WSU's Neo escrita por Christopher Aguiar, WSU


Capítulo 3
A Caveira não riu


Notas iniciais do capítulo

Esse foi o capítulo mais denso e difícil que eu já fiz. Foi doloroso, eu mudei tantas vezes e estou muito atrasado com a postagem, mas ai vai.

Postei quando acabei, sem revisão, no dia 18/02/21 as 04:28 e assim que acabar a revisão eu substituo.



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Cidade do Corsário, 05/02/2018

 

O furgão trafegou na velocidade máxima que todas as vias permitiam, chegou à sede da MutaGenic, juntamente de um helicóptero, ao cair da noite e usou a entrada de serviço. Quando chegaram, Rafael, que dirigia, estacionou o carro. Mecanicamente ele colocou no ponto morto, virou a chave, tirou o pé do pedal do acelerador e puxou o freio de mão. Soltou um sopro de ar e abriu a porta, sendo seguido dos outros neo que estavam demonstrando feições de desgosto e insatisfação. O Dr. Pedro Casagrande e vários seguranças da Albuquerque já os aguardavam.

— Sabem o que fazer. —  Comandou o cientista e acionista da empresa, fazendo com que os homens pegassem os jovens com brusquidão.

 

— Não conseguimos pegar todos, houveram complicações… —  O líder se pronunciou, explicando o motivo de só metade dos alvos estarem presentes. —  Incluindo Tadeu, que ficou desmaiado no local; peço permissão para ir atrás dele!

 

O moreno de rosto anguloso levou a mão ao queixo pensativo. Ele sabia que com um dos membros de força de elite neo-corrompida ainda em posse do Caveira, o Temerário logo chegaria até a empresa e Anthony, logicamente, não ficaria nem um pouco satisfeito com isso. Entretanto esse desleixo dos operativos, faria com que os fugitivos viessem em resgate de seus irmãos e com isso ele finalizaria seus objetivos. Mesmo que tivesse que usar sua carta na manga.

 

— Permissão negada, se preparem para um possível ataque. O Caveira vai atacar essa madrugada!

 

A equipe de invasão se entreolhou e os seis acompanharam o Casagrande ao nono andar. Os corredores cinzentos da empresa, faziam com que a loira ficasse confusa e se não fossem os números e marcações, acharia que estava dando voltas no mesmo lugar. Nem de longe essas paredes frias e sem vida eram tão acolhedoras quanto as da Mansão Neide Fonseca.

 

Um dos seguranças abriu uma porta e entrou, sendo seguido pelos demais. Anthony se encontrava na sala, escorado numa maca, com uma expressão fria e rígida. No cômodo ainda havia uma cadeira com amarras e outras várias macas. Luana, Pietro e Carlo foram posicionados deitados e Dimitri foi atado à cadeira.

 

— Acordem-no para conversar com o chefe! — O cientista falou com um meio sorriso, antes de sair da sala deixando Anthony, que estalava o pescoço e os dedos. Um dos guardas, desferiu um tapa na face do flamejante o acordando. Enquanto a unidade especial estava apenas escorada na parede, Elisabete tinha uma expressão de horror estampada em sua face. Ao abrir os olhos, Dimitri percebeu que estava amarrado e ao levantar o olhar, encarou um Anthony  enraivecido.

 

— Vocês são uns bostas! — Falou o ex-CEO num tom de escárnio, antes de socar o estômago do loiro. — Me foderam, acabaram com minha vida,,,

 

Antes que o loiro pudesse se recompor, Anthony acertou um segundo soco no queixo do jovem, que gemeu de dor, cuspindo um pouco de sangue logo em seguida. Rafael apenas virou o olhar, não gostava dos métodos do empresário, mas nunca iria contestar o ex-CEO.

 

— Meu irmão vai chegar em breve, otários! — Dimitri falou baixo, dando um sorriso manchado de sangue logo depois. Em resposta, o Braga começou a distribuir socos em seu abdômen. Elisabete arfou horrorizada, vendo o “pai” dos neo, espancando impiedosamente o loiro.

 

Elisabete desviou o olhar, não esperava por aquilo e torcia uma explicação de Anthony mais tarde. A loira levou a mão à boca e prendeu o ar após um forte soco ser acertado no nariz do jovem amarrado. Incomodada com os barulhos de gemidos e golpes, a loira começou a sentir as paredes fechando sobre si e o ar parecia não chegar aos seus pulmões. Rafael notou algo de errado com a garota e correu até ela.

 

— Elisabete, você tá bem?

 

Ela piscou várias vezes, escutou seu nome sendo chamado, mas estava com dificuldade para focar. Tentou respirar fundo e num esforço súbito, negou com a cabeça, respondendo a pergunta, Sentiu braços passarem por seu ombro e ser guiada para fora da sala. Pouco antes de deixar o local, deu uma última olhada no loiro e sua expressão demonstrava pesar e compaixão pelo irmão e por alguns segundos, Elisabete se arrependeu do que havia feito.

 

A Teixeira estava sendo guiada por Rafael e algum tempo depois, ela sentiu o vento em seu rosto. Estava numa sala mais arejada e com janelas, as paredes eram cinzas e possuía decorações normais de escritório. Mas o que a fazia sentir-se melhor era que Dimitri não estava apanhando nesse local.

 

— Por que?

 

Arqueando uma sobrancelha, Rafael a encarou, sem entender a pergunta.

 

— Por que ele está batendo no Dimitri? — A loira repetiu, se completando logo depois, causando um longo suspiro no irmão.

 

— Anthony tem seu próprio jeito de lidar com as coisas, com o tempo você se acostuma. — Ele respondeu sério, se dirigindo para a janela e encarando o nada.

 

Ela tentou falar que não queria se acostumar com aquilo, mas faltou-lhe forças, então apenas confirmou com a cabeça e baixou o rosto. Rafael subitamente saiu de perto e a jovem fitou o céu noturno, enquanto sentia seu coração e respiração acelerados.

 

Ao voltar para a sala, o líder da unidade neo-corrompida se enojou com o que Anthony havia feito. Apenas Estela e Ricardo ainda estavam no local, encarando Dimitri que estava com a face avermelhada e com o nariz quebrado, muito sangue escorria até sua blusa de um corte em seu supercílio.

 

— Chega, ele entendeu que não deve fugir! —  Falou o comandante, com certa raiva na voz.

 

— Tá achando que manda em algo! Estou longe, mas ainda sou o chefe, nunca se esqueça disso. — Anthony falou baixo, limpando o sangue de seus punhos em uma toalha.

 

Rafael respirou fundo e em sua mente contou até três, caminhou até o flamejante e começou a desafivelar a trava de uma de suas mãos. O ex-empresário se afastou do corrompido e deixou que ele liberasse o Belikov.

 

— Ricardo, me ajude a levá-lo para sua nova acomodação.

 

O maior apenas confirmou com a cabeça, pegando o loiro e passando um dos braços dele por seu pescoço. Rafael seguido de Estela, acompanhou a dupla, até uma porta com a placa de identificação E-5001, a mesma que Dimitri possuía quando estava na MutaGenic. A cabeça do loiro pendeu para o lado, e o neo-corrompido metálico o depositou na cama do quarto logo que os quatro entraram. Pouco antes de sair, o líder pressionou o botão que chamava um enfermeiro ao local, sabendo que os golpes no rosto necessitavam de cuidado.

 

Os três seguiram em silêncio até a acomodação do grupo; uma ala do prédio era destinada à unidade e cada um era dono de um quarto. Como de costume, após uma missão, eles se encontrariam no quarto do líder. Ao chegar lá, os três se depararam com Kátia e Juno conversando banalidades.

 

— Não gostei da execução da missão de hoje, fomos descuidados. — Iniciou o líder, com a voz baixa. —  Dominique atrasou a captura de Luana, Tadeu ficou com nossos inimigos e quase não saímos a tempo de fugir da polícia.

 

Os comandados ficaram calados, enquanto esperavam que o líder terminasse suas considerações sobre a missão.

 

— Capturamos apenas metade dos alvos e o Temerário não estava no local, ele virá em breve até nós e devemos nos preparar. — Explicou enquanto se dirigia até sua gaveta para pegar seu tablet.

 

Assim que achou o aparelho, acoplou ele ao projetor do quarto e uma planta holográfica do prédio em que estavam se formou no meio do grupo. Usando ambas as mãos, expandiu a figura e rodou ela em trinta graus.

 

— Aqui fica a entrada para a garagem, temos que garantir que nenhum carro passe sem ser revistado.

 

Fazendo uma pinça com os dedos, ele pegou a região e expandiu, tocando em lugares aos quais sabia que eram pontos cegos das câmeras.

 

— Nesses pontos, devemos colocar algum segurança preparado. Imagino que seja impossível que eles conheçam as falhas do prédio, estamos no nosso território. Alguma pergunta?

 

Todos negaram, fazendo com que pela primeira vez o líder esboçasse um mínimo sorriso. Nos minutos seguintes, eles continuaram repassando locais onde deveriam aumentar o número de guardas. Anthony podia ser a mente por trás dos neo-corrompidos, mas Rafael era o líder e estrategista do grupo; as falhas ou acertos eram sua responsabilidade.

 

Cerca de uma hora depois, eles haviam terminado os planejamentos de defesa, quando o celular exclusivo de missões do grupo tocou. Sabendo se tratar de Anthony, Rafael atendeu rapidamente, pois era do conhecimento coletivo que o ex-empresário odiava esperar.

 

— Não gostei que tenha me interrompido… — A voz do empresário foi ouvida, assim que a chamada foi atendida e o botão do viva-voz pressionado. — Admito que cinquenta por cento dos alvos não é o ideal, mas seu grupo nunca falhou. Considere isso meu voto de confiança.

 

— Sinto muito, pai!

 

— Eu não sou seu pai, eu sou dono do DNA que foi usado para gerar sua vida e o mínimo que eu esperava nesse momento era êxito em sua missão! O pior é que Tadeu ainda ficou para trás... vocês resolvem um problema e criam outro?!

 

— Desculpe. — Rafael sussurrou em resposta. — Acabamos os planos de contenção agora, estamos prontos para uma tentativa de resgate.

 

— Assim espero, Rafael. Falhar é ser fraco e fraqueza é intolerável!



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Cidade do Corsário, 09/02/2018

 

A reunião da F-Tech estava tirando a pouca paciência do ex-lutador e vigilante, Marcos Fonseca. A preocupação latente o abatia e fazia com que tivesse a sensação de uma mão apertando seu peito. Tudo que o barbudo queria era chegar na mansão e ver se os filhos, primo e a esposa estavam bem. A reunião foi se prolongando, eles passavam gráficos que naquele momento o Fonseca não tinha interesse algum em conferir. Mostravam as margens de lucro, os custos de patentes e o capital que outras empresas haviam investido.

 

Após incontáveis horas, a noite chegou e a reunião se encerrou. Ao sair da sala, Marcos foi interceptado pelo seu assistente.

 

— Chefe, trago notícias ruins. — Ao ouvir o homem, o coração do Fonseca descompassou, e o ex-lutador engoliu seco para perguntar.

 

— O que rolou, bicho?

 

— O alarme da mansão Neide Fonseca acionou, logo depois do alarme de incêndio e uma ligação desesperada e desconexa do Dominique.

 

— Mas que porr… — Bradou o homem exasperado. — Por que não me avisaram?

 

— O senhor estava em reunião… —  O maneta interrompeu o assistente o empurrando.

 

— Reunião?! — Bradou o barbudo, segurando o assistente pela gola da camisa e falando rente ao seu rosto, antes de chocá-lo contra a parede. — É a minha família, seu incompetente do caralho!

 

— Me-me desculpe, senhor — Pediu o rapaz, com a voz trêmula, se encolhendo perante a antiga lenda do MMA que o encurralava.

 

— Eu quero que recolha as suas coisas agora mesmo e dê o fora da minha empresa. — Falou entredentes, soltando o rapaz.

 

Enquanto o assistente deixava a sala assustado, o exasperado ex-lutador pegou o celular em seu bolso e começou a ligar para o número do telefone fixo da mansão. Ao chamar algumas vezes, ele desligou. O empresário começou a discar o número do primo, receoso e um tanto quanto desesperado, enquanto andava apressado. 

 

— Atende logo, seu filho da puta!

 

O maneta não esperou a ligação ser atendida; se dirigiu rapidamente ao elevador, empurrando a todos em seu caminho. A chamada caiu na caixa postal e o ex-lutador saiu no saguão de entrada do edifício da F-Tech.

 

— Chamem logo a porra do motorista! — Falou grosseiramente com a dupla da recepção, que apenas pegou o telefone. 

 

— Oi, o Sr. Fonseca está solicitando o motorist…

 

— Anda logo com essa porra, tenho que chegar em casa. Se não estiver aqui em meio minuto é rua!

 

A ligação foi desligada e um derrapar dos pneus foi escutado do lado de fora, assustando os desavisados. Marcos correu, chegou do lado da porta do carona, abriu e sentou. O motorista ficou encarando o empresário.

 

— Tem uma pica na minha cara? — Indagou, encarando de volta. — Toca logo pra minha casa!

 

Sem perguntar detalhes, o motorista acelerou e, ao sair pela portaria da empresa, seguiu as ordens do chefe, chegando ao limite de velocidade. A mansão e a empresa não ficavam longe. Cerca de quinze minutos depois, Marcos estava parado na porta de casa e viu um grande rombo no muro, que o deixou mais irritado. Desceu do carro antes dele ser parado e correu em direção ao buraco. Entrou e a cena que viu o irritou ainda mais.

 

Bastante água estava espalhada pelo lado de fora; grande parte da parede da cozinha havia sido destruída e sua família estava reunida na porta, juntamente de Carol Trap e alguns policiais.

 

Marcos correu e logo abraçou a filha. A esposa se juntou ao abraço e ganhou um beijo na testa, depois o lutador afagou a cabeça do filho mais novo. As feições ainda não haviam suavizado.

 

— Que desgraça foi essa? — Falou para Dominique e Matheus, enquanto a agente governamental guiava os policiais para fora da mansão. — Cadê o Dimitri?

 

Dominique, que assanhava os cabelos nervosamente, encarou o ex-lutador.

 

— Foi o Anthony, aquele desgraçado levou o meu irmão! Entraram aqui e pegaram três dos neo que resgatamos e sequestraram o Dimi...

 

Marcos mostrou uma expressão ultrajada. Encarou Dominique com um olhar fervoroso.

 

— A gente vai achar aquele nerd sabichão e os outros, e de quebra quebrar aquele merdinha do Anthony.

 

Marcos alcançou a esposa e passou o braço pela cintura dela, pouco depois de colocar seu aparelho celular na cômoda da cozinha. Dominique viu a cena e soube o que devia fazer, andou até a bancada e pegou o aparelho, desbloqueou com a senha ridiculamente fácil do ex-lutador e clicou no contato que queria iniciando uma ligação.

 

Três toques foram o suficiente para o Flamejante ser atendido.

 

— Alô, Karen Maximus?



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Cidade do Corsário, 09/02/2018

 

No setor sete da MutaGenic, se encontravam Anthony Braga e Pedro Casagrande. O laboratório possuía cores frias e tinha um cheiro forte de enxofre e ferro no ar. Vários cilindros de vidro contendo experiências estavam dispostos pelo local. e nenhum dos cientistas parecia se importar com os vários fetos e partes de corpos mergulhados em líquidos esverdeados que circulavam a referida dupla.

 

O CEO foragido ainda possuía uma expressão maníaca. Seu paletó sujo de sangue já havia tido seu fim e ambos miravam o computador, lendo o relatório de Rafael e do chefe de segurança da empresa.

 

— Eu quero os gêmeos, quero acabar com a ingratidão deles... — Vociferou o moreno de cabelos sedosos, que passava as mãos nervosamente no couro cabeludo e puxava os fios vez ou outra. Graças a não ter tomado seus remédios, estava sofrendo os efeitos colaterais de seus genes corrompidos. Alucinações e fortes dores de cabeça, faziam o homem rangir os dentes.

 

À sua frente, seu velho amigo Leônidas Machado, com suas feições sérias e cicatriz esquisita próxima a sobrancelha. Ele encarava Anthony com desgosto e negando com a cabeça.

 

— Ainda bem que parou com o Opiol, tava com saudades! — O CEO sabia que estava alucinando, seus melhores amigos haviam morrido, não existia vida após a morte ou reencarnação. Ele estava sozinho há tantos anos... Pegou a ampola de remédios no bolso e abriu,  levando um à boca para engolir rapidamente.

 

— … sendo assim, foi concluído que o melhor é que… — O chefe do setor encarou o dono da empresa apreensivo, até ser interrompido.

 

— Eu quero o Caveira, quero meus neo-corrompidos e quero liberdade… Esses merdinhas fugiram e eu agora tenho que ficar foragido. Matar esses merdas nem é uma opção, eles valem milhões.

 

— Se acalme, chefe, como eu ia dizendo eu tenho um plano. — O Casagrande falou. — Eles vão vir aqui, e quando vierem estaremos prontos… Vamos pegar os neo e resolver tudo com um golpe só.

 

Nesse momento o Casagrande se dirigiu a um tanque de ensaio, preenchido com um líquido negro, e tocou a mão na superfície. Uma movimentação foi vista dentro do tubo.  Outra mão de dedos alongados e com garras tocou no mesmo lugar que a dele, causando um sorriso breve no homem.

 

Anthony, espantado e ligeiramente admirado, sorrindo, esperou que Pedro se virasse para ele.

 

— É por isso que eu gosto de você. — Sorriu o Braga, passando a língua pelos lábios, enquanto se aproximava mais, ostentando um olhar cheio de significados para o outro. — Ling pode ser um gênio inescrupuloso, mas você é perverso.

 

Sem esperar resposta, Anthony levou a mão até a gravata do maior e o beijou fervorosamente. Os lábios do moreno comprimiam e estavam famintos pelos do cientista, que o correspondia com ardor.  O Braga pediu passagem e usou sua língua para explorar a boca do Casagrande, enquanto o guiava até uma mesa o prensando contra ela, levando a outra mão ao braço do homem e apertando.



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Cidade do Corsário, 09/02/2018.

 

Marcos havia acabado de mandar sua esposa e filhos para sua antiga casa com o motorista da empresa. O estresse não havia passado, sua família havia corrido perigo e ele nem ajudou. Se sentia o maior dos bostas, mais do que Tales umas duzentas vezes.

 

Sentados ao redor da mesa da sala, Carol fazia diversas perguntas a Dominique, Matheus e Clarice, que havia insistido em participar da reunião. Clarice Garcês, a aquacinética, era uma garota de fibra e a cara feia de Marcos Fonseca não ia lhe impedir de ajudar a planejar o resgate de seus irmãos.

 

A traição de Elisabete pegou a morena e o loiro de surpresa. Dominique e Clarice estavam tentando demonstrar o máximo de seriedade possível, quando barulhos de motor foram ouvidos do lado de fora. Todos levantaram-se da mesa e seguiram para a área externa da mansão, se deparando com Karen Maximus. A loira descia de sua nave por uma rampa, com cabelos e capa esvoaçando por causa do vento. Ela já trajava seu uniforme branco e amarelo.

 

— Alguém pediu uma K-Max pra entrega? — Gracejou a menina, fazendo Dominique esboçar o primeiro sorriso após o ataque orquestrado por Anthony.

 

— Ai, o que veio fazer aqui? — Marcos perguntou ranzinza, com uma irritação que só passaria quando desse alguns socos em alguém.

 

— Ele me chamou, seu mal-educado! — Respondeu a loira irritada, apontando para Dominique, que direcionou um sorriso amarelo para Marcos que o encarava com uma sobrancelha arqueada.

 

— Foda-se, entra logo e coloca a Carmen invisível; os vizinhos vão ver esse caralho de nave alienígena no meu quintal.

 

Os seis adentraram na mansão depois que a nave desapareceu de suas vistas, e se dirigiram para a sala, onde se assentaram para discutir o resgate dos sequestrados.

 

— Creio que devemos falar com o cara amarrado lá em baixo. — Pontuou Carol, massageando as têmporas. Cuidar da mansão estava sendo mais cansativo que ela havia pensado.

 

Eu devia ter aceitado a ajuda do Neverfallen, pensou a agente irritada, enquanto Karen arregalou os olhos.

 

— Tem um cara amarrado?

 

— Longa história, mas sim, ele está na sala de treinamento agora. Penduramos ele no lugar do saco de areia! — Dominique respondeu a loira prontamente, que o encarou pesarosa.

 

— Dominique, ajude os outros a encontrar trajes táticos, vista o seu próprio e nos encontramos lá em baixo em dez minutos, entendido? — A morena falou em tom de ordem para o flamejante que se levantou da mesa, se direcionando para as escadas, com Clarice em seu encalço.

 

Os irmãos haviam subido as escadas silenciosamente, o Belikov estava cabisbaixo e a aquacinética respeitava o silêncio. Ao abrirem a porta em que deixaram Guilherme e Elias, se depararam com os dois de mãos dadas. Dominique sabia que eles faziam aquilo há anos, quando sentiam solidão, medo e queriam demonstrar uns aos outros que sempre estariam ali. Aquele era um costume que o grupo havia começado quando os gêmeos e Eustáquio ainda estavam com eles e se manteve ao longo de todos esses anos.

 

Clarice esboçou um fraco sorriso e se juntou aos irmãos. Olhou para trás e chamou o loiro com a cabeça. Emocionado deu as mãos para Clarice e Guilherme, se juntando ao círculo.



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Cidade do Corsário, 09/02/2018.



O Temerário já estava com sua roupa de aramida. Ao seu lado Carol e Matheus usavam trajes táticos e K-Max colocava suas luvas amarelas. Passos foram ouvidos vindos da direção da escada. Dominique e os outros três neo-corrompidos apareceram trajando roupas de treino. O Flamejante usava sua máscara laranja, collant de aramida com flamas alaranjadas nos braços e faixas da mesma cor descendo pela perna.

 

Os quatro jovens neo-corrompidos se reuniram com Matheus e os três membros da Frente Unida. Marcos estava trajando seu terno branco de aramida e sua máscara negra que cobria toda a cabeça até o pescoço. Matheus estava com uma variação do traje inicial do caveira, a diferença estava nos braços que não eram cobertos e no formato da máscara que não era mais tão semelhante a uma caveira. A Agente Trap usava um traje preto, o coldre de sua arma  posicionado em sua cintura ocultado por um sobretudo.

 

Todos se encaravam, mas Dominique olhava para Marcos mais atentamente, como se esperasse por alguma atitude do maneta. Clarice e Guilherme rolavam os olhos impacientes.

 

— Que é? Por que todo mundo olha pra mim como se eu soubesse o que fazer? —  Comentou Marcos irritado, a situação toda era incrivelmente estressante.

 

— Você é o líder! — O flamejante respondeu ao ex-lutador.

 

Marcos colocou a prótese no ombro do loiro.

 

— Pelo poder investido a mim, por Luke Skywalker, Anakin Skywalker e todos aqueles que perderam as mãos e braços... —  Falou o barbudo solene. - Eu te declaro o líder.

 

— Cê só pode ta brincando. —  O mais jovem retirou o braço do Fonseca de seu ombro, enquanto esboçava uma careta de desagrado.

 

— Devemos começar com o cara amarrado. — A Maximus pontuou, gerando a concordância dos de mais. — Vamos então!

 

Os mais velhos foram a frente do grupo, deixando Dominique e Karen lado a lado. A menor o encarava de forma estranha. Nunca imaginou que ele iria ligar buscando a ajuda dela, mas de certo modo estava feliz por isso. O sentimento de confiança que os outros depositavam nela era recompensador.

 

Assim que desceram as escadas e foram para o andar da sala de treinamento, um espaço amplo e sem janelas, o grupo viu Tadeu amarrado com uma corda de polímero kevlar, revestida com aramida e traçada com fios de aço ao redor. O jovem neo-corrompido era mais alto que Matheus alguns centímetros, e também mais forte.

 

— Esse babaca ai… — Matheus começou a explicar, apontando para o jovem amarrado. — Tem o poder de transformar a própria pele em ferro, por isso eu preparei algumas coisinhas.

 

Ao falar isso, o policial tirou um maçarico portátil do bolso, que logo foi pego pelo ex-lutador. Fechando a mão sobre o maçarico, Marcos socou forte o nariz do invasor amarrado. A pele do jovem se tornou cinza e reluzente, e ele tentou romper as cordas novamente.

 

— Não adianta, cuzão! Isso ai é o que tem de melhor em tecnologia, nem um rinoceronte romperia. — O Fonseca falou com a voz um calma, mas rouca por causa do modulador. — Vamos brincar um pouco.

 

O CEO ligou o maçarico e chegou perto do rosto do neo-corrompido.

 

— Se o passarinho não cantar, vai ficar com a sobrancelha fundida com a bochecha! — Voltou o equipamento para trás, quando a pele deixou de ser metálica. Ao perceber isso, usou seu braço protético para dar mais um soco próximo ao olho do invasor. — Quais os planos do Anthony? Me fale a situação da defesa da empresa!

 

Tadeu encolheu um pouco o rosto e quando sua pele voltou a endurecer, Marcos levantou a mão com o maçarico, dando mais um soco na face do operativo da MutaGenic, que cuspiu sangue. Matheus e Carol encaravam o Temerário cheios de dúvida, se deviam ou não interferir. Karen deu um passo à frente, mas Dominique pousou a mão em seu ombro.

 

— Ainda não… — Sussurrou o loiro.

 

Graças ao poder de ler mentes com o toque, a Maximus conseguiu capturar um emaranhado de emoções desconexas do amigo, dentre elas raiva, medo e culpa.

 

Marcos deu um chute no estômago do metálico, que cuspiu no chão.

 

— O meu pai vai pegar todos eles. — Falou apontando com a cabeça para os quatro neo restantes. — Vai se aproveitar da estupidez de vocês…

 

Marcos pegou o jovem pelo pescoço fazendo uma chave de braço e com a mão livre socou-lhe a cabeça. Então, ligou o maçarico e encostou de leve na bochecha dele, que urrou pela dor.

 

A mão de Dominique desceu e segurou a da jovem K-Max, que apertava forte para se conter. Marcos desligou o maçarico e repetiu a pergunta.

 

— Quais os planos do Anthony? — Ele gritou, com a voz  ainda mais assustadora.

 

— Eu não sei!

 

— Eu não acredito, me conte o que sabe! — O maneta ligou o maçarico novamente, gritando com o jovem que prendia numa chave.

 

— Eu juro por Deus… — O metálico balbuciou, assustado e com dor.

 

— JURE POR MIM! — Gritou o Caveira, indo colocar o maçarico na pele de Tadeu mais uma vez.

 

— Eu juro, eu juro por você… Apenas me deixe em paz! — Ao falar isso, o neo-corrompido sentiu o maçarico encostar em sua pele, mas não sentiu a queimação. Até Marcos se surpreendeu, e ao olhar para trás, viu a chama sendo controlada por Dominique e se extinguindo na mão da mão do pirocinético.

 

— Não vale a pena… — O loiro mais jovem se pronunciou. Nesse momento Karen, Clarice, Guilherme e Elias concordaram com o pirocinético.

 

Tadeu respirou aliviado, seu rosto apresentava cortes e inchaços, mas os membros da frente se reuniram e deram as costas.

 

— Eu não tenho nenhuma informação...— O cativo falou pausadamente. — Porque os planos são feitos na hora, Rafael deve estar passando e repassando o plano de defesa agora, ele sabe que vocês vão tentar resgatá-los.

 

O jovem fez uma pausa e puxou forte o ar, mirando o chão.

 

— É tudo que eu sei, então por favor… Deixem esse maluco vestido de caveira longe de mim… — Após terminar de falar, Tadeu deixou seu corpo pender na corda e desmaiou, deixando todos atônitos.

 

A Maximus puxou o ar, encarando Dominique de forma intensa.

 

— Eu posso confirmar se ele tá falando a verdade, eu posso ler mentes com o toque…

 

Marcos abriu e fechou a boca algumas vezes, sem conseguir se pronunciar.

 

— Essa informação viria a calhar antes dele desmaiar… — Carol falou, passando a mão no rosto.

 

Guilherme caiu na risada, a situação seria mais engraçada se o momento não fosse tão trágico. K-Max deu alguns passos na direção do operativo e tocou em sua testa, recebendo as confirmações que precisava.

 

— Ele falou a verdade, os planos são sempre feitos na hora, de acordo com a situação… Mas agora eu sei alguns pontos fracos da instalação.

 

Dominique deu um breve sorriso para a menor. O loiro sentia que essa luta seria definitiva.



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Cidade do Corsário, 09/02/2018.



A nave Carmen pairava acima da MutaGenic, os membros da Frente Unida e os Neo-Corrompidos haviam acabado de repassar seu plano.

 

— Dominique, Clarice, Elias e Guilherme, a Carmen vai deixar vocês na cobertura, precisamos que cheguem ao penúltimo andar e chamem atenção! —  A jovem Maximus falou.

 

— Deixa comigo, sou o mestre em chamar atenção. — Dominique piscou para Karen, que segurou uma risada.

 

Pouco antes de se aproximar do prédio empresarial, a nave apitou.

 

— Lady Horbury, passando desse ponto os sensores vão me captar.

 

Karen guiou a nave alguns metros acima e esperou pela próxima parte do plano. Carol Trap pegou sua arma no coldre e destravou, retirou uma das balas e colocou um chip criado por Marcos e por Turing, para que eles pudessem se infiltrar no sistema da empresa.

 

— Abre uma fresta pela nave, para que eu possa acertar a antena do prédio! — A agente pediu, e logo um leve rangido foi ouvido. Um painel da nave se abaixou, abrindo espaço para a morena mirar e disparar o chip na antena de forma certeira.

 

O celular de Marcos apitou, com uma mensagem do desconhecido aliado “Câmeras travadas e sensores desligados, plantas baixadas e análise de ondas térmicas enviadas para a nave :)”.

 

— Lady Horbury, irei exibir a planta holográfica do prédio, com marcações de calor onde estiverem pessoas. — A nave reportou, antes do mapa 3D do prédio aparecer entre os sete presentes na nave.

 

— Cacete, a gente precisa de uma dessa Marcos! — Matheus exclamou exasperado.

 

O ex-lutador empurrou de leve o joelho do primo, enquanto balançava a cabeça em censura. Matheus, envergonhado, colocou a máscara de caveira e voltou a encarar a planta.

 

As duas mulheres repassaram o plano, adaptando às novas informações, recebendo confirmação dos outros cinco. A nave se moveu para mais perto, abrindo a passagem, para que os quatro neo-corrompidos pulassem para o chão da cobertura.

 

Dominique havia colocado sua máscara novamente. Olhando para trás ele acenou para Marcos e Matheus, que retribuíram com um breve movimento de cabeça sincronizado, fazendo o loiro esboçar um leve sorriso.



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Cidade do Corsário, 09/02/2018



Os neo-corrompidos aliados da MutaGenic, estavam verificando o sistema de segurança do prédio empresarial. Num segundo, as câmeras tremeram, como se tivessem sido afetadas por estática.

 

— Ei, Rafael, você viu isso? — Juno perguntou ao líder, que olhou a tela que a jovem de cabelos castanhos olhava.

 

Após uma troca de olhares, Rafael respirou fundo.

 

— Eles estão aqui, avise ao Sr. Casagrande e aos membros da Albuquerque para ficarem alertas.

 

Para aquele combate, Anthony havia entrado em contato com seu associado Washington Luiz, dono da Albuquerque Segurança, para reforçar suas fileiras. Três dezenas de homens estavam posicionados na garagem da empresa e o mesmo número na escadaria entre a entrada da cobertura e o penúltimo andar.

 

Na garagem, vários homens armados esperavam. Todos veteranos do exército brasileiro ou do BOPE, prontos para conter a invasão.  O encarregado da parte da garagem repassava suas ordens, quando ouviu um barulho metálico estranho, que deixou o destacamento alerta.

 

— Senhores, posicionados em duas  formações em V. — Ao dar a ordem, vinte seguranças se posicionaram, dez em cada agrupamento em forma de v. — Os outros formem o flanco direito e o flanco esquerdo…

 

Antes que o encarregado continuasse as ordens, o barulho de uma corrente elétrica foi escutado e os sprinklers da garagem se ativaram. Rafael e Juno estavam atentos a situação pelas camêras.

 

Os homens mantiveram sua formação, tendo em vista que nenhum invasor havia aparecido ainda. De ambos os lados os seguranças puderam ver granadas de fumaça saindo debaixo de carros.

 

— Ativem os óculos de visão de calor! — Ordenou o chefe, e da sala de controle, Rafael esperava para ver quem iria agir.

 

Quando a fumaça começou a sair, graças ao trabalho conjunto entre Marcos e Turing, a água tornou ela mais densa, impossibilitando os homens de conseguirem ver algo com seus visores especiais e também embaçando as câmeras.

 

— Ricardo e Kátia, vão agora para o estacionamento. CORRAM! — O líder da unidade neo-corrompida ordenou seus comandados pelo comunicador.

 

Da densa fumaça, quatro orbes vermelhos foram vistos. Uma risada oca e infeliz pôde ser escutada causando temor até mesmo aos veteranos ali presentes. O Caveira original avançou, lembrando o por que seu apelido era “O Louco” na época das lutas.

 

Com as mãos pegou a arma do primeiro atirador e bateu na cabeça do segundo, arremessando com um balão o corpo do desavisado num terceiro soldado.

 

— Eu adoro bater em soldado, lembro dos velhos tempos! — Comentou o Temerário.

 

— Pois é, a propósito, derrubou quantos? — Do outro lado, a voz de Matheus alterada pelo modulador foi ouvida. —  Deitei dois já, me lembrei daquela vez com os Ronald McDonalds!

 

Pela primeira vez na noite, Marcos realmente riu, mas com o modulador a risada soou aterrorizante para seus inimigos. Antes de responder, pegou o braço de um segurança e torceu com força, causando um estalo e um grito de dor.

 

— Com esse já foram quatro! — Respondeu o ao primo.

 

— Estamos empatados, Aspirador-De-Pó-Nasal… — Retrucou Matheus, enquanto ambos derrubavam cada vez mais seguranças.

 

Rafael tentava sem sucesso conseguir imagens pela câmera, seus operativos ainda não haviam chegado no local e o chefe dos seguranças entrou em contato desesperado.

 

— Eles estão nos dominando, precisamos de reforços. — O homem alertou, respirando pesadamente.

 

— Eles estão a caminho... — Respondeu o líder, sendo interrompido pelo chiado do comunicador. Tudo estava indo contra seus planos, eles precisavam reagir e virar o jogo.

 

— Estamos presos, o Caveira trancou as portas… — Kátia falou, o cloro que ela expelia não ajudaria nessa situação e a força bruta de Ricardo era a única saída da dupla.

 

— Se virem, eles estão ganhando e o Anthony não vai ficar nada feliz com isso! — Ameaçou o líder pelo sistema de comunicação, incentivando Ricardo a socar com força a porta de ferro.

 

Quando a fumaça começou a baixar, Matheus estava executando um Armlock Voador num dos seguranças, da direção da escadaria foi ouvido um barulho e uma porta voou para longe. O bloqueio imposto pela dupla foi penetrado e Ricardo e Kátia entraram puderam observar vários seguranças desmaiados e feridos pelo chão. Rafael se permitiu sentir alívio quando viu que os Caveiras agora teriam oponentes a altura.



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Cidade do Corsário, 09/02/2018




Dominique e seus três meio-irmãos já haviam visto a planta e as imagens de calor do prédio, sabiam que posicionados na escadaria estavam cerca de trinta soldados da Albuquerque, velhos conhecidos do Belikov.

 

— Você sabe o que fazer! — Guilherme falou calmo para a irmã, que confirmou com a cabeça. A Garcês começou a juntar hidrogênio do ar, condensando as moléculas em água. Dominique e Elias usaram seus poderes para conjurar fogo, as chamas do moreno são verdes por serem feitas da combustão de Boro. A dupla começou a esquentar a água, enquanto a jovem captava mais da caixa d’água e de algumas plantas ao redor.

 

Clarice estava se esforçando ao máximo para conter a água fervente, os dois neo-corrompidos que controlavam o fogo sinalizaram com a cabeça para Guilherme, que rapidamente abriu a porta. Dois guardas estavam próximos, mas a aquacinética sem pensar jogou toda a água na direção deles.

 

Os soldados estavam desesperados, se segurando em todo lugar, os que caíam na água fervente gritavam de dor enquanto eram levados escada abaixo. Os quatro neo entraram na escadaria, quando Clarice usou seus poderes para gaseificar a água fervente, Guilherme tomou a frente, nisso os outros três fecharam os olhos.

 

— Olhem para mim seus covardes! — Bradou o jovem de cabelos pretos, emitindo de seu corpo uma forte luz laranja, atordoando os poucos guardas que se seguravam.

 

— Cara, isso foi fácil demais! — Dominique comentou fingindo estar despreocupado, recebendo um olhar de reprovação da irmã. O loiro apenas deu de ombros, assumindo a frente. —  Precisamos atrair os membros da unidade para cá…

 

— Alguma ideia? — Elias perguntou receoso, recebendo um sorriso malicioso do irmão.

 

O Belikov lançou um facho de fogo na porta e adentrou no último andar do prédio. Surpresos com a coragem do jovem, os três seguranças presentes no local demoraram a ficar em guarda.

 

— Bobearam em… — O pirocinético comentou, fazendo duas bolas de fogo surgirem em sua mão e disparando em dois dos homens, avançando no terceiro. Quando os outros três entraram na sala, viram Dominique levando as mãos aos ombros do guarda. A mão direita no ombro direito e a esquerda no ombro esquerdo, com os braços trançados, o jovem fez força e levou o mais velho ao chão, rolando por cima dele sem soltá-lo e aproveitando o movimento para arremessá-lo na parede mais próxima.

 

Com um baque surdo, o homem caiu desmaiado. Os outros dois estavam no chão com as roupas e colete queimados, Dominique comemorou rapidamente com um leve soco no ar.

 

— Isso, a Carol vai ficar orgulhosa! — O loiro comentou despretensiosamente, procurando as câmeras do local logo depois.

 

Assim que achou, o Belikov mostrou o dedo médio, o apontou em seguida disparando uma bola de fogo destruindo o aparelho de segurança.

 

Da sala de segurança, Rafael encarava a tela preta onde ficava a câmera que Dominique havia acabado de destruir.

 

— Juno, encontre a Estela e bloqueiem Dominique e os outros… — O líder falou quase num sussurro, o que era pior que um grito na opinião da hidrocinética. Juno saiu da sala de controle, se dirigindo ao quarto de Estela, que já se encontrava na porta.

 

— Pronta?

 

— Eu já nasci pronta… — Estela respondeu, seguindo caminho pelos corredores, até o local onde encontrariam os outros neo-corrompidos.

 

A dupla estava dois andares abaixo da câmera destruída por Dominique. Conhecendo cada canto daquela parte da empresa, correram para as escadas, pois o elevador alertaria o quarteto inimigo para a presença delas.

 

Após subir um andar de escadas, Estela ouviu passos. Parou a mão no peito da meio-irmã e esperou, ouvindo a voz de Dominique.

 

— Pronto, décimo primeiro e penúltimo andar desse inferno! — O Belikov exclamou num tom cansado. Os quatro haviam acabado com um destacamento de seguranças que guarneciam as escadas, o chão molhado era prova disso.

 

As meio-irmãs eram usadas constantemente em missões conjuntas, pois quando misturado o flúor de Estela com o hidrogênio de Juno, se formava o ácido fluorídrico. Um hidrácido esverdeado, que em contato com a pele, pelo pequeno tamanho da molécula, pode percorrer os tecidos vivos até o tecido osséo. Juno bateu a mão em punho na palma quatro vezes, sinalizando os segundos em que deveriam atacar, e com os dedos sinalizou o número dois para falar qual estratégia elas adotariam no ataque.

 

Das mãos de cada uma, foi saindo seu elemento em forma gasosa e ao se juntarem o gás verde corrosivo começou a subir em direção a voz de Dominique. Um sorriso maníaco brotou nos lábios de Estela, prevendo seus inimigos feridos pelos efeitos do seu ataque.

 

Clarice e Dominique vinham à frente, guiando o quarteto pelo caminho. Elias, acanhado como sempre, estava atrás, então foi capaz de perceber o gás esverdeado subindo até eles. Rapidamente, colocou seus braços na frente dos irmãos.

 

— Cuidado! — Assim que foram alertados, os irmãos deram alguns passos para trás. —Olhem as paredes e os corrimãos…

 

O susto dos neo se deu pelo fato do ferro ser corroído e a pintura descascar em contato com o gás. O grupo continuou subindo, quando Elias teve a ideia de usar suas roupas.

 

— Domi, preciso que coloque fogo nisso e jogue lá dentro. — O menor entregou sua jaqueta pro irmão, que confirmou com a cabeça.

 

O Belikov pegou a camisa e uma chama de tamanho médio surgiu em sua mão, englobando o tecido, o jovem levou a mão para trás com cuidado e dando alguns passos para trás junto de seu irmão, jogou a bola de fogo na direção do gás.

 

Alguns metros abaixo, ao ouvir sobre o fogo, Estela e Juno resolveram retroceder na escadaria, perdendo o controle do gás que começou a dissipar no local, pouco antes de pegar fogo. Os dois grupos foram jogados para trás no impacto da explosão, Estela possuía em suas feições um sorriso maníaco, havia achado divertido a explosão.

 

— Eu não sei quem é mais doido aqui… — Juno comentou baixo, encarando a companheira de time.



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Cidade do Corsário, 09/02/2018



Carol e Karen estavam esperando na nave Carmen, a nave estava produzindo um traje camuflado para a agente, já que a horusiana possuia o seu próprio. Os moldes estavam quase prontos, e o tecido camuflante gastaria uma boa quantidade de energia da nave.

 

— Lady Horbury, falta apenas sua confirmação por voz, para que a criação do traje hosuriano de mimetismo e adaptação seja concluída… — Alertou a nave.

 

— Pode prosseguir, Carmen, obrigado pelo trabalho! — A Maximus falou gentilmente em agradecimento.

 

Do painel de criação da nave, um brilho surgiu e após escanear novamente o corpo da Agente Carol Trap, quatro anéis de ferro voaram na direção da morena, grudando em seus pulsos e tornozelos. O tecido fino e maleável, como água, começou a subir pelos membros da mulher, se encontrando em seu tórax. Os anéis de ferro voltaram para dentro do painel e do local que eles saíram, surgiu um capacete, semelhante ao de uma motocicleta.

 

A Trap pegou o capacete, balançando a cabeça de um lado para o outro em censura. Assim que colocou, o objeto se acoplaram e do ângulo em que Karen estava, ela pôde perceber que quando a luz batia na agente, era como se passasse direto, tornando-a invísivel.

 

Karen vestiu seu próprio traje, agora os seis que haviam invadido já devem ter cumprido o objetivo de chamar a atenção e dividir a unidade neo-corrompida, então as duas membras da Frente Unida ficaram encarregadas de entrar furtivamente e soltar os reféns, para que todos pudessem fugir.

 

— Carmen, se aproxime das janelas do nono andar e abra uma escotilha para que possamos sair. — A Maximus pediu para sua nave, que prontamente atendeu.

 

A loira segurou a parceira por trás e alçou voo para fora da nave, ambas ficando invísiveis no ar, adentrando no prédio por uma janela aberta. Carol passou primeiro, Karen entrou voando em seguida. Graças ao link mental, as duas podiam se comunicar.

 

Por ser treinada para isso, Carol praticamente não fazia barulho ao se mover, Karen optou por flutuar pelo local, com receio de pisar forte demais e alertar alguém a presença delas antes da hora.

 

“Parece que os três estão juntos numa sala, o Dimitri está na outra ala.” Karen comentou com a agente mentalmente. “Devemos adentrar nelas juntos, pois se estiverem checando as câmeras, nosso disfarce vai acabar quando abrirmos as portas…”

 

“Exato, imagino que você deva ir atrás do Flamejante, deve haver um motivo para ele estar mais distante… Você consegue chegar aqui mais rápido.”

 

Karen concordou com a cabeça e sem esperar mais nada, disparou na direção do jovem neo. Ainda mantendo a conexão mental com a morena, que chegou na porta que devia.

 

Rafael observava tudo das câmeras, na garagem havia um confronto entre os caveiras e Kátia e Ricardo. No décimo andar, Dominique e os outros estavam enfrentando Estela e Juno. O andar em que os cativos estavam sendo mantidos ainda estava intacto, mesmo com um confronto acontecendo logo acima dele.

 

Karen havia acabado de chegar na porta, ao qual ela pode ler E-5001, ao adentrar no quarto. A Maximus notou que uma cama branca era o único móvel no local, e nela estava Dimitri Belikov com o rosto ferido, vários hematomas por suas bochechas e nariz levemente torto.

 

“Deus… Ele ta todo machucado…” A loira alertou Carol, que havia adentrado o quarto em que os outros neo estavam sendo mantidos.

 

“O que fizeram com meu fi… com o Dimitri?” Perguntou a agente, ajudando os três jovens, abrindo as algemas que os prendiam.

 

Ao ver duas portas se abrindo em diferentes partes do nono andar, Rafael socou o painel. O plano deles havia dado certo e ele, o líder, havia separado sua unidade. O neo-corrompido possuia uma taxa exemplar de sucessos, não queria mais uma falha em suas contas, ele iria consertar essa situação por si só.

 

Com fúria no olhar, Rafael concentrou uma esfera de argônio à sua frente, comprimindo bastante o gás a ponto dele se condensar e pelo esforço do neo se tornar um globo de laser de argônio. Costumeiramente era usado para fazer pequenas queimaduras nos olhos em procedimentos oftalmológicos, mas daquele tamanho ele poderia abrir buracos em concreto. Manipulando o facho do laser, Rafael abriu um rombo no teto, que o levaria para o nono andar. Desfazendo o globo, Rafael saltou no ar, usando seu gás para impulsionar o pulo e ultrapassar o buraco.

 

De acordo com as cameras os invasores estariam ainda nos quartos, o que daria para ele a vantagem. Ele conhecia a planta do local, então se posicionou no único caminho em que os visitantes indesejados se encontrariam para escapar.

 

Pelas descrições que a agente recebeu do rosto do Belikov, a morena havia ficado incrivelmente irritada. Mais do que isso, por um momento ela havia pensado em Dimitri, e Dominique, como filhos. Esse pensamento não era difícil, ela treinava e cuidava deles, participava das reuniões de pais e mestres e no último dia das mães, eles haviam lhe comprado um par de brincos. Carol estava envergonhada, pois Karen provavelmente havia entendido seu pensamento, então ela pensou em se explicar.

 

“Karen:” Ela chamou a loira mentalmente.

 

“Eu?” A horusiana respondeu sem muita empolgação, a situação do Flamejante havia desanimado um pouco a bondosa membra da Frente Unida.

 

“Sobre o que eu pensei…” Karen nem esperou ela terminar de falar, a interrompendo.

 

“Você não precisa me explicar, eu soube muito pouco da história deles…” A K-Max começou a falar. “Mas eles tiveram uma vida péssima até pouco tempo atrás, é importante que eles tenham quem goste deles….”

 

A agente deu um breve sorriso que não foi visto por ninguém. Nesse momento, as duas haviam feito a última curva. Dimitri sendo apoiado pela Maximus, e os outros três no encalço de Carol Trap.

 

De perto da janela que elas haviam entrado, um laser verde veio certeiro, se não fossem os reflexos da mais jovem, Dimitri teria sido atingido.

 

Rafael mostrava uma feição irritada e havia falado algo pelo comunicador em seu ouvido, Karen não conseguiu captar, mas Carol puxou a K-Max e Dimitri, a tempo de desviar de uma saraivada de tiros.

 

— Vocês não tem para onde correr! — Rafael avisou, se aproximando calmamente. Falando mais baixo, pelo comunicador, ele contatou Estela. — Fiquem a postos…



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Cidade do Corsário, 09/02/2018



Uma rajada de fogo passou a menos de um metro de Estela, a jovem neo-corrompida correu para trás de uma pilastra e apertou seu comunicador, tentando contatar Kátia como um reforço para a luta, o qual as duas operativas da mutagenic estavam em desvantagem.

 

— Onde ‘cê’ tá? — A loira perguntou, esperando a resposta, enquanto se encolheu devido ao calor de mais um ataque do Flamejante.

 

— Ocupada! — A resposta de Kátia foi curta, mas a loira entendeu que provavelmente havia um segundo foco de invasão.

 

No comunicador, Estela ativou o bio-localizador, funcionalidade que avisava para a empresa e para o líder da unidade das condições e localização do neo-corrompido, e esperou as ordens de Rafael.

 

— Como está o combate? — O líder perguntou baixo, seu tom de voz entregou que ele estava em combate, como a loira havia previsto que haveriam outras frentes de batalha. — Me dê detalhes!

 

A loira rodou o olho pelo andar, dentre fachos de água e rajadas de fogo, o décimo andar estava todo destruído. Dominique estava tentando avançar na direção dela, sendo detido pelo flúor emitido por ela constantemente. Elias e o Flamejante estavam focados em queimar o gás e tentar avançar, enquanto Guilherme e Clarice enfrentavam Juno, que vez ou outra atrapalhava os ataques dos pirocinéticos.

 

— O confronto está difícil, destruímos boa parte do andar… Precisamos reagrupar! —  A loira explicou um pouco da situação. — Dominique e Clarice estariam em desvantagem nessa luta se não fossem os outros dois, mas não conseguimos lidar com os outros quatro!

 

— Pare de reclamar, Ricardo e Kátia estão enfrentando o Temerário… Entretanto, você está certa, vamos reagrupar… —  O líder sussurrou algo para a meio-irmã, que confirmou baixo, chamando Juno logo depois. Pelo comunicador, elas ouviram Rafael responder algo aos invasores, pouco antes dele voltar a falar com Estela. — Fiquem a postos…

 

Quando ambas se encontravam lado a lado, o chão perto delas se quebrou, sem pensar as duas pularam, sendo amortecidas por uma camada de água controlada por Juno antes de tocarem o chão.

 

O líder apenas acenou com a cabeça para elas, apontando para Karen Maximus e Carol Trap logo à frente, defendendo os neo-corrompidos capturados pela unidade. Estela estalou o pescoço, pouco antes da loira avançar um burraco foi aberto no teto. O Flamejante foi o primeiro a pular, sendo seguido por Clarice, Guilherme e Elias.

 

— Rafael, Estela e Juno… Vocês estão do lado errado… — Clarice encarou Rafael suplicante. Rafael Braga era visto como o perfeito exemplo de neo-corrompido, por isso ganhou o sobrenome do criador do projeto. Em seu interior ele sabia dos defeitos e qualidades do CEO foragido, mas confiava nele plenamente.

 

Dominique estava preocupado com o irmão, então ignorou os três operativos e foi em direção ao grupo de Karen e Carol. As bochechas roxas e o olho inchado entregavam que o gêmeo mais novo havia sido espancado pelos captores. Nesse momento o Belikov sentiu todo seu corpo incendiar, não era uma fúria incontrolável como no acidente de Eustáquio, mas uma ira contida e direcionada para aquela maldita empresa e o CEO ganancioso e sádico que a controlava por baixo dos panos.

 

— Fica tranquilo Dimi, eu vou cuidar de você… — Ele falou entredentes, tendo apenas um grunhido como resposta, e o maior tentou sorrir para confortar o irmão. — Você foi muito bem, até vai ganhar uma cicatriz maneira pra provar que tem coragem, e agora vão conseguir diferenciar melhor nos dois…

 

Carol encarou os irmãos, ela sabia que de todos ali, Dominique era o mais afetado pelo estado do irmão, ela invejava a relação deles.

 

— Volta pra luta, eu cuido dele! — A agente murmurou para Domi, que confirmou com a cabeça. Ela se virou para Karen, quando o Flamejante deu as costas. — Marcos e Matheus ainda não subiram, avise os dois pelo link mental.

 

Karen confirmou com a cabeça e telepaticamente vasculhou o prédio, procurando os primos. Assim que encontrou a dupla quatro andares a baixo, linkou sua mente e a de Carol a deles.

 

“Marcos, Matheus...” Karen esperou a resposta.

 

“Que foi, pirralha?” O Caveira original perguntou.

 

“Podem subir, estamos reunidos e conseguimos resgatar todos…” A K-Max explicou para o ex-lutador.

 

“Certo, vamos chegar ai em uns dois minutos... “ O Fonseca foi interrompido por um baque e um arfar vindo de Matheus. “Eta porra, vou ter que desligar, câmbio!”

 

A horusiana soltou uma risada nasalada, sabendo que o confronto que ocorria no quinto andar devia estar complicada para a dupla de humanos.

 

“Mesmo com todo o treinamento, eles ainda são humanos…” Karen pensou, tendo esquecido que sua mente estava linkada a da agente.

 

“Sabe que a gente pode surpreender, né?” Carol retrucou, com um pequeno sorriso na face. “É nos momentos de maior provação que revelamos nosso potencial, eles vão dar um jeito… Eles tem que dar!”

 

Karen a encarou confiante, nesse momento ela se lembrou de um fato importante.

 

— E a informante? Uma de vocês não estava passando informação da mansão para a unidade neo-corrompida?

 

Luana, Pietro e Marco, que estavam calados até então, confirmaram com a cabeça.

 

— Não sabemos onde a Elisabete está… — Carlo falou baixo, como sempre, evitando ficar perto de todos por causa de sua pele radioativa.

 

— A última vez que a vimos, foi quando Anthony estava… espancando o Dimitri. — Luana contou, seus cabelos cacheados tampavam seu rosto, mas sua voz denunciava o choro.

 

— O Anthony está aqui? — Carol perguntou aflita.

 

— Não sabemos… Não o vimos depois que nos colocaram no quarto, não vimos ninguém na verdade… —  Pietro contou, confortando Luana que chorava copiosamente.

 

Um pouco a frente do grupo, Dominique encarava Rafael com uma expressão furiosa. O líder tentou mostrar calma, mas enquanto os outros dois não chegassem, ele não podia colocar seus planos em funcionamento, o Braga torcia para que eles conseguissem capturar ou incapacitar os Caveiras.

 

— Estou cansado disso, Anthony não vai parar e vocês não conseguem ver que estão do lado errado… Ele é mau e cruel e você é patético.

 

Rafael rangeu os dentes, os loiros estavam à sua frente, o começo dessa confusão. Ele deixaria Anthony orgulhoso e resolveria o problema, ali e agora. 

 

Dominique, Clarice, Guilherme e Elias estavam frente a frente com Rafael, Juno e Estela. Rapidamente o líder da unidade disparou lasers contra o quarteto inimigo. Clarice, prontamente, começou a juntar a água presente no ar para usar como escudo, mas Juno atrapalhou seus planos, dissipando o volume que estava se formando, começando uma guerra pelo controle das moléculas por parte das duas.

 

O Braga e o Flamejante se rodeavam sem desviar o olhar. Estela confrontava Elias e Guilherme que evitavam usar seus poderes. Eles estavam receosos que o gás da loira pudesse queimar, literalmente, suas tentativas de ataque. Rafael foi o primeiro a avançar, ele desferiu um shuto com sua mão esquerda em direção ao pescoço de Dominique. Quando o loiro percebeu o golpe de karatê vindo, armou sua guarda e posicionando o braço direito na frente do seu corpo, aparando o golpe de mão aberta. Novamente o Braga usou um shuto, golpeando com sua mão direita aberta, como se fosse uma espada, na direção do pescoço do Belikov.

 

— Ta achando que é o cavaleiro de capricórnio, ô filho da puta? — Dominique perguntou, se defendendo do golpe com sua canhota, levantando base com a perna direita e socando com sua mão destra, utilizando um uppercut, visando o queixo do operativo. Pouco antes de acertar o moreno o Belikov cercou seu punho de chamas. — Shoryuken, caralho!

 

Mesmo num embate com Clarice, a aquacinética aliada da Mutagenic estava de olho nas outras lutas, quando percebeu que o Belikov acertaria um soco flamejante no seu líder, englobou a mão do loiro com água retirada do ambiente. O que diminuiu o impacto do soco, fazendo com que Rafael ao ser acertado, conseguisse revidar com uma cotovelada no rosto.

 

A Garcés estava aprendendo muito sobre a versatilidade de seus poderes com Juno, ela atacava e dava suporte ao seu time com sua água, demonstrando que estava de olho em todo o combate e fazendo com que Clarice começasse a se atentar mais ao seu redor.

 

Estela correu tentando golpear Guilherme e Elias, a dupla apenas se esquivava desajeitadamente, por não possuírem nenhum tipo de treinamento. A aquacinética aliada dos Flamejantes, continuava medindo forças com a rival, mas tentando aplicar um pouco do que percebeu durante a luta, manipulou um feixe de água para se prender a perna da loira, quando ela tentou chutar Guilherme. Estela rapidamente expeliu flúor dos poros de sua perna, o ácido fluorídrico tocou o chão e uma leve corrosão pôde ser vista. A loira cambaleou um pouco, ajeitando novamente as bases para retornar ao ataque.

 

Assim que recuperou o equilíbrio, a operativa loira tentou avançar contra Elias com um soco cruzado, o jovem cobriu suas mãos com chamas verdes e tentou interceptar o golpe. Quando encontrou uma abertura, Guilherme entrou na frente do Martins que recuou com suas chamas. O Menezes preparou as mãos, concentrando uma carga elétrica e emitiu um brilho alaranjado pelo corpo, cegando sua oponente.

 

O corpo de Estela foi jogado alguns metros para trás pela descarga elétrica disparada por Guilherme, a loira ainda sentia seus músculos formigando quando se levantou. A loira passou a mão pelos olhos ao se levantar, eles estavam cerrados por causa do brilho causado pelo neo-corrompido.

 

— Eu sei que você adora lutar, mas não desiste não? — Guilherme perguntou mais confiante, Elias parou ao seu lado com flamas verdes nas mãos.

 

— Vamos com tudo! — O Martins exclamou. 

 

A proximidade deles causava certo contraste, visto que Elias era pálido e possuia traços europeus, já Guilherme tinha traços que evidenciam sua ascendência mexicana. 

 

— Desistir? Contra vocês? Seria uma vergonha! — A operativa montou guarda, afastando suas pernas e posicionando a esquerda na frente, preparando um chute.

 

Pouco antes da loira avançar, um barulho alto foi ouvido e Ricardo atravessou a parede que separava a ala dos quartos dos neo-corrompidos com o local em que os grupos se enfrentavam. Sua pele estava revestida por ferro e Kátia estava desmaiada em seu ombro.

 

Quando os membros restantes da unidade especial se reuniram, Rafael deu um leve sorriso de canto.

 

Levantou a mão na direção de Dominique, que havia se soltado de uma chave de braço do líder e gás argônio começou a contornar o loiro. A fumaça verde começou a tomar a forma de vários fachos de luz, prendendo o flamejante.

 

— Me solta, cuzão! — O Belikov xingou, pouco antes de Marcos e Matheus saírem do buraco ao qual Ricardo entrou. Mesmo com trajes de aramida, suas roupas estavam bem gastas, demonstrando que a luta deles havia sido dura.

 

— Se rendam, ou eu irei matar o Dominique! — Rafael blefou, fazendo com que os lasers se aproximassem mais do corpo do jovem herói.

 

— Não machuque ele… — Pediu Clarice, que ao se distrair teve seu corpo envolvo por gás de flúor, comandado por Estela, que aproveitou a distração para se afastar de seus oponentes.

 

O Temerário original queria avançar, mas era perigoso com dois deles reféns. O Fonseca sentiu sua mente ser invadida, mas não se incomodou dessa vez.

 

“Fala logo, pirralha!” O ex-lutador reclamou mentalmente.

 

“”Eu tenho um plano…” A Loira linkou a mente dos três com a de Elias. “Oi, eu sei que isso é estranho, mas estamos sem tempo, pode jogar uma rajada de fogo no Dominique?”

 

O jovem tentou esconder a expressão surpresa em sua face, mas confirmou com a cabeça. Ele se virou para o Flamejante e contou mentalmente. “3, 2, 1…”

 

Ao levantar a mão para soltar uma rajada de fogo verde, vindo da direção de Rafael que sorria, um laser acertou o abdômen do jovem neo. Guilherme que estava próximo, caiu no chão ao lado do meio-irmão.

 

— NÃO! — O Menezes observou o ferimendo, não havia sangue. O laser passou cauterizando o corte, em seu momento de distração o punho de Ricardo acertou o rosto de Guilherme que caiu ao lado de Elias.

 

O neo-corrompido metálico segurou a cabeça dele entre as mãos, levantando.

 

— Não entenderam ainda? Anthony nos deu permissão para matar…

 

Ricardo comprimiu um pouco a cabeça em seu punho, causando gritos de dor em sua vítima. Karen se levantou, mas foi contida por Carol Trap.

 

— Eles vão matar os quatro se fizermos algo… — A agente arqueou as sobrancelhas, e K-Max entendeu o sinal para linkar a mente de todos.

 

“Todos me ouvindo?” A Trap perguntou.

 

“Sim!” Marcos e Matheus responderam juntos.

 

Os quatro corrompidos que haviam sido resgatados confirmaram com a cabeça.

 

Clarice, receosa com o gás emitido por Estela respondeu. “Eu também…”

 

Dominique estava calado, quando seus irmãos foram feridos ele foi tomado por uma onda de ira, ele sentia como se fosse explodir. O loiro estava de olhos fechados e parecia ignorar os chamados mentais.

 

“É como se eu não conseguisse me conectar…” Karen começou a explicar, mas foi interrompida quando a temperatura da sala começou a aumentar. Parado em seu lugar, Dominique respirou fundo, abrindo os olhos.

 

Chamas surgiram em volta do neo-corrompido, seus olhos possuiam um brilho diferente, mas quando ele piscou o brilho sumiu. Várias torrentes de fogo começaram a tomar o local, O fogo rodava ao redor do Belikov, nesse momento ele já havia destruído os lasers de argônio de Rafael, que olha atônito para a cena.

 

Várias rajadas de fogo seguiram caminho até a unidade neo-corrompida de elite da MutaGenic. Rafael e Ricardo por estarem mais longe, não puderam ser protegidos pela barreira de água de Juno. As chamas de Dominique acertavam apenas seus inimigos, mas seus amigos sentiam o calor que elas produziam e encaravam assustados tudo aquilo.

 

O gás flúor não estava mais envolta de Clarice, pois sua usuária não podia manter o foco no momento, então a morena tentou canalizar água para trazer Guilherme e Elias para perto.

 

Ricardo se escondeu atrás de uma pilastra, então não conseguiu impedir que seus reféns fossem recuperados, acabando com a breve vantagem do grupo. Rafael estava furioso, sabia que Anthony iria punir sua unidade pela falha.

 

— Vocês não vão vencer! — O Braga gritou, tentando se concentrar, mas ele não conseguia juntar o gás por causa do calor. A água controlada por Juno estava evaporando, e as três membros da unidade estavam exaustas das batalhas.

 

Após manter o escudo por tanto tempo, a neo-corrompida caiu de joelhos.

 

— Me perdoe, Rafael, eu falhei! — Foi o que Juno falou ao se ajoelhar no chão.

 

Estela ainda estava em posição, ela morreria na luta. “Seja esperta, seja firme, sem misericórdia”, era o que ela ouviu de Anthony sua vida toda. Ela não largaria isso agora.

 

Num minuto, quando os reféns foram libertos, K-Max voou e se encontrava na frente da loira afiliada a MutaGenic.

 

— Eu achei que você fosse maior! — Estela comentou, se fazendo de forte perante a garota Maximus, o membro mais poderoso da Frente Unida.



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Cidade do Corsário, 09/02/2018



Elisabete Teixeira estava em seu “novo quarto”, seu quarto na antiga instalação era melhor.Além do fato dela ter seus meio-irmãos. O quarto que ela dividia com Clarice na Mansão Neide Fonseca também era mais confortável, era vivo. Aquela sala branca com uma cama e uma pequena cômoda para guardar roupas incomodava a loira.

 

Ela havia feito tudo aquilo por causa de Eustáquio, o neo-corrompido que havia falecido muitos anos atrás graças a Dimitri e Dominique… Era o que ela usava para se convencer, diminuir o peso da traíção.

 

Anthony também havia errado, errado muito. Inclusive no dia de hoje, as imagens da surra que o empresário deu no pirocinético não saiam da cabeça da Teixeira. Ela esperou uma justificativa, qualquer explicação para o comportamento, mas nada veio. Nem mesmo seus irmãos da unidade neo-corrompida haviam vindo visitá-la.

 

Agora lá estava ela, sozinha no meio de um ataque do Caveira em tentativa de resgate de seus irmãos.

 

‘Eu também quero ser resgatada’, pensou a loira inconformada. ‘Me levem com vocês!’

 

Quem confiaria nela agora? Ela sentia que se voltasse não teria mesmo um lar, mas ali ela também não tinha lugar…

 

Perdida em seus pensamentos, Elisabete ouviu uma porta abrir e bater no lado de fora de seu quarto.

 

‘São eles!’ Será que voltaram por mim?

 

A loira levantou num salto, e abriu a porta lentamente, pois sabia que estava acontecendo uma batalha. Entretanto, não encontrou nenhum dos seus meio-irmãos ali, apenas Pedro Casagrande andando de forma pomposa pelos corredores.

 

Aquela atitude atiçou a curiosidade da loira, que resolveu seguir o cientista. Eles andaram algumas alas, até chegar na sétima. Havia uma porta metálica com um sete vermelho pintado, o homem escaneou sua palma e retina nos leitores, sendo observado por Elisabete que estava na dobra do corredor.

 

— Identificação Número 002, Pedro Octávio Casagrande, Cientista responsável pela Ala Sete. — A voz robótica soou dos alto-falantes próximos.

 

O homem adentrou na sala rapidamente, Elisabete se esgueirou atrás dele. Ao cruzar a porta, a loira notou uma espécie de névoa cinzenta pelo local, dando um ar sinistro ao laboratório. Nas paredes haviam tubos e células conectadas a um tonel com um líquido preto que parecia nutrir todos os experimentos. Um forte cheiro de enxofre podia ser sentido no local, o que incomodava Elisabete.

 

A neo-corrompida conseguiu ver o homem mexendo no computador central, um dos tubos foi levado ao centro. Água preta cobria toda a extensão do objeto, mas em seu interior era possível ver uma forma humanóide.

 

O ser começou a bater no vidro, assustando Elisabete que soltou um pequeno gritinho.

 

— Oh, você está aqui minha jovem! — Por causa do barulho a jovem entregou sua localização ao Casagrande, que pareceu não se importar.

 

— Es-Estou! O que é isso?

 

O homem a encarou com um sorriso fino nos lábios, seus olhos tinham um brilho perverso.

 

— Esses são os soldados do futuro… — Ele explicou, abrindo os braços e apontando para toda a sala. O líquido escuro do tubo, começou a ser drenado, revelando a figura dentro dele. — São os meus neo-demônios e eu vou colocá-lo para caçar…

 

A jovem arfou, levando a mão aos lábios.

 

— Ele vai matá-los!

 

O cientista abriu mais o sorriso, tombou um pouco a cabeça de lado e abriu o tubo.

 

— Essa é a ideia! — Ao ouvir essas palavras, Elisabete correu. Logo atrás dela uma figura com cerca de um metro e noventa se alongava. A pele pálida e escamosa não eram nada humanas, mas sua face era muito parecida com a de uma pessoa normal. O neo-demônio encarou o cientista com seus olhos vermelhos e sem vida por breves instantes, antes de sua ordem. — Atrás dela, de todos eles!

 

Suas pernas eram de tamanho normal para seu corpo, mas seus braços eram mais alongados, dando a ele uma postura bípede. O ser era rápido, mas desajeitado. Pelos corredores brancos, Elisabete retornava pelos números que havia decorado, nesse momento estava na Ala Quatro, sendo que devia chegar rapidamente a Ala Dois.

 

Ao virar uma esquina, a abominação demoníaca quebrava pedaços da parede e do chão. A Teixeira tentava não olhar para trás, mas sentia que seu algoz estava cada vez mais próximo. A neo começou a expelir nitrogênio por seus poros, na tentativa de atrasar seu caçador.

 

Curiosa para saber se havia conseguido atrasar o neo-demônio, a loira se virou. Quando viu o monstro absorvendo seu gás, com uma espécie de guelra que ele possuía no pescoço, a Teixeira correu ainda mais. Estava cruzando a terceira ala, quando viu um burraco na parede que levava para a ala de número dois. A loira se jogou por ela sem pensar duas vezes, desviando de um golpe de garras do monstro na mesma hora.

 

Carol estava algemando os membros da unidade neo-corrompida quando Dimitri viu Elisabete se jogando pelo buraco aberto por Ricardo.

 

— Elisabete?! O que está fazendo aqui?

A loira estava afoita, se levantou e ficou próxima do grupo.

 

— Sem tempo para explicar! — Ela apontou para o buraco, de onde saiu o monstro criado pela mutagenic. — Casagrande o chamou de neo-demônio…

 

— Não parece muito simpático… — Matheus comentou, fazendo Marcos engasgar para segurar a risada.

 

— K-Max, você deve conseguir cuidar disso! — O ex-lutador falou para a antiga companheira de grupo.

 

— Por que sempre sobra pra mim?

 

Ao falar isso a loira flutuou na direção do monstro, que ficou parado encarando a horusiana com seus orbes vermelho sangue.

 

A heroína deu um soco poderosíssimo no demônio artificial, mas no momento em que o punho dela tocou no tronco do monstro, a musculatura dele se contraiu e absorveu o impacto. Um barulho semelhante a uma risada ou rosnado foi ouvido vindo do monstro, que preparou sua mão e num movimento acertou Karen jogando-a longe.

 

Marcos olhou surpreso a cena, colocando seu capacete novamente. O grupo invasor se posicionou, tendo os três adultos ficado na frente, Dominique e Dimitri logo atrás, juntos dos outros.

Karen se levantou, sua expressão demonstrava seu desagrado, com as costas da mão, a loira limpou o sangue da boca, avançando novamente na direção da criatura.

 

O monstro tentou dar um tapa, mas a K-Max desviou em pleno voo e direcionou um soco de esquerda na costela do monstro. Quando percebeu a musculatura se preparando, fez uma finta e acertou com o punho na cara do demônio que foi arremessado longe, quebrando algumas paredes.

 

— Carol e Matheus, levem os feridos até a nave da Karel! — Marcos exclamou para o primo e a agente. Matheus confirmou com a cabeça e pegou Elias cuidadosamente. Carol ajudou Guilherme a se levantar e ir para perto da janela. — Os outros neo devem ir também!

 

— Não, eu vou ficar! — Os gêmeos disseram juntos. Clarice ficou ao lado deles, assim como Elisabete. — Luana, Pietro e Carlo, vão!

 

Quando os oito chegaram, a nave quebrou algumas janelas e abriu a lateral para que pudessem entrar e ficar em segurança.

 

Dominique e Dimitri trocaram olhares com Carol e Matheus, acenando com a cabeça logo depois. A nave fechou a abertura e levantou voo novamente.

 

— Matar! — Foi a primeira palavra que a criatura proferiu, ainda nos escombros.

 

Marcos e Karen estavam lado a lado, surpresos com a situação.

 

— Faltam dois para completar o time… — A Maximus comentou, se lembrando de Tales e Jonas.

 

— Tem quatro aqui! — Dominique se posicionou ao lado da K-Max, junto de seus meio-irmãos.

 

Rafael estava atônito no chão, tanto que mal percebeu quando o combate começou. Dimitri começou a jogar pedras em chamas no monstro, enquanto Dominique estava voando com Karen pelo local, procurando a oportunidade perfeita de atacar.

 

Elisabete e Clarice estavam lado a lado, nenhuma delas conseguia falar algo, até a loira começar. Com lágrimas nos olhos, ela tentou se explicar.

 

— Eu sinto muito, eu sinto tanto… — Ela tentou entre soluços. — Eu estav furiosa, foi tudo pelo Eustáquio…

 

Clarice não sabia se batia ou abraçava na irmã, mas escolheu nenhum deles.

 

— Se recomponha, estamos lutando! Eu preciso que seja firme, preciso que engula o choro e ajude essa família. Você consegue?

 

A loira limpou as lágrimas, mas a resposta não saia por seus lábios.

 

— Você consegue? — Clarice repetiu mais alto, de forma impaciente.

 

A loira confirmou com a cabeça, foi quando a maior abriu um leve sorriso para a meio-irmã.

 

— Quando sairmos daqui eu vou te socar… — A morena alertou a irmã, juntando água do ar para tentar prender o demônio.

 

Elisabete soltou um fraco sorriso.

 

— Meu gás não funciona, aquelas guelras dele absorvem… — Ao ouvir isso, a Garcés arregalou os olhos.

 

— Maximus, conecte nossas mentes!

 

Sem hesitar ao pedido de Clarice, Karen linkou as mentes dos presentes n luta.

 

“A Elisabete disse que as guelras no pescoço dele absorvem alguns elementos… Pelo menos o nitrogênio dela…”

 

“Por que devemos confiar nela?” Dimitri perguntou irritado, fazendo com que a Teixeira se lembrasse novamente do que Anthony fez com ela.

 

— Dimitri, eu sei que não apaga o que eu fiz… Mas eu sinto muito, eu sinto tanto…”

O Belikov mais novo não soube o que fazer ou falar, apenas confirmou com a cabeça.

 

“Então, qual o plano?” Marcos perguntou. “Por mim batemos até ele não levantar mais…”

O ex-lutador deu uma idéia para Dominique.

 

“Podemos queimar ele, tudo pode ser incinerado…”

 

Enquanto o grupo conversava, o monstro rugiu pulando na direção de Karen e Dominique que estavam no ar. A horusiana precisou desviar rapidamente e para isso soltou o Belikov.

 

O loiro efetuou um rolamento ao chegar no chão, estando perto de Clarice e Elisabete.

 

— Podemos escaldar esse bicho feio! — A aquacinética concordou com a cabeça, tentando recolher ainda mais água. Não conseguiu juntar tantas quanto no telhado, mas havia uma boa quantidade também

 

Dimitri se aproximou do grupo, encarou Elisabete por alguns segundos antes de juntamente de seu gêmeo, soltar uma poderosa rajada de fogo na água. A massa de hidrogênio fervia e borbulhava, enquanto isso K-Max, Temerário e Elisabete distraíam o demônio artificial.

 

Marcos apenas desviava das investidas, Elisabete ocupava o demônio dando mais nitrogênio para ele absorver e Karen tentava usar a estratégia da finta mais uma vez. A loira avançou voando no monstro, que a surpreendeu desviando e pegando a heroína pelo pé. A Maximus foi arremessada contra uma parede, ao chocar contra o concreto arfou de dor.

 

Rapidamente K-Max voltou a luta. “Me falem que estão prontos!” A heroína perguntou aos neo-corrompidos.

 

— AGORA! — Os três gritaram juntos, fazendo com que o trio da distração se afastasse.

 

O neo-demônio não conseguiu desviar da massa de água fervente, pois Clarice abriu a bolha e o engoliu. Enquanto era queimado, o demônio urrava de dor. Estirado no chão ele parecia agonizar.

 

O grupo suspirou aliviado, se aproximando do derrotado.

 

O corpo do demônio estava carbonizado e nem se mexia. Marcos e Dominique comemoravam, enquanto Dimitri chegou mais perto. Nenhum movimento, mas ele sentia algo estranho.

 

— Não acharam fácil demais?

 

Karen o encarou irritada, apontando para si prórpia. Sua roupa suja e boca machucada mostravam o contrário.

 

— Fácil? Fácil? Pra quem?

 

Dominique riu virando as costas, seguindo para a janela onde a nave iria aparecer. Marcos e Karen o seguiram.

 

Dimitri havia acabado de se virar e começou a seguir na direção do grupo, Elisabete sentiu um calafrio e olhou para trás. O neo-demônio estava de pé novamente. Dimitri era o mais próximo e seria sua vítima, os pés da loira se mexeram sozinhos.

 

“Eu preciso que seja firme, preciso que engula o choro e ajude essa família. Você consegue?” A voz de Clarice surgiu em sua mente.

 

“Quando sairmos daqui eu vou te socar…”



“Por que devemos confiar nela?” Ela se lembrou do que Dimitri havia dito para ela poucos minutos atrás.

 

Ela havia conseguido alcançar Dimitri saltando sobre ele, a ideia era jogar o Belikov no chão, mas não deu tempo. Então a Teixeira saltou na frente. As garras do neo-demônio atravessaram o abdômen da neo-corrompida.

 

Dimitri estava atônito.

 

“Por que devemos confiar nela?” Foram as palavras que ele havia acabo de dizer para Elisabete, e ali estava ela sangrando em cima dele, havia tomado um golpe fatal no seu lugar.

 

— Nã-Não! — O Flamejante gritou, com a irmã em seus braços. Ele tentava estancar o sangue, mas havia visto vários órgãos perfurados.

 

O demônio estava preparando um segundo golpe, quando Karen Maximus percebeu o que havia acontecido. Não havia tempo para pensar, ela disparou na direção da monstruosa criação da MutaGenic.

 

Do buraco, Pedro Octávio encarava a cena maravilhado. Sua criação definitiva, os soldados do futuro. Ele ria como um maníaco da situação, enquanto Dimitri abraçava o corpo de Elisabete, pouco antes de Dominique e Clarice chegarem nos dois.

 

A unidade de neo-corrompidos estava chocada com tudo, uma das criações da empresa havia matado um deles, um dos neo. Rafael se sentia enganado e desiludido. Mesmo Estela estava chocada, os outros três membros apenas tentavam se arrastar até os quatro neo-corrompidos livres.

 

Com grande esforço, o grupo conseguiu aproveitar o momento e chegar a tempo de ver o último suspiro de Elisabete.

 

— Não… — A voz de Clarice falhou, lágrimas escorriam de seus olhos como uma cascata.

 

Os gêmeos encaravam a loira morta nos braços de Dimitri, quando Rafael se pronunciou.

 

— Deixem a gente ajudar… Estavamos errados…

 

Com chamas nos punhos Dominique avançou sobre o líder, sendo detido por Dimitri.

 

— Não vale a pena. — A voz saiu baixo, mas firme. — Eu vou soltar vocês, mas se nos traírem eu mato vocês! Eu juro!

 

Rafael confirmou com a cabeça, Dimitri esquentou a algema que prendia as mãos do Braga em suas costas. Clarice encarava o corpo da irmã. Inertes, caladas… não parecia Elisabete, não parecia com ela.

 

As duas tinham personalidades opostas, enquanto a morena era enérgica e ativa, a loira apenas reclamava e se isolava. Mas elas eram irmãs, cresceram juntas…

 

a Garcés levantou o rosto, a unidade neo-corrompida já havia sido solta por Dimitri, os gêmeos Belikov não sabiam bem o que fazer.

 

Karen e o Neo-Demônio trocavam socos, para deleite do cientista que podia ver as qualidades e defeitos da sua obra contra uma das heroínas mais poderosas da atualidade.

 

— Eu tenho um plano! — Rafael exclamou .— Sozinho o nitrogênio não é inflamável, mas o Trifluoreto de nitrogênio é um material perigoso… Ele não queima, mas ajuda a manter a queima de outros materiais inflamáveis.

 

— E como vamos conseguir isso? — Clarice perguntou.

 

— Com a ajuda da Elisabete… — O Braga olhou a meio-irmã pesaroso. — Ela já havia usado nitrogênio no neo-demônio, agora se a Estela usar o flúor dela… A substância vai ser criada dentro do corpo dele…

 

— E depois? — Dominique perguntou, as áreas de exata eram com ele. — A Kátia expele cloro, Juno e Clarice Hidrogênio… Eles reagem explosivamente juntos… 

 

Rafael confirmou com a cabeça, nesse momento os socos de Karen castigavam o monstro que se regenerava a cada golpe.

 

— K-Max, recue! — Dominique gritou para a amiga, que escutou e voltou voando rapidamente para perto do grupo. Inicialmente ela estranhou os membros da unidade ali, mas não questionou.

 

Estela deu alguns passos, o neo-demônio havia vindo rapidamente atrás de sua oponente, mas foi parado pela nuvem de gás da neo-corrompida. Ele tratou de absorver a nuvem, que logo foi substituída por uma outra feita de cloro, expelida por Kátia.

 

A aberração começou a urrar, parecia estar chegando ao seu limite, quando Kátia baixou as mãos, Juno e Clarice ergueram juntas as suas. O demônio artificial começou a se retorcer, Dominique e Dimitri substituíram a dupla anterior, fogo surgiu na palma de suas mãos e expandiu ao redor de ambos.

 

— Você matou a nossa irmã… — Dimitri falou baixo.

 

— Vai ser a sua primeira vez no inferno, né? Boa viagem! — Quando Dominique falou isso, os gêmeos movimentaram o fogo na direção da criatura, que tentou fugir para onde seu criador estava. O homem havia desaparecido, provavelmente não querendo ver a derrota de sua criação.

 

Uma explosão química aconteceu dentro do neo-demônio, as chamas dos gêmeos englobam o fogo, fazendo com que finalmente o corpo do demônio carbonize e se torne cinzas. Para não afetar seu grupo, os gêmeos controlaram as chamas e as comprimiram, não deixam vestígios da criatura para trás.



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Cidade do Corsário, 10/02/2018



Parados frente a um caixão estavam os participantes da missão de resgate. Enquanto ele descia, o padre falava palavras de consolo. Dominique não conseguia prestar atenção, lágrimas teimavam em cair de seus olhos, e o cheiro das flores o deixou enjoado. Dimitri estava olhando fixamente o nome e as datas na lápide que já estava preparada.



— Bem-aventurados os que choram, pois seram consolados! — Falou o padre, encerrando a pregação e fechando seu livro sagrado. — Um minuto de silêncio, em homenagem a Elisabete Teixeira, que faleceu jovem com tantas possibilidades à sua frente… Que deus conforte os familiares.

 

O homem se retirou, deixando apenas os neo-corrompidos e os membros da antiga Frente Unida. Os membros da antiga unidade de corrompidos da MutaGenic também acompanhavam o velório da irmã. Rafael se aproximou de Marcos e o cumprimentou com a cabeça, parou na frente dos gêmeos e estendeu a mão para Dimitri.

 

Antes que seu gêmeo pudesse aceitar, Dominique puxou o Braga para um abraço. Logo todos os meio-irmãos estavam abraçados também.

 

— A gente se vê! — Estela falou displicente, enquanto o antigo grupo se afastava aos poucos.

 

— Chamem se precisarem… — Ricardo falou para o grupo que estava ficando.

 

— Dizemos o mesmo! — Os gêmeos gritaram em resposta.

 

Tadeu apenas acenou com a cabeça, ele não acompanhou a confusão, mas estava seguindo sua equipe. Kátia e Juno acenavam em despedida, quando o grupo entrou no mesmo furgão que usaram para sequestrar seus irmãos.

 

Dominique encarava o horizonte, seus antigos inimigos agora eram aliados, sua família ficou menor e maior, mas eles deviam suportar. Clarice passou os braços pelo ombro do loiro, que encarava Dimitri. O Belikov mais novo agora possuía algumas pequenas cicatrizes no rosto e o nariz torno, ele estava se despedindo de Karen Maximus que também estava partindo.

 

A loira, antes de adentrar em sua nave se aproximou de Dominique que estava sozinho.

 

— Espero te ver de novo.. Em circunstâncias melhores agora.

 

O Belikov confirmou com a cabeça, quando a Maximus estendeu a mão para ele.

 

— Qual é, Karen… — O loiro tentou sorrir para a nova amiga. — Acha que vai escapar sem um abraço?

 

Dominique estava vendo a nave partir, um leve sorriso em seus lábios. Se a vida não iria ser fácil, ele não facilitaria. Marcos, Matheus, Carol e Elisa estavam esperando os neo-corrompidos. Vanessa que estava perto da mãe, correu até os gêmeos Belikov, pulando nos braços dos dois.

 

Marcos dirigia um carro com sua família, Matheus estava de moto e Carol levaria os neo-corrompidos de van para a mansão e assim eles finalmente iriam para casa. Com todos aqueles ali presentes, ambos sabiam que desde que conheceram Marcos, ate o dia de hoje e os próximos… Eles não estariam sozinhos.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, o próximo capítulo funciona como cena pós-crédito.



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