Até a lua escrita por Kacchako Project


Capítulo 1
Capítulo Único




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Era quase meia-noite quando Katsuki dirigiu-se à Hatotsuri, a grande árvore que ficava no centro do bosque e à leste do condado em que moravam, para encontrar Ochako às escondidas. Suas mães jamais os deixariam sair tão tarde, afinal, a floresta oferecia muitos perigos a polegares adolescentes que mal sabiam se defender, segundo as mais velhas, tudo era imenso e arriscado demais para seres de cinco centímetros de altura; mesmo assim, eles combinaram o encontro. Pois Katsuki não tinha medo de nada, e Ochako amava uma aventura sob a luz do luar.

Além disso, Bakugou estava ansioso para mostrar sua mais nova invenção, na qual dedicava-se há semanas, à melhor amiga. Uma engenhoca construída especialmente para impressioná-la e para que ela pudesse tirar os pés do chão. Porém, a polegar estava cerca de quarenta e sete minutos e cinquenta e quatro segundos atrasada. Normalmente, os atrasos não eram motivos de preocupação e nervosismo, porque Ochako era desatenta e parecia viver no mundo da Lua, mas, dessa vez, Katsuki estava começando a ficar extremamente irritado, pois sabia exatamente qual era o motivo de tanta demora: o maldito casarão.

Desde que o lugar, outrora abandonado, passou a ser habitado por humanos esquisitos de cabelos verdes, Katsuki havia perdido a melhor amiga para essa terrível novidade. Não sabia o que tinha de tão interessante em seres grandes e desajeitados, contudo, Ochako parecia realmente fascinada, visto que quase todos os dias pegava sua pequena jangada, remava riacho acima e ficava o dia inteiro ou parte da noite no casarão. Quando voltava, passava horas tagarelando sobre os humanos, sobre todas as particularidades daquele mundo estranho e colossal. Bakugou até ameaçou dedurá-la aos pais, só que, ao primeiro sinal de mágoa e olhos marejados vindos dela, desistiu e acabou decidindo que seria melhor tentar reconquistar sua atenção ao invés de deixá-la ressentida e perder a amizade.

E Katsuki faria tudo que estivesse ao seu alcance para reconquistá-la e protegê-la. Ochako era sua amiga há mais tempo do que conseguia se lembrar; era sua companheira de aventuras, era pra lá de divertida, confiável e, mesmo que nunca admitisse em voz alta, muito fofa. Podia afirmar que absolutamente todo condado gostava da pequena polegar, assim como o consideravam explosivo e, ultimamente, estressado demais.  Mas como ter paz se ela passava mais tempo com os humanos estranhos do que com seus iguais? Bakugou tinha dúvidas se os habitantes do casarão eram tão gentis quanto dizia. E se eles acidentalmente a esmagassem com aquelas mãos e pés gigantes? E se a sequestrassem? E se a machucassem? Não! Não podia deixar que nada disso acontecesse com ela.

Por isso queria tanto impressioná-la esta noite. Tinha esperança de que, desse modo, Ochako voltasse a passar mais tempo no condado e longe dos idiotas esverdeados. Só que, para isso, era necessário que ela viesse ao seu encontro e visse sua invenção; porém, a cada minuto que se passava a fé de Katsuki que a polegar apareceria ia se esvaindo… Droga! Tanto esforço pra nada! E logo hoje que a Lua estava cheia e o céu estava limpo, exatamente como ela gostava. Malditos humanos! Se ele esbarrasse com algum desses bocós seria capaz de...

— D-desculpe o… O a-atraso... — Ochako o surpreendeu, ofegante. — É que… Eu tava no casarão, mas… Mas tive que...

— Tsk… Não preciso das suas desculpas! — retrucou, cruzando os braços, ignorando a cara redonda e completamente vermelha de Ochako. — Só respira, Bochechas!

— Tá… Só um minutinho… — E se jogou na relva grande e macia.

Katsuki revirou os olhos com a cena. Mais uma vez, não pôde deixar de pensar que se ela passasse mais tempo com polegares não precisaria se descabelar tanto, tampouco teria tanta dificuldade em comparecer em um encontro tão simples. Mas nãooooo... Preferia perder tempo com aquele inútil de cabelo verde, que mais parecia musgo de árvore ambulante. Bufou, irritado. Bom… Pelo menos Ochako estava ali, e a noite estava fresca. Uma brisa leve soprava sobre eles e balançava as folhas das árvores; mas nada que atrapalhasse seus planos.

Enquanto ela descansava e resmungava algo sobre seu dia, Katsuki foi checar a engenhoca que estava escondida perto das raízes da Hatotsuri. Parecia estar tudo certo. O ar quente, que saía de uma pequena lamparina suspensa e bem amarrada no meio do aro, já havia expandido todo o envelope de seda colorido. Tinha certeza que assim que soltasse as cordas eles flutuariam; não havia testado ainda, porém a convicção de que funcionaria era inabalável. Chegou mais perto para conferir o cesto: cola de teia de aranha era realmente a melhor do mundo! O cesto ficou tão firme que estava até tendo dificuldades de abrir a pequena porta que fizera. Cacete, deveria ter usado um pouco menos.

— Oe, Kacchan, me deixou falando sozinha! — Ochako reclamou, indo atrás do barulho que o amigo fazia. — Você devia ter me chamado… O que é isso?! É um balão?!

— Tsk… Prefiro chamar de Nekkikyu — respondeu, finalmente abrindo a porta do cesto.

— É um balão, sim! Igual dos humanos! — constatou, dando pulinhos de alegria. — Mas como? Quando você fez isso? — perguntou, sinceramente curiosa e encantada.

— Com as mãos, Bochechas. — Não perderia tempo explicando que fizera o balão enquanto ela sumia durante o dia.

— É incrível! — disse, fascinada, ignorando completamente o tom ranzinza da resposta e aproximando-se da façanha do amigo. — Nós podemos voar?!

— Tsk… Que pergunta mais idiota! — Katsuki revirou os olhos indignado, os humanos definitivamente não estavam fazendo bem à Ochako. — Claro que podemos voar, cacete!

— Mas isso é seguro? — questionou, pela primeira vez, apreensiva.

— Se não quer voar é só voltar para casa, Bochechas — falou sem paciência. Desde quando Ochako ficava receosa com alguma de suas invenções?

— Oe, Kacchan, não precisa ficar chateado — comentou ao perceber a carranca mais fechada do que o normal. — Eu só disse isso porque não…

— Corta o papo furado, Ochako — interrompeu-a, descortês. — Você vem ou não vem?

Uraraka parecia hesitante, como se o pequeno balão de ar quente fosse explodir a qualquer momento. Maldição! As coisas estavam mesmo estranhas; mas Katsuki tinha certeza de que se fosse o nerd maldito do casarão a convidando, ela iria sem pensar duas vezes. Droga! O que tinha feito para ser alvo de tanta desconfiança? Encostou-se na extremidade oposta a porta enquanto esperava a decisão.

— Eu não tenho a noite toda, Bochechas! — Insistiu, aborrecido com a demora.

— Não seja tão chato, Katsuki. É claro que eu vou! — falou, decidida, entrando logo em seguida no balão.    

Ele não pôde evitar o sorriso singelo e satisfeito que estampou no rosto. Assim que a polegar entrou, Katsuki fechou a porta do cesto, colocou um pouco mais de azeite na pequena lamparina e soltou as cordas que os prendiam à superfície do bosque. Quando finalmente começaram a flutuar, Ochako agarrou-se no braço de Bakugou, pois, apesar de gostar de aventurar-se, ela, como a maioria dos polegares, tinha um pouquinho de medo de altura. Até Katsuki, que se considerava super corajoso, estava com um frio na barriga. Por isso, não zombou da cara redonda e apavorada que Uraraka fazia.

— Se eu morrer, diz pros meus pais que amo eles, tá?! — Ochako instruiu, e ele apenas revirou os olhos.

— Não vamos cair, Bochechas — afirmou, sentido o aperto do braço aumentar. — Talvez pegue fogo...

— O QUÊ?! COMO ASSIM PEGAR FOGO?! KATSUKI, EU QUERO DESCER AGORA! — gritou, pressionando-o ainda mais.

— CACETE, OCHAKO, TÁ MACHUCANDO MEU BRAÇO! — gritou de volta, soltando-se bruscamente do aperto e chacoalhando o cesto indevidamente.

O movimento assustador e inesperado fez com que Ochako o agarrasse ainda mais forte, quase como se quisesse se esconder nos braços de Katsuki; o que, instantaneamente, fez com que o estômago dele revirasse. Não estava acostumado com tanta proximidade, sequer sabia  onde colocar as malditas mãos. Será que deveria  abraçá-la de volta? Ou era melhor não fazer nada? Cacete, Ochako devia estar com medo de verdade. Suspirou, irritado consigo mesmo. Não devia ter brincado com o lance de pegar fogo. Era um idiota! Desse jeito ela nunca mais iria querer voar ou fazer qualquer outra coisa com ele. Merda, tinha que resolver isso já!

— Relaxa, Bochechas — disse, dando pequenos tapinhas na cabeça dela na tentativa de acalmá-la. — Eu passei resina antifogo da Dª Mitsuki no balão inteiro. Não vamos pegar fogo.

— Essa brincadeira não foi legal, Kacchan — revelou o óbvio, ainda descontente, mas sem soltá-lo.

— Tsk, foi mal! — Desculpou-se, sentindo uma coceira esquisita na nuca. — Mas, se não me soltar, vai perder a vista.

Relutante, porém mais tranquila, Ochako desvinculou-se lentamente do amigo. Já haviam subido mais da metade da Hatotsuri, faltavam alguns metros para alcançarem a copa da árvore, o objetivo de Katsuki. Mesmo assim, a vista não podia ser classificada de outra maneira senão: magnífica! Podiam ver amplamente o bosque, se olhassem para a direita poderiam ver a entrada secreta do condado, bem como o riacho que cortava toda a área e estendia-se até o casarão, que, por sua vez, ficava ao sul da grande árvore. Essa era facilmente a visão mais extraordinária que os pequenos polegares já haviam contemplado.

— Uau! Isso é… INCRÍVEL! — Ela exclamou, maravilhada, com uma das mãos na borda do cesto e a outra ainda segurando o braço de Bakugou. — Dá pra ver o todo o jardim do Deku! As flores são tão lindas vistas de cima!

— Tsk… É, dá pra ver tudo — concordou, sem muito entusiasmo. Por que diabos Ochako tinha que citar o humano maldito?

— Nós podíamos ir juntos no jardim do casarão — sugeriu, espiando a reação do polegar ao seu lado. — Claro, se você quiser…

Katsuki topava fazer todas as doideiras que Ochako insinuava, entretanto, passear no jardim daquele casarão detestável, correndo o risco de dar de cara com o Nerd Cabelo de Musgo e ver sua amiga cheia de intimidade com o idiota altão, estava completamente fora de cogitação. Não! Mil vezes não!

— Não vai rolar, Bochechas, sou alérgico a pólen.

— Desde quando, Kacchan? — perguntou, arqueando uma das sobrancelhas e cruzando os braços, finalmente o soltando.

— Desde hoje de manhã... Atchim. — Espirrou da maneira mais fajuta possível.

— Se não quer ir, é só dizer. — Ochako repetiu as palavras que ouvira mais cedo e deu as costas para ele, debruçando-se no balão como se o medo houvesse repentinamente evaporado. — Lá tem uma planta que come insetos, achei que fosse gostar.

Katsuki não gostava nem um pouco da ideia, mas se tinha uma planta tão legal naquela porcaria de jardim, e já que ela insistia...

— Talvez eu não seja alérgico à essa planta.

Ochako sorriu satisfeita, começando a tagarelar sobre como o jardim do casarão estava lindo nesta primavera, com várias espécies de flores desabrochando, e sobre como os raios solares matinais pareciam cantar junto com os passarinhos todos os dias. Era uma falação sem fim, porém ele não podia dizer que não estava gostando. Na verdade, sentia falta dessa energia toda no seu dia a dia. É… Talvez não fosse uma má ideia passar algum tempo com ela no casarão maldito; quem sabe até poderia lhe abrir os olhos e mostrar o quão ridículo o Nerd Cabelo de Musgo era.

— Mas eu queria mesmo era saber como é a primavera em Júpiter e Marte… — confessou, desejosa.

— Mas que merda é “Júpiter e Marte”, Bochechas?

— Oh! — exclamou, como se estivesse lembrado com quem estava conversando. Fato que deixou Bakugou um pouquinho irritado. — O Deku me contou que existem outros planetas e que todos eles giram em torno do Sol. Não é fascinante?!

— É… É fascinante — respondeu ao notar um brilho estelar nos olhos da pequena polegar. Talvez fosse melhor não ficar encarando, portanto desviou o olhar.

— O Deku disse também que Júpiter é o maior planeta de todos que giram em torno do sol, e que Marte é conhecido como o planeta vermelho. Acho que a primavera por lá não deve ser muito emocionante.

Ela riu do próprio comentário e o coração de Bakugou falhou uma batida. Cacete! Desde quando a risada de Ochako era tão musical? Em frações de segundos um simples riso havia se transformado em uma canção, ainda a melhor que ele já ouvira! E Katsuki não era fã de melodias, principalmente das grudentas que tocavam nos festivais sazonais dos polegares, mas diante daquela risada doce e musical passou a querer nunca mais parar de ouvi-la.

O que diabos estava acontecendo com ele?

Será que as insinuações amorosas da sua velha estavam corretas?

Não! Definitivamente, não podia ser isso!

— E em Júpiter… Como você acha que é a primavera lá? — Katsuki perguntou, dando corda para um dos assuntos favoritos de Ochako: o céu e todas as infinitudes que não podiam ver.  

— Hum…?! — resmungou, surpresa com a pergunta, pois normalmente o amigo não tinha muita paciência para seus devaneios. — Acho que deve ser brilhante e, mesmo sendo um planeta enorme, acho que tem flores tão pequenas quanto meu dedo mindinho. E todas as flores devem ter um cheiro doce como mel…

Ao mesmo tempo em que a ouvia divagar sobre a primavera extraterrestre, Bakugou percebeu que haviam alcançado a copa da Hatotsuri. Estava na hora de amarrar o balão à árvore. Pegou a corda, localizada em um dos cantos do cesto, fez um laço e, habilmente, lançou a corda em um dos galhos expostos da grande árvore. Pronto, estavam no ponto mais alto do bosque e não iam além disso.

— Ah, Kacchan! — Ochako reclamou, depois de observar toda cena. — Achei que voaríamos até a lua.

— Tsk… — Revirou os olhos e relaxou os ombros. — Não seja tonta, Bochechas. Não temos estrutura pra isso.

— Então, na próxima vez, estruture melhor! — Concluiu imperativa, logo voltando sua atenção à lua.

— Tá, tá — concordou, chegando mais perto da borda em que ela estava e começou a olhar a lua também. 

Seu plano, aparentemente, dera certo. Katsuki não podia estar se sentindo mais satisfeito. Ochako voaria outras vezes com ele! Toma essa, Nerd Cabelo de Musgo! Voariam juntos novamente e sabe se lá quantas vezes mais! Podia não parecer, mas essa pequena vitória era um passo maior do que seus  pés de polegar poderia dar.

— É linda, né? — Teve sua comemoração interna interrompida ao ouvir a voz apaixonada de Ochako ao admirar o astro que reinava à noite. Fitava a Lua deslumbrada, mas o que Katsuki de fato venerava e adorava naquele exato momento era a pequena polegar. Sem dúvidas, ela reluzia mais do que a própria lua.  — Deku me falou que alguns humanos foram à Lua em um foguete super rápido. Acha que consegue construir um, Kacchan?

— Claro — retrucou rapidamente, disfarçando o olhar fixado nela. — Eu posso construir qualquer coisa, Bochechas.

Não sabia de onde vinha tanta convicção para executar um projeto tão ambicioso. Sendo bem sincero, só falara aquilo porque, em primeiro lugar, estava se sentindo um vencedor por seu plano ter dado certo; depois porque, evidentemente, queria afastá-la do nerd do casarão a qualquer custo; e, por último, porque queria vê-la sorrindo sempre. Contudo, sentiu-se ainda mais entusiasmado quando Ochako aconchegou a cabeça em seu ombro e  delicadamente pediu:

— Então me leve para a  Lua, Kacchan.

Estava decidido! 

Arquitetaria uma máquina mais rápida que esse tal foguete, iriam à Lua, a Júpiter, a Marte e até ao raio que o parta se ela quisesse. Seriam os polegares mais famosos do mundo e  permaneceriam juntos durante toda jornada épica. E a única razão de tanto esforço era porque ele faria tudo por Ochako.

Em outras palavras, Katsuki simplesmente amava a pequena polegar. 

 


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Notas finais do capítulo

*Hatotsuri - Árvore coração.
*Nekkikyu - Balão de ar quente.

ᘛEntão, o que acharam?

ᘛEssa fanfic foi escrita para o Desafio Song-fic do @Kacchakopjct. Eu escolhi a música ‘Fly me to the moon’, do Frank Sinatra; amo músicas antigas e essa letra é simplesmente apaixonante. Acho que a música tem tudo a ver com a Ochako, e com um Katsuki possivelmente apaixonado. Espero que tenham gostado! ♥

ᘛAgradeciementos especiais à @teiwaz pela betagem e @tracyz pela capa! ♥

ᘛE muitíssimo obrigada por ler! ♥