmett não querem brincar das coisas que eu gosto, e Dulcie e Esther são muito bebês.

Enquanto Bailey e Clara continuavam a conversar, uma criada entrou no quarto, indo direto em Louise. “Chegou correspondência para a senhorita” ela disse, se curvando em seguida e saindo. Era seu pai, conhecia o brasão.

Sentou-se na escrivaninha, abrindo a carta. Normalmente as pessoas esperavam um momento mais tranquilo, a sós, mas não tinha paciência para isso. A correspondência chamou a atenção de Clara, que se pôs ao lado dela interessada.

— De quem é, Louise? - perguntou, ficando na ponta dos pés.

— Como você é mal-educada, Clara. - Bailey falou.

— Não sou não! Eu só perguntei.

— Não é certo ler a correspondência dos outros.

O sangue de Louise gelou enquanto lia a carta.

“…portanto, solicitei a lorde Bridgerton…”

“...infelizmente, seus dois filhos atualmente...”

“...porém, os sobrinhos foram uma alternativa viável…”

E, por fim, o que quase a fez desmaiar:

“...o jovem Conde de Clyvedon, David Basset, foi escolhido como seu marido, que limpará sua honra e a tornará uma condessa respeitável, e, futuramente, uma poderosa duquesa.”

Não.

Não, não, não, não!

Onde seu pai estava com a cabeça?! Ela não podia ficar noiva de David Basset!

— Srta. Rokesby? - o mordomo apareceu à porta, que estava entreaberta. – Lorde Clyvedon está aqui para uma visita. Ele a aguarda na sala azul.

Ainda em choque, seu cérebro demorou demais a responder. Foi Bailey quem pigarreou e agradeceu ao mordomo, informando que logo desceriam.

— Louise, desde quando o conde está interessado em você? - a amiga era a encarnação da excitação, com os olhos arregalados e um sorriso de orelha a orelha.

Pelo visto, desde que seu pai oferecera sua mão.

~

Sentado no sofá da sala de visitas de lorde Riverdale, veio à mente de David que fazia tempo que ele não visitava o padrinho. A sala em questão tinha sido completamente redecorada, e não fazia ideia de há quanto tempo estava assim. Atacou mais um sanduíche. Estava com fome. Agir como um salvador devia dar fome, desde que aceitara ficar noivo de Louise Rokesby seu apetite ficara mais voraz.

— Dayvey! - uma menininha entrou correndo na sala. Ele sorriu e se levantou como se uma dama estivesse no recinto. - há quanto tempo!

— Srta. Clara, que honra vê-la. - ela estendeu a mão e ele a beijou. - como estão seus pais?

— Eles estão bem! - e então acusou-o sem rodeios: - você disse que me visitaria mês passado com Edward, mas não apareceu.

— Sinto muito, estava em Clyvedon e não deu tempo de vir.

— Meu aniversário é amanhã! Que tal se você for?

— É uma ótima ideia. Posso levar Edward comigo? - perguntou educadamente.

— Pode, sim. Mas vou querer dois presentes. - ela respondeu sincera, acariciando o cabelo.

Lorde Riverdale era tio de Clara, pois ela era filha de Sir Lucas Hotchkiss, irmão de sua esposa. Várias das vezes em que passara o verão na casa de Bernard, um de seus grandes amigos e o herdeiro do marquesado, a menina estava lá com seus irmãos. Ela amava a companhia de David, chamando-o carinhosamente de Dayvey, seu apelido de infância.

— Louise e Bailey já vão descer. - a pequena sentou-se ao lado dele, concentrada em pegar vários sanduíches e fazer um “sanduichão.” - Louise está nervosa, Bailey está tentando acalmá-la.

— Nervosa? - isso o interessou. - porque ela estaria nervosa?

— Porque, Dayvey, você é… - ela fez uma pausa para engolir. - “um conde jovem, bonito e abastado”.

Era óbvio que a menina repetia o que ouvira de alguém, isso o fez rir de canto.

— Clara! - Lady Bailey apareceu no recinto, espumando de raiva. - fui bem clara quando disse que… Oh, perdão, Lorde Clyvedon. - fez uma reverência. - como tem passado?

— Muito bem, obrigado.

— Louise já vai descer, ela estava… Ahn… Arrumando o cabelo! - voltou-se para a pequena Clara. - venha, prima, eu disse que iria brincar com você agora, lembra-se?

— Não disse, não. Você disse que não queria…-

— Disse, você se esqueceu? Oh, é mesmo! - ela fingiu se lembrar de algo. - também disse que te emprestaria minha melhor boneca.

Os olhos de Clara brilharam.

— Aquela de porcelana? Importada da França?

— A própria.

— Bailey, já disse que a amo? - ela perguntava já saindo em disparada a algum lugar. Provavelmente a ala infantil da casa.

A moça Sidwell sorriu e se despediu com um breve aceno.

Em pouco tempos srta. Rokesby apareceu, com a expressão séria e impenetrável.

— Lorde Clyvedon. - disse ela, com as mãos junto ao corpo. - é um prazer vê-lo.

— Srta. Rokesby. - cumprimentou-a com um sorriso provocativo, que a fez segurar as mãos mais forte. - está um dia muito bonito, o que acha de darmos um passeio?

~

Louise não queria dar um passeio. Todos ainda falavam dela. Bailey e Lady Riverdale tentavam animá-la, dizendo que as pessoas já estavam parando de comentar, mas sabia que não era verdade. No entanto, não podia recusar o convite de um conde, mesmo que o conde em questão fosse David Basset, um conhecido de sua infância. Não eram parentes, mas com familiares em comum, não era difícil que seus caminhos se encontrassem.

— Já estou ciente do pedido infortúnio de meu pai. - foi direto ao ponto, assim que se puseram a andar. - e lhe aviso logo que está livre para recusá-lo.

Ele levantou uma sobrancelha, olhando-a de canto de olho.

— Direta e pragmática. - disse eu tom de elogio. - a senhorita não joga conversa fora, não é mesmo?

— Não. - concordou.

— Porém – disse ele. - eu sou uma pessoa que adora jogar conversa fora. Como tem passado? A família vai bem?

— O senhor já perguntou isso.

— Mas a senhorita não respondeu.

Ela quase bufou. Quase.

— Não sei, imagino que meu pai esteja bem.

— Ele está nas colônias, certo?

— Sim. Resolvendo negócios. - suspirou. - ele passa mais tempo lá do que aqui.

— Imagino que isso a incomode.

— Normalmente não, mas… - hesitou em responder. - nesse momento, acho que a presença dele faz falta.

Louise notou como David agia quando estava pensando. Ele franzia de leve as sobrancelhas, ponderando sobre o que ela falava, mas sem olhá-la, concentrando-se no caminho que faziam até o Hyde Park. Ele era bonito de morrer. Tinha cabelos castanhos, era alto e seus traços do rosto eram masculinos e perfeitos. E seus olhos… Bailey falava algumas vezes sobre os olhos de Lorde Kenneth e achara besteira reparar em algo assim, mas pensando bem, era impossível não notar os olhos do conde, tão irritantemente azuis quanto águas cristalinas.

— Não vou dizer que não sei o que lhe aconteceu, porque todos de fato sabem e não há como mudar o que houve - David passou a olhar para ela. - e também não vou fingir que não sei que seu pai me ofereceu sua mão. Deve estar irritada com isso, julgando por sua expressão quando me viu, por isso pensei em algo para diminuir o impacto.

Ela o ouvia atentamente, sem piscar.

— Vou começar a cortejá-la – disse ele. - farei visitas diárias, durante uma semana e, se até o próximo sábado a senhorita ainda não quiser se casar comigo, pensaremos juntos em outra alternativa.

O tom dele era leve, mas sabia, de alguma forma, que suas palavras eram sérias.

— Muito bem. - assentiu. - assim será.

Eles chegaram finalmente ao Hyde Park, e Louise pediu para que parassem um pouco em um banco. Normalmente não demonstrava a fraqueza típica de uma jovem debutante, mas os sapatos que usava eram novos e estavam machucando um pouco. Bailey insistiu para que usasse seu melhor par de botas, e lá estava ela, sentada ao lado de David num silêncio mortal.

— A senhorita tem irmãos? - ele a questionou, virando-se para ela.

— Não, sou filha única. Minha mãe demorou onze anos até conseguir engravidar de mim, e quando conseguiu, morreu no meu parto.

— Sinto muito, deve ter sido difícil. - ele parecia sincero.

— Foi um pouco. - admitiu. - mas eu sempre tive meus avós, tios, primos… De alguma forma, sempre havia alguém comigo. Principalmente o vovô.

As lembranças do avô aqueceram seu coração. Ele já tinha morrido há onze anos, quase doze. Edward era seu avô querido, que sempre brincava com ela e participava de suas festas do chá.

— Conheci seu avô. Faz bastante tempo, mas me lembro dele. Era um capitão aposentado, se não me engano.

— Ele era. Abandonou o serviço quando se casou com minha avó. - explicou. - é uma história muito romântica, ele amava contá-la para mim, não importando quantas vezes eu pedisse. - sorriu.

Esse tipo de história nunca aconteceria com ela, mas nem por isso deixaria de admirar seus avós.

— O senhor era próximo de seus avós? – por algum motivo, sentiu vontade de perguntar a ele.

— Dos meus avós, não. Os dois morreram bem antes de eu nascer, embora o pai do meu pai tenha sido um louco cruel e tirano e o pai de minha mãe tenha sido um homem bom e honrado. A minha única avó viva é a viscondessa, e ela sim sempre foi muito carinhosa conosco.

— Gosto de Lady Bridgerton, é uma senhorinha encantadora. - depois acrescentou: - gosto das duas viscondessas. A viúva e a atual.

— Também gosto dela, mas se fosse você, jamais a desafiaria para um jogo de Pall Mall.

— Por que?

David apenas riu.

— Isso a senhorita terá que ver pessoalmente.

Ela nem sabia o motivo da graça, mas riu também.

— Vou apenas dar uma pequena amostra do que digo: uma vez, Isabella atrapalhou a estratégia dela para ganhar, então tia Kate desistiu da própria vitória apenas para acabar com Isabella e afundar a bola dela na parte mais profunda do lago.

— Que horror!

— Não foi um horror, foi lindo. Isabella saiu de lá espumando como uma cadela com raiva! - riu alto.

— Isabella é sua irmã? - riu de leve, contagiada pela história.

— Minha prima. Não a conhece? Ela já deve ter debutado… Oh, não, perdão, ela adiou o debút para fazer uma viagem.

Isso chamou sua atenção.

— Viajar? Fala de Isabella St. Clair?

— Então a conhece?

— Ah, sim, claro. Ela é prima de Bailey, visitamos sua casa algumas vezes antes que ela viajasse. Lorde Riverdale e Lorde St. Clair são primos, de segundo ou terceiro grau, não tenho certeza. Por isso elas também são primas. - depois, perguntou: - o senhor tem irmãos?

— Sim. Quatro. Três irmãs mais velhas e um irmão mais novo. Amélia, Belinda, Caroline…

— A, B, C… O senhor é D? - ela o interrompeu.

— O próprio.

— Que interessante. Nunca vi algo assim.

Ela ficava bonita quando pensava. Muito bonita.

— E seu irmão mais novo? - Louise perguntou, retornando ao assunto.

— Edward. Oh, perdão, Lorde Edward. Ultimamente ele vem me pedindo para chamá-lo assim. - brincou.

— O mesmo nome do meu avô. - disse ela, com carinho. - quantos anos ele tem?

— Onze. Logo fará doze. - informou. - anda muito nervoso com a entrada em Eton no próximo ano. Acredita que ele me fez prometer levá-lo pessoalmente?

— Que meigo. Vocês são próximos?

— Quando eu era um estudante mal nos víamos, e ele era muito pequeno, também. Depois que concluí os estudos e me mudei para um apartamento aqui, passei a visitar mais meus pais e ele.

— Deve ser muito bom ter um irmão mais novo. - disse ela, com sinceridade. - quando era pequena, adotei um dos filhotes dos cães de caça do meu pai, e passei a criá-lo em casa. Dei a ele o nome de “irmão”, e quando a governanta perguntou o porquê daquele nome, eu disse que ele era meu irmão. - riu. - devia ver a expressão dela. Foi até meu pai dizer que eu estava começando a ficar louca, dizendo que um animal era igual a mim.

David riu, e, naquele momento, passou a gostar mais de Louise. Ele não desgostava dela antes – durante a infância talvez, mas agora não. Ela era simpática e sabia manter uma conversa fluida e divertida, muito diferente de outras moças com quem já conversara antes. A maioria delas ou não tinha opinião própria sobre nada, ou simplesmente passava a conversa inteira elogiando o corte de sua casaca, que em nada diferenciava dos outros cavalheiros.

Ela era bonita. Tinha cabelos loiros escuros, quase castanhos, presos em um coque bastante elaborado e escondidos sob um chapéu. Seus olhos eram castanhos, e não era muito alta, nem muito baixa. Estava na medida certa para ele.

Desde o ano passado, quando Miles, seu melhor amigo e primo, aparecera de repente em Aubrey Hall com uma esposa, David vinha pensando em se casar. Muitos de seus amigos e primos já haviam sido laçados.

Primeiro, foi Maurice Ravenscroft, casando-se pouco tempo depois de se formar em Cambrige com Letícia Blackwood. Depois dele, seu primo Oliver com sua prima Violet. Em seguida, Edmund com Lilith Wycombe. Depois foi a vez de Julian Ridgely com Olga Valentine, e, por fim, Miles com Ruby Cavender. Nem todos haviam se casado por amor, era verdade, porém, ao visitá-los mais tarde, absolutamente todos pareciam completamente apaixonados por seus cônjuges.

Poderia ele se apaixonar por Louise Rokesby? Se perguntassem isso ao Dayvey de treze anos que levou um chute nas partes baixas dessa mesma moça, ele com certeza diria que não. Mas, em defesa de Louise, ele de fato tentara beijá-la, mas foi apenas porque Miles o desafiou a tal, e não poderia ter negado o desafio e sair com a dignidade intacta.

E ele quase o fez, se ela não tivesse chutando-o. Doeu apenas em lembrar.

— Srta. Rokesby. - ele chamou a atenção dela, que estava distraída com duas moças passando. Ela olhou para ele. - a senhorita estará presente no aniversário de Clara, amanhã?

— Eu… Sim, eu acho. - ela virou o rosto. Teve a impressão de vê-la corar de leve.

— Muito bem. Nos veremos lá então.

— Sim. - concordou. - nos veremos.

~

No dia seguinte, Louise estava uma pilha de nervos. Jamais pensara tanto antes de escolher um vestido para uma festa infantil, mas, no fim, escolheu seu vestido azul-claro. Era seu segundo melhor vestido.

Nunca pensaria que David a faria se sentir tão esquisita. Em sua mente, David Basset ainda era aquele menino atrevido que tentou lhe dar um beijo nojento. Por Deus, ela tinha apenas sete anos, que menina de sua idade gostaria daquilo? Mas ele não era mais o mesmo menino, e ela não tinha mais sete anos. Agora ele era um homem, rico, poderoso, charmoso, educado e…

De olhos azuis. Lindos olhos azuis.

— Bem-vindas, meninas. - Lady Hotchkiss as recebeu feliz e radiante, segurando uma bebêzinha no colo. Gostava muito dela. Frances Hotchkiss era como a irmã mais velha que Louise sempre sonhou ter. - as crianças estão todas no quintal, vamos?

— Onde está Clara? Quero entregar o presente. - Bailey falou enquanto seguia a tia.

— Subiu com a babá para trocar de vestido. - gemeu. - ela derramou chocolate em si mesma. Mas pode deixar o presente ali naquela caixa, ela vai ver assim que chegar.

Lady Hotchkiss apontou para onde uma grande caixa lotada de presentes estava, ao lado de uma mesa cheia de docinhos. As duas colocaram seus presentes ali, e em seguida voltaram para perto da tia, quando dois meninos passaram correndo por elas, quase as derrubando.

— Robin! Emmett! - a mulher broqueou, mas os dois apenas fugiram. - segure-a aqui um instante, tudo bem? Ei, vocês dois, voltem já aqui!

A baronetesa pôs a bebê no braços de Louise e saiu apressada atrás dos filhos mais velhos. Olhou sem jeito para a bebê de nove meses, batizada de Esther, que a encarava com os olhos arregalados.

— Como ela é fofa. - elogiou, sentando-se à mesa com Bailey. - você vai ser uma linda mulher quando crescer.

Esther pareceu entender o que ela dizia, presenteando-a com a visão de dois dentinhos nascendo.

— Boa tarde para as duas senhoritas.

Era David, com seu sorriso encantador e pose perfeita de um cavalheiro. Sorriu gentilmente para ele, reparando no garotinho que o acompanhava. Se o conde fosse um pouco mais velho, poderiam pensar que era seu filho de tão absurdamente parecidos que eram. O menino era como a visão dele menor, exatamente como ela se lembrava da infância.

— Quero dizer, três senhoritas. - ele olhou para Esther, que babava a própria mão. - Srta. Rokesby, apresento-lhe meu irmão, Lorde Edward Basset.

O menino encarou Louise de uma forma tão intensa que o corpo dela se arrepiou por completo. Ele tinha olhos azuis também, porém um pouco mais escuros que os do irmão. Seu cabelo era castanho avermelhado, uma característica marcante dos Bridgertons, e era um pouco alto para a idade.

— Olá, como vai? - perguntou para melhorar o ambiente, mas ele continuou a olhá-la sem expressão.

Piscou. Estava começando a ficar com medo.

— Cecília. - disse ele. - você… É igual a Cecília.

Cecília? A que Cecília ele se referia? Sua avó? Quando o irmão de David conhecera sua avó? E por que ele dizia aquilo? Crianças daquela idade não eram assim tão detalhistas.

— Edward! - Clara correu até ele, corada de tanto brincar. - você veio! Vem, estamos brincando de pular em cima de…

A aniversariante levou Edward para longe, onde rapidamente começou a se entreter com as brincadeiras das outras crianças, deixando os adultos sozinhos. David pediu licença e se juntou às duas.

— Desculpe por isso, de vez em quando Edward diz coisas sem sentido. - suspirou. - mas confesso que foi a primeira vez que ele fez algo assim na frente de alguém.

— Tudo bem, não tem problema. - sorriu polidamente.

— Ele te encarou de uma forma tão estranha. - opinou Bailey, virando-se para David. - que tipo de coisas sem sentido ele diz?

— Não presenciei todas, confesso, mas mamãe sempre me diz que ele fala sobre a guerra nas colônias como se tivesse estado lá. - ele fez uma pausa pensativo. - embora… Bem, eram bem mais frequentes quando ele começou a falar, e diminuíram com o tempo. A colocação dele para a srta. Rokesby também foi uma surpresa para mim.

Sacudiu de leve a cabeça, tentando não pensar muito naquilo. Tinha sido só um acontecimento estranho, apenas isso.

No instante em que fez isso, Esther se remexeu em seu colo, resmungando incomodada. Os resmungos se tornaram choro.

— Coitadinha, me dê ela aqui, por favor. - David estendeu os braços para pegá-la. Entregou a bebê, um tanto desajeitada. Não tinha experiência com crianças. - pronto, pronto…

O conde parecia um mágico, colocando a pequena Esther por cima do ombro, balançando e batendo em suas costas de leve. Ela parou de chorar aos pouquinhos, apoiando a cabeça em seu ombro e relaxando.

— Não sabia que o senhor era bom com bebês. - comentou, impressionada.

— Minhas irmãs são todas casadas, tenho muitos sobrinhos. - respondeu. - gosto de ser um tio presente.

— Será um pai maravilhoso. - Bailey comentou, sorrindo abobada. - nenhum dos meus irmãos tem o menor jeito com bebês, uma vez um deles tentou pegar nosso priminho no colo e ele… - ela foi parando de falar aos poucos, focando os olhos em algum ponto do gramado. - aquele ali é lorde Kenneth?

Louise precisou forçar a vista para ver. Bailey tinha um par de olhos perfeitos.

— É ele. Clara disse que ia chama-lo, para que eu tivesse com quem conversar, acreditam? – o conde contou a elas.

— Cada dia que passa fico mais impressionada com Clara, já notaram como ela conhece várias aristocratas com títulos de nobreza? Acho que nem mesmo eu tenho tantos contatos. – disse Louise. – uma vez, eu a vi conversando com o conde de Winstead no Hyde Park. Depois o conde de Chatteris, na calçada da casa dela, e até lorde Danbury! Embora não me lembre exatamente onde e quando.

— Primo da mãe dela, marido da prima da mãe, primo do meu pai, que é tio dela. – Bailey explicou rapidamente as ligações da menina, arrumando o cabelo com rapidez enquanto Kenneth se aproximava. – oh, meu Deus, ele está vindo...

Olhou para a amiga de forma reprovativa. Bailey tinha o errado costume de dizer o nome de Deus em vão.

— Boa tarde a todos. – Kenneth cumprimentou-os, fazendo uma breve reverência. Ele percorreu o olhar pela mesa, parando na pequena Esther. – de quem seria esta linda dama?

— É minha prima! – Bailey praticamente gritou, ansiosa pela atenção do rapaz. – é a mais nova, irmã de Clara.

— Ah, sim. Nossa boa e velha Clara... – ele riu de canto, sentando-se junto a eles.

Bailey o olhava com os olhos apaixonados, reparou Louise. Até então, achara sua paixão um tanto boba. Como era possível ser apaixonada por alguém desde a infância, e nunca ter olhos para mais ninguém? Em sua cabeça, não fazia sentido, e era apenas prejudicial. Por conta disso, Bailey nunca encorajou a corte de mais nenhum rapaz, caminhando rumo à solteirice até que o filho do visconde finalmente a note.

— Srta. Rokesby? – David a chamou, tirando-a de seus devaneios. – o que acha de darmos uma caminhada pelos jardins?

— Nós dois? – perguntou em dúvida. Estavam em quatro pessoas, então...

— Lady Bailey e lorde Kenneth podem nos acompanhar se quiserem. – respondeu ele, olhando para os dois.

David olhou para Kenneth de uma forma que apenas os dois entendiam. Eram amigos há bastante tempo, mesmo que o filho do visconde fosse um ano mais velho. Normalmente, via-o na companhia de Oliver durante os tempos de colégio, e como amigo de seu primo, foi inevitável que também adquirissem certa intimidade.

— Acho que prefiro permanecer aqui com Bailey. – disse o próprio, pegando Esther no colo. – deixe essa pequenina aqui comigo, por favor. Temo que sua babá logo aparecerá.

David ofereceu o braço a Louise e os dois logo partiram, deixando para trás um futuro visconde e um menina apaixonada.

~

— Foi muito gentil de sua parte. – disse Louise.

— Perdão?

— Não se faça de bobo. Falo do que fez por Bailey. – retrucou. – tenho certeza de que o senhor notou os sentimentos dela por lorde Kenneth.

— De fato, notei. – ele foi sincero. – mas não foi por isso que a convidei. Eu realmente queria sua companhia.

— Por que eu? Por que estou prometida a você, é isso? – perguntou, não aguentando-se de vontade de dizer o que assombrava sua mente.

— Não. – o conde respondeu com veemência. – Louise, por acaso já se passou em sua cabeça que posso querer sua presença ao meu lado pelo prazer de sua companhia? Eu a acho divertida e interessante e gosto de estar com você. Nem sempre o que faço há mais intenções por trás, se é isso o que está pensando.

— Eu... – ela ficou sem palavras, desconcertada pela pequena bronca de David. – me desculpe.

— Tudo bem. – suspirou. – eu... Acho que falei de maneira rude com a senhorita, eu que devo-lhe desculpas.

Eles pararam para observar algumas flores, em alguns minutos de silêncio. Louise abaixou-se, cheirando uma tulipa.

— Gosta de tulipas? – perguntou, tentando tornar o clima mais agradável. Agachou-se junto a ela, olhando as flores com mais atenção.

— Amo. – Louise sorriu com amor. Passou o dedo de leve pela pétala, sentindo sua textura. – eram as flores preferidas da minha mãe. É o que meu pai me disse, é claro. Não tive como perguntar a ela eu mesma.

Ocorreu a David que nunca dera muito importância a flores, considerando-as banais. Mas vendo a expressão de Louise, com os olhos cheios de ternura apenas em estar perto de uma tulipa, percebeu que para outros, elas eram tudo. Se sua mãe, – que amava muito, mas como um homem já feito, não dizia-o frequentemente. – por um acaso, morresse, também se agarraria a alguma coisa que o fizesse se lembrar dela, assim como a moça.

Voltou a se levantar.

— Louise?

Ela olhou para ele lentamente, percebendo sua mão esticada. Aceitou-a, ficando de pé num instante com a força de seu braço. Sem dizer nada, ele a levou até a parede da casa, prensando-a ali. Louise arregalou os olhos, surpresa com aquilo.

— M-Milorde? – gaguejou.

— Eu... – ele murmurou, confuso. Muitas sensações dentro de si afloravam-se, e sentia duas pessoinhas dentro de seu estômago dançando uma quadrilha, eles iam e vinham, dando ordem expressas a seu coração para que ele se acelerasse o máximo possível.

— Não quero que me ache um patife como aquele maldito do Chervil. – disse ele a ela, sem desviar o olhar. – mas... Sinto que preciso beijá-la. Agora. E se não quiser, peço que me pare, pois no menor sinal de recusa eu pararei.

Ficou calada, sentindo suas mãos suarem. Santo Deus, ele iria beijá-la, e estava avisando. O que devia fazer? O certo seria recusar, claro, mas... Não. Ela não queria recusar. Queria saber como era ser beijada por ele, ainda que fosse um pensamento devasso demais para uma jovem debutante.

Então seus lábios se encontraram, tocando-se em uma dança sensual. Era... Estranho, mas bom. Bom não, muito bom, e muito diferente de Chervil. Quando o filho da mãe a beijou, fez isso muito rápido, quase não deu tempo de pensar. E agora, com David, a experiência era completamente distinta. As mãos grandes dele desciam por seu corpo, deixando um rastro de calor por onde passavam, e ela... Oh, ela gostava daquilo. Não podia negar. Era uma mulher pecadora, mas não podia mentir para si mesma.

Ele descolou os lábios dela, trilhando beijos até seu pescoço. Ao chegar em seu objetivo, Louise arrepiou-se inteira, sentindo os mamilos enrijecerem por debaixo do corpete.

— David... – gemeu, sem ar.

— Adoro quando diz meu nome. – respondeu, com a voz rouca de prazer.

Foi então que ouviram um chiado sobressaltando, logo atrás de David. Os dois se separaram num pulo, procurando a origem da voz.

Era uma moça. Uma jovem alta e esguia, de cabelos e olhos bem negros. Ela tinha os olhos surpresos assim como eles, alternando entre olhar para um e para o outro. Acalmou-se um pouco, percebendo de quem se tratava. Conhecia ela. Era Melody Smythe-smith, a violinista do quarteto musical.

— Não se preocupem. – disse Melody, recompondo-se. – não tenho nada a ver com isso.

David aproximou-se dela, preocupado.

— A senhorita vai...?

— Podem ficar tranquilos, não farei fofoca alguma. – virou-se para Louise. – tenho srta. Rokesby em mais alta estima.

— Obrigada. – sorriu, ao mesmo tempo aliviada e agradecida.

— Mas se lhe serve de consolo – disse David – estamos noivos, sabia?

~

No dia seguinte, Louise recebeu flores. Um lindo buquê de tulipas vermelhas, que decorou o quarto com perfeição. No dia seguinte a esse, David fez uma visita e, nos posteriores, repetiu o ato, até que se completou uma semana de namoro oficial. Estava nervosa. Levando em consideração o que o conde dissera, aquele seria o profético dia em que ele a pediria em casamento oficialmente.

— Louise? – ele a chamou, quando finalmente chegou àquela tarde. – onde estão Bailey e Lady Riverdale?

As visitas de David se tornaram comuns na casa Riverdale, de tal forma que se acostumara a chamar Bailey pelo nome de batismo.

— Foram à modista. Agatha também as acompanhou, agora que está de volta a Londres. – explicou, servindo a ele o chá. Sem açúcar, com leite, do jeito que gostava.

— Ela e William Ridgely estão de volta? Provavelmente o verei no clube, então. – bebericou o chá. – não há mais ninguém em casa? Tio James? Bernard? Roderick? Victor?

— Não sei onde eles estão, afinal, são cavalheiros e não me prestam contas.

— Compreendo.

David virou-se na cadeira, olhando para a porta. Estava aberta. Foi até ela e a fechou, em seguida sentando-se no sofá ao lado de Louise. A moça se desesperou:

— David! Não pode fechar a porta, é inapropriado! – contestou.

— Eu sei, meu amor. – aproximou o rosto do dela, dando-lhe um selinho. – mas queria um pouco mais de privacidade para o que farei agora.

Antes que ele pusesse as mãos nela, Louise o afastou, sentindo as bochechas arderem, mas sem perder o ar resignado.

— Antes... Preciso saber de algo. – anunciou. – o senhor mantém uma amante?

O fogo dentro dele se apagou bastante, e o conde suspirou, separando-se dela. Sabia que mais cedo ou mais tarde, sua noiva faria aquela pergunta, e é claro que a resposta era sim. Ele ainda mantinha uma ex-cantora de ópera como amante, mas desde que selara o noivado com Louise sequer uma vez fizera uma visita a ela. Estava tão ocupado, concentrado em conquistar a noiva, que nem se lembrara em acertar as contas com Constance. 

Provavelmente precisaria dar um tempo a ela para se organizar, até que parasse de mantê-la. Talvez pudesse recomendá-la para um amigo, para que não ficasse desamparada. Apesar de tudo, gostava da mulher, ela não era uma pessoa ruim.

— Sim, mas terminarei tudo com ela em breve. – respondeu com seriedade. – serei fiel aos votos de casamento, assim como espero que seja.

— Isso é bom. – retrucou devagar, se ajeitando no lugar. – e... O senhor não veio só para me beijar, não é?

Santo Deus, essa mulher não o deixava ser romântico.

— Não. Sabe o que vim fazer.

— Certo. – assentiu. – e... Se de fato, nos casarmos, onde moraríamos?

— Acredito que em Clyvedon, mas teríamos que vir para Londres todas as primaveras. Podemos morar aqui, também, se assim você desejar. Tenho uma propriedade própria aqui, fora de uso.

— Vinculada ao título?

— Minha, mesmo. Tenho fontes de renda próprias, que não têm nada a ver com o condado. – disse a ela. – logo os títulos de nobreza não farão mais diferença alguma na sociedade. Existem cada vez mais condes e marqueses empobrecidos, vendendo suas terras a preços baixíssimos para homens de negócios. Isso é bom para os meus negócios.

— É mesmo? Por que? – perguntou intrigada.

— As fábricas estão tomando conta de tudo. O capital que provém dos arrendatários já não é mais tão lucrativo como era há dez ou vinte anos atrás. Aqueles que não se modernizam, ficam para trás e enfrentam a falência. – então, adquiriu um tom mais leve. – mas não precisa se preocupar com isso. Você viverá como uma verdadeira rainha.

David tirou uma caixinha aveludada do bolso, revelando um anel simples, com uma pedrinha de diamante em cima. Era linda, e se apaixonou pelo objeto ali mesmo.

— É singela, eu sei. – disse ele. – pretendia lhe dar algo mais caro, mas quando pensei no que você gostaria, foi essa que me veio à mente.

— É lindo.

Ele sorriu.

— Louise... – ele parou por um instante – qual é mesmo seu nome do meio?

— Cecília Alexandra.

— Louise Cecília Alexandra Rokesby – ele pegou sua mão, olhando profundamente em seus olhos.

Após sua ruína por conta do incidente do baile com Chervil, Louise simplesmente deixara de acreditar no amor. Não, na verdade, não para todos, apenas para ela. Jamais conseguiria amar outra pessoa, e parecia impossível que algum homem pudesse amá-la de verdade.

Mas em pouco tempo, David conseguira fazê-la acreditar que o amor poderia sim existir para ela, e que existiria um homem que pudesse amá-la. Talvez... Apenas, talvez, o conde pudesse amá-la, assim como ela já o amava. E agora, estava certa de que ele se declararia para ela, como os mocinhos dos contos de Sarah Gorley.

— Case-se comigo, e a tornarei a condessa mais respeitável de toda Grã-Bretanha. Terá tudo o que desejar, e ninguém jamais ousará contra seu nome novamente. – disse ele. – diga que aceita meu pedido.

Suas palpitações enfraqueceram, sem conseguir resistir a decepção. Seu sorriso, que antes ia de orelha a orelha, agora era um meio-sorriso forçado.

— Eu... – hesitou, sentindo a tristeza a invadir. Como era dramática. – sim, eu aceito, milorde. Como poderia não aceitar?

David achou estranha aquela resposta. Esperava uma reação diferente.

Mas, talvez, fosse apenas o nervosismo, não? Mulheres eram mesmo um mistério.

~

Dias depois, o baile de noivado de Louise e David corria a todo vapor, como era de se esperar. Quando os Bridgertons davam uma festa, principalmente uma daquele porte, todos esperavam ansiosos por um convite. A todo momento aristocratas adentravam o salão de baile da Casa Hastings, lar do conde durante muito tempo, onde ainda residiam o duque e a duquesa.

Um dia David herdaria tudo aquilo, mas não estava ansioso pela ideia de tomar o lugar do pai. Se fosse possível, queria que seus pais fossem imortais e vivessem para sempre.

— Veja, estão disputando bastante a atenção da srta. Rokesby esta noite. – comentou Miles, se juntando à conversa.

— Depois do que aquele Chervil fez, achei que ela estaria acabada. – disse Dylan Ravenscroft, irmão mais novo de lorde Kenneth. – mas parece que, de fato, ser noiva do conde de Clyvedon mudou a visão de todos sobre ela.

Na verdade, o nome do amigo era Trent Ravenscroft, e não Dylan. Mas, por preferir o nome do meio, desde Eton pedia que os colegas o chamassem daquela forma, e acabou pegando fama como “Dylan Ravenscroft”, embora sua família ainda o chamasse de Trent.

— Ninguém fará mal a Louise. – disse a eles, resoluto. – o idiota que o fizer terá que me enfrentar.

Miles concordou com a cabeça.

— Sei como se sente, primo. Jamais deixaria que maldissessem Ruby. – virou-se para Dylan. – e você?

— Uma vez, Josh McVie falou mal de Gillian pelas costas – Dylan contou. – mas nem precisei defende-la.

— Por que?

Dylan deu um riso nervoso.

— Gillian deu uma bolsada nele.

David retraiu uma risada. Santo Cristo, a irmão mais nova de Lewis era realmente única.

Uma quadrilha estava para começar. Casais iam juntos para pista de dança, dentre eles, muitos rostos conhecidos: Eric Dunford com Emily Grey, Bernard Sidwell com Marabelle Ravenscroft, Roderick Sidwell com Clementine Prentice, Duncan Grey com Christine Wycombe, Raphael Bevelstoke com...

— David! – uma voz o chamou, tirando sua atenção dos jovens casais.

Era Charles, o mais velho do trio de irmãos Bridgerton. David não costumava achar outros homens bonitos, mas tinha que admitir que seu primo estava com uma ótima aparência àquela noite. Seu cabelo loiro ondulado dava-lhe um charme que nunca conseguira ter, ainda que tentasse.

— Finalmente te encontrei. Sei que está ocupado hoje – disse ele – mas podemos conversar só um minuto? Preciso falar com você.

— Alguma coisa aconteceu? Há alguém machucado? – o medo cresceu dentro de si.

— Não, nada disso. – negou. – venha, vamos ali.

Os dois marcharam até um corredor mais remoto da casa, entrando em um dos cômodos. Era o escritório do duque. David costumava ir lá para beber de vez em quando.

— David, estou me sentindo muito mal. – Charles mal esperou que fechasse a porta para começar seu monólogo. – nada disso é responsabilidade sua. Tio Anthony queria que eu me casasse com Louise Rokesby.

— Charlie, se acalme. – fez com que ele sentasse. – por que está me dizendo isso agora?

— Não quero que aguente o fardo de se casar com alguém que não ama para me livrar desse destino. Vamos mudar os planos. Cancelaremos esse noivado e eu me casarei com srta. Rokesby.

“Mas eu a amo, sim!” David abriu a boca para responder, mas parou no último minuto. Ele amava Louise Rokesby? Desde quando estava certo disso? Apreciava a companhia dela, era verdade. Pensava nela o dia inteiro e quando estava com ela, todo seu corpo ardia em chamas e... Oh, Deus, não havia discussão. Ele a amava e pronto, sem dúvida alguma.

— Haverá falatórios, é verdade, mas logo as pessoas procurarão outro assunto para fofocar. A temporada está só começando e...

— Charlie. -interrompeu-o. – não precisa se preocupar comigo.

— Tem certeza?

— Nunca tive mais certeza na vida do que hoje.

~

— O senhor dança impressionantemente bem, lorde Kennard.

Louise gracejou para o primo, o homem de sua família mais próximo dela naquele momento. Com seu pai nas colônias, Peter Rokesby se sentia na obrigação de cuidar do bem-estar da prima da mesma forma que fazia com todas as suas irmãs.

— “Impressionantemente”? – ironizou, finalizando a dança e levando a moça para fora da pista. – ora, sua tolinha, por acaso não ouve os elogios a meu respeito? Sou um tremendo pé-de-valsa.

Ela riu, e disfarçou ao procurar o noivo, girando os calcanhares.

— Clyvedon lhe prometeu a próxima dança? – perguntou ao notá-la procurando alguém.

— Como? Não, não. Só estava olhando o ambiente. – mentiu, voltando a olhar o primo.

— Louise – ele pegou as mãos dela, dando a prima um sorriso fraternal. – sei que tio Thomas não está aqui, e muito provavelmente não chegará a tempo de seu casamento. Como fui eu que afugentei Chervil com minha espingarda, quero terminar de cuidar de você até ser entregue a outro homem.

Sorriu. Como Peter era doce.

— Ficaria muito feliz em te levar até o altar. – disse ele.

— Não poderia querer que fosse diferente. – pôs a mão no coração, encantada com as palavras do visconde.

— Nunca achei que se casaria com Clyvedon. – comentou, de bom humor. – eu e ele somos primos em... Segundo grau?

Peter era o filho mais velho de Adam Rokesby, o atual conde de Manston. Se não estivesse enganada, sua tia-avó Billie era irmã mais velha do avô de David, o que tornava seu primos e David, primos de segundo grau. Era um emaranhado muito complexo de se resolver, caso fosse desenhar a árvore genealógica dos Rokesbys e dos Bridgertons, mas estava bastante satisfeita apenas em saber que ela e o noivo não compartilhavam o mesmo sangue.

— Bem, não importa. – deu de ombros. – desde que você esteja feliz, prima, abençoo sua união.

O primo pediu licença, indo tirar Rachel Bevelstoke para dançar. Ela estava feliz. Estava... Não, não estava feliz. Estava contente, o que era ligeiramente diferente. A ideia de casar com David a fazia feliz, mas apenas em pensar em se unir em sagrado matrimônio com alguém que não a amava, já a fazia ter vontade de chorar – e Louise estava certa de que não era nenhuma chorona.

Sentindo o lugar abafado a deixar ainda mais nervosa, foi até o aparador atrás de um ponche bem refrescante. Cumprimentou algumas pessoas no caminho, e quando finalmente chegou ao seu destino, reparou em uma dama em particular ao seu lado, que também se servia.

— Srta. Rokesby. – Melody Smythe-smith a cumprimentou, sorrindo educadamente. – está esplêndida esta noite.

— Obrigada. A senhorita também, fica ótima de lilás. – elogiou.

— Acha mesmo?

— Sim. Não é um tom que cai bem em qualquer dama, mas na senhorita ficou perfeito.

Percebeu que havia feito o dia da violinista. Nem todas as damas elogiavam umas as outras com sinceridade, mas Melody parecia ter sentido que as palavras de Louise eram verdadeiras. Apesar de um pouco alta demais para uma dama, a filha do conde de Winstead era muito bonita e simpática, e não tinha problemas de falta de popularidade. O que ela fazia ali, então, no canto do salão?

— Cansada de dançar? – perguntou a ela.

— Sim e não. – suspirou. – estou evitando chamar atenção, para fala a verdade.

— Por que? – indagou confusa. Normalmente, debutantes faziam de tudo para serem vistas.

— Esteve no nosso recente recital? Oh, não, desculpe. É claro que não. – Melody censurou-se, lembrando da situação delicada da nova amiga. – mas resumindo, foi um perfeito desastre musical, como sempre. Não sei como vou aguentar essa humilhação familiar todos os anos.

Louise diria que não foi tão ruim, mas não esteve lá quando Lady Melody se apresentou, apenas ouvira falar sobre. E se considerasse os anos anteriores, não poderiam ter melhorado muito. Todos sabiam que as meninas Smythe-smith eram péssimas.

— Parece que lorde Clyvedon não mentiu, afinal. – Melody mudou de assunto repentinamente. – estão, de fato, noivos. Admito que duvidei um pouco da palavra dele. Estou sempre à par das notícias e nada tinha sido noticiado no jornal, mas... – ela parou de falar, notando que Louise procurava alguém. – oh, está procurando Sua senhoria, não é?

Ainda que tivessem muitos “Suas senhorias” no recinto, sabia a quem ela se referia. Que menina perspicaz.

— Sabe onde ele foi? – perguntou a ela.

— Eu o vi... Ali! Ali está ele. – apontou com a cabeça. – vá atrás dele sem medo. – encorajou.

Após se separar de Melody, foi abordada por Portia Featherington e suas amigas, que a enchiam de elogios. Estava ansiosa para alcançar logo David, mas não podia ser desrespeitosa em seu próprio baile de noivado, então ouviu tudo o que as senhoras tinham a dizer, mesmo que por dentro estivesse ansiosa.

Precisava conversar com David. Talvez fosse um pouco atrevido de sua parte, mas tinha que perguntar a ele qual era a real natureza de seus sentimentos. Se ele a amasse, se casaria com ele, mas se não, pegaria a primeira diligência para Kent e se esconderia em Crake House, a grande mansão da família Rokesby. Eles a receberiam com felicidade. Poderia viver para sempre lá, no campo, como uma parente solteirona.

Viu para onde David foi, acompanhado de um rapaz loiro, e o seguiu de longe quando conseguiu se livrar das senhoras viúvas. Eles andaram até um corredor, e passaram por uma porta. Devia bater? Perguntou-se, quando parou diante dela com a mão erguida fechada.

Nada disso é responsabilidade sua. Tio Anthony queria que eu me casasse com Louise Rokesby.”

O outro homem falava, e ela podia ouvir perfeitamente. Talvez ele estivesse mais perto da porta, pois quando David respondeu, não conseguiu distinguir bem suas palavras.

“Não quero que aguente o fardo de se casar com alguém que não ama para me livrar desse destino. Vamos mudar os planos. Cancelaremos esse noivado e eu me casarei com srta. Rokesby.”

“Fardo” repetiu em sua mente, sentindo o corpo murchar. Era isso que ela era.

“Alguém que não ama” será que era verdade o que dizia o outro rapaz? Pelo o que foi dito, devia ser algum dos primos de David. Um dos quais seu pai tentou oferecê-la.

Um Bridgerton.

~

Naquela mesma noite, David procurou Louise pelo salão inteiro. Após bastante tempo de procura solo, resolveu perguntar à Bailey que, como melhor amiga dela, certamente devia saber do paradeiro de sua noiva.

— Ela disse que estava com calor – disse a ele. – foi tomar ar lá nos jardins.

Notou que a filha do marquês tinha um semblante triste e, ao seguir seu olhar, viu que ela encarava Lorde Kenneth, que sorria conversando com Julianna Twombley, a joia rara da temporada. Era uma menina mimada e prepotente, que muito claramente bajulava o futuro visconde.

— Acho que eu tenho que te agradecer, David. – disse a moça, com uma expressão séria no rosto que não lhe era cotidiana. – o mundo da Louise começou a ter mais cor desde que ela te conheceu. Antes de você, era tudo cinza.

Não conseguiu pensar numa resposta, então apenas ficou olhando para ela, emocionado. Assentiu e sorriu, agradecendo as palavras dela e saiu em direção aos jardins, desejando a felicidade de Bailey. Quer fosse com seu amigo Kenneth ou não, ela merecia ser feliz.

Foi fácil achar sua noiva. Ela estava sentada no chão, deselegantemente, de cabeça baixa e cheirando as flores de sua mãe. As tulipas, é claro. Eram as preferidas de Louise.

— Sei que está aí. – disse ela, sem se mexer.

Pigarreou, caminhando e se abaixando ao seu lado. Ela não se moveu um milímetro, ainda concentrada nas flores.

— Gostou das tulipas que mandei? – perguntou.

— Gostei. – respondeu ela. – porém... Não quero parecer ingrata, mas não gosto de tulipas juntas de uma cor só. Gosto quando são várias juntas, de cores diferentes. A forma delas se misturando em um matiz é uma das minhas visões preferidas.

Louise não sabia dizer ao certo porque amava tanto as tulipas. Nem eram flores tão gloriosas, quanto rosas ou orquídeas. Mas... Quando as via, e cuidava delas, um arco-íris se iluminava em sua vida, tornando a tristeza um pouco mais tolerável.

Desde pequena, quando via as amigas e as primas chamando pelas mães, sentia-se sozinha pela falta de irmãos e de alguém para chamar de mãe. Seu pai a amava, era claro, mas todos diziam que depois da morte da esposa, Thomas se tornou um homem mais recluso e concentrado no trabalho, sem muito tempo para passar com a filha.

Por isso, queria ser amada. Já amava David, estava certa disso. Mas se ele não a amasse... Seria uma tristeza maior do que podia aguentar.

— Lhe darei todas as flores do mundo, todos os dias – disse ele – quando nos casarmos.

Manteve o olhar baixo.

— Tem certeza de que quer se casar comigo, David? – olhou para ele, séria, mas sem raiva na voz. – eu sou um fardo para você. Vai se casar comigo só porque sente que é o seu dever. É um favor a mim.

— Um favor? De onde tirou isso?

— Ouvi você conversando com outro homem. Seu primo, eu presumo. Mas não importa.

Droga, Charlie.

— De fato eu estava conversando com Charlie. – respondeu. – mas nada do que ele disse é o que eu penso. Você não é um fardo, e me casar com você não é um favor. Admito que, no início, quando fui até a Casa Riverdale, vi dessa forma, mas depois que te conheci...

Louise se levantou, vidrada nas palavras dele. Seu coração palpitava apenas em sentir o olhar dele no seu.

— ...vi a mulher maravilhosa que você era. Bela, divertida, amorosa... A partir da primeira conversa que tivemos, percebi que eu seria o homem mais sortudo do mundo em ter você como esposa. Diferente de mim, que só valho pelo título que tenho, você-

— Claro que não, Dayvey! – ela se aproximou mais dele, as duas mãos  segurando a casaca. Mantinha a cabeça erguida, olhando bem para cima, por conta da diferença de altura. – você é muito mais do que um título. Você ama tanto a sua família e... Nossa, você é tão bom com bebês e garotinhas! E... E... É gentil com a minha amiga, e, em nenhum momento, você me julgou como a “devassa arruinada” que todos disseram que eu era, e foi por isso, ah, meu Deus – ela riu, nervosa. – é por isso que eu o amo, do jeito que você é.

Ficou estático, surpreso.

— Até... Até seus defeitos. Gosto até quando você é chato, mesmo que nesses momentos eu tenha vontade de te chutar, como quando éramos crianças.

Ele riu de canto, não acreditando que ela lembrava de quando o chutou entre as penas há anos atrás.

— Você roubou a minha declaração – acusou ele. – eu que iria dizer que te amo agora, e que não suportaria se nos casássemos sem que soubesse disso.

David a beijou – o mais calmo e apaixonado dos beijos – e desejou que pudessem se casar na manhã seguinte, para que ela passasse a se chamar Louise Basset o mais rápido possível. Era interessante como naquela noite fria, os lábios rosados da noiva – não via direito, culpa da escuridão, mas tinha certeza que estavam rosados. – estivessem tão quentes.

— Eu te amo. – repetiu.

— Mesmo? – ela não duvidou. – então terá que me provar isso, todos os dias.

— Como? Um buquê por dia?

— Uma tulipa por dia.

— De cores diferentes. – supôs.

— Com certeza, meu amor... Com certeza.


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Notas finais do capítulo

Sinto muito se tiver algum erro de gramática ou digitação, eu li duas vezes pra não acontecer, mas, sabem como é, sempre passa alguma coisa. E então, gostaram? Aqui foi apresentada a neta de Edward e Cecilia, do livro “Um marido de faz de conta”, filha do filho mais velho dos dois, Thomas. A ideia inicial era esse ser um conto “gato e rato” onde os dois implicariam um com outro até o fim, mas a história dessa forma não estava fluindo, por isso tive que mudar um pouco pra finalmente sair algo que eu pudesse achar satisfatório.
Agradeço a todos que leram, e espero que continuem apoiando o projeto dos contos dos netos Brigdertons até o fim!



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