O Segredo de Pendragon escrita por Dandy Brandão


Capítulo 10
Capítulo 09 - Visitantes muito bem-vindos


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouco mais pra postar o capítulo, mas a fic continua viva! hehe

Como houve essa pausa, vou recapitular os principais acontecimentos do último capítulo:

— Claire desconfia da guarda pessoal de Ahriman e notifica Ezarel;
— Há uma tentativa de roubo na sala de armas das Valquírias. O alvo foi o artefato mais poderoso e cobiçado da ordem, o machado de Valhalla;
— Valkyon tem alguns sonhos estranhos envolvendo dragões e sangue e sente-se bastante mexido em relação a isto;
— Eles finalmente partem em viagem para o seu destino final: a região de Cohen, no reino de Corbeau!

Na imagem: um mapa atualizado dos reinos de Pendragon. Adicionei mais rios, montanhas e diminui a perspectiva do mapa pra visualizar melhor os territórios. O local marcado em vermelho é onde Valarian desapareceu.

Espero que esta longa pausa não tenha descontinuado a leitura de vcs ♥ Gratidão e Boa leitura!



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Capítulo 09 – Visitantes muito bem-vindos

 

Reino de Corbeau, meados da tarde, 2º dia de viagem

 

A viagem correu tranquilamente durante o resto do dia. Eles decidiram não parar para almoçar ou descansar, seguiram todo o caminho, resolutos a chegarem o mais rápido possível ao reino de Corbeau, na região de Cohen, sob a administração do duque Zayin. O reino de Corbeau também era conhecido como o “A terra entre as águas” pois suas divisas eram cortadas por dois grandes rios, Afon e Abhainn, que desembocavam em mar aberto.

As cidades litorâneas de Corbeau são muito requisitadas por exploradores dos grandes mares, recebendo visitas de estrangeiros que trazem iguarias e objetos de terras distantes, transformando a cultura de Corbeau em algo peculiar. Porém, a potência deste reino era bem conhecida por sua família real ser composta por feiticeiros prodígios, bem como seu povo produz fortes guerreiros mágicos que defendem o reino através dos mistérios da magia.

Alguns minutos depois de passarem pela ponte do rio Abhainn e, oficialmente adentrar no reino de Cohen, pessoas cobertas de todos os tipos de tecidos e joias surgiram nas ruas, lojas de armas mágicas e artistas de rua exibiam suas capacidades sobrenaturais e místicas, com fogo, ventos e animais totens nas esquinas da entrada do reino.

Valkyon, por alguns instantes, esqueceu os seus assuntos mais íntimos e observou com curiosidade os primeiros ares de Corbeau. Há alguns anos tinha visitado aquele lugar, mas reservava poucas memórias daquela viagem, esqueceu o quanto aquele reino tinha características peculiares por onde quer que passassem. Aisha também já tinha visitado o reino, mas estava concentrada demais em seus pensamentos para prestar atenção em qualquer coisa. Ambos foram despertados de seus devaneios quando o duque, com seu rosto um pouco mais aberto, disse:

— Sejam bem-vindos à Corbeau. Daqui há, hm… — ele olhou para fora, checando a região para ter noção da distância — vinte minutos ao menos chegaremos ao meu castelo.

— Cohen não fica muito longe do castelo de sua majestade Dhiego, certo? — indagou Valkyon, finalmente voltando a ter foco.

— Sim. Pretende fazê-lo uma visita ainda hoje? — o duque semicerrou os olhos, sem esconder sua curiosidade.

— Não, na verdade estava pensando se deveria fazê-lo uma visita, pra não gerar comentários desnecessários, mas também não quero perder muito tempo. — ele respondeu sem muita animação em sua voz e voltou a observar a janela.

No meio de uma praça, nas mãos de um homem corpulento tremulava a forma de um dragão flamejante, fogo rugia ao redor do feiticeiro artista, impressionando os seus espectadores. A carruagem logo saiu do campo de visão daquela praça movimentada, mas a impressão daquela cena fixou-se na mente de Valkyon. Aquele sonho novamente invadiu os seus pensamentos, porém a visão de um dragão imponente logo trouxe à tona o medalhão de Pendragon cravado em ouro puro. O objeto que o trouxe até aquele local. Tinha que deixar aquele sonho e o fragmento em segundo plano.

Seu objetivo ali era procurar por seu irmão e, se pudesse, começaria a fazer aquela busca bem naquele momento. Entre as pessoas da praça, as lojas e restaurantes da entrada de Corbeau. Perguntar um por um se alguém havia visto um homem trajando aquele medalhão.

— Majestade? Se me permite… — começou o duque. Valkyon assentiu, enquanto Aisha permaneceu calada, esperando o que vinha a seguir — Não se preocupe quanto as buscas. Tenho alguém em minha tutela que já está trabalhando nisso.

— E quem seria essa pessoa...? — perguntou a princesa, em uma voz lânguida, quase preguiçosa. Levantou suas sobrancelhas para mostrar interesse.

— Quando chegarmos ao castelo vocês vão conhecê-lo.

Aisha não pôde deixar de prestar atenção ao pequeno sorriso de lado que o duque deixou escapar quando terminou aquela frase. Ao que parece, estar em seu território e perto de pessoas que ele confiava, deixava-o mais feliz. Mais um motivo para ela ficar cada vez mais atenta a todos os passos dele.

Depois de saírem da cidade, o comboio percorreu por mais algumas vilas, até desembocarem numa estrada em ladrilhos. A paisagem era agraciada ao leste e oeste por fileiras de dentes-de-leão, suas pequenas pétalas plumadas se aventuravam para dentro da carruagem, ou passeavam pelos cabelos das guerreiras que seguiam o rei e seus companheiros. À frente, o castelo cinzento do duque surgia no horizonte, rodeado por montanhas esverdeadas. A construção parecia que seria engolida por aquela vegetação extensa, densa. Ao longe, misturados com o cheiro das flores, a fresca do rio Afon passeava pelos ventos, inundado todo o ambiente de calma e tranquilidade.

Nos céus, o bando de corvos do duque se adiantou para o castelo, enquanto Sowa, agora descoberta, seguia parada acima da carruagem, aproveitando para descansar o quanto possível. Seus olhos amarelos encararam o bando seguindo em toda velocidade, e qualquer um poderia dizer que ela perguntava-se como eles tinham energia restando depois de tanto tempo de viagem ininterrupta.

Quando finalmente chegaram ao castelo, não havia ninguém no pátio, apenas uma grande fonte retangular derramava água do pequeno vaso nos braços de um anjo de pedra, que apontava para o céu, como um guia. A carruagem e os cavalos pararam a poucos metros da escadaria. Elizabeth, Malena e Caméria desceram da montaria e observaram ao redor, as três estranhando não haver qualquer agregado para recebê-los. Apenas os corvos estavam alinhados nas gárgulas das torres do castelo, olhando para baixo com seus olhos vermelhos curiosos.

— Que falta de educação…! — comentou Elizabeth, baixinho, mas o suficiente para as suas companheiras ouvirem. Malena assentiu, com certo receio de fazer algum comentário, enquanto seus olhos azuis arregalados observavam as gárgulas e os corvos no topo do castelo.

Caméria quis repreendê-la, mas, de certa forma, concordava com o comentário.

Valkyon e seus companheiros saíram pouco depois, primeiro o duque, em seguida a princesa e depois o rei. Assim que Valkyon levantou a cabeça para frente, enfim se deparando a visão completa da entrada do prédio de pedra, a grande porta da frente irrompeu.

Da escuridão do interior do castelo, irrompeu uma criatura loura, os cabelos esvoaçavam com os ventos e seu sorriso era radiante quase como a luz solar surgindo na aurora. As vestes eram de um azul-celeste brilhante e, em suas mãos pousavam dois buquês de rosas de um carmesim quase tão forte quanto o sangue que correm nas veias. Atrás dele, empregados surgiram em uma pequena fileira, todos muito sisudos, em posição ereta.

Valkyon se surpreendeu um instante, sem entender muito bem o que estava acontecendo, pois a criatura destoava completamente do ambiente e, também, do mestre daquele lugar. Porém, ele pouco se importou com este detalhe e esperou que a pessoa descesse as escadarias e se apresentasse apropriadamente.

Aisha e as Valquírias, por outro lado, estavam absolutamente chocadas. Alternavam o olhar entre o duque - que não disse uma palavra ao chegar - e a criatura que os alcançou sem muita demora.

— Sejam muito bem-vindos! — a pessoa se curvou solene à frente de todos, no entanto, seu olhar perseguiu a figura de Valkyon, dando alguns passos à frente. Ficou a uma distância respeitosa, ainda com os buquês de rosas vermelhas em mãos. — Majestade, aceite essas flores como boas-vindas ao castelo de Cohen. Este humilde servo está a sua disposição.

Ele se curvou ainda mais, agora sem mais olhar para o rei.

Valkyon piscou muito os olhos, mas manteve sua expressão lívida, encarando o buquê e a pessoa curvada à sua frente. A expressão de todas as moças de Pendragon tornou-se complicada, principalmente depois do rei pegar as flores e agradecer pela cortesia. Em seguida, o rapaz louro se curvou novamente e ofereceu o segundo buquê a Aisha, que aceitou e agradeceu, ainda um pouco chocada.

O duque, por outro lado, soltou um riso ainda mais solto, divertindo-se com a situação. Depois do rapaz se endireitar, Zayin se posicionou ao lado dele e, disse:

— É a maneira especial dele receber nossos visitantes… — o rapaz se encolheu um pouco, entretanto, o sorriso ainda permanecia em seu rosto. — Mas, Sig, você não se apresentou apropriadamente.

Sig sobressaltou e seu rosto foi coberto por uma tonalidade rosada. As Valquírias seguraram o riso.

— Ah, perdão… — seus olhos caíram um instante, mas ele logo recobrou a confiança — M-meu nome é Siegfried, discípulo de sua alteza Zayin. Já estou atuando na busca por Va-, Sigh Sua majestade, Valarian.

Ao ouvir aquelas palavras, os olhos dourados de Valkyon foram tomados por um leve brilho, quase imperceptível. Já queria se sentar e conversar com ele sobre as possíveis pistas encontradas.

— Eu agradeço, mais tarde conversamos sobre isso. — passou tranquilidade em sua voz, mas, por dentro, a ansiedade chegava aos poucos, acelerando sua respiração. O rapaz assentiu enérgico, extremamente animado para recebê-los.

Todos seguiram adentro no castelo e o duque permitiu que seu discípulo apresentasse o local, como se este fosse o proprietário do lugar. O ambiente era bastante limpo visualmente, apenas uma ou duas estátuas decoravam o salão de entrada e flores, com suas raízes serpenteadas ornamentavam as janelas. Enquanto Valkyon e os outros seguiam em frente, as Valquírias, mais desconfiadas do que interessadas no local, olhavam para todos os lados, atentas para qualquer incidente como da vila das flores pudesse acontecer – e elas admitiam para si mesmas, também não confiavam muito no duque. No território dele deveriam ter o dobro de atenção.

Caméria, a líder das três, preservava ainda mais a diligência. Assim como a coruja pousada em seu ombro, seu olhar inspecionou rapidamente qualquer canto que passavam até que finalmente chegaram ao salão central onde deveriam se separar, cada qual para seus aposentos. Valkyon e Aisha entregaram suas flores para os empregados, a fim de que as rosas vermelhas fossem embelezar os seus aposentos, e estes sumiram nos corredores carregando as malas e objetos trazidos pelos convidados, seus movimentos rápidos e silenciosos como gatos ágeis.

— Bem, nós vamos até aqui, apesar de que o castelo tem muito a oferecer. Mas creio que sua majestade tem pressa. — disse o discípulo, pondo suas mãos para trás, em um gesto educado.

— Deveríamos nos alimentar e descansar antes de qualquer coisa, depois planejar por onde começaremos as buscas. — Aisha se aproximou de Valkyon, esperando uma posição dele. Estava ciente sobre a ansiedade, mas não esperava que ele fosse prejudicar suas condições físicas para iniciar a procura de forma mais apressada do que já estava.

Valkyon estava prestes a falar, quando alguém exclamou, alarmada:

— Majestade! — o movimento de Caméria foi rápido de tal forma, que ninguém apercebeu quando ela se colocou ao lado de Valkyon já empunhando sua espada, antes embainhada sobre a cintura. O olhar de todos estavam atentos nela, sem compreender o que tinha acontecido ou qual o perigo ela avistou. Antes que qualquer um lhe perguntar o que estava acontecendo, ela respondeu:

— Havia uma sombra aqui! Se parecia uma daquelas da vila das flores! — seus olhos não se enganaram, ela viu algo escuro, com tons de esfumaçados passar ao lado de Valkyon, como se estivesse espreitando-o. O próprio rei pôs a mão sobre o cabo de sua espada, pronto para defender-se caso precisasse, confiava plenamente no olhar de Caméria, sempre tão comprometida em seu serviço.

Malena e Elizabeth, assim como sua líder, também desembainharam suas espadas e se colocaram em posição de defesa, mesmo que não tenham visto absolutamente nada.

O duque não esboçou nenhuma reação extraordinária, mas também virou-se para o seu discípulo, que já estava com suas sobrancelhas franzidas, confuso.

— Houve alguma ataque de sombras por aqui esses dias?

— Não, senhor, foram dias tranquilos. Pode ser que…

A exclamação da princesa interrompeu a frase de Sig:

— Sowa?!!

A coruja totem de Ezarel voou rasante bem próxima da princesa, todos os pelos do corpo dela estremeceram, porém era nítido que Sowa estava perseguindo algo, voando entre as paredes cinzentas do castelo, apenas para protegê-la. As asas brancas da coruja se debateram na primeira esquina do corredor, e o soar alto de um som estridente e fino ecoou por todo o corredor. Os passos apressados de todos perseguiram atrás de Sowa.

Seus olhares não deixaram de ficar surpresos quando viram um animal peludo, de um preto quase azulado, um pouco menor que a ave, debatendo-se entre as garras da coruja. O som que ouviram saiu por entre os caninos finos daquele animal.

— Sisi! — o discípulo do duque correu para resgatar o animal, que logo o reconheceu, esticando-se para alcançar seu mestre. Sig estendeu os braços para resgatar o animal, porém...

Sowa voou um pouco mais acima, recusando-se a soltá-lo.

— Esse é o totem dele? — perguntou Valkyon ao duque, impressionado com a força das garras de Sowa.

— Um dos dois. Ele tem dois gatos monteses* como totens.

— Sowa, solte-o, por favor. — a segunda pessoa que a coruja respeitava sem hesitar era Valkyon – a primeira, obviamente, era seu mestre, Ezarel. Ciente disso, Valkyon a chamou, preservando ainda seu tom gentil. — Venha até mim e fique aqui.

A coruja fiou seu olhar amarelado no animal antes de soltá-lo nos braços do seu mestre, que o pegou aninhando-o entre os braços. Sowa voou, determinada, pousando nos ombros de Valkyon. Ele acariciou seu queixo, para recompensá-la pela obediência. Por vezes Sowa tinha um temperamento forte, era preciso firmeza e gentileza para lidar com ela.

— Está tudo bem com seu totem? — perguntou Valkyon, observando o animal receber a atenção devida do seu dono.

— Sim, peço-lhe desculpas, majestade. — Ele se curvou, solene — a sombra que sua guarda viu foi a Sisi, eu senti a presença dela, mas não vi que estava tão perto.

O animal encarava o grupo com seu olhar esverdeado brilhante, o brilho passivo, sem qualquer intenção de agressividade. Entre sua pelagem escura brilhava um pequeno cordão de ouro, uma rosa bem detalhada pendia no pescoço.

— Parece que foi um mal-entendido, então está tudo bem. — respondeu o rei.

Caméria se curvou, pedindo desculpas pelo equívoco, apesar de sua aparente desconfiança, ela também se desculpou com sua majestade, porém Valkyon estava tranquilo quanto ao fato e estava feliz em saber que as estimadas guerreiras estavam atentas e dispostas à luta. Ao lado de guerreiras destemidas e uma feiticeira habilidosa ao seu lado e suas próprias habilidades marciais, sabia que podiam ficar bem. Não havia mal há temer.

— Ela tem uma notícia para nos passar. — disse Sig, depois de uma breve conexão mental com Sisi. Os olhares de todos se concentraram no discípulo, em especial Valkyon, cuja ansiedade retornou ao ápice — Ao que parece, temos ótimas notícias vindas do norte de Cohen.

 

 

Reino de Pendragon, meados da tarde, 2º dia de viagem

 

O dia no castelo de Pendragon estava um alvoroço por debaixo dos panos. O assunto da tentativa de roubo alastrava-se como fumaça por todos as câmaras e salões, nas bocas de todos os funcionários do castelo. Serviçais, jardineiros, soldados, em algum momento do dia, ouviriam, entre sussurros e palavras curtas, algum comentário sobre o guarda de Mainyu que tentou furtar a arma mais poderosa da ordem das Valquírias, principalmente depois da informação de seu silêncio durante o interrogatório. Todos se perguntavam como ele entrou, quais seus objetivos e por que tão as claras? Algumas pessoas estavam um pouco incrédulas com tamanha ousadia, sabendo que, se Caméria estivesse por ali, aquele homem não teria sequer chances de implorar por sua vida. A prisão não seria necessária.

Por mais que o sol estivesse a pino, o céu limpo e brilhante, sobre a cabeça de Ahriman uma tempestade parecia se formar o dia inteiro. Quando os olhares de todos estiveram dispostos em sua figura, os cochichos se espalhando pelos cantos, seu rosto ferveu. Tratou de fingir que nada estava acontecendo, mantendo seus sorrisos e modos educados, mas seus instintos lhe diziam que em breve a cidade inteira de Draig saberia sobre aquele acontecido e seria péssimo… péssimo para a sua reputação em Pendragon.

Um julgamento ainda seria executado e o homem esperava encarcerado numa cela nos confins do castelo. Aparentemente, ele não tinha família ou qualquer outro parente que fosse notificado sobre sua prisão. Ninguém, a não ser o seu próprio chefe, veio lhe prestar uma visita.

A guarda de Ahriman era completamente impessoal. O Príncipe de Mainyu sempre dispensava lacaios de “confiança”. Quando alguém se esforçava para agradá-lo, lambendo os seus pés, tratava de espantá-los como moscas. Não precisava de alguém que lhe bajulasse mais do que seus próprios familiares. Então, não tinha muitos “meninos de recados”. Ele mesmo desceu à prisão do castelo, permitindo que suas botas com correntes de ouro fizessem barulho na escadaria espiral, aguçando os ouvidos dos presos e guardas do lugar. Assim que ele desceu o último degrau, os olhares já estavam na escada. Porém, todos, exceto um – o seu antigo guarda – baixaram o olhar quando verificaram que havia chegado.

Naquele ambiente, Ahriman não fez nenhuma questão de manter o sorriso e a postura de sempre. Passou pelos guardas e friamente disse que precisava conversar com o mais novo prisioneiro, a sós.

O homem foi deixado, de mãos atadas, em uma sala frente a frente de seu antigo mestre. Ele encarava Ahriman sem qualquer traço de medo em seu olhar, esperando quais as palavras que lhe traria.

O silêncio pairou entre os dois. Ahriman devolvia seu olhar, brilhante em dourado como ouro, felino tal qual um lince, sem qualquer intenção de iniciar a conversa. Porém, vendo a persistência do homem em permanecer calado, ele começou:

— Você não tem nada a me dizer, Altair?

— Não.

O príncipe respirou fundo e aproximou o corpo mais à mesa, para encará-lo de perto.

— Eu já imaginava que você não tinha ideia da idiotice que fez, mas não me gratificar com uma desculpa sequer, é rude e grotesco. — ele se levantou e rodeou a mesa, encostando-se ao seu subordinado.

— Eu estive pensando… Uma boa taxa pode te tirar daqui, uma tentativa de roubo não vai levá-lo à forca.

Altair o encarou, seu rosto se contorceu de preocupação… Ele já sabia quais palavras estavam por vir.

— Se eu pagar, sabe que..

— Não! — Altair se levantou, jogando a cadeira para trás.

— Acalme, homem. — ele não se abalou pelo jeito violento do antigo guarda, mantendo-se na mesma posição — Se não quiser, tudo bem… Mas saiba que sua pena aqui não será pequena.

— Eu prefiro ficar aqui do que lhe dever até a minha alma… Se ela já não estiver penhorada…

O riso de Ahriman preencheu toda a cela, enquanto o subordinado permaneceu calado, refletindo sobre seus negócios.

— Foi um ato seu desesperado… Uma grande idiotice, mas entendo o seu valor.

— Mas tem outro jeito de lidarmos com isso. — Ahriman voltou à sua cadeira, enquanto Altair voltou ao seu lugar, mais uma vez defensivo. — Eu pago e você me retribui com um serviço, que tal?

O sorriso de Ahriman, aos olhos de qualquer pessoa, poderia passar como um amigo agradável fazendo-lhe uma proposta entre camaradas. Algo que não enganava mais o olhar desperto de Altair. O homem ficou calado, considerando aquela proposta.

— Posso interpretar o seu silêncio como um sim?

Ele encolheu os ombros.

— Quanto vai ser quitado?

— Depende da qualidade do seu serviço.

A expressão de Altair parecia considerar seriamente a proposta, porém um pequeno pensamento temeroso por sua vida pairava na mente…. Que serviço poderia ser aquele que quitaria uma dívida de prisão em flagrante?

Ahriman não deixou passar aquela expressão hesitante e tratou de sondá-lo um pouco mais. Ele baixou o tom de voz, quase sussurrando:

— Não se preocupe, garanto que sua vida estará a salvo. O alvo está bem ao nosso alcance.


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Notas finais do capítulo

Ah, a aparência do novo personagem fica para o próximo capítulo :D

Gratidão e feliz ano novo!! ♥



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