Juntos escrita por apenasmay


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Fiquem tristes juntos comigo :')



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Entrei no quarto devastado. Carregava comigo uma xícara fumegante de chá, com algumas gotas de poção calmante. Enquanto a onda de alívio invadia muitos lares bruxos naquela semana, em nosso lar predominava a tristeza. Predominava o luto. A atmosfera de qualquer cômodo era pesada. O céu, mesmo quando estava tomado por um azul brilhante, me parecia denso e acinzentado como costumava ser antes de grandes tempestades.

 

Dei alguns passos em direção à cama e passei minha mão suavemente sobre seu ombro. A princípio ela não se mexeu, porém, após um suave beijo em sua têmpora, ela se virou em minha direção, lentamente, me expondo os olhos inchados e avermelhados que ornavam com o rosto completamente molhado por lágrimas.

 

— Trouxe um chá pra você… — eu disse, com a voz fraca e embargada, o que apenas percebi assim que terminei de dizer a última palavra.

 

Ela assentiu e passou a mão sobre o rosto. Pousei o pires e a xícara sobre o pequeno móvel ao lado da cama para ajudá-la a se sentar. Se havia uma coisa que me causava um imenso orgulho e admiração nesse mundo, essa coisa era a sua força. Ainda que não falássemos em alto e bom som, eu sei que ela sabia que eu estava dando o máximo de mim para ser sua segurança. E, como numa via de mão dupla, ela fazia também o possível para convalescer. Ela não se entregava à dor, apesar de esta ser de uma proporção imensa.

 

— Arthur… Eu me sinto sem chão — ela me disse, fitando o vazio, um segundo antes de bebericar o chá que eu havia entregue em suas mãos.

 

Ouvir aquilo fez meu coração se despedaçar ainda mais, mesmo que eu nem achasse isso possível. Eu sentia vontade de dizer alguma palavra de conforto, mas eu não tinha nem uma sequer. Que palavras de conforto poderiam sair da minha boca se o motivo que ela tinha para se sentir sem chão era o mesmo que tirava o meu próprio? Então apenas a abracei de lado, acariciando o seu ombro levemente enquanto ela tomava o chá.

 

— O nosso menino, Arthur… Eles levaram o nosso menino…

 

As frases já ditas entre lágrimas eram como facadas em meu peito. Não era a primeira vez que vi a guerra levando alguém importante dela. Foi um longo caminho de superação do luto quando Fábio e Gideão foram mortos por Comensais da Morte na Primeira Guerra. Agora, no entanto, eu não enxergava uma saída. Não tinha perspectivas para superação, mas sabia que precisava me manter firme. Eu precisava ser forte, precisava ser o porto seguro da mulher que amava. Precisava ser o ponto de apoio para todos que ficaram, o que incluía todos os nossos outros filhos.

 

— Por que, Arthur? Por que, por que, por quê?

 

A lamentação cresceu, o choro aumentou e, dentro de poucos segundos, Molly estava novamente deitada, numa nova onda de melancolia. Não era a primeira vez que eu via aquela cena. Ela havia se repetido várias e várias vezes ao longo daquela semana. Logo, me deitei ao seu lado e a abracei. Ela chorava e lamentava. Eu me limitava às minhas tentativas silenciosas de acalentá-la. Dentro de poucos minutos, aquilo passaria. A poção calmante faria efeito e ela voltaria a dormir.

 

Então, depois que ela pegasse no sono induzido pelo calmante, seria a minha vez de desabar. Seria o meu momento de desmanchar em lágrimas e prantear a morte do nosso filho. E assim nós seguiríamos. Não sei por quanto tempo e nem por quantas vezes essa mesma cena voltaria a se repetir. A minha única certeza era a de que superaríamos tudo isso um dia. E, acima de tudo, de que superaríamos juntos.


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