Lovesong escrita por Liudi


Capítulo 1
Capítulo 1




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Atena já não pensava naquilo a muito tempo. No início foi porque se forçou a esquecer até que se acostumou a não lembrar.

  Talvez fosse aquela data se aproximando. O casamento entre Perseu e sua filha estava cada vez mais próximo e sem sombra de dúvidas era um dos eventos mais esperados do século.

  Dois dos responsáveis pelo Olimpo e a civilização como um todo ainda estarem de pé se uniriam em matrimônio.

  Atena não tinha mais dúvidas se Perseu de fato era adequado para Annabeth, sua recusa em aceitar a imortalidade foi uma das grandes provas de que os sentimentos do garoto para com sua filha eram demasiadamente verdadeiros.

  Era uma verdade absoluta que os dois fariam de tudo um pelo outro. Aquela união era mais do que abençoada por Atena.

  Chegava a ser refrescante observá-los. Os mortais tinham uma vida tão curta e a viviam de forma tão intensa e sempre dando tanta importância ao amor e ao que sentiam.

  As vezes Atena queria aquilo pra si. Viver um amor intenso e desmedido, forte o suficiente para superar todo e qualquer obstáculo imposto a ele.

  Sua boca se amargou. Talvez se tivessem insistido mais e não desistido na primeira turbulência as coisas fossem diferentes hoje em dia.

  Ou talvez não, talvez estivessem em um casamento pior do que o do seu pai e sua madrasta, presos na areia movediça com nenhuma chance de salvação.

  Não foi por falta de amor que as coisas não deram certo, eles só não souberam como fazer funcionar.

  Não souberam compartilhar seus medos e inseguranças, ao contrário fizeram deles os tijolos das paredes que construíram ao redor de si e trancaram o outro pra fora.

  O amor e o carinho que antes estavam tão presentes foram sendo superados por brigas e desavenças pelos motivos mais banais possíveis. Até que tudo aquilo ficou insustentável e desmoronou.

  A separação foi seu último recuso mesmo que ainda houvesse amor ali.

  “Nem sempre o amor é o suficiente” Afrodite lhe dissera uma vez e ela não tinha entendido.  Agora achava que entendia até demais aquela frase.

  Provavelmente a pior parte fosse que ter que ficar tão perto de Poseidon por serem os pais dos noivos.

  Com todos os ensaios e preparativos passaram a maior quantidade de tempo em contato um com o outro desde que terminaram.

  Também foi a maior quantidade de tempo sem brigarem desde que começaram a namorar.

  Depois de tudo o que seus filhos passaram por eles isso era o mínimo que poderiam fazer.

  Interagir com o deus dos mares sem ser durante uma briga foi pra lá de estranho.

  Nenhum dos dois sabia ao certo como agir. Fazia tanto tempo que tudo o que dirigiam um ao outro eram insultos rancorosos.

  Toda aquela cortesia entre eles parecia um universo paralelo.

  Se Atena se esforçasse o suficiente poderia até fingir que nada entre eles mudou.

  Não que a deusa quisesse fazer isso com si mesma, se enganar só doeria mais. Nunca seriam os mesmos novamente.

—--

    – Você está tão linda – Disse à Annabeth que estava sentada de frente para o espelho.

    – Obrigada mãe. – Sorriu radiante para a deusa.

  Atena sorriu junto. Depois de tudo aquilo era o que Annabeth merecia, felicidade.

    – Eu tenho uma coisa pra você. – Estendeu a caixinha que tinha em mãos.

  Annabeth desembrulhou com muito cuidado um colar, a corrente era de ouro e o pingente uma pedra fosca de cor azul esverdeada bem clarinha de formato arredondado.

    – É lindo mãe. Que pedra é essa?

    – Essa é sua coisa emprestada. – Ajudou a filha a vestir o colar. - Não é uma pedra, é vidro do mar.

    – O vidro que fica por anos e anos no mar e vai sendo moldado conforme as ondas? – Atena acenou positivamente. – Isso é caro.

    – Sim, é. – Para Atena o maior valor era o das lembranças que o colar lhe trazia.

  Atena ajudou Annie com os últimos detalhes.

  De acordo com a tradição Annie recebeu a presilha que segurava seu véu como uma coisa antiga diretamente de Hera, a deusa do amor lhe presenteou com a lingerie para a noite de núpcias, Sally lhe deu um par de brincos de água marinha como coisa azul e Atena o colar como coisa emprestada, além da moeda de prata em seu sapato.

  Atena deixou Annie nas mãos de Frederick e se dirigiu ao seu lugar no altar.

  A cerimônia foi linda, possivelmente Atena até derrubou uma lagrima ou duas.

  Observava a primeira dança do casal quando se deu conta de que se Sally dançava com Frederick então ela teria que dançar com Poseidon.

  Seu coração bateu acelerado, o momento que evitou a semana inteira, sempre saindo mais cedo dos ensaios alegando mil e um afazeres urgentes.

    – Acho que agora é nossa vez. – Poseidon estendeu a mão pra ela.

  Ao contrário da deusa da sabedoria ele parecia muito tranquilo com aquilo.

  Atena se obrigou a colocar sua mão na dele e se deixar ser conduzida até a pista de dança.

  Repetia desesperada em sua própria mente que aquilo era apenas uma dança. Somente 5   minutos e estaria livre de tudo aquilo.

  A versão de Adele de Lovesong do The cure se iniciou.

  Atena estranhou, não era aquela música a usada nos ensaios. Os outros pares tão surpresos quando ela.

    – Aposto que isso é coisa de Afrodite. – A voz rouca de Poseidon lhe causou alguns arrepios.

  Era difícil se concentrar sentindo os braços dele em volta do seu corpo. Seus neurônios sensoriais estavam em sobrecarga. Seu vestido possuía as costas abertas, Atena sentia cada centímetro da mão de Poseidon nas suas costas.

  A pele áspera e quentinha lhe trazendo uma familiaridade esquecida a muitos e muitos anos.

  A outra mão, segurando a sua própria ainda se encaixava tão perfeitamente quanto ela se lembrava.

    – Com toda certeza ela não perderia uma oportunidade dessas. – Concordou olhando em seus olhos e ele sorriu por ter conseguido sua atenção.

    – Você está deslumbrante hoje.

  E ela estava mesmo. O vestido verde esmeralda lhe vestiu muito bem. Sem sombra de dúvidas uma das mulheres mais bonitas da festa.

  Mas ela estava tão alheia por algum motivo tão seu que nem parecia perceber os olhares dirigidos a ela.

  Provavelmente já estava tão acostumada que nem dava mais bola pra isso.

    – Obrigada. – Seu sorriso não alcançou seus olhos.

  Foi então que ele entendeu, os dois dividiam os mesmos fantasmas.

  Perdeu a conta de quantas das últimas noites perdeu em claro imaginando o que poderia ter sido dos dois se tudo tivesse dado certo.

    – Você guardou o colar. – Esperou a reação dela.

    – Não tinha o porquê joga-lo fora. – Deu de ombros levemente.

  Eu não poderia. Não quando foi tudo o que sobrou de nós, completou mentalmente.

    – Éramos bons juntos e então as coisas mudaram e a gente não conseguia ter uma conversa que não acabava aos berros.

    – Focamos nas coisas erradas e não conversamos sobre o que nos incomodava nem sobre nossos medos. Só sufocamos tudo até que pesasse mais do que o que sentíamos.

  Ficaram em silêncio por alguns segundos ponderando o tudo o que ela disse.

  Ela tinha razão.

  Atena tinha recém emergido da cabeça de Zeus quando se envolveram. O assédio dos outros deuses era constante. Poseidon desgostava muito disso e não via a hora de reivindica-la pra si. Seu ciúme só piorava enquanto Atena pedia paciência.

  Zeus ainda lhe considerava uma ameaça sem que ela expusesse seu relacionamento com o irmão que ele tanto desgostava e tentava a todo custo controlar.

    – Ainda acho que deveríamos ter tentado mais uma vez.

    – E pra que? Pra acabar como meu pai e Hera? – Cuspiu ressentida.

    – Se tentássemos antes, provavelmente acabaríamos assim. Já se passou muito tempo e já não somos as mesmas pessoas.

    – Você fala de agora? – Encarou muito incrédula. – Não conseguimos respirar o mesmo ar por mais de 3 minutos e você acha que daríamos certo?

    – Essa semana...

    – Essa semana não conta. Nossos filhos nos imploraram desesperadamente. Assim que essa festa acabar vamos voltar aos nossos velhos hábitos. Há ressentimento demais entre nós para que seja diferente, só nos machucaríamos mais.

  O refrão da música ecoava deixando claro algumas coisas para Atena.

However far away I will always love you

However long I stay I will always love you

Whatever words I say I will always love you

  De fato ela sempre o amaria não importava o que, mas o dois aprenderam antes e da forma mais dolorida que nem sempre só o amor bastava.

  Teriam agora o suficiente pra fazer funcionar desta vez?

  A música mal terminou e o deus dos mares saiu arrastando Atena. Sua razão lhe dizia para soltar a mão dele e sair correndo na direção oposta.

  Como se soubesse do seu conflito interno Poseidon segurou mais forte em sua mão, tentando passar um pouco de segurança.

  A parte irracional de Atena venceu aquela discussão. Poderia pelo menos uma vez se permitir.

  Talvez estivesse ficando louca ou talvez fosse só um dos vinhos de Dionísio falando, não sabia ao certo.

  Decidiu não pensar muito nisso e apenas aproveitar seu surto de coragem. Se viu mais forte que seu medo.

  Reconheceu o caminho para um dos jardins privados de Hera. Sentaram-se lado a lado em um banco que ficava de frente para uma fonte.

    – Aqui é melhor para conversarmos. – Poseidon segurou sua mão entre as dele. – Me desculpe por tudo antes. Por não ter te entendido, por ter deixado meu ciúme falar mais alto, por ter te machucado. Todo esse tempo tentando não te amar só serviu pra me mostrar o quanto eu te amo.

  Sua sinceridade muito implícita em sua voz e em seu olhar.

    – Eu também te amo Poseidon mesmo que por muitas vezes eu não quisesse, não consegui parar de te amar. Eu te perdoo pelo que aconteceu e também te peço desculpas. Não me dediquei o suficiente a nós.

  O deus dos mares segurou o queixo da deusa obrigando-a a olhar pra ele. Queria toda a sua atenção para o que iria dizer.

    – Eu já te perdoei. Faz alguns séculos que eu entendi todo o seu lado. Nós só precisamos dar um encerramento a isso para poder seguir em frente. – Encarou aquelas orbes cinza agora tão límpidas e exalando uma calmaria sem fim. – Eu juro pelo Estige que de agora em diante tudo será diferente.

  O barulho do trovão soou, selando sua promessa.

  Seus rostos se aproximaram, descansaram as testas uma contra a outra.

  Atena vagueou as mãos pelo rosto dele, se demorando um pouco mais sobre sua barba muito bem aparada.

  Foi ela quem deu o primeiro passo. Atena avançou juntando seus lábios, revivendo aquela sensação maravilhosa.

  Seu estômago dava voltas e seu peito parecia que iria explodir.

  Tudo naquele beijo era ainda melhor do que ele se lembrava. Bastou uma pequena dose para que Poseidon se viciasse outra vez.

  Nem que quisesse conseguiria ficar sem beijá-la outra vez.

    – Eu quero tudo com você. – Murmurou com a cabeça apoiada no ombro dele.

    – Que bom querida. Agora que eu me lembrei como é bom te ter nos meus braços não acho que vou conseguir te deixar tão cedo. – Firmou seu aperto ao redor dela.

  E ele não a deixou. Ficaram mais um pouco na festa, sem perder o outro de vista.

  Sumiram juntos na primeira oportunidade com a intensão de matar cada pedacinho daquela saudade enorme que sentiam.

  Aquele era o seu recomeço e com toda certeza do mundo seria muito bem aproveitado.

  Se enganou quem disse que os dois ou até mesmo Percy e Annabeth eram as pessoas mais felizes naquela noite. A pessoa mais feliz era Afrodite por finalmente, e de uma vez só, ter juntado seus dois melhores casais de toda a história.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ♥. Me digam nos comentários o que acharam ;)



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