Sentimento que Acorrenta escrita por Kaline Bogard


Capítulo 1
A combinação perfeita e...


Notas iniciais do capítulo

Põe colete...



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O dia começou como um outro qualquer. Era uma sexta-feira agitada, do jeito que Inuzuka Kiba estava acostumado. O número de clientes aumentava, a animação dobrava. Era assim desde que começou aquele trabalho de meio período no restaurante. E Kiba gostava assim, gostava da agitação, da correria. Às vezes tinha que ajudar como garçom, porque só Ayame, filha do dono, não dava conta! A maior parte do tempo ficava na cozinha, lavando pratos e prestando suporte conforme Teuchi-san solicitava.

Era um ótimo emprego. Não pagava muito, mas Kiba garantia a janta todos os dias. Teuchi também era um bom patrão, um Beta sempre bem-humorado e com muita paciência com o jeito desastrado de Kiba, que nunca o discriminara ou tratara diferente por ser um Ômega. 

Kiba entrava às oito horas e ia direto até o final da tarde, sempre conseguindo encerrar o trabalho perto das dezoito horas. Um período longo, que passava rápido! Exatamente como naquela sexta-feira típica de verão. O dia havia rendido muito, foram inúmeros fregueses, a ponto de Kiba ter que ir ajudar a servir os pratos (ele adorava essa parte, porque ganhava alguma gorjeta de vez em quando). Na hora do almoço recebeu uma porção maravilhosa de lamen, pois podia fazer a refeição no trabalho e Teuchi era um cozinheiro excelente.

A euforia do rapaz costumava dobrar quando entravam na última hora do expediente. Período em que havia certa calma antes de um novo rush para o jantar. Mas nessa hora outro funcionário de meio período assumia.

— Cadê nosso Nikujaga?!! — um grupo de clientes gritou mais ao canto.

— Já vai, caralho! — Kiba, que caminhava equilibrando uma bandeja, berrou com irritação. Adorava o trabalho, mas nem por isso mudaria a personalidade exótica. O mau-humor que o fez ser demitido de outros empregos era bem aceito ali. O Ichiraku era um restaurante pequeno, aconchegante e familiar. Havia certo nível de intimidade entre os que o frequentavam. Novos clientes até se surpreendiam com o Ômega de pavio curto sem travas na língua ou filtro nas respostas, mas logo se acostumavam.

Ninguém reclamou da resposta grosseira. Pelo contrário. O grupinho deu até umas risadinhas, já esperando algo naquele sentido. O mundo era cinza. Shifters em sua maioria enxergavam apenas em escalas cinzentas, as cores eram um dom que somente Almas Gêmeas podiam almejar. E em meio a esse mar insípido a personalidade exuberante daquele rapaz era uma quebra na monotonia da vida.

Kiba abaixou-se e passou pela portinhola que separava o balcão da área interna e reergueu-se com agilidade felina, seguindo até o grupo reclamão.

Foi nesse instante que sentiu uma presença familiar. Era o amigo de infância, Uzumaki Naruto, que entrava pela porta principal. O rapaz era um Alpha loiro e alto, de sorriso fácil e simpático, que já foi erguendo a mão para cumprimentar alguns rostos conhecidos.

— Yo, minna! Kiba!

— Naruto! — Kiba devolveu o sorriso. — Não estava te esperando, mald...

A frase foi interrompida. Kiba sentiu alguma coisa esquisita, algo que começou como uma espécie de intuição, um aviso irracional do lado Ômega que lhe deu um princípio de angústia inexplicável, mas tão rápido e fugaz que o deixou confuso. Tão logo aquela apreensão animal veio, desapareceu.

E então a explosão.

Não literalmente, apenas um jeito de descrever o que aconteceu com o mundo ao redor: tudo pareceu explodir e se reconstituir de uma forma que Kiba nunca esperou ver antes: em cores. Em infinitos e surpreendentes tons coloridos.

Sua mente começou a girar, rápido demais para o próprio bem. Kiba sentiu uma vertigem desagradável, perdendo o equilíbrio e tentando controlar uma forte ânsia de vomito.

— Ei! — ouviu alguém sentado à mesa próxima gritar enquanto se levantava para tentar ampará-lo.

E tudo escureceu.

—--

Kiba ouviu as vozes exaltadas antes mesmo de recuperar a consciência por completo. Precisou de mais alguns segundos para ser capaz de abrir os olhos e enfrentar a realidade que o aguardava.

Reconheceu o quartinho de descanso do restaurante. Ou assim pareceu, pois era a primeira vez que via aquele lugar daquele jeito: colorido.

— Porra! — Sussurrou exaurido.

— Ele acordou! — Uma voz animada e desconhecida soou. No instante seguinte Kiba percebeu um rosto aproximar-se para observá-lo. Era um Alpha que nunca tinha visto na vida. De face arredondada e traços firmes, colorida com uma maquiagem diferenciada. Os trajes também pareciam estrangeiros — Olá, garoto! Como se chama?

Kiba abriu os lábios para responder num ímpeto, mas só conseguiu sussurrar:

— Inuzuka Kiba.

— Kiba...? — Foi a voz de Naruto que soou reconfortante. — Como você está?

Com suavidade afastou o Alpha desconhecido e tomou-lhe o lugar, ajudando Kiba a sentar-se no sofá puído.

— Horrível! — O Ômega respondeu. E repetiu com o dobro de ênfase: — Horrível.

— Horrível? — o Alpha desconhecido desdenhou, andando de um lado para o outro na pequena sala, incapaz de conter a emoção. — Você só pode estar brincado! Veja todas essas cores!! Não acredito que encontrei minha Alma Gêmea aqui em Konoha assim no susto!

Kiba engoliu em seco, incapaz de partilhar a alegria. Sua mente ainda estava nublada e um tanto confusa.

— Esse é Kankuro. — Naruto explicou sentando-se ao lado de Kiba — Ele é irmão do Kazekage e veio fechar acordos e tratados comerciais. Me pediram para mostrar alguns pontos de Konoha, achei que apresentar o Ichiraku fosse uma boa ideia. A comida daqui é ótima, o lugar é aconchegante.

Naruto explicou sem dar muitos detalhes. Ele era o orgulho da família Inuzuka, que o acolheu como um filho de verdade, que se dedicou e batalhou pelo sonho de ser Hokage, até conseguir passar em todos os testes e se tornar um dos candidatos habilitados a ocupar o cargo. Ter contato com autoridades e se relacionar com todo o tipo de pessoa fazia parte do aprendizado, por isso Naruto recebeu a responsabilidade de recepcionar Kankuro e apresentar um pouco da vila. A simpatia do jovem Alpha era contagiante, com certeza ajudaria a convencer Kankuro a fechar os negócios com Konoha.

Agora Naruto se via frente a frente com um problema delicado e melindroso. Nunca desconfiou que o irmão de afinidade poderia ser Alma Gêmea do importante hóspede, criando um impasse complicado.

Antes que Kiba pudesse dizer qualquer coisa, Kankuro aproximou-se de novo, inclinando-se de leve para poder segurar no queixo do Ômega e virar-lhe o rosto de leve de modo a analisar-lhe o pescoço com atenção.

— Você já tem uma Marca. — Suspirou. — Mas isso não é um problema muito...

— Oe! — Kiba irritou-se com aquela intimidade forçada, segurou no pulso do Alpha e o fez soltar-lhe o rosto. — Ficou louco?

— Kankuro... — Naruto levantou-se, igualmente ofendido. E preocupado. Ele sabia que a hierarquia entre as castas shifters em Sunagakure ainda beirava o arcaico. Alphas na Vila da Areia agiam como reis. Ele foi alertado várias e várias vezes pelo Conselho, para que não cometesse nenhuma gafe ao acompanhar Kankuro. Também estava pronto para lidar com eventuais crises, ainda que ter que mediar uma situação com o melhor amigo sequer passou pela cabeça de Naruto.

— Fantástico! — Kankuro ignorou o alerta, voltando a caminhar de um lado para o outro. — Essas cores todas. É incrível.

Kiba e Naruto trocaram um olhar. O Ômega sentiu a garganta apertar, era a primeira vez que via seu melhor amigo em algo diferente de cinza. Os cabelos dele... Eram de um tom caloroso, e os olhos.  Que cores seriam aquelas?

Cores que vieram sem ser pedidas, através de um vínculo que não desejava. Kiba já era casado, já levava a Marca de um Alpha em si. Alguém que não era sua Alma Gêmea, mas que amava profundamente. Aburame Shino, um homem mais velho, de personalidade pacata e racional, professor da Academia de Konoha, com quem se casara há quase dez anos.

— Vamos conversar sobre isso no hotel! — Kankuro decidiu. — Não precisa me acompanhar mais, Uzumaki.

— O quê? — Kiba rosnou. — Não fode, cara.

— Kankuro, não sei o que está pensando. Mas isso está fora de...

— Ousa dizer que eu não posso? Tentar conhecer minha Alma Gêmea? Não me faça rir, Uzumaki. — Kankuro que tinha parado de andar lançou um olhar um tanto irritado na direção de Naruto, antes de repetir: — Vamos, garoto.

Kiba sentiu o coração falhar uma batida e o rosto perder toda a cor, enquanto obedecia sem poder evitar. Kankuro usara a Voz de Comando, aquela premissa Alpha que dobrava a vontade de Betas e Ômegas, tirando-lhes o livre arbítrio. Nunca naqueles vinte e sete anos de vida fora submetido assim por um Alpha, obrigado a fazer algo que não desejava.

Lançou um olhar desesperado para Naruto e se sentiu ainda pior. Por toda a infância e adolescência odiara ter nascido naquela casta tão frágil. Foi apenas ao conhecer Shino que aprendeu a ver o mundo de outro jeito. O Alpha o ensinou a parte linda de nascer Ômega, uma parte de equilíbrio e harmonia que fazia o bem para os outros, assim como todo o altruísmo inerente aos nascidos naquela casta.

Com a ajuda de Aburame Shino, Kiba conseguiu se aceitar, entender o respeito que deve haver em qualquer relação, independente de origem. Convivendo com Shino, Kiba nunca se sentiu diminuído ou rebaixado, em nenhum momento sentiu-se valendo menos do que o companheiro. Pelo contrário, Shino o tratava como se fosse especial! E Kiba tentava retribuir da maneira que podia.

E então... Naquela saleta de descanso, pela primeira vez na vida, ele se viu frente a frente com o poder avassalador de um Alpha, que sequer hesitou antes de subjugá-lo contra a própria vontade.

Era humilhante se perceber obedecendo um desconhecido, o eleito pelo Destino para, supostamente, ser seu parceiro ideal e que na realidade o tratou como se sua vontade valesse menos do que nada em apenas segundos de interação.

O desespero do Ômega encontrou sentimento igualmente forte em Naruto. Mas o Alpha de cabelos loiros foi acometido por raiva e nada mais. Era inacreditável que aquele convidado estivesse se portando de modo criminoso pelos padrões de Konoha, vila que tinha leis rígidas contra abusos cometidos por Alphas. Até mesmo o irmão do Kazekage era obrigado a respeitá-las.

Naruto deu um passo a frente e segurou no braço de Kiba, impedindo o avanço do amigo e tentando quebrar a dominação sobre ele. Foi um gesto corajoso, que demonstrou toda a sua inexperiência no assunto.

Se tivesse um pouco mais de conhecimento, Naruto teria agido diferente. Mas era jovem, um Alpha crescido em meio a paz e boa convivência. Diferente de Kankuro, mais velho e criado numa Vila em que prevalecia a vontade do mais forte e que projetou a própria presença animal, inundando aquela sala pequena com uma ferocidade ampliada pela ousadia de ver outro Alpha tocando o Ômega que já considerava sua propriedade.

O ataque mental veio sem aviso, e tão selvagem que conseguiu desnortear Naruto, fazendo-o cair de joelhos no chão respirando pesado. O efeito em Kiba foi ainda pior, paralisou-lhe o lado animal, obrigando-o a se recolher e quase tirando os sentidos do rapaz que nunca tinha passado por algo assim. Só a um custo muito alto da força de vontade se manteve consciente na situação absurda.

Não ofereceu resistência alguma quando Kankuro o segurou pelo braço em um gesto similar ao de Naruto instantes antes e o puxou para fora da sala de descanso. No restaurante os clientes restantes estavam alvoroçados, curiosos e assustados com a presença Alpha que atingira até mesmo eles. Alguns resmungavam, sem saber como reagir por não saber bem o que causara o atrito.

— Kiba-kun! — Teuchi fez um gesto na direção do jovem funcionário, sendo ignorado tanto por Kankuro quanto por Kiba, que não estava em condições de responder.

O que estava ruim ficou ainda pior.

Kiba amava o seu emprego. O salário não era alto, mas ele ganhava o almoço todos os dias e, às vezes, ganhava o jantar também, ajudando a equilibrar o orçamento de casa. O Ichiraku era um restaurante familiar onde seu mau humor e arrogância eram bem aceitos, porque os clientes assíduos se tratavam exatamente como aquilo: família. Todos achavam engraçado, ou parte do charme do lugar, ter um funcionário boca-suja, pavio curto e impulsivo.

Um Ômega cuja essência era o oposto exato do gênio brusco: acolhedora e gentil. Mas, acima de tudo, Kiba gostava de trabalhar no Ichiraku que ficava perto da sua casa e cujo horário havia sido adequado para ele sair às dezoito horas, porque coincidia com Shino passando por ali, após terminar as atividades na Academia, esperando pelo companheiro para que pudessem ir embora juntinhos.

Quando Kankuro o arrastou para fora do restaurante, Aburame Shino estava no lugar de sempre, perto de uma placa na calçada onde se lia os preços dos pratos profissionais. E foi o momento em que Kiba sentiu medo puro e verdadeiro, não por si só, mas pelo que intuiu que estava prestes a acontecer.


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Notas finais do capítulo

Gente, o próximo é o último... e vou dar uma dica: não tirem o colete... eu fui má. HOHOHOHO

Quando vou att? Não sei, deixarei o suspense para provocar um pouco o coração dos meus amados leitores!

Mas vem, já está digitadinho e bem revisado ♥

Obrigada!! Vejo vocês em breve...



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