Eram amigas de infância. A primeira vez em que Sanji viu aquela beldade em forma humana, imediatamente declarou seu amor e a pediu em namoro. Não que ela não fizesse isso com todas as garotas, para Sanji, todas as mulheres eram deusas. A diferença foi que Zoro aceitou seu pedido e desde então elas começaram a namorar. Era algo inocente e puro, o máximo que faziam era dar as mãos e beijinhos na bochecha, mas Sanji já sabia que aquela era a mulher que desejava ter a seu lado por toda sua vida. Nunca conheceu alguém tão linda quanto Zoro e diariamente ela declarava seu amor aos sete mares e gritava aos quatro ventos que Zoro era a mulher mais perfeita de todas.  

Então, ela não hesitou em dizer para a amiga, que também era namorada, que seu maior sonho era um dia se casar com ela, mostrando um de seus enormes e belos sorrisos, fazendo o coração de Zoro pulsar sem controle em seu peito. O sentimento agradável fez Zoro sorrir idiotamente apaixonada de volta para aquela loira boba, afirmando que realizaria o sonho de sua namorada e a faria se casar com ela.  

As duas estavam em um mundo de fantasia e ilusões durante todo aquele relacionamento. Até que da noite para o dia tudo acabou. Sanji havia se mudado com sua família sem avisar ou dar notícias, deixando a namorada para trás.  

Agora, quase quinze anos depois, Zoro recusava com todas suas forças o convite de Nami para ir na reunião estúpida da primeira série. Era sem sentido reencontrar pessoas não importantes que você nem se lembrava do nome. Era um maldito falso moralismo que ele, sem dúvidas, não tinha saco para aguentar.  

Infelizmente para Zoro, Nami sabia ser muito convincente e quando citou o nome de certo alguém que havia confirmado sua presença, o celular ficou mudo por alguns instantes, porque ele não sabia como reagir diante do nome de Sanji. Ele sabia que o que tiveram no passado era só uma coisa de criança e sem significado para a loira, infelizmente durante anos ele ainda se lembrou do que tiveram, das palavras daquela garota, de como Sanji elogiava sua beleza... Aquela beleza supostamente feminina que Zoro tinha quando criança. O pensamento o apavorava um pouco, não queria reencontrar seu primeiro amor, não depois de tantos anos e tantas mudanças, não quando aquela feminilidade já não existia mais. Ele se lembrava perfeitamente de todas as vezes em que Sanji dizia que seu sonho era se casar com... Ela... Ela não existia mais, nunca existiu, Zoro só não sabia ainda e a visão da única pessoa que um dia amou o rejeitando o apavorava de verdade. 

Zoro apenas saiu de seus devaneios quando Nami o tirou deles, gritando em seu ouvido. Ele não queria reencontrar Sanji jamais, mas, ao mesmo tempo, também queria. Ver como ela estava, sem dúvidas mais perfeita do que nunca. Com a insistência de Nami, acabou cedendo, deduzindo que não havia como Sanji reconhecê-lo, de qualquer forma. Se alguém perguntasse, falaria que é amigo de alguém e que se dane, não era da conta de ninguém sua vida. Ficaria satisfeito apenas por poder rever a garota irritante que perturbava seu sono diariamente.  

Ou deveria ser assim. Mesmo com Nami ajudando-o em sua mentira, assim que os olhos azuis da loira se encontraram com os seus, Zoro soube que fora reconhecido de imediato. Sempre odiou o quão perspicaz aquela garota era, mas aquilo já era exagero. Ele não se parecia em nada com uma mulher, até mesmo os seios havia não só impedido de crescer antes da puberdade, como também há algum tempo havia feito a cirurgia. Seu corpo era absurdamente musculoso. Graças aos remédios ilegais que conseguiu com um conhecido logo quando se entendeu como homem, ele conseguiu crescer bem mais do que qualquer garota e evitar a odiosa puberdade feminina. Até mesmo a barba ele deixava sempre bem rala para que jamais houvesse algum engano estúpido. E mesmo assim, mesmo com todos esses detalhes, Sanji continuou caminhando em sua direção e seu medo se tornou real. 

Ou deveria, porque ele simplesmente virou as costas e saiu andando para fora daquela sala estúpida de karaokê, fugindo do óbvio. Ele já ouviu aquelas palavras o suficiente para saber o que aconteceria, até mesmo Nami que era sua amiga desde antes de conhecer Sanji e acompanhou cada etapa de sua transição às vezes ainda falava coisas que o deixava irritado. Mas ele não iria aguentar aquilo, não com Sanji, poderia ser qualquer outra pessoa.  

Como um covarde, Zoro fugiu. Desceu as escadas e seu ótimo senso de direção o fez chegar ao banheiro do local, não na saída. Ele se odiava por ser tão estúpido, mas se ficasse ali um tempo iria se acalmar e poderia forçar seu cérebro a funcionar pelo menos uma vez para achar o local correto. Era fácil.  

Seria realmente fácil se quando tivesse finalmente saído daquele banheiro, Sanji não estivesse lá, esperando pacientemente na frente do da porta, enquanto fumava um cigarro que Zoro se odiou por achar que combinava tanto com ela. Droga, ainda a enxergava dessa forma e o choque seria ainda maior. Ele poderia simplesmente voltar para o banheiro e se esconder mais um pouco, mas algo lhe dizia que nada adiantaria e quando sairia Sanji ainda estaria ali, esperando por ele.  

Então, resolveu encarar de uma vez aquilo, era melhor se decepcionar de uma vez antes de se iludir. De cabeça erguida ele saiu e se encostou na parede ao lado da loira. Era engraçado ter que olhar para baixo para enxergar a figura daquela mulher. Os traços de Sanji estavam ainda mais bonitos do que se lembrava. O cabelo brilhava e sem dúvidas eram muito macios, tanto que Zoro sentiu vontade de tocá-los, mas ele jamais faria isso. Em sua mente ele lembrava de todos os beijos que ela deu em sua bochecha há tantos anos, sentindo um estranho formigamento nascer nos locais, como se ainda pudesse sentir os lábios da garota. Era ridículo passar tantos anos amando uma pessoa que achou que nunca mais encontraria.  

— Desculpe ter ido embora daquele jeito... — Sanji disse com a voz baixa após levantar levemente o rosto para cima e soltar a fumaça do cigarro para o teto. Zoro pôde ver o batom rosado marcado na bituca e ele se achou estúpido por querer aquela marca nele. Parecia um pervertido com esses pensamentos. Infelizmente, ele não respondeu, apenas grunhiu, como se estivesse incentivando-a a continuar. — Aquele infeliz de merda descobriu sobre a gente e nos obrigou a ir embora sem aviso.  

Zoro apenas balançou a cabeça, indicando que estava tudo bem. Não a culpava pelo que aconteceu, eram apenas crianças que não mandavam na própria vida e ele sempre confiou em Sanji o suficiente para saber que se dependesse dela, jamais teria partido. Ele só não sabia o que falar, então o silêncio continuou reinando no lugar que só existia os dois. De relance ele notou a pontinha da orelha dela mais vermelha do que se lembrava da última vez que olhou e aquilo apenas o intimidou mais ainda. 

Sanji parecia querer falar algo, mas talvez não soubesse quais palavras usar. Zoro estava preparado para qualquer coisa, pronto para a maior decepção de sua vida, mas esta não parecia que viria em algum momento. E quando menos esperava, Sanji ficou na sua frente, o rosto lindo completamente corado e ele preferiu aceitar que o barulho ali era do coração dela e não do dele que palpitava irritantemente alto em seu peito. 

— Você está tão lindo, Zoro. — Então ele ouviu aquelas palavras e sentiu o coração explodir. Se fosse um pouco mais fraco, teria chorado como um idiota. Apenas nesse momento ele aceitou que era seu coração o barulhento ali e por impulsou agarrou o corpo menor, puxando Sanji para seus braços.  

O corpo era muito diferente do que se lembrava. Agora, Sanji tinha muitas curvas que se destacavam na roupa social completamente justa. As mãos grandes do moreno passearam em completa inocência pela lateral do corpo pequeno, enquanto a esmagava contra seu peitoral forte. Havia agido por completo impulso e ao se dar conta, imediatamente a largou, mas foi Sanji quem deu o primeiro passo para que aquilo se transformasse em algo mais.  

Primeiro, foi ela que tocou seu rosto com as duas mãos pequenas e macias, passando os dedos em suas bochechas carinhosamente, ousando esbarrar em seus lábios grossos e nada delicados. Segundo, também foi ela quem ficou na ponta dos pés e beijou sua boca, pressionando os lábios finos contra sua boca, até passando os lábios ali para que ele destravasse e continuasse o ato, beijando-a de verdade. 

Zoro não entendia como chegou naquele ponto, mas de qualquer forma, ele nunca foi de pensar muito e apenas agia conforme achava correto. Claro que ele congelou ao sentir as mãos abusadas daquela mulher apalpando seu peitoral e seu medo retornou por um instante, fazendo-o segurar o corpo pequeno e afastar do seu.  

— Eu não sou mais uma garota, Sanji. — Ele falou com a voz mais baixa do que desejava, podendo transmitir errado a mensagem que queria. Não era isso. — Não... Eu nunca fui. Eu não posso me tornar sua namorada.  

Zoro realmente queria que fosse entendido, que conseguisse se expressar com palavras, mas nunca foi assim e ele era péssimo falando. Não foi difícil para notar a raiva no olho azul brilhante daquela idiota e sabia bem o significado, tanto que soltou um suspiro exageradamente alto. Sanji sempre amou mulheres, não havia espaço para ele em sua vida.  

— Eu não disse que queria isso, imbecil. — Sanji disse claramente irritada e cruzou os braços, fazendo os seios parecerem maiores do que Zoro estava deduzindo até o momento. — Durante todos esses anos eu imaginei se você havia aprendido a usar seu cérebro... Mas parece que continua adormecido nessa sua cabeça de grama. 

Sanji deu um leve tapa na testa imensa daquele enorme idiota e se virou de costas como se fosse embora, mas diferente do que Zoro esperava, ele sentiu o corpo leve caindo para trás e se encostando ao seu de forma que era quase obrigado a colocar os braços ao redor daquele corpo esguio.  

— Não ligo que tenha mudado, só quero que seja meu... — Sanji disse com a voz quase muda, desejando enterrar o rosto no primeiro buraco que encontrasse. Ela suspirou irritada com a burrice daquele idiota estúpido e deu uma leve cotovelada em seu abdômen... Que era deliciosamente durinho. — ...Meu homem... 

Ela definitivamente queria fugir. Ser tão sincera com Zoro era algo irritante, sempre foi. Quando crianças, precisou de muito tempo para ter coragem para revelar seus verdadeiros sentimentos, afirmar com todas as letras que seu amor por Zoro era diferente do amor que sentia pelas garotas, mas agora que eram adultos as coisas ficavam incontáveis vezes mais vergonhosas. 

Mas Zoro infelizmente continuava tão burro quanto criança e demorou para processar a nova informação. Sanji queria... Ele? De qualquer jeito? Mesmo depois de tantos anos separados? Parecia absurdo, mas seu corpo, diferente de seu cérebro, já havia entendido e as mãos seguravam os braços finos da loira com firmeza o suficiente para mantê-la próxima de seu corpo. E quando finalmente ele entendeu por completo, os braços envolveram o corpo pequeno e ele se abaixou para beijar a nuca levemente exposta, vendo Sanji colocar a mão por cima logo em seguida, do mesmo jeito que fizera tantas vezes no passado. 

E depois se beijaram por tempo o suficiente para Nami ter que ir ali buscá-los, internamente ele agradecia à ruiva por insistir que se reencontrasse com sua namoradinha de infância. Quando finalmente a reunião estúpida terminou, Zoro puxou a provável nova namorada para sua casa e enquanto sorria bobamente apaixonado para aquela loira irritantemente idiota, prometeu mais uma vez que faria Sanji um dia se casar com ele e que nunca mais permitiria que alguém os afastasse, mesmo que para isso tivesse que dar sua própria vida.