Divagações escrita por Morgana Onirica


Capítulo 3
Capítulo 3




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Capítulo III


Por mais que meus olhos se afastassem do seu corpo, eu não conseguiria fazer com que aquela aura de pecados me deixasse. Por noites sem fim implorei pela remissão de todo o mal que eu causava, de todo o mal que você me causava. Por muitas noites eu pensei em nós, e fiz com que cada fragmento de pensamento se tornasse um pedido de perdão pelos meus atos, pelos meus desejos.

Mas nunca consegui fazer com que minha alma deixasse de sangrar na sua presença. Jamais conseguiria o descanso pelo qual tanto implorei.Tudo em vão. A verdade é que meu amor consumia tudo, me deixando nú e desamparado.Você bem sabia que não havia salvação pra mim, mas mesmo assim, como um suicida, atou as amarras do desespero em suas mãos e ficou comigo. Você me perdoou por todo o mal que eu lhe fiz.


-x-


Naquela mesma noite você me acordou, trazendo-me de volta dos meus sonhos castanhos com você. E disse que precisávamos conversar. Eu ainda me sentia nojento o suficiente para negar, mas meu coração pediu que eu lhe seguisse, querendo ouvir o que você tinha a dizer. Sim, porque da minha parte não havia explicação. Eu já deixara claro o que queria, o que sentia. Não havia sido da maneira como eu tanto quisera lhe dizer e mostrar. Mas eu não conseguia mais esperar. Precisava de você.

Segui você até o Salão Comunal. Você se sentou em uma poltrona perto da lareira. Ainda não havia me encarado. E eu sabia que assim que meus olhos caíssem sobre os teus, eu seria dominado pelo amor obsessivo que me causava tanta dor.

Eu não pude me manter quieto, esperando você falar. Postei-me a sua frente, olhando para você de cima. Seu rosto estava muito preocupado, mas ainda assim continha aquela beleza tão comum. Meu corpo estava cansado, minha mente estava cansada. Mas você não falou nada. Senti que eu iria morrer se você não me xingasse, não gritasse comigo, não dissesse alguma coisa. Qualquer coisa era melhor que o seu silêncio. Mordi meus lábio, ainda sentindo a dor do seu soco. Isso serviria para me acalmar. Suspirei.

- Fala alguma coisa, Moony... - minha voz não era mais que um sussurro. - Grite comigo, por favor... Afinal, por que me chamou aqui?

A tensão era quase visível.

Você abaixou o rosto em direção aos seus pés. Eu não agüentei: queria lhe bater. Mas a única coisa que consegui fazer foi cair de joelhos na sua frente, deixando meus braços pousarem em suas coxas.

- Sirius... - sua voz era magoada. Uma pontada de dor em mim. O que eu fizera era a causa de sua dor. Eu era o causador de sua dor...

Estava tentando engolir meu orgulho, estava tentando colar os pedaços quebrados do seu coração. Mas acho que quem estava tentando concertar alguma coisa era você. Foi você que recolheu os cacos de nós dois e os uniu. Senti suas mãos em meu rosto. Sem medo, agora, eu lhe tomei entre meus braços novamente. O beijo foi correspondido. Você me perdoava. Em sua loucura você me perdoava.

Meu corpo doía e eu obedecia meus desejos, pela primeira vez sem culpa. Você escorregou da poltrona e se ajoelhou na minha frente. Não sorríamos. E que bizarro seria que alguém entrasse no Salão naquele momento. Veria em nós muito mais do simplesmente dois pervertidos: nós éramos dois amantes naquele instante. O calor da lareira se juntando com o nosso próprio calor.

- Esperei por você por muito tempo, Moony.

- Eu sei.
- E seus lábios foram parar na curva do meu pescoço.

- Eu não quis aceitar. Mas agora eu quero.

E sem mais palavras nós pecamos. Ali mesmo, entre os quadros e móveis. Senti seu gosto salgado mais uma vez naquele dia, mas dessa vez não era o gosto das lágrimas. Seu suor escorria de seu corpo. Quanto de mim você levou naquela noite? Quanto dos meus sonhos você acabou destruindo? Eu me deixei levar por um sentimento incerto e acabei perdido em você. Seus olhos cor de âmbar me fitando. E eu aplaquei o desejo. Aplaquei qualquer súplica que você fizesse. Eu desejei e agora eu tinha. Mas naquele instante eu não me sentia um vencedor. Naquela hora eu não me senti nada. Não havia um Sirius Black naquela noite. Nem um Remus Lupin. A partir daquele momento, tudo o que sabíamos sobre nós dois ruira junto com os gemidos e pedidos de amor. Era sem volta. E você não hesitou.

Acho que um sorriso desabrochou de meus lábios. O mais verdadeiro de todos. O primeiro e último. Você olhou pra mim, e eu sabia o que pensava. O que faremos agora? Eu também me perguntava. Mas acho que a resposta era lógica: nada. Não havia mais nada a ser feito. O primeiro nó da minha corda já havia sido feito. Demoraria muito pra que ele apertasse meu pescoço. Não seria naquela noite que o derradeiro fim seria alcançado. Mas havíamos dado o primeiro passo.

Quanto de tudo isso é verdadeiro?, me perguntava enquanto lhe olhava fitar o vazio. Quanto do que havia acontecido era sincero? Eu não estaria lhe enganando com o intuito de me enganar novamente? Mas suas mãos deslizaram pelo meu ventre. Não era este o momento para pensar nisso.

Seu rosto dizia que deveríamos voltar, agora. E eu obedeci. Sabia que você era o mais sensato. Ou pelo menos eu queria que assim fosse. Vestimo-nos e subimos lado a lado até o quarto. James e Peter continuavam dormindo, como se nada tivesse acontecido. Você tocou minha mão com seus dedos, num gesto que eu não pude identificar. Um desejo de boa noite? Um pedido de forças? Uma centelha de amor? Eu não tentei traduzi-lo, apenas aceitei por ser seu. Não interessava o que significava. Eu sorri e você se pôs debaixo dos cobertores. Eu esperei você se deitar para que conseguisse relaxar, deitando-me também.

Fechei os olho sem saber se o que eu sentia era felicidade. Estava disposto a aceitar que fosse, mas algo me dizia que ia muito além disso. Você me dera algo muito mais profundo do que qualquer outra pessoa fora capaz de me dar: uma chance. Você aceitou seguir comigo pelos caminhos tortuosos dos meus sentimentos. Mas naquele instante nada disso importou. Deitei-me e fechei os olhos. E pela primeira vez eu sabia que nenhum sonho suplantaria nossos atos daquela noite.


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