Lucy e Gajeel ficaram conversando com Hana e com George por quase uma hora inteira. Lucy anotou tudo o que eles disseram e depois, voltando para casa, compararam os testemunhos. E naquele momento em que Lucy percebeu que tinha uma diferença nas memórias dos outros foi quando ela ficou um pouco mais animada. Ela não estava contente que outra pessoa estava passando pela mesma situação que ela, mas estava contente que ela não era a única. De certa forma, saber que você não está sozinho faz com que uma situação horrível se torne mais aceitável.

Então, enquanto Lucy comparava notas e anotava pequenas coisas que ela poderia pesquisar mais tarde, — ela tinha uma pista! Finalmente! —, Gajeel apenas a observava. Enquanto Lucy escrevia no seu caderno uma lista, ele a olhava de longe. Ele gostava de ver ela sorrindo, animada. Era melhor do que ver ela deitada na cama sem fazer nada, triste e deprimida.

Hana tinha contado para eles que ela lembrava de estar andando na rua de noite, admirando a lua cheia, quando aconteceu. George disse que naquela noite, eles tinham brigado e Hana tinha saído correndo pela cidade. Ele não foi atrás e ele disse que se arrependia disso. Ela demorou dias para voltar para casa, voltou somente na terceira noite fora. Hana disse que não se lembrava dele, por completo. Não se lembrava de estar morando com ele, não se lembrava de ter se casado com ele em primeiro lugar.

Hana disse que já morava naquela casa há anos com sua família e não se lembrava daquele homem. Ela disse que foi extremamente desconfortável ter que entrar em uma realidade na qual ela sentia que não participava.

E Lucy deduziu que não era um simples caso de esquecimento muito menos memórias falsas. Era quase como se ela fosse outra pessoa completamente diferente do que George dizia ser.

Assim que Lucy terminou de fazer suas anotações e estava pronta para ouvir a opinião de Gajeel, ele estava extremamente curioso.

— O que Hana disse… — Gajeel começou e isso chamou a atenção de Lucy. Ele estava olhando para baixo, um pouco preocupado. — Até onde é parecido com a sua história?

— Extremamente parecido. — Lucy disse e Gajeel não queria escutar aquilo.

— O que você fez na primeira noite que… Isso aconteceu? — Gajeel perguntou e a animação de Lucy pareceu ter diminuído um pouco, porém, ela estava um pouco aliviada. Era a primeira vez que ele realmente mostrava estar envolvido na história, a primeira vez que ele demonstrava interesse.

Lucy suspirou e virou-se para encarar Gajeel que estava debruçado no sofá, encarando ela.

— Eu briguei com o Natsu. — Ela disse e suspirou fundo. Agora parecia tão longe e tão ridículo. — E então, eu sai pra fora de casa e corri até… não conseguir mais. Eu lembro que eu acabei parando para dentro da floresta, tentando me esconder dele, não queria ver a cara dele. — Ela disse parando para lembrar, ela ainda tinha aquelas cenas presa na cabeça. — Então, eu parei, sentei ao lado de uma árvore e acho que eu dormi. — Disse, lembrando-se da lua cheia no céu. Se lembrava de ficar encarando a lua alguns minutos antes de dormir. — E então, acordei aqui.

Agora que Gajeel viu que outra pessoa tinha sofrido com aquilo, ele não conseguia mais encarar aquilo como se fosse apenas um pesadelo de Lucy, um sonho ruim. Porque para ela, esse era o sonho ruim. E saber disso, agora, semanas depois, fazia tudo ficar pior. Ele se sentia ruim porque não tinha acreditado nela até ser quase tarde demais. Como que ele deveria se sentir ao saber que não era mais apenas uma ilusão dela?

Ele achou que ela tinha apenas se esquecido dele, mas não era isso. Lucy, aquela Lucy não o conhecia. Não da forma como sua Lucy o conhecia. E ter isso agora na cabeça o fazia se sentir ruim, porque, ao se recusar a ajudar ela no começo, ele estava prendendo ela a um mundo do qual ela não fazia parte.

— Fairy Tail é em Magnolia, não é? — Ele perguntou e ela acenou com a cabeça. — Isso aconteceu em duas cidades diferentes em dois dias diferentes.

— Mas não aconteceu somente com ela e comigo. — Lucy disse. — Se tem mais alguém dessa forma, então provável que o meu caso e o dela não são os únicos.

Eles se encararam durante um tempo, ponderando o que aquela informação poderia significar para eles naquele momento. Se fosse esse o caso, então teria muito mais pedidos para pessoas desaparecidas. Será que eles teriam que fazer isso agora?

— Vamos então analisar o seu caso um pouco. Isso aconteceu em Magnolia. Você se lembra de por onde você foi?

— Acho que sim. — Lucy disse, não conseguindo entender muito bem. — Porque?

— Vamos para Magnolia. — Ele disse e Lucy o encarou, surpresa. — Se conseguirmos desvendar o seu caso, então conseguimos desvendar o caso da Hana também.

Lucy o encarou mais alguns segundos, tentando entender se ele estava falando sério a respeito disso. Voltar para Magnolia? Ela não tinha pensado em voltar para lá. Será que a Fairy Tail ainda estava lá, no mesmo lugar? Será que eles iam se lembrar dela?

— Você está falando sério?

— Sim, por que não?

O rosto de Lucy brilhou, ela estava sorrindo e imaginando a sua cidade favorita. Será que tinha mudado muito? Sem pensar duas vezes e sem pensar muito, Lucy saiu da cadeira e pulou no sofá, abraçando Gajeel.

— Obrigada!

Foi naquele momento em que Gajeel descobriu o que ele teria que fazer caso ele quisesse manter ela ao seu lado. Mas ele não faria isso tão cedo, ele primeiro precisaria saber se eles conseguiriam o que estavam buscando.

Gajeel abraçou Lucy de volta, a apertando e enfiando seu nariz no cabelo dela. Ele sentia saudades dela. Mesmo ela estando ali com ele, quase o dia inteiro, ele sentia falta daquelas coisas. Sentia falta de segurar a mão dela, de abraçá-la e sentir seu perfume perto dele.

Lucy percebeu isso no momento em que ele a apertou. E, pela primeira vez, ela não se afastou dele. Ela ficou no abraço, que acabou ficando um pouco mais apertado. Gajeel a soltou um pouco e olhando fundo nos olhos dela, perguntou, esperando que a resposta fosse sim.

— Posso te beijar?

Lucy não respondeu. Ela sorriu e o beijou carinhosamente e Gajeel a apertou mais uma vez, trazendo ela mais para perto dele, fazendo ela sentar no sofá com ele. O beijo era diferente, Gajeel percebeu. Mas ele não se importava, porque mesmo sendo diferente, mesmo tendo que enfrentar problemas diferentes, ele a amava. E sempre a amaria, mesmo em mundos diferentes.

E naquele momento, Lucy sabia que, mesmo voltando para o seu mundo, ela faria questão de ficar com Gajeel novamente. Ela não tinha mais tanta certeza de que queria voltar e ela culpava aquele beijo.