Alicia e as 12 bênçãos escrita por Creeper


Capítulo 10
Formato das sombras


Notas iniciais do capítulo

Postei no domingo hoje ^^. Eu espero que vocês estejam gostando da história ♥
Tenham uma boa leitura!



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Concentrei-me nos quatro nomes escritos a giz na lousa, analisando cada uma das candidatas.

Eu havia conhecido Cassandra no dia do teste, à primeira vista ela não parecia ter atitudes de nobre e a segunda vista eu confirmava isso. Ela era um tanto brigona, entretanto, nos poucos dias que ficamos juntas, isso não foi um problema para mim.

Já a Ambar, eu não havia trocado meia dúzia de palavras com ela, contudo, ficava claro que ela tinha perfil de líder, sempre sendo a voz da turma. E isso era tudo que eu sabia dela.

Não tinha muito para falar de Becky, todavia, era minha opção menos favorita, já que ela estava sempre resmungando sobre as aulas e não nos ajudou em nada no quartel general de explorações.

Quanto a Celine, ela havia se mostrado meiga e determinada, além de possuir um objetivo genuíno e ter uma esperteza espantadora.

Torci a boca e franzi o cenho ao final de minha análise, ainda em dúvida. Respirei fundo e permiti que o lápis caminhasse pelo papel, traçando um “C” cursivo.

A professora Brigitte passou por todas as bancadas com a caixa em mãos para que depositássemos os papéis dobrados que continham nossos votos. Ao terminar de recolher tudo, a mulher voltou para sua mesa, chacoalhou a caixa por um instante e depois retirou sua tampa.

— A candidata mais votada será a líder e a segunda será a vice, estão de acordo? – Brigitte questionou.

Todas assentimos rapidamente.

— Vamos começar a contagem... – Brigitte retirou um papel da caixa, abriu-o e mostro-o para a turma. – Um voto para Ambar. – ela desenhou um risco na frente do nome da garota.

Elena gritou empolgada e bateu palmas ao lado da candidata que mantinha-se séria.

— Ops, foi mal. – a garota deu um sorriso amarelo quando alguns olhares caíram sobre ela.

— Vejamos... – a professora agarrou mais um papel. – Outro voto para Ambar. 

Escutei Celine soltar um suspiro de frustração. Toquei seu ombro para apoiá-la.

— Um voto para Celine. – Brigitte contou.

Os olhos da princesa cintilaram e ela voltou a ficar animada imediatamente. A professora remexeu o interior da caixa, pegando um papel amassado e lendo:

— Um voto para... Becky.

A abençoada de Dionísio esboçou um sorriso de canto extremamente arrogante.

— Eu aposto que ela votou nela mesma. – Cassandra resmungou.

— E você não? – Celine cobriu sua boca para esconder um risinho.

— Dessa vez o voto vai novamente para Ambar. – Brigitte pareceu ficar surpresa ao traçar o terceiro risco no nome da abençoada de Atena. 

Celine tratou de entrelaçar suas mãos, fechar os olhos e balbuciar disparadamente como se estivesse rezando. 

— Um voto para Cassandra. – a professora anunciou, arrancando uma breve comemoração da nobre.

Em pouco tempo, a votação foi encerrada em:

Cassandra - III

Ambar - IIIII

Becky - I

Celine - IIII

As duas candidatas mais votadas foram chamadas na frente da sala, ambas se posicionaram orgulhosamente próximas a professora. Celine não conseguia conter seu sorriso, parecendo uma criança inquieta ao lado de Ambar que não demonstrava mais que um singelo curvar de lábios.

— Conquistando cinco votos, Ambar Devi é eleita a líder da turma. – Brigitte exclamou segurando a aluna pelos ombros.

Todas as alunas aplaudiram e deram gritos de apoio, apesar de algumas estarem visivelmente menos contentes que as outras. 

— E com quatro votos, Celine Dufour é designada como vice-líder. – a professora tocou os ombros da princesa.

Novamente, uma sessão de aplausos foi ouvida, tendo uma maior colaboração minha, de Cassandra e surpreendentemente das gêmeas Yoshida.

— Sob esses títulos, vocês serão responsáveis por liderar a turma e serem porta-vozes de suas colegas. Além de ocasionalmente participarem das futuras reuniões de classes. – Brigitte explicou ajustando seus óculos com as duas mãos.

Celine e Ambar assentiram determinadamente, transmitindo uma sensação de segurança e conforto. No fundo, eu estava feliz por ter votado na princesa.

~*~

Por volta das nove e quinze, uma lua cheia e prateada enfeitava o céu estrelado. Observei a noite deitada sobre meus braços na escrivaninha, suspirando de maneira sonhadora e me perguntando quando eu receberia as prometidas cartas de Melanie.

Será que Richard também me escreveria? Eu não conseguiria nem descrever a alegria se meu amor platônico se importasse ao ponto de me mandar uma carta.

Balancei a cabeça negativamente, afastando meus melosos e apaixonados pensamentos, voltando a minha firme confirmação de longos anos: a palavra “platônico” não era de enfeite.

Deslizei meus dedos pela escrivaninha, tocando inconscientemente a obsidiana que eu retirei do bolso da jaqueta. A levantei acima de meus olhos, em direção a janela, banhando-a com o brilho do luar.

Como algo tão pequeno pode se transformar em uma foice?”, perguntei em vão.

Fui retirada de meus devaneios por um grito escandaloso de pavor, vindo diretamente do banheiro, seguido de uma porta sendo aberta brutalmente. Cassandra que estava a cochilar acordou assustada, erguendo metade de seu tronco e batendo sua testa contra o estrado da cama de cima.

Movi minha cabeça na direção do banheiro e senti minhas bochechas ferverem ao visualizar Celine molhando o quarto inteiro com a água que escorria de seu corpo totalmente nu. Seus pés não paravam um segundo no chão, já que ela dava pulinhos de afobação.

— O que aconteceu?! – perguntei abruptamente enrolando todas as palavras.

Eu já havia visto Melanie nua, então não entendi o porquê de ficar tão envergonhada.

— T-Tem um b-bicho enorme no banheiro! – Celine berrou entredentes.

— A minha testa está sangrando por que você viu um bicho no banheiro? – Cassandra semicerrou os olhos. –  Ah, garota, faça-me o favor. 

Celine abriu a boca para retrucar, entretanto, foi interrompida por um vulto preto que saiu voando do banheiro. Bastou isso para que a princesa voltasse a gritar.

Assim que minha vista se ajustou ao misterioso vulto, consegui enxergar um morcego gigantesco. Ao invés de me esconder ou tentar confrontar o bicho, meu corpo escolheu paralisar no lugar.

Cassandra foi a única a ter coragem, saltando de sua cama e entrando em posição de luta. O morcego tomou posse de um canto superior da parede, intimidando-nos com sua feição maligna.

— Vamos tentar espantá-lo pela janela. – Cassandra disse baixinho como se o nosso convidado fosse compreender nosso plano. – Alicia, fique onde está. Assim que ele sair, feche a janela.

Concordei em um breve gesto endurecido.

 

A nobre andou sorrateiramente, aproximando-se do monstro voador que equivalia a população da minha vila. Cautelosa, a jovem pegou um livro grosso em cima da cômoda e sem aviso prévio, atirou-o no canto da parede.

O morcego agitou-se, voltando a mostrar suas enormes asas para voar por todo o cômodo, vez ou outra batendo contra as paredes. Aos gritos, Celine agarrou sua escova de cabelo e tentou acertar o bicho, falhando miseravelmente.

Diversos cadernos, utensílios, travesseiros e qualquer coisa que tivesse o mínimo de peso foram atirados pelo quarto, fazendo-me perder o vulto voador de vista. Procurei desesperadamente, temendo que não conseguisse fechar a janela. 

De repente, meus olhos foram cobertos por uma estranha escuridão, acompanhada de um peso em meu rosto. Senti algo de textura duvidosa em contato com minha face. Meu coração parou assim que eu entendi do que se tratava.

— Tirem isso do meu rosto agora. – pedi de modo pausado, tentando manter a calma quando meu real desejo era berrar e correr em círculos.

— Não se mexa. – Cassandra ordenou.

Preenchida de aflição, aguardei pela ajuda que veio em forma de algo pesado chocando-se contra meu rosto e esmagando o morcego junto ao meu nariz. A dor e o pavor foram imensos, sendo capazes de descongelar meu corpo. Uma de minhas mãos afrouxou-se, largando seja lá o que eu estava segurando e a outra foi em direção ao bicho, espalmando-o.

Retomei minha visão, podendo ver o exato momento em que o morcego foi jogado para fora, voando desengonçadamente. 

— Isso, nos livramos dele! – Cassandra segurava um enorme livro em uma das mãos, o qual ela provavelmente usou para me bater.

Massageei meu nariz, aproveitando-o para conferir se não havia quebrado.

— Eu nunca mais vou tomar banho de porta fechada. – Celine concluiu abraçando seu próprio corpo.

Voltei minha atenção para a lua, recapitulando o que eu estava fazendo antes daquela confusão. Meus olhos fixaram-se em minha mão vazia que eu jurava conter a obsidiana.

Tateei a escrivaninha desesperada à procura de minha pedra.

— O que foi? – Cassandra perguntou enquanto cuidava do sangramento em sua testa.

— Eu perdi minha pedra. – respondi apreensiva.

— Acho que você a soltou quando eu te bati. – a nobre analisou. – Talvez tenha caído lá embaixo.

Ajoelhei-me na cadeira e coloquei minha cabeça para fora, os cabelos logo sendo bagunçados pela brisa. Passeei os olhos pelo grama, não encontrando nenhum sinal da pedra.

— Vou descer para procurar, já volto. – avisei.

Puxei minha jaqueta que pendia na cama e deixei o quarto. Meus passos apressados ecoaram pelas escadas que ganhavam uma cor amarelada pela iluminação. Avistei algumas garotas de outras classes transitando e conversando despreocupadas.

Procurei pelo relógio acima da porta do hall de entrada, seus ponteiros marcavam nove e meia, sendo assim, apressei-me, pois o toque de recolher era às dez.

Vesti minha jaqueta ao ser envolvida por uma lufada de ar frio e rodeei o prédio buscando pela janela de meu quarto. Assim que virei em uma das dobra do instituto, recuei um passo diante de uma figura a poucos metros de distância.

Travei no lugar, avaliando de longe. Possuía uma silhueta humanóide tão espessa e escura feito uma sombra. Reparando melhor, a criatura estava agachada com as costas curvadas de maneira grotesca.

Minha mente ficou em branco sem saber o que fazer. A criatura não aparentava ter me notado, ela apenas esfregava seu rosto no chão, farejando sonoramente.

Um sentimento de medo e repúdio formou-se em minha garganta, mandando meus pés darem meia volta imediatamente. Antes que eu pudesse de fato sumir dali, o ser misterioso virou sua cabeça em minha direção. Houve um segundo de puro silêncio até ele abrir sua boca, revelando duas fileiras de dentes pontiagudos e uma língua comprida e irregular.

Meu coração falhou uma batida e meus joelhos cederam, fazendo-me cair no chão.

O indivíduo soltou um grunhido ameaçador e voltou sua atenção para o gramado, tentando tocar em algo que encontrou. Sua mão foi afastada por um impacto surreal, acarretando outro grunhido.

Ergui minha cabeça, enxergando a janela de meu quarto acima da criatura. Ela só podia estar tentando pegar minha pedra!

— Ei! – gritei levantando-me. – O que pensa que está fazendo?! – cerrei os punhos e aproximei-me a passos pesados.

A criatura ousou mais uma tentativa falha de furtar minha pedra, tendo sua mão lançada para longe de novo. Irritada e frustrada, ela grunhiu para mim uma última vez  e correu para o outro lado.

— Aonde você vai? – berrei perseguindo aquela coisa.

Agarrei minha obsidiana e continuei a perseguição, virando bruscamente em outra dobra do prédio, meus pés escorregaram na grama e eu tive de apoiar a mão na parede para não perder o equilíbrio. A coisa atirou-se nos arbustos rentes ao muro.

Interrompi o ritmo da corrida, parando para analisar se a criatura estava apenas se escondendo e aguardando para me atacar de surpresa. Os arbustos remexeram-se por alguns segundos e em seguida voltaram a ficar estáticos, sem nenhum sinal de perigo.

Respirei fundo e avancei nos arbustos, usando as duas mãos para afastá-los de uma vez só. Incrédula, fiquei alguns segundos raciocinando sobre o buraco no muro em minha frente. O instituto era novo, não deveria haver uma falha daquelas em sua construção.

Olhei para os lados procurando por qualquer sinal de vida que fosse. Sem êxito. Suspirei sabendo que estava tomando uma decisão idiota.

Atravessei o buraco, passando meu tronco primeiro e depois apoiando minhas mãos no lado exterior para puxar minhas pernas. Rolei pela calçada e fiquei de pé em um pulo, avistando a criatura indo em direção a praça.

Dei uma última olhada no instituto, prometendo a mim mesma que voltaria antes do toque de recolher.

Esgueirei-me atrás de postes, árvores e paredes de beco, escondendo-me da criatura que avançava cada vez mais.

A cidade descansava sob o azul do luar e alguns poucos pontos ganhavam a atenção das luzes foscas dos postes. O vento uivava, varrendo as folhas e os papéis jogadas na rua. Me surpreendia o fato de não ter encontrando ninguém, incapaz de acreditar que todos dormiam tão cedo.

Soube que cheguei na praça quando pude ouvir o claro e tranquilizador som da água do chafariz, derramando-se sem interrupções. Durante a noite, sua estrutura tornava-se brilhosa.

Atraída pela calma que a fonte proporcionava, me permiti caminhar pelo local. Aspirei uma fragrância amadeirada e arrepiei-me em seguida, percebendo que não estava sozinha.

Minha cautela e serenidade esvaíram-se rapidamente assim que enxerguei a criatura acompanhada de uma semelhante. 

Talvez eu pensasse que pudesse lidar com uma sozinha, mas com duas não. Elas pareciam distraídas, viradas de costas para mim, foi aí que vi a oportunidade perfeita para fugir.

Dei meia volta e me esforcei para fazer o mínimo de barulho possível, mas é claro que “se algo pode dar errado, dará”. Pisei em um graveto, emitindo um som seco por toda a praça. Endurecida, virei minha cabeça para trás, conferindo se as criaturas haviam ouvido.

Elas não apenas haviam ouvido, como também corriam até mim usando as mãos e pés iguais gorilas. Arregalei os olhos e disparei pela praça ignorando a falta de fôlego e o cansaço de minhas pernas. Fiz o possível e o impossível para despistar as criaturas e esconder-me no primeiro beco que achei.

Ofeguei esgotada, o peito subindo e descendo ao apoiar-me em uma parede gélida de tijolos cinzentos.

Totalmente afobada, espiei o exterior do beco, mantendo meu rosto rente à parede, permitindo que apenas um olho explorasse o local. Reparei que as criaturas se encontravam a uma distância segura de mim, provavelmente confusas quanto a minha localização. Para o meu azar, o instituto ficava na direção em que elas estavam.

Remoí alguns pensamentos por um minuto, bolando uma estratégia. 

De alguma forma, eu possuo uma arma.”, cerrei meu punho em torno da obsidiana.

Claro que eu não tinha experiência nenhuma em combate e fracassei em contra-atacar Miki. Mas eu não precisava necessariamente lutar com aquelas coisas, eu podia somente assustá-las e me defender se fosse necessário.

Terminei de recuperar o fôlego e saí do beco, ajoelhando-me pouco depois. Toquei o chão rugoso e iniciei meu chamamento:

— Abra as portas... 

Algo cobriu minha boca repentinamente. Gritei em vão, já que tudo que eu pronunciava era abafado por uma luva de couro. Balancei minha cabeça de maneira feroz e agarrei o braço de quem quer que fosse, cravando minhas unhas no tecido de sua veste de manga longa.

Assim que tive a ideia de morder o sujeito, ele foi mais rápido e puxou-me para trás, obrigando-me a ficar de pé. Em um piscar de olhos, eu estava de volta ao beco. Minha boca foi liberta apenas quando minhas costas confrontaram a parede fria.

Ao meu lado, também encostado na parede, um rapaz alto espiava o exterior do beco. Sua face escondia-a atrás de uma cachecol e um chapéu.

— Quem é você? – afastei-me em um arfar.

Eu não sabia dizer se eu tinha mais medo de duas criaturas estranhas ou de um homem que me abordou da pior maneira possível tarde da noite.

Ele virou a cabeça para me fitar, os olhos cinzas sendo um dos únicos traços expostos de seu rosto. Pelo movimento de suas sobrancelhas, pareceu não acreditar na minha pergunta.

Adquiri uma expressão cheia de frieza e determinação, mostrando que eu não me satisfaria com o silêncio.

— Liam Campbell, Hope Academy. – ele puxou o lado direito de sua jaqueta, expondo uma insígnia prateada onde a sigla “H.A.” posicionava-se acima do termo “Linha de Combate”. 


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Notas finais do capítulo

Alicia teve uma noite de cão...
E Celine é escolhida para ser vice-líder!
Vou deixar algo aqui... Nem tudo é o que parece, então lembrem-se desse morcego. Lá para o final ele voltará a ser citado.

Próximo capítulo: O surgimento de um mistério
Onde Liam e Alicia discutem sobre essas criaturas e a Hope Academy começa a ser falada no instituto.

Até quarta-feira, beijos.
—Creeper.



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