O Segredo de Pendragon escrita por Dandy Brandão


Capítulo 14
Capítulo 13 - O caminho mais longo




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Capítulo 13 – O caminho mais longo

Manhã do 3º dia de Viagem, Reino de Corbeau, Região de Cohen

As botas marrons de Valkyon encharcaram-se quando seus pés correram pelas águas. A ilusão de sangue e chamas sobre o riacho desapareceram no mesmo instante que a água respingou em seu rosto, entretanto, o fragmento e... os cabelos... Os cabelos permaneceram no mesmo local! O rapaz não ouviu mais nada, nem focava em qualquer outra coisa além dos objetos flutuando sobre a água escura. O fragmento vermelho brilhava intensamente em meio as pedras, porém não era ele quem mais importava naquele momento. Os cabelos prateados e longos se destacam em meio à correnteza e Valkyon simplesmente os agarrou como se daquilo dependesse sua própria vida.

O rapaz não se importou que a capa escura ficasse encharcada, nem que as botas ficassem totalmente mergulhadas n’água. Ele simplesmente se agachou e observou o maço de cabelos pingando d’água quase hipnotizado.

Diversas imagens e hipóteses surgiam em sua mente, rápidas demais para ele assimilar, enquanto permanecia calado, acima das pedras, a água corrente passando por entre seus pés.

Imerso naquele momento, ele demorou a reagir quando o duque, antes contemplativo, exclamou:

— Valkyon, cuidado!! — o duque estendeu a mão para lançando alguns de seus totens para alguma criatura misteriosa que surgiu na parte mais escura da caverna. O jovem apenas despertou quando os corvos passaram sobre a sua cabeça e ele logo sacou a sua espada, segurando firme os fios de cabelos na outra mão.

Quando os olhos dourados de Valkyon olharam para frente, do fundo da caverna, emergiam dois olhos vermelhos, de uma criatura ainda indiscernível aos seus olhos.

Manteve a espada em riste, em posição de defesa. Ele guardou os cabelos no bolso interno do casaco e só depois lembrou-se do fragmento sobre as águas... Estava pronto para fazer o movimento quando viu os corvos agressivos de Zayin serem atingidos por uma fumaça escura e disforme, caindo todos ao chão.

A criatura avançou em frente e logo Valkyon pode vislumbrá-lo por inteiro: era de estatura humana, entretanto, em seus braços e pernas escamas verdes se estendiam por toda a extensão dos membros. O rosto era ainda mais inimaginável, os olhos eram verticais como de uma cobra e, em toda a face, espalhavam-se escamas verdes. Os dentes pontiagudos escapuliam dos lábios e a língua dele era longa e entrecortada na ponta.

O rapaz, sem qualquer receio em seus movimentos, foi rápido em atacá-lo, lançando um golpe com sua espada, que o atingiu de raspão no braço, pois o “monstro” foi rápido em desviar.

Atacou novamente e o monstro continuava a desviar, até notar que ele parecia olhar para o fragmento entre as rochas.

— Afaste-se, Valkyon! — gritou Zayin, estando já do lado do rapaz. Filetes de luz roxa surgiam ao seu redor dançando como pássaros por entre as mãos do duque.

— Não! Não vou deixar você enfrentar essa coisa sozinho! — os olhos dele estavam encurvados e sua posição era de quem não estava disposto a recuar.

Eles não tinham tempo de discutir e Zayin em poucos dias compreendeu a teimosia do rapaz quando o assunto era proteção.

— Tudo bem, então ataque-o. Eu lhe darei cobertura. — as luzes roxas cresceram ao redor dele e a animação no peito de Valkyon subiu em um nível que ele não sabia explicar.

A água rasa não era um problema para ele, o rapaz correu como uma lebre, sem medir qualquer força que aplicava naquele golpe frontal sobre a criatura que veio novamente em sua direção.

Então, ele atacou, de frente e a lâmina da sua espada reluziu uma luz arroxeada. Ela inteira foi dominada por aquele brilho púrpura. A força do seu golpe junto à energia mágica daquela luz conseguiu partir a criatura ao meio e ele se desmontou inteiro em escamas verdes em meio à água.

Valkyon estava surpreso: tão rápido daquela forma? Ele observou Zayin, sorrindo e depois fitou as escamas verdes flutuarem sobre as águas. Os olhos dourados dele brilhavam, feliz por ajudar a derrotar aquela criatura.  

— O que era isso? — perguntou ele, olhando para o duque enquanto este pegava o fragmento sobre as águas.

— Uma criatura abissal das águas. Eles podem ser atraídos por altas concentrações de poder em rios, lagos, mares... Qualquer coisa que os fazem mais fortes os atraem. Não era de alto nível, pelo visto. — os corvos que tinham caído ao chão aos poucos começaram a desaparecer em fumaça, dando origem a novos corvinhos que logo rodearam o duque.

Zayin estendeu a mão e um deles pousou em seus dedos:

— Vocês fizeram um bom trabalho. — o corvo crocitou baixinho, agitando suas asas — Procurem o Sig e as Valquírias, avisem que estamos por aqui e achamos mais um fragmento e...

Valkyon já estava com os fios de cabelo novamente em suas mãos.

— Não avise sobre isso. Vou manter em segredo, por enquanto. — disse o jovem rei, apertando o maço em suas mãos.

O duque espichou as sobrancelhas levemente, mas logo em seguida se recompôs, ordenando ao corvo que avisasse apenas sobre o fragmento.

Logo ele se virou para Valkyon e o entregou o fragmento. Assim que eles tocaram a mão do rei, brilharam em tom de vermelho sangue. Um pequeno filete em formato de presa se desenhava sobre a estrutura transparente.

— Majestade... — o duque retornou a polidez de sempre — Seria bom fazer uma verificação desses fios.

— Como? — Valkyon piscou os olhos, um tanto confuso.

— Eles podem ser uma falsificação... Um alquimista mediano pode fazer isso. — a testa dele estava franzida, sua preocupação era acertada. Antes de quaisquer conclusões, era preciso uma verificação.

Valkyon concordou, assentindo.

— Você quem vai fazer isso?

O duque balançou a cabeça.

— Sim, por quê? — Zayin semicerrou os olhos, curioso.

— Eu quero ver. — ele apertou os fios em suas mãos, lembrando-se do mesmo procedimento que fizeram com o colar. Torcia para que fosse mais uma pista que se confirmava.

— Como quiser.  — o duque se curvou respeitosamente e eles saíram da caverna, pelo mesmo caminho que vieram.

Enquanto caminhava, Valkyon finalmente voltou seu olhar para os fragmentos transparentes e pegou ambos em suas mãos. Os objetos tremeram violentamente sobre a pele do rapaz, brilhando de tal forma que quase o cegaram. Ele parou abruptamente, ainda em meio à caverna e, disse, meio assustado:

— O que está acontecendo...?

O duque também parou e observou o fenômeno sem parecer muito impressionado.

— Eles estão reagindo um ao outro. Encoste-os.

Assim Valkyon o fez. Quando encostou um ao outro, como magnetismo, os objetos se atraíram e fundiram em um só. Valkyon e Zayin observaram aquele pequeno fenômeno acontecer às suas vistas, o rei de olhos arregalados, enquanto o duque permaneceu em sua mesma expressão impassível.

O calor espalhou-se pelas mãos de Valkyon e os pelos dos seus braços se eriçaram sob aquele toque quente, cálido. Não sentia nada queimar, o calor viajava por seus poros invadindo todo o seu corpo.

Valkyon olhava para os seus dedos, concentrado naquele calor e, repentinamente um filete dourado surgiu sobre as costas da sua mão cor de jaspe,  sumindo logo depois.

Os olhos dele se arregalaram por um instante e suas mãos tremeram, quase derrubando o fragmento ao chão.

Zayin, sem qualquer cerimônia, segurou a mão do rapaz, observando-a com atenção. Valkyon nem sequer se incomodou com o toque dele, entendendo que ele também presenciou o fenômeno.

— Você... Você sabe o que significa isso? — o jovem olhava interessado, esperando que aquilo acontecesse de novo, o que não veio.

— Seu corpo está reagindo de uma forma muito peculiar a esse fragmento... — Zayin soltou a mão de Valkyon e passou brevemente o dedo sobre a superfície do objeto. Seu dedo coloriu-se, rosado, uma queimadura superficial. Ele nem sequer reclamou — Você sente essa energia, não queima sua pele, e agora... Surgiu isso em seus dedos.... Eu tenho uma intuição.

— Qual? — perguntou o jovem rei, escutando cada palavra que ele dizia. Valkyon guardou o fragmento de volta no bolso interno do casaco, enquanto Zayin voltava ao caminho para fora da caverna.

— Ele deve ter alguma ligação com seu sangue... Compreende o que quero dizer? — ele não olhou para trás enquanto falava aquelas palavras.

O rapaz não precisou pensar muito para entender, mas... Como poderia ser possível?

— Minha família nunca teve qualquer relação com práticas mágicas. Nossa linhagem nunca gerou feiticeiros. — Valkyon estacou novamente, dizendo aquelas palavras com plena convicção.

Zayin também parou, mas não se virou completamente. Ele apenas voltou o rosto para trás, sua silhueta bloqueando completamente a luz do sol que se estendia pela entrada da caverna.

— Você nunca parou para se perguntar por que sua família, por mais que se unissem com eminentes feiticeiros, nunca conseguiu desenvolver uma linhagem mágica?

Um silêncio absoluto pairou entre os dois e Valkyon franziu a testa, baixando os olhos por um instante, tentando encontrar uma resposta para aquela pergunta... Que não veio.

— Não. — respondeu, resoluto — Nunca parei para pensar nisso. Na verdade, a magia nunca foi um interesse para mim.   Esse fragmento tem algo a ver com isso?

— É uma possibilidade. Um sangue sem herança mágica nem deveria reagir a qualquer energia dele... É algo que deveríamos investigar. — ele encolheu os ombros e voltou a caminhar, deixando Valkyon confuso com seus sentimentos sobre tudo aquilo que acontecia.

O jovem rei ficou calado enquanto saíam da caverna, eles montaram em seus cavalos e seguiram o caminho de volta para a vila. Enquanto cavalgavam, agora em um ritmo mais tranquilo, Valkyon estava mais calado e sério do que o normal. Pensava sobre a pergunta do duque e... Se tudo aquilo estava relacionado às pistas sobre o seu irmão. Mas guardou aquelas dúvidas para si, remoendo-as em seu peito.

Quando chegavam perto da vila, três cavalos se aproximavam a galope, e logo identificaram as duas Valquírias, Caméria e Elizabeth, e Sig seguindo em direção a eles.

— Mestre!

— Majestade!

Ambos pararam esperando eles chegarem, pela agitação dos três, algo de importante aconteceu. Assim que os alcançaram, Caméria desmontou do seu cavalo, segurando em uma de suas mãos uma capa preta. O jovem rei também desmontou do cavalo assim que ela se aproximou:

— Pedimos perdão por não conseguir capturá-lo, quase o alcançamos e só conseguimos pegar sua capa. — ela estendeu a capa para Valkyon que a pegou sem demora.

Assim que o rapaz segurou o capuz em suas mãos, ele sentiu uma poeira em seus dedos, quando retirou a mão, vários pontinhos brilhando em diversos tons de cores dançavam em seus dedos.

— O que é isso? — perguntou Valkyon observando os pontinhos brilharem sobre o sol.

— É pó de cogumelo iridescente. — disse Sig, já ao lado de Caméria e Elizabeth. — Ele aumenta o poder dos sentidos, da mente e dos membros...

— Provavelmente ele usou isso para invadir as casas e fugir com mais agilidade... — Zayin também tocou o tecido, analisando a substância.

— Foi por pouco que a Caméria não o capturou, nós também não conseguimos enxergar o seu rosto... Ele era muito rápido! — exclamou Elizabeth, deixando a frustração escorrer por sua voz.

Valkyon respirou fundo e não conseguiu deixar de se sentir irritado com aquela aparição, mas não a deixou transparecer totalmente em sua postura:

— Guardem essa capa, além desse pó, podemos encontrar fios de cabelos, é uma pista para encontrá-lo. — disse o jovem rei, entregando a capa novamente à líder das valquírias.

Caméria assentiu e todos eles voltaram aos seus cavalos. Em pouco tempo, estavam de volta à vila dos arrozais. Enquanto cavalgava, uma coruja branca de orelhas pontudas sobrevoou sobre a cabeça de todos e pousou sobre os ombros de Valkyon. Era Sowa, a bela e astuta coruja branca de Ezarel, trazendo em seu bico notícias do reino de Pendragon. Ele a cumprimentou assentindo para ela. Os olhos amarelos do animal se espicharam para a capa que Caméria segurava, emitindo um pequeno chilrear e Valkyon queria muito saber o que Sowa estava pensando ou querendo dizer.

Assim que chegaram à vila, encontraram os moradores já voltando às suas atividades normais cuidando dos arrozais, depois daquele susto pela manhã. Malena estava acompanhando alguns deles pelos campos, vigiando a todos, mas tranquila, pois nenhuma ameaça circundou o local naquele momento em que esteve por lá.

Aisha também estava perto dos campos, de mãos para trás e mantendo a posição mais vigilante até mais do que Malena. Quando ela ouviu os cascos dos cavalos se aproximando e vislumbrou a figura de Valkyon linhas surgiram em sua testa e o rosto dela fechou-se, cruzando os braços.

Valkyon não deixou de prestar atenção àquela expressão dela, principalmente depois que ela veio andando em sua direção, pisando duro, assim que ele desmontou do cavalo.

A mão dela, tão delicada e macia, segurou firme em seu braço, e os olhos escuros de Aisha pareciam aqueles os buracos negros que ela invocava em sua magia.

— Você nunca mais ouse se arriscar assim na minha frente. — ela parou para respirar fundo, sem deixar transparecer o medo que sentiu — Nunca mais!


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