Lembranças escrita por dearcwllen


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

O combo de inspiração para essa história foi:
♥ Tema: aniversário
♥ Música: Cornelia Street, Taylor Swift
♥ GIF: Bella sorrindo timidamente no casamento do pesadelo em Amanhecer



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Drunk on something stronger than the drinks in the bar

Tempo atual

“Tequila e coração quebrado é uma combinação que nunca dá certo.”

Eu conseguia ouvir a voz de Rosalie em minha mente, com aquele tom reprovador que só ela conseguia reproduzir, enquanto eu virava mais um shot e sentia a minha garganta arder. E, mesmo sabendo que ela estava certa, ignorei a voz da razão e sinalizei para o bartender encher o meu copo pela quarta vez naquela noite.

— Tem certeza, moça? Parece que você vai vomitar a qualquer momento… – ele comentou enquanto hesitava com a garrafa na mão, provavelmente pensando que eu iria lhe dar mais prejuízo do que lucro se me desse mais uma dose da bebida.

— Relaxa, James – li o nome que estava em seu uniforme, tentando sorrir simpaticamente mesmo que tudo que eu mais quisesse fazer era arrancar a garrafa de tequila da mão dele e beber diretamente do gargalo. —  Eu posso ser pequena mas sou muito resistente.

—  Se você diz… – apesar da incerteza em sua voz, finalmente colocou a bebida no meu copo, me olhando com um semblante preocupado. — De qualquer forma, daqui a pouco a gente fecha.

— Então é melhor você me servir mais rápido, James, porque eu só saio daqui quando a dor no meu coração for menor do que a tontura que só a tequila sabe me proporcionar. – falei enquanto virava mais um shot e balançava o copo na frente dele com um sorriso irônico no meu rosto.

Sabia que eu estava sendo uma vaca mas, caramba, será que uma mulher não pode mais beber em paz? Que tipo de bar era aquele que ficava regulando o quanto de bebida que eu ingeria?

—  Ah, tudo faz sentido. Você tá afogando as mágoas. – agora ele tinha uma expressão de dó em seu rosto, o que me deixou ainda mais brava. Eu não queria a pena dele, só queria a porra da minha tequila.

— Faz cinco anos que eu tô afogando as mágoas e você é o primeiro que fica me empatando.

—  Caramba, cinco anos? Esse cara deve ter sido realmente especial pra você, hein. – James disse, apoiando os braços no balcão e chegando mais perto de mim. Ainda sem encher o meu copo. Que cara chato!

—  Ah, qual é? Agora vai querer bancar o bartender psicólogo? Sério?

— Você tá afogando as mágoas, sozinha, numa terça-feira à noite, por um relacionamento que você terminou há cinco anos. Eu realmente acho que você poderia aproveitar os conselhos de um bartender psicólogo. Aposto que posso te ajudar… Escuto de tudo aqui. – ele piscou pra mim e pela primeira vez na noite eu tive vontade de vomitar.

Por um segundo eu pensei em mandar ele ir se foder. Afinal, eu não estava lá pra receber conselhos baratos de um cara que eu nunca vi na vida. Eu tava lá pra beber: simples assim.

Mas, sinceramente, que mal faria falar um pouco sobre o término que eu nunca superei? Talvez o desabafo não fosse feito com a melhor pessoa, é verdade, mas será que não valia a tentativa de tirar um pouco daquele peso do meu coração?

Suspirei derrotada e, com um aceno em direção à garrafa de tequila, comecei a falar enquanto ele enchia meu copo pela quinta vez naquela noite. Um shot para cada ano longe dele.

— Há exatos cinco anos eu terminei o meu namoro com a única pessoa que eu realmente amei por um motivo ridículo. A gente era tão feliz… Tínhamos acabado de nos mudar pro nosso apartamento dos sonhos, lá na Cornelia Street. – comecei a falar em voz baixa, circulando a borda do copo com os meus dedos.

Não me prestei a olhar para James para saber se ele estava ou não prestando atenção no que eu falava, mas depois que comecei, não conseguia calar a boca.

— Eu sonhava em casar com ele, sabia? Tinha certeza de que ele era o homem da minha vida… O amor da minha vida. Ficava imaginando como seria o meu vestido, como ele reagiria à mim, se eu ia conseguir andar sem cair - mas com a certeza de que ele me pegaria se fosse preciso -, e sabendo que eu ia estar rindo à toa de tudo naquele dia, mesmo nervosa… E com a certeza de que nada ia se comparar a levantar a cabeça e saber que ele estava ali no altar esperando por mim.

Desembestei a falar. Nem eu sabia que tinha tanta coisa passando pela minha mente ao mesmo tempo.

— Depois de tudo que aconteceu, eu nunca mais nem consegui passar por aquela maldita rua. – ri com desdém de mim mesma. — Pelo amor de Deus, James, o quão patética eu sou? Eu literalmente escolho caminhos mais demorados e muitas vezes mais perigosos só pra não ter que passar por aquela merda de prédio! Que porra eu tô fazendo, hein?

Enquanto eu falava com aquele desconhecido de caráter duvidoso, percebi que eu estava fazendo tudo errado por cinco malditos anos. Porra, eu realmente ainda estava sofrendo e dificultando o meu dia a dia por um cara que simplesmente me deixou? Em um segundo, eu sabia o que tinha que fazer.

De repente, eu sabia exatamente o que eu tinha que fazer para superar aquele relacionamento fracassado: ir até a fonte dos problemas.

Sim. Chega de ficar evitando uma rua só porque ela me trazia memórias ruins. Era hora de retomar o controle da minha vida, e isso significava deixar para trás os fantasmas do passado.

Era como se eu estivesse vivendo debaixo d’água e, finalmente, tinha chegado à superfície, e enxergado a razão. Deus abençoe a tequila!

— Quer saber? Chega de ficar me limitando por causa do passado! Eu vou pra essa porra de rua agora, e vou superar essa merda de relacionamento. – sorri, e tinha certeza de que estava parecendo uma maníaca.

Bebi o último shot da noite e levantei abruptamente da cadeira. Por um segundo perdi o equilíbrio, afinal, sou Isabella Swan, mas logo retomei o foco.

— E não é que você tinha razão, James? Até que você é um bom psicólogo de bar!

— Mas eu nem falei nada… – ele respondeu, os olhos arregalados, provavelmente assustado com a minha epifania e com o meu discurso que, sinceramente, não sei se fez muito sentido na mente sóbria dele. Mas fez muito sentido na minha mente bêbada, e é isso que importa.

— E quem disse que tequila e coração quebrado é uma combinação que nunca dá certo, hein? – falei enquanto jogava algumas notas em direção ao bartender e saía porta afora.

Era hora de retomar o controle da minha vida.

Jacket round my shoulders is yours

5 anos atrás

— Puta que pariu, que frio – reclamei quando saímos do bar e fomos atacados por uma rajada de ar gelado.

Meu corpo, aquecido por conta das bebidas, reclamou do frio instantaneamente. Passei os meus braços ao redor de mim mesma, tentando me aquecer inutilmente.

— Sinceramente, Bella, às vezes eu acho que você faz isso de propósito só pra poder usar meus casacos – Edward revirou os olhos, mas eu podia ver que ele estava se divertindo enquanto tirava a própria jaqueta e a passava pelos meus ombros.

— Por favor! Eu consigo pensar em muitas outras maneiras pra você me aquecer, e todas elas são mais divertidas do que isso – sorri maliciosamente enquanto me aproximava dele e o abraçava pela cintura, puxando-o para mais perto de mim.

Edward sorriu, balançando a cabeça negativamente para mim enquanto colocava suas mãos quentes em minhas bochechas frias, impedindo que o meu cabelo voasse entre nós, fazendo com que um arrepio percorresse por todo o meu corpo.

— Você é impossível… Sempre procurando por mil formas diferentes de tirar toda a minha inocência.

— É o meu jeitinho – dei de ombros.

A forma com que ele estava me olhando, misturada com todas as bebidas que eu tinha ingerido, tinham queimado os últimos neurônios ativos de meu cérebro, e eu me vi incapaz de falar qualquer outra coisa.

Que ódio! Ele sempre me fazia ficar tonta daquele jeito.

— Eu tô muito orgulhoso de você, Bella. Eu sempre soube que você ia conseguir essa promoção. – por um segundo, eu não tinha a mínima ideia do que ele tava falando. Só conseguia olhar para os lábios dele, e me perguntar por que eles não estavam se movendo sobre os meus.

Balancei minha cabeça, tentando clarear a minha mente, e me dei conta de que ele estava falando do motivo que fez a gente sair em uma terça-feira para beber e comemorar como se não tivéssemos que trabalhar no dia seguinte: eu finalmente tinha sido promovida à editora, e não mais assistente, no local em que trabalhava.

— Eu prefiro aceitar os seus parabéns na nossa cama. Embaixo das cobertas. Pelados e bem quentinhos! – brinquei, fingindo outro arrepio.

Eu nunca sabia como me comportar quando as pessoas me elogiavam. Mas, quando era Edward que fazia isso, a situação piorava em mil por cento. Era como se o meu cérebro simplesmente parasse de funcionar!

— Eu sabia que você só está comigo pelo meu corpinho – Edward suspirou teatralmente e então fez um biquinho.

— Larga a mão de ser ridículo! Eu realmente tô com frio, vamos embora logo. – beijei os seus lábios levemente e então começamos a andar.

O bar ficava perto de nosso apartamento, então não fazia sentido gastar dinheiro com táxi...Até que começou a chover.

Se eu achava que estava com frio antes, é porque não estava encharcada da cabeça aos pés.

— Caralho! – xinguei, segurando as mãos de Edward e tentando andar mais rápido. Mas ele continuou no mesmo ritmo, como se nada estivesse acontecendo. — Edward! Acelera o passo, olha essa chuva. Tá querendo ficar doente?

— Qual é, Bells! Aproveita o momento, meu amor – ele me puxou para perto de si, me beijando de uma forma um tanto quanto indecente, me fazendo perder o fôlego… Não que isso fosse novidade. A novidade é que, em seguida, ele começou a dançar de forma totalmente descoordenada. No meio da rua. Debaixo da chuva.

— Meu Deus, você tá completamente doido! – eu tentei reclamar, mas aquela visão logo me fez gargalhar.

E é claro que eu não perdi um segundo antes de começar a dançar com ele na chuva. Só Deus sabia quando ele ficaria bêbado o suficiente de novo para dançar por livre e espontânea vontade em público.

A comemoração poderia ter começado de uma forma gelada, mas a verdade é que ela terminou bem quente, debaixo dos cobertores, do jeitinho que eu tinha falado que seria.

That’s the kinda heartbreak time could never mend

Tempo atual

Como se o universo soubesse exatamente o que eu estava pensando, começou a chover assim que eu coloquei os meus pézinhos na infame Cornelia Street.

Inferno! Seria esse um sinal de que aquela era uma péssima ideia? Provavelmente sim, mas o meu cérebro cheio de tequila ignorou todos os avisos divinos e me fez continuar andando até que enfim parei em frente ao prédio em que, por menos de um ano, dividi um apartamento com Edward.

Eu ainda conseguia me lembrar de cada detalhe de todos os cômodos como se fosse hoje, principalmente quando via alguma peça parecida em lojas que visitava frequentemente com minhas amigas.

Mesmo tentando bloquear esse tipo de memória, era impossível apagar tudo de minha mente.

— Porra! Por que é tão difícil esquecer você? – gritei para o prédio, percebendo que minha voz estava diferente. Estava chorando, é claro. Uma hora ou outra, as lágrimas sempre vinham nessa data… E, agora, elas estavam se misturando à chuva. — Caralho, a Rosalie e a Leah iam chutar o meu cu se me vissem nesse momento…

Enquanto me perguntava o que caralhos eu ia fazer agora que estava ali – eu realmente achei que tudo, toda a dor e o ressentimento, ia simplesmente desaparecer só porque eu tava andando por aquela rua como se ela fosse mágica? O que eu tava pensando quando escutei o conselho de um bartender, caralho? – percebi que a luz do apartamento em que eu costumava morar acendeu.

— Ai meu Deus, será que eu fiz barulho demais? Devo estar parecendo uma psicopata parada em frente a um prédio no meio dessa chuva! Agora vou ser presa por estar chorando no meio da rua por causa do meu ex, puta que pariu, eu sou PATÉTICA!

Apesar do meu surto, respirei fundo, tentando manter a calma. É claro que eu não ia ser presa. O que eu estava fazendo era estranho, e deixava bem nítido que eu tinha alguns parafusos soltos na cabeça, mas não era um crime.

Ao mesmo tempo em que tentava fazer os meus pés se moverem para que eu saísse dali antes que a situação piorasse, a porta da entrada do prédio se abriu.

— Ei, moça, tá tudo bem? – a voz masculina perguntou.

Por causa da chuva, eu não conseguia ver nem escutar muito bem o pobre coitado que estava sendo assombrado pelo fantasma de inquilinos passados, mas alguma coisa em sua postura me parecia estranhamente familiar.

— Tá tudo bem, sim! Eu estava perdida, mas já sei pra onde tenho que ir, não precisa se preocupar. Desculpa se te assustei. – falei rapidamente enquanto me afastava, tentando parecer uma pessoa sã, o que não poderia estar mais distante da realidade.

— Tem certeza? A chuva tá bem forte…

— Tenho sim, tudo sob – parei de falar abruptamente. A palavra “controle” ficou parada em meus lábios. A forma com que aquele estranho tinha acabado de passar as mãos pelo cabelo era simplesmente idêntica ao costume irritante, mas muito sexy, de Edward. Mas não podia ser ele. Podia? — Edward? – falei com uma voz tão fraca que eu mesma não tinha certeza se tinha saído alguma coisa inteligível.

— Moça? Você falou alguma coisa? – ele perguntou, dando um passo pra frente. E então eu tive certeza de que aquele era, sim, Edward. Puta que pariu. — B-Bella? – ele gaguejou, parecendo tão surpreso quanto eu enquanto a chuva começava a encharcá-lo rapidamente.

Olhei para aquele rosto perfeito, que há alguns anos eu conhecia tão bem, e percebi que as minhas memórias não chegavam nem perto da realidade. Porra, as minhas memórias eram uma bela de uma merda, pra ser sincera. Porque a realidade continuava me tirando o fôlego.

— Que porra você tá fazendo aqui? – eu gritei, sem me importar se o prédio tinha mais moradores que poderiam chamar a polícia por causa da doida que estava causando e acabando com a paz deles.

— Eu poderia te perguntar a mesma coisa!

Olha a audácia do desgraçado!

— Mas eu perguntei primeiro! – reclamei como se fosse uma criança. Mas me dá um desconto, tá? Eu estava bêbada e encontrar o Edward ali, depois de cinco anos, definitivamente não estava nos meus planos.

— Bom, você estava gritando e chorando em frente ao apartamento que eu aluguei, então acho que tenho mais direito de saber do que você...

— Você tá falando sério? – falei entre dentes, com uma súbita vontade de socar aquela cara ridiculamente perfeita e mandar ele ir tomar no meio do cu. — Quer saber? Esquece! Pode voltar pro teu apartamento despreocupado porque eu já tô indo embora.

— Bella, espera! Eu… Eu alugo o nosso apartamento todo ano, no aniversário do nosso… Do nosso rompimento.

I thought you were leading me on

5 anos atrás

A minha cabeça estava latejando. Se era pelo excesso de bebida da noite anterior ou por ter ficado dançando na chuva, eu não sabia.

Edward tinha deixado um analgésico separado para mim, mas eu sentia que ia precisar de mais uns dez daquele para que a dor realmente passasse. É por isso que, no meu horário de almoço, tinha decidido visitar a farmácia mais próxima e comprar mais uma cartela de remédio.

— Bella? – escutei uma voz desconhecida me chamar enquanto saía da loja e enfiava dois comprimidos de uma vez na boca.

Olhei para trás e dei de cara com uma loira aguada que trabalhava com Edward. Ele sempre dizia que eu exagerava, mas eu juro por Deus que essa mulher já havia me matado por pensamento milhares de vezes, e tinha certeza que todas elas tinham muitos resquícios de crueldade.

— Irina. Que surpresa te ver por aqui – dei um sorriso forçado. Tudo que eu não queria ter que fazer naquele dia era ser simpática com gente que eu não gosto, mas o universo tinha outros planos para mim.

— Tá tudo bem? – perguntou, olhando para a minha sacola, uma falsa preocupação em seu rosto. Quem ela está tentando enganar? Sempre uma fofoqueira enxerida, pensei comigo mesma.

— Sim, sim, só uma dor de cabeça chata. – respondi rapidamente, sem dar muitas explicações, tentando me livrar dela logo.

— Ah, eu imagino… Mudanças são bem complicadas, mesmo.

Mudanças? Do quê essa doida está falando agora?

— Mudanças? – sorri educadamente. Sei que não deveria dar papo para ela, mas sou filha de Deus e fiquei curiosa com o que ela quis dizer.

— Bom, com a nova promoção da Edward, ele vai ter que se mudar pro outro lado do país. Imagino que você vai junto?

Por um segundo eu tive vontade de falar “A promoção foi minha, doida, e a gente vai continuar em Nova Iorque”, mas então lembrei que ela não poderia saber de detalhes sobre o meu trabalho, porque ela nem era próxima de Edward.

O que queria dizer que ele foi promovido, e não me contou.

— Ah… Nós ainda não temos nada definido, estamos acertando os detalhes. – menti.

Não queria admitir que não sabia do que ela estava falando. E também não queria me precipitar. Pode ser que ele tenha recebido a notícia no mesmo dia que eu e não quisesse atrapalhar o meu momento, certo?

Eu nunca ia me chatear por isso, muito pelo contrário, iria adorar dividir a comemoração com ele, mas Edward sempre adorava fazer tudo ser sobre mim.

— Sério? Faz algumas semanas que ele foi notificado sobre isso, e precisa dar uma resposta logo… O prazo é até sexta-feira. – ela falou com uma voz preocupada, mas eu sabia que era fingimento. Conseguia ver em seus olhos que ela era capaz de perceber o meu blefe e de que eu não sabia de nada que ela estava me falando. E é claro que ela estava aproveitando cada segundo daquela tortura — Mas é claro que você já sabe disso, né? – Irina riu de um jeito bizarro, e eu só acenei com a cabeça.

— Eu tenho que ir, Irina, mas foi bom te ver – menti mais uma vez, me virando para ir embora. Não sabia mais quanto tempo eu conseguiria manter a minha poker face que, pra início de conversa, nunca foi muito boa.

— Sabe, Bella… – ela voltou a falar e, me segurando para não dar um soco naquela cara cínica dela, eu olhei para ela novamente. — Eu realmente sempre achei que o Edward é muita areia pro seu caminhãozinho… – ela me encarou de cima abaixo de forma claramente desdenhosa, e eu respirei fundo para não perder o pouco controle que ainda tinha. — Enfim, a gente se vê por aí. Ou não, né? Aparentemente ele não está te incluindo nos planos pro futuro.

Com isso ela se virou para ir embora, e eu consegui sentir as lágrimas que estava segurando com tanto esforço rolarem por meu rosto.

Que merda tinha acabado de acontecer?

Years ago we were just inside

Tempo atual

Eu tinha certeza de que havia surtado de vez. A tequila tinha me afetado muito mais do que eu tinha percebido.

É claro que ele não tinha falado aquilo, certo? Porque eu tinha certeza absoluta de que a única idiota que tinha sido afetada pelo término era eu. Mas, se ele não estava mentindo para mim de novo, isso não era verdade.

Ao mesmo tempo, não fazia sentido nenhum para que ele fizesse aquilo. Ele deve estar mentindo. É claro. Deve ter criado essa desculpinha agora só porque teve a cara de pau de voltar a morar aqui e acabou dando de cara comigo em meio a um surto.

Enquanto eu tinha um monólogo interno, a chuva ficou ainda mais intensa. Gritei quando um relâmpago clareou o céu e logo foi seguido de um trovão, finalmente voltando para a realidade.

Edward estava olhando para mim com um semblante preocupado, e eu revirei os olhos. Vai querer se pagar de santinho agora? Sério?

— Conta outra, Edward.

— Bella, por favor, vamos entrar. Está chovendo muito forte, e você está claramente bêbada. Você pode se aquecer e a gente pode conversar…

— Eu não tenho nada pra conversar com você! E quem disse que eu tô bêbada? Eu tô ótima! Nunca estive melhor. – o fato de que eu estava gritando para um apartamento, no meio da rua, em meio a uma chuva, me desmentiriam facilmente, mas eu decidi ignorar os fatos pelo bem de meu orgulho.

— Tudo bem, Bella, a gente não precisa conversar. Mas, por favor, entra. Só até a tempestade passar. Eu prometo que te chamo um táxi assim que a chuva ficar mais fraca.

Mordi meus lábios, ponderando as minhas opções. Elas não eram muito boas.

Eu podia tentar ir embora, mas tinha certeza de que todos os bares decentes já estavam fechados, e eu não acharia nenhum abrigo. Estava muito tarde para que eles estivessem abertos, mas muito cedo para que alguma padaria já estivesse funcionando.

Pedir um táxi também não era uma opção. Até parece que algum motorista ia se arriscar e dirigir no meio daquela tempestade.

Inferno!

Eu estava sem opções.

— Tá. Só até a chuva passar. – resmunguei e ele assentiu, segurando a porta para que eu entrasse.

Subimos as escadas em silêncio; o apartamento ficava no primeiro andar e, naquele caminho curto, tudo o que conseguia escutar era as nossas respirações, passos molhados no chão, a tempestade lá fora e o furacão na minha mente.

Assim que passei pela porta de entrada, me senti subitamente consciente demais de tudo ao meu redor.

A minha roupa molhada grudava em meu corpo de um jeito incômodo. Cada gota de água que caía de meu cabelo diretamente em meu corpo me fazia tremer ainda mais de frio. Os meus pensamentos corriam a mil por hora; a bebida tinha perdido todo o seu efeito, e eu tinha certeza de que os meus divertidamentes estavam enlouquecidos naquele momento.

— Eu vou buscar uma toalha pra você – Edward falou calmamente e sumiu pelo corredor, voltando rapidamente até onde eu continuava paralisada, na soleira da porta. — Aqui.

Ele me estendeu duas toalhas dobradas, que eu rapidamente enrolei ao redor de meu corpo. Ainda não conseguia me mexer. Mais uma vez, todos os meus neurônios pareciam ter me abandonado.

— Você pode entrar e usar o banheiro se quiser, Bella. Você está tremendo… Quer trocar de roupa? Eu posso te emprestar um moletom meu.

— Eu não quero nada seu. – falei rispidamente, saindo de meu transe. — Pode deixar que eu me viro no banheiro.

Falei e andei rapidamente até o banheiro. Cinco anos haviam se passado, mas eu ainda conhecia a estrutura daquele apartamento como a palma da minha mão.

Tranquei a porta e me olhei no espelho. Se alguém me visse agora, teria certeza de que eu tinha acabado de sair do manicômio.

Além de molhado, o meu cabelo estava totalmente despenteado por causa do vento forte. Meu batom escuro tinha desbotado e manchado, dando um aspecto de filme de terror aos meus lábios. O meu rímel também tinha escorrido pelo meu rosto - se isso foi causado pelas lágrimas ou pela chuva, eu não tinha como saber. Provavelmente uma mistura dos dois.

Respirei fundo e comecei a tentar me arrumar. Passei meus dedos sobre os meus fios gentilmente, domando parte daquela bagunça. Não estava perfeito, mas foi o que deu para fazer. Lavei o meu rosto na água quente, tentando me aquecer um pouco ao mesmo tempo em que removia ao menos um pouco da maquiagem. Sequei meu rosto na toalha, manchando-a completamente de batom e rímel.

Dei de ombros. Edward que se virasse depois.

Torci o que era possível da minha roupa, retirando um pouco do excesso de água, e passei a segunda toalha pelos meus ombros, em uma tentativa inútil de espantar o frio.

Reunindo uma coragem que eu não sabia que tinha, abri a porta novamente e fui em direção à cozinha. Sabia que ele estava lá pela luz acesa e pelo barulho da chaleira. Não queria conversar, mas também não me parecia apropriado ficar sentada, sozinha, na sala de um apartamento que não era meu. Não mais.

Assim que sentei no balcão da cozinha, que me oferecia uma visão ampla de praticamente todos os cômodos, fiquei enjoada. Era como se alguém tivesse dado um soco em meu estômago.

Não importava para onde eu olhasse, memórias do que a gente tinha vivido ali surgiam em minha mente.

Na sala, eu conseguia visualizar perfeitamente o local onde o piano de Edward costumava ficar. Eu amava escutá-lo tocar; passamos incontáveis tardes de domingo com ele tocando descontraidamente enquanto eu lia um livro ou focava no trabalho.

Na cozinha, a visão dele preparando um mísero chá me fez pensar em toda as vezes em que cozinhamos juntos, tentando seguir alguma receita maluca que ele havia encontrado na internet. Na maioria das vezes dava tudo errado e a gente acabava pedindo uma pizza.

E, se eu movesse os meus olhos um pouquinho para a esquerda, poderia ter uma visão do que costumava ser o nosso quarto. Aposto que até mesmo a marca na parede da vez em que quebramos a cama ainda estava ali.

Aquela era a primeira vez em que estávamos juntos de novo, naquele apartamento, depois da briga que acabaria com o nosso futuro e transformaria todo o nosso passado em memórias dolorosas. E eu sentia que a qualquer momento eu iria explodir.

You packed your bags, left Cornelia Street, before I even knew you were gone

5 anos atrás

Depois do meu encontro nada agradável com Irina, eu sabia que seria impossível me concentrar no trabalho. Então dei uma desculpa qualquer e voltei para o meu apartamento.

Fazer isso um dia depois de ter recebido uma promoção provavelmente não foi uma ação muito inteligente, mas decidi que era melhor me ausentar por uma tarde do que acabar fazendo alguma merda que colocaria todo o meu futuro profissional em risco. E, para ser bem sincera, todo mundo viu a minha cara de derrota quando retornei do almoço; fingir um mal estar não foi tão difícil assim.

Cheguei em casa cedo demais; Edward não voltaria por pelo menos três horas. Por isso, decidi tentar tirar um cochilo. Não havia dormido muito, e isso estava provavelmente contribuindo para a dor aguda que sentia e que dava a impressão de que iria fazer a minha cabeça explodir.

Mesmo exausta, assim que coloquei minha cabeça sobre o travesseiro sabia que não ia conseguir dormir.

As palavras de Irina voltavam com força total à minha mente. Ela era uma cobra e uma pessoa nada confiável, e eu sabia disso. Porém, a parte racional de meu cérebro não estava funcionando corretamente naquela tarde. Cada vez que eu relembrava o que ela havia me falado, cada vez que eu lembrava que Edward havia mentido para mim, o buraco que eu nem sabia que tinha sido criado em meu peito ficava um pouco maior e mais profundo.

Fiquei horas na cama, alimentando cenários em que eu era abandonada e deixada de lado sem nem ao menos um adeus.

Eu sempre soube que o Edward era melhor do que eu em diversas maneiras. Eu sempre soube que não o merecia. Eu sempre soube que, um dia, ele encontraria alguém a sua altura e me abandonaria. Mas, depois de alguns anos juntos, a forma com que ele me olhava e me tratava fez eu parar de pensar nessas inseguranças com tanta frequência.

Mas quem eu queria enganar? Elas ainda estavam lá. E as palavras de Irina fizeram com que elas voltassem com força total.

“Eu realmente sempre achei que o Edward é muita areia pro seu caminhãozinho…”

Irina pode ser uma completa vaca, mas ela não mentiu. Edward sempre foi melhor do que eu em todos os aspectos possíveis.

Irritada com o meu cérebro idiota que se recusava a dormir, levantei e decidi preparar o jantar. Alguns momentos depois, Edward chegou e sorriu surpreso ao me ver na cozinha. Ele geralmente era o que voltava primero para casa e cuidava das refeições.

— Ei, você chegou mais cedo! – falou animadamente, tirando o seu terno e sua gravata, e vindo em minha direção para me cumprimentar.

— É, eu não estava me sentindo muito bem – sussurrei, me esquivando de seu beijo. Eu não ia conseguir fazer aquilo, fingir que estava tudo bem antes confrontá-lo. Sempre fui uma péssima atriz e uma péssima mentirosa.

— Você parece um pouco abatida, mesmo – suas feições mudaram, e eu conseguia ver toda a sua preocupação em seus olhos. — Você tomou o analgésico que eu deixei para você? – perguntou enquanto passava as mãos por meu rosto, checando a minha temperatura.

Todo o seu cuidado subitamente me fez duvidar das palavras de Irina. E se ela tivesse mentido? Afinal, Edward não esconderia algo tão importante de mim, certo?

— Sim. Na verdade eu até tomei mais. Fui à farmácia comprar para comprar outra cartela. Encontrei Irina na saída. – decidi jogar um verde ao invés de confrontá-lo diretamente.

As suas mãos congelaram em meu rosto. Seus olhos, agora grudados nos meus, estavam arregalados de surpresa e receio.

E então eu soube.

Sim. Ele realmente havia escondido algo tão importante de mim.

Senti os meus olhos se enchendo de lágrimas ao mesmo tempo em que eu afastava as suas mãos de meu rosto bruscamente.

— Acho que eu estou atrasada, mas parabéns pela sua promoção. – senti a minha voz sair carregada de ironia.

— Bella, eu não sei o que ela te falou, mas…

— Ela só me contou algumas coisas bem interessantes sobre o seu trabalho, Edward. Coisas que você deveria ter me contado.

Ele suspirou pesadamente, os ombros caindo em derrota. Então ele não se arrependia de sua mentira. Só se arrependia de eu ter descoberto tudo que ele estava me escondendo.

— Há quanto tempo você tá me escondendo isso?

— Um pouco mais de um mês.

— Um mês? – se eu achei que a situação não tinha como piorar, eu estava tremendamente enganada. — Um mês olhando na minha cara e fingindo que você não vai ter que se mudar pro outro lado do país?

— A Irina distorceu tudo! – falou irritado. — Eu teria que me mudar se aceitasse a promoção. Coisa que eu não fiz.

— Bom, você ainda não negou. E esse também não é o ponto! Você nem precisa negar a promoção, Edward, porque se você tivesse conversado comigo, a gente dava um jeito. Mas não, você simplesmente decidiu que eu não merecia saber sobre isso.

— Não é assim, Bells…

— Como você se sentiria se encontrasse, sei lá, o Jacob na rua, alguém que você odeia, e ele te contasse algo tão importante sobre mim que você não sabe? Caralho, Edward, eu fiquei me parada que nem uma idiota enquanto aquela vaca falava coisas que o meu namorado escondeu de mim!

— Me desculpa, Bella. Essa não era a minha intenção, eu juro.

— E qual era a sua intenção? Me contar sobre a promoção no dia que você fosse se mudar? Aproveitar a situação para se ver livre de mim?

— Você tá falando sério, Isabella? – me olhou com o semblante irritado. Como se ele tivesse o direito de estar bravo comigo!

— É a impressão que eu tive. – dei de ombros friamente, o que pareceu enfurecê-lo ainda mais.

— Se você realmente acha que eu faria isso com você, então por favor, me avisa para eu poder ir embora.

— Quer saber, Edward? Talvez você realmente devesse ir embora.

Eu me arrependi de ter falado aquilo no momento em que as palavras saíram de minha boca, mas estava magoada e machucada demais para pedir desculpas. O meu orgulho estava ferido, e queria que ele sentisse um milésimo da dor que eu senti naquela tarde.

Um silêncio desconfortável, algo que nunca tinha acontecido com a gente, recaiu sobre nós.

Edward olhava atentamente para mim, procurando por indícios de que eu estava falando aquilo da boca pra fora. Mas, pela primeira vez na minha vida, eu consegui ser uma boa mentirosa. Pela primeira vez na minha vida, eu consegui esconder todos os meus sentimentos, enquanto o buraco em meu peito engolia o restante de meu coração.

Sem falar nem mais um palavra, Edward pegou o seu terno e suas chaves, e foi embora.

E eu nunca mais o vi.

Sacred new beginnings

Tempo atual

Eu conseguia sentir os meus olhos ardendo, um sinal de que as lágrimas estavam chegando - de novo! - conforme aquelas memórias não solicitadas invadiam a minha mente. Fechei os meus olhos com força, controlando a minha própria respiração enquanto tentava evitar mais uma crise de choro.

— Estar aqui também é difícil pra mim. Muitas lembranças. – Edward falou baixinho, olhando para mim preocupadamente enquanto colocava uma caneca de chá em minha minha frente.

Evitei olhar para ele. Sabia que, se o fizesse, não ia mais conseguir parar. Eu sempre fui fascinada pelo seu rosto perfeito, e mesmo que isso pareça impossível, eu tinha a impressão de que ele havia ficado ainda mais bonito com o tempo.

A pele continuava pálida, é claro. Nem se ele se mudasse para o Havaí isso ia mudar. Mas sua face, antes jovem e despreocupada, parecia mais adulta agora. Isso era natural, mas me assustou um pouco. Na minha mente, ele continuava com seus 23 anos. Será que ele também se espantou com a minha súbita velhice?

E daí se ele se assustou?, escutei a voz em minha mente perguntar. Foda-se o que ele pensa!, ela continuou, mas eu não conseguia parar de remoer esse simples fato.

E eu sabia porque doía tanto olhar para o seu rosto e perceber essas mudanças sutis. Era porque eu esperava estar ao lado dele enquanto elas apareciam aos poucos em sua face, e não ser bombardeada por elas cinco anos depois de ter terminado com ele.

Segurei a caneca com força, tentando aquecer os meus dedos e ignorar completamente a sua presença.

— Sabe, Bella… – ele começou a falar e agora, escutando sua voz dizer o meu nome com tanta clareza, meu coração parecia se encolher em meu peito. A sensação de vazio, que eu tinha aprendido a ignorar, voltou com força total. Ele estava tão perto, mas tão longe de mim que doía ainda mais do que ser abandonada. — Você não foi a única que saiu machucada.

Ri sarcasticamente, revirando os meus olhos, e tomando um grande gole do chá e ignorando a ardência em minha língua. Eu não ia dar o gostinho de conversar com ele sobre aquilo. Não mesmo.

— Foi muito doloroso, pra mim, perceber que você acreditou com tanta facilidade que eu te deixaria para trás.

— E não foi exatamente isso que você vez? – retruquei asperamente e me arrependi no mesmo instante.

Burra! O que aconteceu com ficar quieta, Bella?

— Eu fui embora porque você falou que seria melhor assim. Eu nunca te deixaria por livre e espontânea vontade… Eu sou muito egoísta para isso.

— Eu falei para você ir embora naquela noite, não ir embora da minha vida pra sempre.

Aquela informação parecia tê-lo pego desprevenido. Seus olhos estavam esbugalhados e, por um instante, vi uma incerteza passar por eles. Será que o idiota realmente tinha achado que eu simplesmente tinha mandado ele ir embora para sempre?

Não. Ele não poderia ser tão burro assim.

Sim, foi idiotice esconder a maldita promoção de mim. Mas porra, ele realmente acreditava que eu iria terminar com ele por causa daquilo?

— Mas… Você não me ligou. Você sempre me ligava depois de uma briga ou um desentendimento. Eu pensei que isso fosse o que você queria. Eu pensei que você ia ficar melhor sem mim.

Meu Deus. Sim. Ele realmente era extremamente burro.

— Fala sério, Edward! Você é idiota? Pelo amor de Deus, eu não te liguei porque tava com o orgulho ferido e queria que você procurasse por mim. E o que você fez? Ah sim, você simplesmente sumiu! E eu fiquei me perguntando se tudo o que a gente passou foi real, se significou mesmo algo pra você, se você realmente me amou, ou se foi tudo algo sem importância…

— Bella… É claro que eu te amava! Eu sempre te amei, e eu sempre vou te amar.

— Não! Você não tem mais o direito de falar isso. Você perdeu esse direito depois de ter simplesmente me abandonado, de ter me deixado como se eu não fosse nada.

Eu não sabia o que tinha dado em mim, mas eu não conseguia controlar a minha boca. E, em segundos, me vi falando coisas que eu prometi para mim mesma que nunca, em hipótese alguma, eu falaria para alguém.

Porque ir até lá, bêbada, era humilhante. Desabafar com um bartender foi pior ainda. Mas nada se comparava ao que eu estava prestes a fazer: abrir o meu coração depois de tê-lo trancado por tanto tempo justamente para a pessoa que o quebrou em tantos pedaços. Aquilo não poderia resultar em nada de bom. Poderia?

— Você nem voltou pra buscar as suas coisas. Eu fiquei esperando que nem uma idiota, com a esperança de que a gente ia poder conversar e resolver tudo, mas como o verdadeiro covarde que você é, você mandou o Emmett ir no seu lugar. Parabéns, eu acho que nunca vi o seu irmão mais desanimado ou envergonhado do que naquele dia.

— Bella, por favor…

— Cala a boca! Você não queria conversar? Então me deixa falar! – praticamente rosnei. Se antes eu não queria olhar em seu rosto, agora não conseguia parar de encará-lo. — Todo mundo falava que você ia me pedir em casamento. E eu sonhava com o dia que isso realmente ia se tornar realidade... Não porque eu precisava provar nada pra ninguém, mas porque eu queria estar conectada à você de todas as formas possíveis. Mas o sonho virou um pesadelo. E isso não aconteceu quando eu escutei tudo que a Irina tinha pra me falar, mas sim quando você decidiu ir embora sem me dar nenhuma porra de explicação!

Um silêncio horrível pairou entre nós. Se antes eu tentava não deixar um lágrima cair, agora eu tentava não soluçar de tanto chorar.

— Eu… Eu nunca quis te magoar. Bella, você é a pessoa mais importante da minha vida. Não, isso não é forte o suficiente pro que eu sinto por você… Bella, você é a minha vida.

— Então por que você mentiu pra mim? Por que você não me contou sobre a sua promoção? – por mais que eu não quisesse admitir, aquela pergunta pairou em minha mente por cinco longos anos.

— Porque eu não ia aceitá-la, e porque eu sabia que você ia se sentir culpada por isso, ia falar que eu estava me prendendo por sua causa. – comecei a protestar mas um olhar dele bastou para eu parar.

Quem eu queria enganar? Sim, eu ia me culpar. E sim, eu ia tentar convencê-lo a aceitar a promoção, mesmo se isso significasse que ele teria que ir morar do outro lado do país.

Mas não é isso que parceiros fazem um pelo outro? Eu tenho certeza de que ele faria o mesmo por mim. E a distância não precisava ser um problema. Milhares de casais superam esse desafio todos os dias.

— Bella, me diga com o que eu trabalhava naquela época.

— Marketing.

— E quantas vezes eu cheguei em casa quase chorando de raiva e querendo arrancar a cabeça dos meus clientes fora?

— Mais do que eu consigo contar.

— Exatamente! E o que mudaria com a minha promoção? Nada! Eu simplesmente teria mais dor de cabeça, mais estresse, mais responsabilidade… E eu ficaria longe de você, ainda por cima. Você realmente acha que valeria a pena?

Ele me olhava de um jeito tão intenso que eu quase acreditei em tudo que ele me falava. Quase me joguei em seus braços e ataquei os seus lábios do jeito que eu queria fazer. Mas nada mudava o fato de que ele tinha me deixado.

— De qualquer forma, você ficou longe de mim.

— Porque eu achei que era isso que você queria! Eu fui burro e idiota, Bella… Todo mundo me falou para te procurar. A Alice, o Jasper, o Seth, os meus pais, porra, até o Emmett usou um pouco do cérebro dele e me deu esse conselho. Mas eu tinha medo. De ser rejeitado, de te magoar ainda mais… Então eu simplesmente me afastei.

— E por que você aluga esse apartamento todo ano?

— Me chame de romântico incorrigível, mas eu tinha a sensação de que, se eu fizesse isso, um dia a gente ia se acertar. Demorou cinco anos, mas você finalmente apareceu.

— E o que você espera? Que a gente simplesmente volte e que vai ser como se nada tivesse acontecido?

— Não, é claro que não. Mas eu espero poder deixar o passado, finalmente, para trás. Junto com você. Espero caminhar em direção ao futuro ao seu lado. Espero que a gente tenha aprendido com os nossos erros, e que agora a gente não deixe nada nem ninguém entrar em nosso caminho. Espero, todos os dias, me redimir um pouquinho mais com você, e mostrar o quanto eu te amo, e o quão especial você é para mim.

A cada palavra que ele dizia, se aproximava mais de mim. E, a cada palavra que ele dizia, eu senti o buraco em meu peito finalmente sendo preenchido novamente.

Poderia um coração gelado e morto voltar a bater? Parecia que o meu estava prestes a fazê-lo.

Eu sentia aquela sensação de completo vazio indo embora e sendo substituída por um calor que eu pensei que nunca mais ia sentir. Um calor que só Edward era capaz de me proporcionar.

Edward estava finalmente na minha frente. Hesitando, passou os dedos pelos meus fios molhados gentilmente, movendo-os para a minha bochecha e, por fim, meus lábios.

Tremi levemente e eu sabia que, dessa vez, não tinha nada a ver com o frio.

— Bella… – sussurrou, sua testa colada na minha enquanto eu sentia sua respiração quente bater em meu rosto. — Me deixa te mostrar o quanto eu te amo.

Merda!, gritei mentalmente. Eu estava completamente rendida. Não tinha o que fazer. Eu nunca iria me esquecer daqueles cinco anos vazios de minha vida. Mas eu não queria viver mais daquele jeito. Eu queria amar de novo. Eu queria ser amada de novo. E eu sabia que seria impossível seguir em frente com alguém que não fosse Edward.

Então, por que lutar e tentar evitar o inevitável?

Eu passei por longos e difíceis anos.

Estava na hora de viver.

Com esses pensamentos em mente, finalmente selei os meus lábios aos dele.

Porra, eu tinha me esquecido do quão bom era beijar Edward. Ele sempre foi mais paciente do que eu mas, naquele momento, eu não reclamei disso.

Passei os meus braços ao redor de seu pescoço, tanto para puxá-lo mais perto de mim, quanto para ter a certeza de que ele não era um fruto de minha imaginação. Eu já estava ofegante, e sabia que estava molhando as suas roupas, mas não me importei.

Nada importava além dele.

Sem falar nada, ele me pegou facilmente em seu colo e me levou até o quarto. Deitamos lentamente na cama, mas eu senti que estava nas nuvens, e não no colchão duro que se encontrava em nosso antigo apartamento.

Edward me despiu cuidadosamente, e o vento gelado batendo em meu corpo nu e molhado me fez estremecer; mas nada me faria estremecer mais do que a forma com que ele me olhava.

— Caralho, Bella… Você é tão linda. Tão perfeita. Tão maravilhosa. Eu nunca vou me cansar de dizer isso. De te mostrar isso. – declamou enquanto beijava diferentes pontos de minha pele sensível, me fazendo arquear de desejo e prazer.

Eu sabia que ele poderia ficar me torturando por horas. Ele tinha um autocontrole invejável quando se tratava de sexo. Sempre parecia que eu era uma maníaca sexual, pulando em cima dele e atacando-o nos momentos mais improváveis.

Mas, depois de cinco anos separados, ele estava tão ansioso quanto eu.

Em algum momento, ele se despiu e uniu os nossos corpos de uma forma tão intensa que parecia que meu corpo iria partir em dois. A verdade é que, ali, minha alma finalmente se juntou à dele, e éramos um novamente; como sempre deveria ter sido.

— Edward… – gemi, puxando-o ainda mais perto de mim. Beijei os seus ombros enquanto sentia o calor crescente de meu corpo dominando o meu pensamento. — Eu te odeio – grunhi, ainda ressentida demais para deixar tudo para trás, sentindo algumas lágrimas escaparem de meus olhos por conta da intensidade daquele momento.

Mas estava tudo bem. Tínhamos uma vida toda pela frente para superar aquilo.

E Edward parecia muito empenhado em se redimir. A cada “eu te odeio” que saía de meus lábios, ele retribuía com um “eu te amo” tão intenso que fazia os meus olhos se encherem ainda mais de lágrimas.

— Eu te amo tanto, Bella – suspirou, me puxando para o seu peito. Ele me apertava tão forte que dava a impressão de que também estava com medo de que eu simplesmente desaparecesse diante de seus olhos. — Nenhum espaço de tempo com você seria suficiente... Então vamos começar... Ou recomeçar... Com o para sempre.

Ele beijou os meus cabelos e, aninhada em seu corpo, dormi plenamente feliz e com a certeza de que estava finalmente me libertando dos monstros do passado e caminhando em direção a um futuro feliz ao lado da pessoa que eu mais amava no mundo.

E, mais importante de tudo: eu nunca mais iria ter que evitar Cornelia Street, podendo dar adeus aos caminhos mais longos e perigosos que fazia diariamente.

Sabia que ainda teríamos que conversar, e muito, sobre tudo que havia acontecido durante os anos em que ficamos separados e como seria a nossa vida dali para frente. Mas eu sabia que essa seria a parte fácil.

A parte mais difícil seria fazer Rosalie e Leah pararem de odiar Edward. Mas eu sentia que, juntos, seríamos capaz de qualquer coisa. Com muito tempo e muitos elogios, inclusive, iríamos conquistar o apoio de minhas melhores amigas.

Sim… a vida finalmente seria simples novamente.

E quem disse que tequila e coração quebrado é uma combinação que nunca dá certo, hein?


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado dessa história da mesma forma que eu amei escrevê-la!

Sou uma emocionada, então queria agradecer as meninas por terem feito esse projeto. Fazia literalmente > anos < que eu não escrevia por diversão/prazer, e esse foi o estímulo e o empurrãozinho que eu precisava pra voltar a fazer algo que me faz tão bem. ♥

Quem sabem mais coisas venham aí porque vocês me ajudaram a sair do bloqueio criativo, hein?

Até a próxima!