ALBUS S. POTTER 

Domingo, 17 de dezembro de 2017. 

A paisagem que os alunos observavam do Expresso de Hogwarts na viagem de volta para Londres era diferente da paisagem que tiveram na viagem de ida para a escola, dessa vez não havia campos verdes, e sim uma imensidão de neve que deixava a impressão que estavam atravessando um deserto branco e gelado, porém Albus e os outros garotos já não prestavam tanta atenção na vista. 

— Você sabe que não precisa estudar, né? Nós estamos de férias, Lucy – Lohan falou ainda incrédulo com a ideia de alguém passar o tempo livre lendo. 

— Acredite ou não Lohan, algumas pessoas leem porque gostam – Weasley respondeu com um sorriso irônico para o amigo. 

Lestrange a partir do momento que entrou na cabine colocou seus fones de ouvido e declarou que pretendia dormir a viagem toda, Lucy disse que ia tentar colocar a leitura em dia e se enfiou num livro desde o início da viagem, já Lohan aproveitou o sinal de internet pra ficar jogando no celular ou ficava tirando fotos engraçadas de Harry dormindo, mas vez ou outra se entediava e ia passear pelo trem. 

Em geral, podia-se dizer que o vagão deles era um dos mais silenciosos entre os alunos do primeiro ano, já que os únicos sons que saiam dali era da conversa de Albus e Scorpius que jogavam um jogo de cartas de trouxas que Bernard havia emprestado aos colegas. 

— Nossa Scorp, achei que a nossa amizade significava algo pra você - Albus disse fingindo teatralmente estar decepcionado quando Malfoy jogou uma carta que lhe faria comprar mais quatro cartas, lhe distanciando da vitória que há muito já não estava próxima. 

— Não existe amizades quando se trata de jogos, Potter – Respondeu encenando uma arrogância exagerada que fez Albus rir – UNO! 

— Ei?! Isso não é justo, você roubou! - Albus falou tentando se defender por ter sido pego desprevenido pelo outro.  

— Roubei nada! Eu não tenho culpa se você não sabe – E então teve a fala interrompida por cartas que Albus jogou em sua direção, acertando-o no rosto. 

— POTTER! - E então jogou as cartas de volta em direção ao outro, e assim começaram uma verdadeira guerra de cartas. 

— Nossa, quanta maturidade – Lucy disse rindo dos garotos, jogando no chão uma carta aleatória que foi parar entre as páginas de seu livro. 

— Quê que ta acontecendo? - Harry havia acordado com o barulho e perguntou ainda desnorteado tirando seus fones, não percebendo uma carta dentro do capuz do moletom que usava. 

— Desculpa Lestrange, pode voltar a dormir aí - Malfoy respondeu, mas parecia que a cabine não voltaria a ser silenciosa com Lohan chegando da voltinha que foi dar pelo trem. 

— GENTE, vocês perderam a maior treta lá perto das cabines do terceiro ano!!  

— Conta! To precisando de uma fofoca – Lucy disse fechando seu livro e focando no garoto que tinha conquistado a atenção dos amigos ali.  

— Então, eu não entendi direito porque eu cheguei e tudo já tava acontecendo, sabe? Só sei que foi a maior confusão entre o povo do time de quadribol da nossa casa com o irmão do Albus!  

— Quê que o James fez?? - Albus perguntou um pouco surpreso, sabia a facilidade que o irmão tinha pra se envolver nessas brigas, mas não esperava que isso fosse acontecer no trem quando faltava menos de uma hora pra encontrarem com seus pais. 

— Olha, pra falar a verdade nem sei se foi ele que começou ta? Quando cheguei tava a maior gritaria e pancadaria entre ele e aquele seu primo cabeludo lá com os caras do nosso time. 

— O Fred? - Dessa vez foi Lucy quem perguntou. 

— Aham, aí aquele outro que anda com eles foi tentar separar e acabou brigando também, a maior loucura – Zabini contava achando divertidíssimo, e Harry riu. 

— Coitado do Louis... - Weasley disse parecendo em choque com a história. 

— Parece que ser barraqueiro é de família mesmo – Malfoy comentou recebendo uma cotovelada de Albus em resposta. 

— Mas e aí? Eles tão lá brigando ainda ou o que? - Albus perguntou querendo saber se tinha que se preocupar com o irmão ou não. 

— Nah, a monitora da grifinoria apareceu lá e acabou com tudo fazendo geral entrar nas cabines e aí eu vim contar pra vocês né - Lohan falou já tirando o celular do bolso pra voltar a jogar, e Albus deu de ombros sabendo que seja lá o que tivesse acontecido não devia ser grande coisa.  

Depois de mais alguns comentários e teorias do que poderia ter acontecido o grupo voltou ao clima habitual, Lucy voltou a ler enquanto os garotos comentavam os planos que tinham para as semanas de férias, Zabini e Malfoy iam passar esse período juntos, e pelo que Albus entendeu isso já era costume da família deles, além disso Zabini não deixava de falar o quão ansioso estava para treinar quadribol, coisa que Harry ficou interessadíssimo pra saber como funcionava isso de ter uma vassoura e voar no quintal de casa. 

Assim que o trem parou na plataforma e todos os alunos se apressavam pra pegar as bagagens e encontrar com as famílias, Albus percebeu o quão ansioso estava, nunca tinha passado três meses sem ver seus pais, e cartas não eram a mesma coisa. Começou a se perguntar se algo mudaria entre eles, se seus pais na verdade estavam decepcionados com algo, mas que não tivesse ficado claro nas cartas. Só então ficou consciente que estava descendo de seu primeiro expresso de Hogwarts acompanhado de um Lestrange, Malfoy e Zabini.  

Por alguns segundos ficou preocupado com os olhares que receberia na plataforma ou o que seus pais pensariam de seus amigos, mas só por alguns segundos, viu Scorpius e Lohan se estapeando pra disputar quem ia descer primeiro, até Harry empurrar os dois e sair na frente. Eles não eram “Lestrange, Malfoy e Zabini”, eram só o Harry, Scorp e Lohan, amigos que Albus jamais imaginou que chegaria a ter. Agora entendia mais o que o pai queria dizer quando falava que sem Rony e Hermione não teria sobrevivido à escola. 

Assim que desceram do vagão em que estavam escutaram uma voz chamar por Scorpius, então um casal muito elegante entrou no campo de visão deles, logo o garoto loiro saiu correndo em direção a mulher de cabelos pretos para abraça-la e em seguida para a figura que era inegavelmente seu pai, os cabelos loiros e os mesmos olhos acinzentados não tinha como confundir. Lohan também pareceu muito feliz ao vê-los, já que saiu correndo pra cumprimentar “a tia Astoria e o tio Draco”.  

Lucy, Albus e Harry aguardavam os amigos para se despedirem, e assim que os dois voltaram pra dar tchau dizendo que iam trocar mensagens durante as semanas de recesso Albus viu o casal a distância acenando para eles, e não entendeu quando o pai de Scorpius pareceu conter o riso e foi repreendido pela esposa por isso.  

Logo após trocarem as últimas palavras com Zabini e Malfoy, Lestrange identificou sua mãe em meio as pessoas e avisou aos amigos antes de correr em direção dela sem dizer muitas palavras, mas Albus entendia.  

Então, os primos reconheceram um grupo de bruxos ruivos próximo a saída da plataforma, que só podiam ser suas famílias.  

— Nossa, o quê que aconteceu com a sua cara? - Foi a primeira coisa que Albus pôde dizer ao ver James com um olho incrivelmente roxo. 

— Ah, cala a boca. 

— Cala a boca você!  

— Pai, a gente pode ir embora logo?  

James então ficou quieto e emburrado ao receber um olhar repreensivo do pai, que só então viu que o filho que ele e Gina tanto tentaram encontrar entre a multidão estava bem ali. 

— Albus!! Finalmente, onde você estava?? - Harry perguntou quando abraçou o filho. 

— Ah, tava por ali me despedindo dos meus amigos... 

— Hmm, já fez muitos amigos então?  

Antes que Albus pudesse responder, abriu um sorriso ao ver sua mãe se aproximando de onde estavam. 

— Já começou com o interrogatório, Harry? Você disse que ia esperar alguns dias pra poder disfarçar - Gina provocou o marido e se aproximou do filho pra pedir um abraço, que prontamente acatou ao pedido. 

Albus então cumprimentou superficialmente todos os seus tios que estavam por ali, não estava muito no clima, ainda mais porque não queria ter que lidar com Rose, então assim que sua irmã apareceu correndo em sua direção para abraça-lo se juntou a James pra pedir para irem logo pra casa.  

Segunda, 25 de dezembro de 2017. 

Albus podia definitivamente dizer que estava aproveitando seu recesso de fim de ano, pelo menos os primeiros dois dias de férias Lily ficava o seguindo para todos os cantos fazendo perguntas sobre Hogwarts, sobre seus amigos, sobre as aulas, perguntando como era a sala comunal da Sonserina e várias outras coisas, ele desconfiava que parte disso tinha a ver com o seu pai que não queria parecer invasivo demais e pedia informações através da filha. Albus não se importava, achava engraçado a empolgação da irmã. 

Conversou com Malfoy e Zabini algumas vezes em que os garotos lhe mandavam mensagens e fotos engraçadas do que estivessem fazendo, eles tinham feito um grupo de mensagens com os cinco, mesmo que Harry quase nunca falasse e Lucy só respondesse com risadas ou figurinhas. Albus conversou com Lestrange poucas vezes também, pelo o que pôde entender o amigo estava chateadíssimo que estava tendo que passar os feriados na casa de parentes. 

Potter apesar de ter passado a semana inteira em casa com Lily o seguindo e com James enchendo o saco do jeito que sempre fazia, se sentia muito feliz, viu que seus pais e Ted estavam iguais consigo, mesmo que fizessem piadinhas recorrentes sobre ele ser a “cobrinha da família”. 

Na manhã de Natal os Potters e o Lupin se apressaram para irem para A’Toca, onde teriam o almoço com toda a família, Albus estava com muitas saudades, mesmo que visse a maioria de seus primos na escola, não via seus tios com frequência, menos ainda seus avós.  

A casa estava muito cheia, e muito movimentada como sempre ficava nessas situações, Lily, Hugo e Roxanne ficavam correndo de um lado para o outro brincando de algo que Albus não entendia, Ted, Victoire, Dominique e Molly ajudavam com as coisas na cozinha, Louis, James e Fred tinham sumido pela casa desde que a refeição havia acabado, Rose estava muda de um modo que Albus nunca havia visto, sentada em uma poltrona na sala fingindo que lia alguma coisa. 

Albus, assim como Lucy estavam largados no chão da sala se sentindo muito satisfeitos depois de terem comido mais do que aguentavam, e Potter estava mais do que contente por ter ganhado um agasalho com as cores da sonserina que sua avó fez.  

Todos os adultos ainda estavam sentados à mesa, naquele momento de “conversar sobre as crianças” após o almoço. Lucy e Al estavam lamentando que o tio Charles não havia conseguido ir, quando escutaram um assunto vindo da sala de jantar que interessava para ambos. 

— ..., mas será que vão ter que expor os arquivos do caso dos Lestrange só para as pessoas pararem de comentar de vez? - Era sua avó que falava. 

— Claro que não, isso seria muito imprudente, além de que iria expor demais a criança... - Hermione falava indignada com a possibilidade.  

— E isso vai contra as regras da comissão de aurores, Rony poderia ser prejudicado se o caso viesse à público - Seu pai falou, e Albus então não pôde conter sua curiosidade. 

— O quê que o tio Rony tem a ver com os Lestrange? 

A mesa ficou em silencio alguns segundos após a aparição repentina do garoto, e então Lucy continuou: 

— Seja lá o que tiver acontecido com essa gente eu acho que vocês deviam pelo menos falar pro Harry, o Lestrange, porque isso é injusto com ele!  

— Ele não sabe? - Rony perguntou parecendo surpreso. 

— Não, ele não sabe de nada. Não sabia nem que era bruxo antes de receber a carta de Hogwarts –  Albus respondeu. 

Rony e Harry trocaram olhares apreensivos. 

— Olha Al, eu sei que você se preocupa porque ele é seu amigo, mas... - Harry começou a explicar. 

— Eu fui o auror responsável pelo caso dos Lestrange na época, não posso falar muita coisa pra vocês, mas se o garoto não sabia de nada é porque a mãe dele não quis contar, ela sabe de tudo – Rony disse mesmo parecendo relutante. 

Albus bufou irritado sabendo que não ia conseguir saber mais que isso, então se retirou da sala de jantar acompanhado por Lucy, voltaram a se jogar no chão da sala de estar, mas dessa vez não estavam tão satisfeitos. Devia pedir pro James ver se conseguia arrancar alguma informação do pai, pensava.  

— Ei Al, preciso dar seu presente de Natal – Ted chegou na sala se sentando ao lado deles. 

— Mas você já me deu o presente, Ted. 

— Ah, esse é outro – Ted então olhou para os lados como se tivesse se certificando que ninguém estivesse vendo, e quando viu que só havia os três na sala tirou um pedaço de pergaminho velho do bolso do casaco – Falei com seu pai, ele disse que eu podia te dar, mas que era melhor fazer isso escondido da sua mãe porque senão ele ia levar uma bronca, sabe como é né... 

— O que é isso? - Perguntou se aproximando pra ver o que havia no pergaminho. 

— É um mapa de Hogwarts! - Ted viu a confusão no rosto dos dois e viu que ia precisar de mais explicações - Não é um mapa qualquer, olha, eu juro solenemente não fazer nada de bom!  

Lupin falou batendo com a varinha no pedaço de papel e as expressões de Albus e Lucy não podiam ser mais surpresas ao verem Hogwarts desenhada detalhadamente, com os nomes de funcionários e alguns poucos alunos se movendo nos corredores e cômodos do castelo. 

— Isso é...? - Albus perguntou, mas sem saber ao certo o que perguntar. 

— Mapa de Hogwarts, com as passagens secretas e tudo o mais! E claro, os nomes de quem tiver dando voltinhas pelo castelo em tempo real. 

— Como...? 

— Meu pai, seu avô e o Sirius criaram ele na época de escola, aí seu pai deu pra mim quando entrei no primeiro ano, e como James já tem a capa, nada mais justo que você ficar com o mapa, não é? 

— Que capa? 

— Deixa pra lá, esconde isso aí porque se a Gina ver eu e o Harry estamos ferrados. Ela não quer que você apronte, sabe? Parece que uma detenção em menos de dois meses de aula já foi demais pra ela. 

Ted comentou e Lucy riu, Albus quase havia se esquecido do seu acidente com Jason Corner no Halloween, até que chegou em casa e essa foi a primeira coisa que seus pais lhe cobraram.  

— Mas então, é verdade que você é amigo do filho do Malfoy? Como que ele é? - Ted perguntou genuinamente interessado, e nem notou que Rose havia retornado para a sala, mas bufou irritada e saiu de novo ao ouvir o nome Malfoy. 

— Como assim “como que ele é”? Normal, eu acho... - Albus ficou um pouco sem graça com uma pergunta repentina dessas, e Lucy deu risada. 

— Ah, o Scorpius é inteligentíssimo, né Al? O primeiro da turma na verdade, Rose fica louca da vida, mas ele é legal sabe, não fica se achando por aí.  

— Desde que eu comecei a trabalhar com o Malfoy eu fiquei me perguntando como era esse tal de Scorpius que ele fala direto, nem pensei na possibilidade de vocês serem amigos, que loucura.  

— Como que está sendo trabalhar com o Draco, Ted? - Harry que estava parado no batente da porta observando a conversa perguntou, assustando um pouco os três que não haviam percebido sua presença. 

— Surpreendentemente legal, aprendi mais coisas sobre poções em dois meses do que aprendi em dois anos estudando! Só que é muita correria, ter que dar conta do estoque de poções do hospital todo já que o Malfoy não tem tanto tempo assim... 

— Ele é legal? - Dessa vez foi Albus que perguntou, morria de curiosidade sobre o Draco já que tudo que sabia era que ele e seus pais se odiavam na escola, e as poucas coisas que Scorpius e Lohan falavam às vezes, que não condizia muito com a ideia que tinha antes. Harry riu da pergunta. 

— Olha, nos primeiros dias era chato porque ele é muito sério, ele é meu chefe né! Mas agora ta mais normal, sei lá, a gente até conversa sabia?! - Ted riu de si próprio e Albus sabia que ele estava sendo sincero.  

— Daqui a pouco vai me trocar pelo Malfoy? – Harry falou brincando com o afilhado. 

— Nunca na vida!!! - Ted respondeu prontamente fazendo todos ali rirem. 

O resto da festa foi bem tranquila, Albus e Lucy ficaram conversando animados sobre o que poderiam fazer agora que tinham um mapa daqueles, “mas sem fazer nada que faça nós sermos expulsos, Albus”. Seu tio Rony o chamou pra conversar e pediu desculpas por não poder lhe dar mais informações sobre os Lestrange, e também pareceu sem graça por não ter enviado nada pro sobrinho desde que ele havia entrado em Hogwarts....  e na sonserina, então deu seu presente de Natal e Albus entendeu que aquele era o jeito dele de dizer que não se importava mais sobre em que casa o sobrinho estava. 

Só muito mais tarde, quando já haviam voltado para casa, que Albus pegou seu celular pra ver se havia mensagens e riu com o que Lohan tinha mandado no grupo deles, era uma foto dele e do Scorpius sentados numa mesa com um banquete completo, Lohan piscava para a camera, mas Scorp pelo visto não tinha sido avisado e estava distraído colocando uma colher de pudim na boca na foto em movimento, “feliz nataaaaaaaal amigos, e lucy”.