No início dos tempos, existiam dois seres de imagens indefinidas, todavia, aqueles que já não estão mais na Terra alegavam enxergar altas silhuetas femininas que balançavam majestosas asas de serafim, sendo consideradas as divindades do mundo.

Elas possuíam muitos nomes, alguns como Sol e Lua, Yin e Yang, Água e Fogo, Dia e Noite, Verão e Inverno. Suas formas humanas foram batizadas de Eva e Lilith, apesar de totais paralelas, as divindades eram vistas como irmãs.

Eva e Lilith mantinham o equilíbrio no mundo, sendo a fonte de todo o poder que os humanos já conheceram. Eva pregava que a magia estava presente dentro de todos os seres que possuíssem o desejo de aprendê-la e usá-la para o bem. Lilith, por outro lado, acreditava que a magia era originada da existência das divindades e que seria um desperdício se humanos comuns a utilizasse.

Nascidas da ideologia de Lilith, as bruxas espalharam-se pelo mundo, desenvolvendo habilidades especiais, estudando feitiços e alimentando-se de outros humanos para sustentarem sua energia vital. Eva, enfurecida e ofendida, decidiu em segredo exterminar todas aquelas consideradas “filhas de Lilith”.

Sol, Yang, Água, Dia e Verão reuniram-se para lançar uma maldição sobre as bruxas, pretendendo extingui-las em um período de cem anos. Ao descobrir o feito da irmã, Lilith confrontou-a.

Nesse dia, as nuvens foram pintadas de cores frias, relâmpagos reluziram e trovões ribombaram. O resultado foi ilustrado pelas mãos sangrentas de Eva no pescoço de Lilith.

Ao perceber o que fez, Eva arrependeu-se imediatamente e lamentou pelo seu ato, implorando para que sua irmã retornasse. Os céus não pararam de chorar durante um mês, a chuva alagou cidades inteiras, tornou as terras inférteis e submergiu ilhas.

Depois de trinta dias lamuriando-se, a divindade restante criou um contra-ataque para sua maldição. Ela ditou que as bruxas não seriam extintas, apenas desapareceriam da Terra e permaneceriam adormecidas no palácio de sua irmã. Para acordá-las, seria necessário encontrar as treze peças do cajado de Lilith e as treze pedras do colar de Eva, unindo-as.

Eva passou os próximos cem anos sozinha, ocupando-se ao cuidar dos humanos que usavam a magia para o bem, até que sua maldição se concretizou e as bruxas sumiram. Ela então guardou as peças do cajado em uma Caixa de Pandora, pois pretendia dormir por pelo menos um século para conter sua angústia e somente mais tarde concluir sua redenção.

Durante seu descanso, Eva não teve noção de que as bruxas sem um clã resistiram à sua maldição. Não se sabe ao certo, mas houve uma exceção conhecida como Magi De La Lune, a única sobrevivente legítima do maior clã que o mundo já conheceu. Como poderia ela ter sobrevivido se ainda carregava consigo o nome da lua?

Assim que Eva acordou, ela cumpriu sua purgação. Agitando a Caixa de Pandora, a divindade espalhou as peças do cajado pelo mundo, ainda sem saber que algumas bruxas estavam vivas.

Após sua descoberta, a divindade encheu-se de indignação e ficou tentada a não continuar seu trato pessoal, entretanto, não deixava de sentir uma dor imensa ao olhar de sua janela para o palácio abandonado que um dia pertenceu a sua irmã.

Decidida, Eva entregou as pedras de seu colar aos deuses do Olimpo, nomeando-as de bênçãos e instruindo-os a protegê-las até o dia em que retornassem aos céus. Por fim, definiu mais uma regra: somente os dignos seriam capazes de encontrar o templo dos deuses na Terra.

Percebendo que já não havia mais no que trabalhar e imersa em uma tristeza profunda por ser a responsável pela morte de sua irmã, Eva deu um último suspiro enquanto seus dedos delicados escorregavam pela adaga em seu peito e o sangue escarlate manchava os lençóis brancos da cama.

Aquele era o fim das divindades e o começo de uma nova era.