A Caminho das Estrelas escrita por Letícia Andrioli


Capítulo 4
Capítulo 3




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Fazia uma semana que Jonas tinha partido. Quase todas as noites eu rezava para que tudo ocorresse bem e Jonas voltasse sem nenhum arranhão. Nos dias que ele está longe eu mal consigo dormir por causa dos pesadelos e da ansiedade. Me sinto mais desgastada, como se ficar longe de Jonas fosse minha Kryptonita. Eu sei que muitas pessoas do acampamento acham essa minha necessidade de ter o Jonas sempre por perto e ileso uma bobagem, como se eu o sufocasse, mas para alguém que perdeu tudo não é pecado querer que sua única família, a única pessoa que sobrou da sua antiga vida, bem.

Hoje amanheceu um dia fresco, estava perfeito para colocar o plano de caçada no sul em ação. Foi feito racionamento de proteína para que nosso estoque de carne durasse mais, porém só prolongou por mais um ou dois dias o inevitável. A única coisa que amenizava a situação era uma pequena criação de galinha em nosso terreno mas não era grande o suficiente para sustentar todo mundo. O galinheiro é o princípio de um projeto do senhor K para criação do nosso próprio alimento, dessa forma não precisaríamos mais colocar vidas em perigos para caçar animais. 

A caminhada até nosso objetivo seria longa por isso optei por não levar muita coisa na mochila, carregar muito peso apenas me cansaria mais rápido. Minha pequena mochila tinha alguns lanche, garrafa de água e algumas tralha a mais que poderia ser útil. Por ser distante do nosso acampamento era bom estar precavida. Se corresse tudo bem voltariam ainda hoje, se não poderíamos ter que passar a noite em algum lugar. Por esse motivo cada um de nós está carregando um colchonete, as barracas estavam fora de questão só serviria para atrapalhar.

Além de mim iria mais três pessoas incluindo o Kevin. Jules e Miles tinham 16 e 17 anos respectivamente, foram escolhidos por serem um dos mais experientes e saberem um pouco de autodefesa. Não queríamos arriscar levar pessoas leiga, por esse mesmo motivo também decidimos levar um grupo pequeno de pessoas para avaliar a área, ver se havia perigo e se havia animais de fato. 

Seria um longo dia. Iremos percorrer uma distância de aproximadamente  20 quilômetros. Estávamos fazendo os últimos preparativos. Eu optei por roupas leves, uma calça de moletom justa preta e uma regata da mesma cor. Para evitar escoriações dos galhos coloquei um moletom que deixei o zíper aberto na frente. Cabelo foi preso em um rabo de cavalo apertado. 

— A donzela está pronta? - Uma sombra paira sobre mim tampando a luz. 

Estava terminando de posicionar meu arco na mochila e já partia para colocar minha faca no meu cinto. Levantei, dei um aperto no meu cabelo e foquei no rosto de Kevin forçando um sorriso - Prontíssima, e o resto? - Procurei Jules e Miles.

— Também estão. Vamos indo, não quero perder mais tempo - virou as costas e partiu para onde estavam reunidos. Bufei. Coloquei a mochila nas costa e o segui.

Senhor K estava lá também pregando seus últimos avisos - Qualquer sinal de perigo vocês voltam, não tente enfrentar nenhum deles, se o virem apenas corram e se escondam. - Falou olhando para cada um de nós. - Apenas visualizem a área, não se sobrecarregue caso achem animais. Quando voltarem criaremos um plano para trazer mais carne, nesse primeiro momento tentem focar nos animais menores, menos peso. - Olhou lentamente para mim, para Kevin, Jules e depois Miles - Boa sorte, pessoal. 

Meu coração estava acelerado, ansiedade. Eu não estava preocupada comigo e sim com Jules e Miles, talvez até Kevin e no que poderíamos encontrar. E principalmente, estava preocupada de não encontrar nada, de não ter sucesso essa ida.

Olhei uma ultima vez para o acampamento quando passei pelo portão. Senhor K continuava parado na mesma posição, olhos focados na gente. Um olhar de preocupação. Deu um breve aceno para mim. Então voltei o rosto para frente e suspirei.

Longo caminho

                                         ***

Já tínhamos percorrido quase a metade, tudo em silêncio. Era fácil se perder naquela floresta e de se machucar. Não havia uma trilha, era tudo cheio de mato, troncos e galhos pelo caminho. Tudo em volta era igual. Se não tivesse uma bússola seria difícil encontrar o caminho de volta. 

Apesar do sol quente, no meio das copas da árvore era frio e úmido. Foi uma boa ideia vestir um casaco. 

Única coisa que encontramos até agora foram mosquitos, principalmente pernilongos. Eles se infiltram pela roupa e sugam o sangue. Nessas horas que sinto falta da comodidades de antes, um repelente teria resolvido. 

O silêncio foi quebrado por um cantarolar. Era Jules cantando sei lá o que. Revirei os olhos. Pelo amor de Deus. Antes de eu sequer pensar em dizer algo Kevin foi mais rápido. - Cala boca, ninguém te ensinou que não devemos fazer barulho? - revirou os olhos espantando mosquitos do seu rosto. - Se as coisas nos encontrar por causa dessa música ridícula eu te juro que jogo você para eles. - Kevin como sempre, doce como um limão.

Jules apenas olhou para o chão com as bochechas já avermelhadas e sussurrou - me desculpe - foi tão baixo que por um momento achei que ela não tinha falado nada. Miles soltou um riso fraco e balançou a cabeça.

Jules era uma menina pequena e magra. Tinha cabelos ondulados de um tom castanho claro. Os olhos, da mesma cor que o cabelo, eram arredondados e grandes acompanhado de um rosto redondo e um nariz arrebitado. Ela não conversava com quase ninguém além de um garoto mais novo chamado Owen, provavelmente muito tímida.

 Já Miles tinha uma estatura mediana, era ruivo e cheio de sardas pelo rosto. Os cabelos normalmente escondido por um boné. Não o conheço muito, apenas de vista.

É difícil não olhar para os dois e não ver o que perderam. Eles perderam tudo. São jovens demais para esse tipo de responsabilidade. Deveriam estar com os pais, jogando video games, indo escondido em festas, namorando. O mundo é tão injusto. São momentos que nunca vão ter a oportunidade de apreciar.

Já tínhamos percorrido uns 12 quilômetros. O clima começou a esfriar com a proximidade do fim da tarde. Depois do acontecimento com Jules não tínhamos falado mais nada durante o resto do caminho. Único barulho presente era o cantarolar do vento passando pelas folhagens. Nada de pássaros ainda e nem animais.

Jules tremia, tinha vindo apenas com uma camisa fina de manga comprida que possuia diversos furos. Afastei os pensamento que vieram em minha mente. Droga. Se não ela, eu vou passar frio. Qual é Ginger, não é hora de ser legal. Eu e meu coração mole.

Merda

— Pega o casaco, Jules - Falei tirando meu casaco e estendendo em sua direção.

Ela levantou um olhar assustado em minha direção - Nã..o preci..sa - falou gaguejando por causa do frio ou timidez. Vai saber.

— Pega logo essa merda - chacoalhei a mão com o casaco.

—  Eu… - foi interrompida por Kevin.

— Salve saliva, pirralha e você Ginger - Olhou para mim - Vista esse casaco, está praticamente pelada por baixo. - Retirou o casaco que possuía e estendeu para Jules - Pegue o meu, eu tenho outro por baixo. 

Jules aceitou da mão dele e vestiu. Nem pensou em recusar, provavelmente com medo do que aconteceria se dissesse não para o Kevin.

Estava vestindo novamente meu casaco quando escutei um barulho. Um galho quebrando seguido de vozes. Vozes as quais falava um idioma que eu não conseguia entender. 

Olhei rapidamente para o Kevin, sussurramos ao mesmo tempo - As coisas.

Droga.

Agachei e fiz sinal com o braço para os outros baixarem também - se escondam - sussurrei.

Jules e Miles foram se esconder e eu aproveitei para tentar chegar mais perto do barulho para ver o que eles estavam fazendo. Me escondi atrás de uma árvore e os achei.  

 Haviam três deles, eles usavam aqueles tipo de roupa parecido com a de mergulho. Havia um cinto na cintura os quais carregam objetos que eu nunca vi, provavelmente armas.

Única pele que eu via era a do rosto. Era extremamente branca e nos olhos havia um tipo de óculos. Eram escuros completamente fechado ao redor dos olhos. Estava curiosa para descobrir se a cor dos olhos dele é tão negra quanto dizem. Haviam boatos que de noite as coisa viam tão bem quanto nós de dia, porém na claridade eles tinham problemas em focar a visão. Provavelmente aqueles óculos serviam para facilitar a visão diurna.  

Eles tinham cabelos loiros quase branco, estavam rente a cabeça como se tivessem passado algum tipo de gel. Eles eram...estranhos.

Senti um hálito na minha nuca, não precisava virar para saber que o único que poderia ser era o Kevin. Ninguém nunca falou sobre espaço pessoal para ele pelo jeito. Se espremeu em minhas costas tentando enxergar também. Seja o que ele pensou vendo eles não compartilhou comigo. Kevin já tinha se deparado uma vez com as coisas. Quando mataram seus pais dentro de sua própria casa. Imagino o quão deve doer ter uma visão deles ali. O gosto amargo na boca. A vontade de fazê-los pagar. Vingança.

As coisa falavam em um idioma muito estranho. Falavam tão rápido que nem parecia palavras, parecia um tipo de canto. Todo mundo sabia que eles tinham um dispositivo que traduzia tudo o que eles falavam para o idioma que quisessem, além de conseguirem entender qualquer idioma. Mataria por um desses agora só para saber o que aquelas bestas sanguinária estão fofocando. 

Um grito soou na floresta chamando a atenção deles. O grito de Jules. Mal olhei para o Kevin antes de ir em direção ao barulho sabia que ele me seguiria. 

 Não muito distante dali encontramos a origem, me escondi entre a vegetação. Jules e Miles tinham sido encontrados. Eles estavam em uma pequena clareira. Haviam dois com eles mas segundos depois chegou os outros três. Um deles estava segurando Jules e um outro tentava chegar em Miles, o qual apontava uma faca e gritava para a coisa ficar longe. 

Ele não obedeceu e continuou se aproximando de Miles - Adoro presas frágeis - não teve muito esforço para desarmar Miles e o agarrar. Ele segurou o braço tão forte que Miles gritou de dor - Humanos inúteis, só sabem choramingar.

Kevin levantou e fez menção de ir ajudar. Ele era louco? Iam matar todos nós, por mais que eu quisesse matar cada um deles eu sabia quais batalhas lutar. Ia ser suicideo. Tínhamos que pelo menos tentar criar alguma estratégia. O puxei para impedir que ele fizesse merda porém não calculei minha força e o derrubei criando um barulho e chamando atenção dos inimigos. Agora ferrou.

 Eles olharam rapidamente para o barulho nos avistando. O que estava segurando Miles gritou alguma coisa no idioma deles para outros três que estavam lá. E eles começaram a avançar. Um deles puxou um tipo de arma na mão.

Kevin puxou o arco das costas, montou uma flecha e apontou para o que estava segurando Miles. Provavelmente ajudando Miles a fugir. Disparou diretamente no ombro da coisa para não correr o risco de acertar o menino sem querer, porém algo chocante aconteceu a flecha apenas bateu e caiu. Nem um arranhão, foi como atingir uma parede.

— Que porr… - Não esperei ele terminar antes de puxá-lo e correr. 

Não teríamos chance. Eles eram feito de aço? Nunca vi nada parecido, nem tinha ouvido ninguém falar sobre isso. Como vencemos eles se não conseguirmos matar eles. Estamos lutando por algo fadado ao fracasso. Era inútil. 

Estávamos correndo em direções aleatórias tentando despistar eles e achar um lugar para nos esconder. Os galhos arranhava nossos braços, a falta de estabilidade no chão dificultava nossa corrida. Eram tantas elevações e descidas que podíamos muito bem cair. 

Eu não era muito fã de corrida. Meus pulmão já estava entrando em colapso, meus joelhos já estavam instáveis. Não duraria muito. Kevin me puxou em direção de uma árvore quase morta. Havia tipo um buraco em seu tronco. Se nos espremesse caberia os dois. Eu entrei e depois o Kevin. Nos dois estavam completamente ofegante, eu sentia o coração de Kevin batendo descontrolado. Precisamos diminuir o barulho. Tentei me acalmar minha respiração e coração.

O lugar era tão apertado que o corpo de Kevin pressionava o meu. Estávamos cara cara. O rosto dele desviou para o meu pescoço, o hálito fazendo cócegas  na minha bochecha.

— Se eu fosse você tiraria essa mão da minha bunda, por que eu vou arrancá la - sussurrei a ameaça.

— Ah me desculpa, a donzela não gostou da acomodação?. - ironizou. Revirei os olhos. 

Depois de alguns minutos escutamos passos e depois vozes. - Vocês podem aparecer - Cantarolou no nosso idioma dessa vez. - Prometemos que não vai doer - riu.

— A armadilha está dando certo, muitos estão aparecendo por aqui - Uma segunda voz falou. 

Armadilha?

O primeiro falou algo no idioma deles para o segundo, pela forma do som era um puxão de orelha. Acho que não deveriam ter soltado essa informação. Uma informação valiosa.

Eu e Kevin se entreolhamos e foi aí que me toquei. 


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