A Segunda Onda escrita por Pandora Ventrue Black, Ella


Capítulo 12
Capítulo 11: Partes do Conclave


Notas iniciais do capítulo

“Não é a morte que rouba o sonho dos homens, mas o medo de cair no esquecimento antes mesmo de ser sepultado.” - Valeria de Almeida



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P.O.V Aloisia

 

Aquele navio me deixava enjoada e irritadiça. Odiava o mar, desde pequena. Sinto minha cabeça pesar, como se estivesse perdendo as minhas forças. Me afasto do grupo apressadamente, se eu fosse desmaiar, com certeza o faria longe daquela gente. Me guio para a parte inferior do navio, onde Oceana guardava a suas bebidas.

Era assim que o oceano me deixava: perdida, confusa, cansada, como se estivesse com uma febre alta, delirante. Meu corpo não era feito para estar sob águas, sou uma criatura da terra.

Imagens de meu pai preenchem a minha visão, sentia as minhas memórias com ele inundando a minha mente.

A brisa fria e instigante da praia atinge a minha face com leveza, tão delicada que mais parecia ser várias criaturinhas mágicas dóceis, a lua cheia brilhava com orgulho, iluminando tudo ao meu redor, um grande farol. Minhas mechas negras farfalhavam com o vento, dançando e rodopiando, às vezes se chocando contra a minha face. 

Eu me sentia livre, feliz. Meu coração estava extasiado, mal conseguia conter as minhas risadas. Eu tinha sete anos nessa lembrança, foi a primeira vez em que estive perto do mar.

A areia estava morna, não machucava os meus pés descalços, apenas os abraçavam com carinho. O oceano parecia mais azul do que nunca, um azul forte e poderoso, escuro e misterioso, como se, debaixo das leves ondas e águas escondessem um segredo. A paisagem serena parecia ser o paraíso, com ninguém além de mim e meu pai.

Niklaus Stryker parecia mais jovem do que nunca, vestido com um short castanho e uma manta larga branca. Seus pés nus se agarravam a areia, como se fosse amigos de longa data. Seu rosto esbanjava um sorriso largo e alegre, o mar fazia isso com ele. Seus cabelos negros dançavam com o vento, ele parecia ser feito para aquele momento, como se sua origem fosse aquela praia iluminada pela lua.

Certa vez me disse que costumava pescar com seus amigos de infância, e mesmo perdendo todas as apostas de quem conseguia mais peixes, se divertia com a brincadeira. 

— Filha?

— Sim, pai

— Já entrou no mar alguma vez?

— Não, senhor! Mamãe raramente me deixa sair da fazenda! — Digo me aproximando de meu pai

— Heresia! —  Ele exclamou, se levantando rapidamente e jogando areia para o alto — Filha minha não ter se banhando nas águas de um oceano! Não admito!

Sorrio e ele estende sua mão em minha direção. Ele se curva, como o príncipe encantado e gentil que era.

— Me concede essa… dança?

— Mergulho, bobinho! 

— Como pode ser mais inteligente que eu, Aloy! — Ele brinca e aperta gentilmente a minha mão — Filha…

— Diga, papai!

— Lembra do que conversamos sobre os nossos poderes? — Niklaus pergunta, assumindo uma expressão séria no rosto e se ajoelhando na minha frente 

— Óbvio, pai! Foi ontem!

— Certo… Preciso te ensinar umas coisas sobre a Escuridão, minha querida — Ele respira fundo e me olha com atenção — Feche os olhos e respire devagar, pense em algo que te faça feliz!

Faço exatamente o que pede. O ar frio entra e sai do meu corpo com calma e minha mente é invadida pelas memórias de meu pai me ensinando a lutar e todas as minhas vitórias. Meu coração aquece, me sentia amada.

Feliz.

— Sinta a alegria invadir todo o seu corpo… Vai começar a notar o pulsar de seu sangue, meu amor

E era verdade, mas não era um pulsar gentil. Era uma força brutal e feroz. Latejava dentro de meu corpo, me consumindo vorazmente. As cenas alegres com Niklaus são rapidamente substituídas pelas broncas de minha mãe. Sou levada exatamente para o dia que a vi matando meu animal de estimação, minha gata preta.

Ela o matara pois eu havia quebrado um de seus jarros de flores. Eu era criança e estava brincado de ser dançarina no dia do ocorrido, nada mais além disso: estava sendo criança. Sem querer esbarrei na mesa em que ele ficava e quando o estalo do vidro caindo e quebrando no chão ecoou pela casa, eu pude ouvir os passos pesados de minha mãe. Ela estava furiosa. Pedi perdão diversas vezes, arrumei a bagunça, mas nada salvaria o meu gato da fúria de Stella.

No dia seguinte ele apareceu morto na porta do meu quarto

Minha respiração falha, meu peito é comprimido pela raiva.

— Aloy! Filha! — Meu pai grita, me acordando de meus pensamentos

Encaro-o assustada e corro para seus braços, me agarrando a seu pescoço. Tremia de medo e chorava descontroladamente.  

— O que aconteceu, papai?! 

Mas Niklaus não respondeu. Apenas me abraçou com mais força e acariciou o meu cabelo. Abro os olhos e olho para a minha mão direita, uma mancha negra havia tomado metade de meus dedos. Engulo em seco… Seria isso o meu fim? Minha sina?

— Papai…

— Droga! — Exclamo balançando a minha cabeça, me afastando de meus devaneios

— Aloy? — A voz de Ragnar preenche o cômodo

— Eu estou bem, Ragnar!

— Eu imagino… — Sua voz sua sarcástica e fria — Você realmente odeia navios…

— Odiar é pouco, o que eu sinto não tem nome…

— Pelo menos descobrimos algo sobre o seu pai, creio que a viagem tenha valido a pena!

— E valeu… O problema agora são os Loupgriz… — Falo, me sentando em um dos barris.

— Não sei o por quê de você querer colocá-los em jogo! Eles não são honrosos!

— Somos assassinos, Ragnar, não temos honra…

— Mas temos o Código! Seguimos suas leis e as demandas do Conclave!

Ele estava certo. O Código dos Assassinos era tão antigo quanto o nosso trabalho, ele definia as formas que cada seita deveria agir e como ocorreria os treinamentos dos aprendizes, explicava concretamente a função de cada membro de uma seita e o preço de cada morte. Servia para que, mesmo sendo assassinos, nós teríamos uma espécie de honra, não cobrariamos a mais por uma morte. O Código também nos obrigava a ter um nome falso genérico registrado no governo, o meu era Annie Black, assim como mais doze pessoas em Serry. Ragnar se passava por Edgar McCoy, juntamente com outros dez homens da nossa cidade. Caso as leis não fossem seguidas ou precisasse de uma reforma o Conclave entrava em ação.

— Mas precisamos deles…

— Será impossível!

— Não duvide das minhas capacidades, Ragnar — Falo com um sorriso ameaçador no rosto.

— Não estou duvidando de você, jamais faria isso! Aprecio demais a minha vida — Ele fala, cruzando os braços contra o seu peito — Não confio neles… Os Loupgriz são muito…

— Fechados, reclusos e imorais?

— Pior que isso… Precisará ser extremamente cautelosa…

— Eu sei… — Digo em um suspiro

Um silêncio avassalador atinge a pequena adega. Não seria uma tarefa fácil convencê-los, seria ainda mais difícil adentrar em sua base, apenas loupgrizes entravam. Todo e qualquer contrato era feito em lugares distantes, entretanto o Conclave tinha a localização de todas as seitas.

— Tem algum plano em mente?

— Não…

Ragnar ri baixinho e se aproxima de mim.

— Talvez meu pai pode nos ajudar…

— Que o Rei Sol nos ilumine! — falo o ditado do nosso ditador com um sorriso falso no rosto — Eu não acredito que disse isso…

— São tempos tenebrosos, Aloy

Olho para Ragnar. Ele parecia cansado, não podia julgá-lo, a viagem de navio fora… Revoltante, no mínimo. Fomos para uma ilha no meio do nada para receber meias informações. Oceana havia explicado muito coisa, mas ainda ficamos com perguntas sem respostas.

Como meu pai, um fazendeiro, se tornou um guerreiro?

O que um vendedor de tecidos poderia dar para uma revolução?

O que levaria um pirata a ajudar um povo que não faz parte de sua tripulação?

Porque não pensaram direito nos efeitos colaterais de sua guerra contra o governo?

Poderiam ter facilmente escapado, as opções eram infinitas, mas os três foram pegos. Mortos! Usados agora como lenda do poderio do Rei Sol. Talvez não tivessem planejado o passo a passo de seus movimentos de avanço a favor do povo, entretanto as gigantescas proporções que sua revolução tomou, soa improvável que não tivesse um plano B…

Minha mente estava cheia de perguntas e nenhuma resposta. Amava demais o meu pai, para mim ele era um homem corajoso, gentil, sincero e verdadeiro. Niklaus Stryker me fazia sentir amada, como se eu fosse um anjo em sua vida. Com certeza deve ter encantado muitos com o seu jeito caloroso de falar e seus abraços serenos, mas como ninguém quis protegê-lo?

Precisava ficar. Teria que lidar com os Loupgriz assim que chegasse em Serry, deveria encontrar alguma forma de convencê-los a se juntar a nossa causa… Há honra até nos mais infames assassinos, não é?

 

Duas horas depois 

 

Já estava no porto de Serry. Vestia-me com uma capa escura, escondendo o meu rosto perfeitamente. Ragnar me seguia quieto, analisando a população da cidade. Oceana acenava elegantemente na nossa direção, mas antes que eu pudesse alcançar a escada para sair daquele maldito navio, a mãe de Aurora me chama.

— Aloisia!

Encaro-a friamente. Ela puxa Altair e Aurora juntamente consigo enquanto se encaminha na minha direção.

— Os pingentes de vocês mostram quem são os seus pais! Não esqueçam o quanto isso é perigoso!

— Eu sei, mama — Aurora fala, impaciente

— Por favor, me escutem. Zelem por esses pingentes, são mais importantes do que vocês acham!

Encaro-a apreensiva. Altair parecia estressada, olhava para Oceana com um certo julgamento no olhar.

— Certo… — Digo desconfortavelmente — Até logo!

Desço as escadas rapidamente, me apoiando apenas nas laterais e deslizando até a madeira do porto. As pessoas pareciam nos ignorar e Serry continuava a mesma: cinzenta, abafada e triste. 

Do porto até a casa de Drake eram apenas meia hora de caminhada, porém o Porto estava cheio de comerciantes, rameiras e marinheiros. Por um momento Serry parecia estar viva, alegre. As pessoas conversavam, andavam com suas cestas e companheiros. Sorrio inconscientemente.

— É bom ver você sorrindo — Ragnar fala e segura a minha mão 

— Casal! Casal! Venham! — Uma senhora de idade acena na nossa direção com um sorriso no rosto — Se aproximem! Não mordo, não mordo!

O olho para Ragnar temerosa. Raramente socializamos com outros cidadãos, mas ignorá-las nos faria parecer estranhos. O homem ao meu lado segura a minha mão e nos encaminhamos para a barraca da senhora. Ela é baixa, bem menor que eu, com longos e barulhentos brincos coloridos e cum colar de conchas. Seu vestido é feito de retalho de todas as cores, que contrastava com o cinza de Serry. Seus produtos eram jóias, que eu presumo que sejam falsas.

— Bom dia! — Digo educadamente

— Bom dia, queridos! Vocês não sabem a alegria que me dão! — Ela fala com um sorriso no rosto e erguendo uma de suas peças, um anel prateado — Quando a pedirá em casamento, garanhão?

— Nós… Nós não…

— Logo! — Ragnar fala me interrompendo, fazendo com que a situação se torne mais constrangedora para mim e casual para as pessoas que estavam no porto — Como se chama, senhora?

— Senhorita! Nunca me casei e nunca casarei! — Ela solta suas madeixas brancas, permitindo que seus cachos soltos preenchessem seu busto — Sou apenas uma vendedora meus jovens, mas gostaria de lhes dar uma palavrinha!

— Estamos atrasados!

— Claro! O que quer nos falar? — Ragnar diz educadamente analisando as bijuterias da senhora

— Reconheço aquele navio de que saíram! Oceana é uma conhecida minha!

Engulo em seco. Devíamos tê-la ignorado!

— Não temam! Não direi para a polícia quem são! É um prazer conhecê-la Aloisia.

— Como sabe?! —  Quase grito, o fato dela saber o meu nome poderia me colocar em perigo a não ser que…

— Não há como negar as semelhanças, criança! És idêntica ao seu pai!

Ela não estava errada. Eu parecia uma cópia perfeita de Niklaus, exceto pelo fato de ter nascido mulher. Stella era loira, magrela e de olhos escuros, já meu pai tinha os cabelos escuros mais lindos e sedosos do mundo, seus olhos azuis cristalinos era uma das características que compartilhamos. Mas meu pai não tinha a marca negra, pelo o contrário, era imaculado. As únicas marcas em sua pele eram cicatrizes do trabalho duro que é cuidar de uma fazenda praticamente sozinho.

— Não sabia se era realmente você, mas quando vi sua mão, tive certeza!

Encaro a minha mão direita, a única parte que o casaco não cobria. A pele escura me assustava, demonstrava o quão meu poder era superior a minha própria força.

— O que quer conosco? — Ameaço num tom de voz baixo, para não chamar a atenção das pessoas que circulavam ao meu redor

— Ajudá-la!

— Simples assim? Impossível…

— Não sou nenhum monstro, Aloisia… Participei da primeira porque acreditava em seu pai, acreditava que podia realmente ocorrer uma mudança… — Sua voz falha e ela encara o oceano — Me chamo Ofélia, estou sempre no porto de olho nos navios, sempre estive… Era uma informante na primeira Revolução…

— Porque acreditaria no que fala?

— Estou velha demais, mas minha língua é afiada, jovem — Ela vasculha os bolsos de seu vestido e retira uma pedaço de pano azul que levava um estampado de lua crescente — Confie em mim, assim como seu pai confiou!

— Aloy…

— Eu sei, Ragnar! — Respiro fundo e encaro Ofélia friamente — Reze para não estar mentindo… Te darei o benefício da dúvida, logo voltarei para este porto e espero que tenha informações úteis!

A senhora parece assustada, ela engole em seco e assente. Ofélia estende sua mão e me entrega o anel. Ergo a cabeça e me afasto rapidamente. Temia que talvez ela pudesse me dedurar, mas ela não sabia com quem estava se metendo. eu me parecia com o meu pai, mas isso era só na aparência, por dentro eu era muito diferente.

Sou uma assassina. Uma Sanguinium!

Meu pai era um fazendeiro. Se recusava a matar nossas galinhas para fazer um ensopado com mais sustância. Ele não matava, nunca matou.

Matar era o meu trabalho e Ofélia se arrependeria profundamente caso me decepcione.

 

⋆ ⋆ ⋆ ☪ ⋆ ⋆ ⋆

 

Chegar na casa de Drake não foi difícil, as ruas estavam praticamente vazias, era horário de trabalho. Ofélia não saia da minha mente, temia que pudesse me denunciar para a Guarda Real e na próxima vez que a encontrasse eu poderia sofrer uma emboscada.

Ragnar estava em silêncio, pensativo. Sabia muito bem que temia a bronca que levaria de seu pai por ter me seguido. Nós, da Sanguinium, não saímos com tanta frequência. O apartamento nos proporciona tudo: comida, treinamento e um lugar para dormir. As saídas eram puramente para resolver os nossos negócios.

Chegando á porta do apartamento bato três vezes, nossa senha. Abigail abre a porta com um sorriso no rosto. Seus cabelos brancos caíam desleixados de seus coque mal feito, estranhei sua aparência. Parecia cansada, como se não tivesse dormido por várias noites. Abigail é uma senhora vaidosa, sempre com maquiagem e com o cabelo impecável, vê-la daquela forma partia o meu coração.

— Céus! Entrem! Entrem! — Ela exclama se afastando da entrada e nos puxando para dentro

A porta se fecha com força atrás de mim e me sinto ser abraçada com força. Quase perco o ar.

— Voltamos! 

— É! — Ragnar fala batendo de leve nas costas da senhora — Sabe de uma coisa? Somos adultos, vó, sabemos nos virar!

Abigail rapidamente segura a minha orelha e a de Ragnar e a aperta com força, torcendo-as. Sua punição preferida.

— São adultos é? Pois que se dane! São meus bebês! — Ela aperta com mais força a nossa orelha, me fazendo gemer baixinho de dor

— Que reunião comovente! — Uma voz que eu conhecia muito bem ecoa pela casa — Sinto até vontade de chorar!

— Macária? — Sussurro baixinho raciocinando a voz dela com as minhas memórias — Mack! 

Me desvencilho de Abigail e olho para trás. E lá estava Macária, parada com os braços cruzados sobre o peito. Seus cabelos ruivos e cacheados estavam presos em um rabo de cavalo, suas sardas marcavam angelicalmente o seu rosto e os olhos cor de âmbar me encaram com seriedade, mas seu sorriso me faz sorrir.

— Quando você chegou? — Indago me aproximando dela — Como foi o negócio? Conseguimos muito dinheiro?

— Não ganho nem um beijo antes da sessão de perguntas? — Ela fala e pega a minha mão, beijando-a com carinho

Sorrio desconfortavelmente. Para toda a seita Ragnar e eu éramos apenas amigos próximos, principalmente por que ele era filho do líder de uma das seitas, filho de Drake. Sua função era assumir a posição do pai e casar para formar alianças e tomar sua cadeira no Conclave. Nossa situação era instável, não sabia até que ponto o nosso relacionamento continuaria.

Macária, por outro lado, era apenas um dos membros. Poderia se casar com quem quisesse, viver com quem realmente amasse. Entretanto, ela era independente e cabeça dura demais, não gostava de compromissos, muito menos de carência. Seu espírito livre e aventureiro foi o que fez com que eu me aproximasse dela.

Nos conhecemos ainda jovens, ela chegou na seita um ano depois de mim. Seus pais eram assassinos, mas deixaram o ofício quando Macária nasceu. Entretanto foram mortos pelo governo por não pagarem corretamente os impostos. Mack tinha quinze quando tudo aconteceu e Drake a acolheu.

Estava em seu sangue ser uma assassina, não precisou de muito treinamento. Em poucos meses ela já estava superando Ragnar em muitas armas, tudo isso era facilitado, também, pelo seu poder: o fogo. Mack era capaz de controlar as chamas, podendo esquentar metais e lançar bolas de fogo, uma máquina mortífera perfeita.

Mesmo sendo três anos mais nova que ela quando nos conhecemos, nos demos bem desde o início. Ela me fazia rir com facilidade e sempre me ajudava quando tinha dificuldade ao manusear alguns dos equipamentos da seita. Foi uma amizade quase que instantânea, mas o que eu não sabia era que ela gostava de mim, queria ser algo além de amigas.

Assumo que também já tive sentimentos por ela, sentimentos fortes. 

— Por que sempre tão presunçosa?

— Presunçosa? Jamais! — Ela fala sorrindo — Confiante

— As vezes tenho vontade de tirar esse seu sorriso na porrada — Ragnar diz cinicamente, com sua voz doce e olhar mortífero

— Parem os dois! — Abigail exclama — O almoço está quase pronto! Ragnar me ajude! Mack ajude Aloy a se trocar!

— Com o maior prazer!

Escuto Ragnar rosnar, o que me faz rir.

— Aloy está parecendo um soldado abatido!

— Ainda estou aqui, Abby! Posso ouvi-la! — Resmungo balançando a cabeça

— Venha, vamos nos arrumar para o almoço.

Macária se encaminha para as escadas e eu a sigo. Estávamos indo para o quarto que dividíamos, era pequeno, mas era o suficiente para duas camas de solteiro, um banheiro e um armário que nós duas usávamos. 

Entro no banheiro e tomo uma ducha rápida e visto-me com roupas comuns: calça e blusa escuras. Me sento na cama e respiro fundo. Teria que explicar tudo para Macária e rezar para que ela me ajudasse. Seu apoio seria essencial para o desenrolar do plano. Ela já conversou com um Loupgriz e era extremamente talentosa com o seu poder, seria uma arma e tanto na próxima e eventual luta contra o governo.

— Mack…

— Drake já me contou!

— O que?

— Você raramente some por muitos dias e Abby estava triste demais. Não foi difícil ligar os pontos… —  Ela fala e para na minha frente — Encontrou as outras meninas?

— Sim… Elas são…

— Chatas?

— Diferentes — Digo num suspiro — Não consegui exatamente as informações que queria, mas precisamos de reforços.

— A Sanguinium deve ser o suficiente, certo?

— Infelizmente não…

— Mentira, Aloy! Uma das meninas é filha de um pirata e a outra faz parte de uma máfia!

— Tenho que fazer minha parte, Mack. Preciso de seguidores!

— Não conseguirá nenhum em Serry! São trabalhadores, não guerreiros… —  Ela diz e se senta ao meu lado passando seu braço pelos meus ombros

— Loupgriz…

— Você quer que eles sejam os seus parceiros? — Sua voz soa incrédula

— Temos outra opção? — Indago fuzilando-a com o olhar

— Ugh! Sabia que conseguiria matar uma pessoas com esse olhar — Ela se afasta um pouco de mim e em seguida se levanta, colocando suas mãos em seus quadris — Conheço um deles… Ele sempre está em um bar que costumo ir…

— Pode me levar? — Pergunto avidamente

— Só posso estar louca…

— Por favor, Mackie — Choramingo, coisa que nunca faço, mas precisava encontrar alguém da Loupgriz e não tinha muito tempo 

— Sim, te levo. Mas eu quero que me pague uma refeição completa!

— Combinado! — Digo, me levantando rapidamente e abraçando-a com força — Estava com saudades

— Isso é chantagem emocional! — Ela fala me afastando um pouco de si

— Você fala como se não usasse em mim também!

— Olha! Eu queria muito ganhar os três litros de cerveja! 

— Mack, você sabe muito bem que não foi só nessa vez — Sorrio sentindo a minha mente ser envolvida pela memória calorosa daquela noite

Estávamos voltando para o apartamento de noite. Matamos um senhor rico cobrador de impostos que agredia diariamente sua jovem esposa. O nome dela era Helena e estava devastada por já ter perdido seu quarto bebê graças às agressões físicas diárias de seu marido. Ela nos pagou bem, mas por mim eu não aceitaria o dinheiro, faria de graça, vermes como ele não merecem estar vivos.

A morte do marido de Helena fora fácil, fizemos com que parecesse uma overdose de álcool. Agora a jovem estava livre, herdaria a herança do velho e poderia se casar novamente e construir a família que tanto sonhava.

Antes de chegar na sede da seita, Macária me convenceu a parar em um bar para comemorar o sucesso de nosso trabalho. Eu não estava nem um pouco a fim, queria descansar, tomar um banho quente e cair na cama. Entretanto Mack sabia me chantagear muito bem: me prometeu que no bar havia o melhor ulfed do mundo. Ulfed é um doce de chocolate com café, uma camada de café cremoso e outra de ganache de chocolate com biscoito, e a última camada dessa maravilha da confeitaria de Serry é puro marshmallow levemente queimado.

Me lembro perfeitamente da primeira e última vez que tinha comido tamanha perfeição. Niklaus tinha feito para mim no meu aniversário de oito anos. Depois desse dia nunca mais comi e não aprendi a receita de meu pai, portanto não foi nem um pouco difícil me convencer a ir nesse tal bar de Mack.

Quando chegamos vejo vários homens conversando, alguns bêbados, confundindo as palavras que saiam de sua boca e outros jogando cartas e apostando dinheiro. Macária nos faz sentar em um canto levemente escuro e pede um jantar completo e dois ulfeds. Quando o pedido chega, meu dois potinhos de doce mal cabem na mesa. Vieram seis sanduíches de frango frito com alface e mostarda escura, feijão vermelho, arroz, costelas de porco, milho assado com manteiga e batatas, um banquete que serviria facilmente seis pessoas.

— Não consigo entender como essa quantidade toda de comida vira músculo e não gordura em você… 

— Não pedi só para mim! Coma, a última vez que comeu foi no café da manhã

— E você comeu uma baguete com queijo e linguiça a menos de duas horas atrás!

— Juro que estou com fome! — Ela fala servindo sua montanha de prato

— Mack, você está sempre com fome!

Ela sorri e começa a comer. Me sirvo com algumas costelas, arroz, feijão e o milho assado. A comida estava impecável, saborosa, me forçando a me servir novamente. Macária come todo o resto sozinha, enxaguando seu estômago com quase três litros de cerveja escura. Essa bebida só estava em nossa mesa pois ela apostou que eu não seria capaz de encantar o dono do bar com o meu charme que Mack diz ser inexistente. Aquela mulher sabe muito bem como mexer com os meus nervos. 

NUNCA! Mas nunca diga que eu não sou capaz de algo…

Dito e feito. Com muita força de vontade me levanto e me encaminho para o bar, flerto e balanço sedutoramente os meus fios negros e consigo gratuitamente a cerveja de três litros. Volto para a mesa com um largo sorriso no rosto, vitoriosa.

— Quer mais alguma coisa, Mack?

A mulher apenas sorri e pega sua cerveja. Me sento e saboreio orgulhosamente os dois potinhos de ulfed, que estavam divinos.

— Está pronto! — O grito de Abigail ecoa pela casa me afastando de meus devaneios

— Estou faminta! — Mack comenta abrindo rapidamente a porta do quarto e se curvando — Primeiro as damas!

Sorrio e passo pela porta, mas antes que eu pudesse chegar no corredor, Mack segura a minha cintura e me puxa para si, beijando gentilmente a minha bochecha.

— Depois do almoço teremos uma conversa séria com Drake —  Ela fala e passar as mãos pelas minhas costas — Senti sua falta…

Descemos em silêncio. Macária era alguém muito importante para mim, ela com certeza era uma metade mim. O que sentia por ela ia além da amizade, sem dúvida, mas estava incerta sobre o campo do amor. Ragnar parecia tão certo, entretanto tão errado…

Estava confusa.

Quando chego na cozinha o cheiro do almoço invade as minhas narinas. Hoje era ovos empanados, ensopado de carne com batatas e arroz de forno. Sorrio, a comida de Abigail era muito melhor que a do navio de Aurora. Toda comida naquela embarcação parecia ou salgada demais ou ensossa. 

Todos nós nos sentamos na mesa, Drake em uma ponta e Abigail na outro. Dessa vez a mesa estava completa. Marcel, Joel e Ragnar de um lado e eu e Macária do outro. Conversamos sobre os negócios e sobre o Código, nada além do normal. Estava feliz, aquela era a minha verdadeira família.

Abigail cuida de todos nós com seu amor e carinho infinitos. Drake nos mantinha em ordem com sua sabedoria e seriedade. Marcel era o piadista, soltando piadas para lá e pra cá, nos fazendo rir de besteiras. Joel cuidava de nossas armas, polindo-as e remendando-as quando necessário, era um pouco mais velho que a Abby, mas muito sereno e cheio de histórias para contar. Ragnar sempre com seu sorriso alegre no rosto e ideias nem que nem sempre eram práticas. E por último Macária, que fazia questão de nos treinar e arrumar contratos que pagassem bem.

Éramos poucas pessoas, considerados para o Conclave uma seita pequena, mas nos dávamos bem, tanto financeira quanto funcionalmente. Todos tinham seu papel e o exerciam perfeitamente.

— Satisfeitos? — Abigail pergunta recolhendo nossos pratos

— Sim! — Digo

— Comi mais do que deveria… — Marcel comenta massageando sua barriga 

— Sempre há espaço para a sobremesa… — Macária fala repousando suas mãos na cabeça

— Mesmo depois do quinto prato, minha filha? — Joel indaga limpando-se com o guardanapo

— Ela comeu pouco… — Digo sorrindo —  Está doente, Mack?

— Estou de dieta!

Abigail volta para mesa com uma torta de limão enorme. Macária bate palmas e se prontifica de cortar os pedaços. Ela nos serve com pedaços decentes e logo em seguida fica com metade da torta.

— Se eu comesse assim… Nunca mais passaria pelas portas desta casa… — Abigail comenta saboreando sua torta com café

— Drake… Eu posso conversar com você? — Indago brincando com a minha sobremesa

— É sobre a Revolução, minha querida? — Joel pergunta

— Como sabe, Joel?

— Foi eu quem guardou o seu medalhão, querida…

— Drake contou para mim e para Macária depois que saiu… Estamos do seu lado, se é sobre isso que quer conversar — Marcel fala roubando um pedaço da torta de Mack

Sorrio aliviada, pelo menos metade do meu trabalho já foi poupada.

— A Sanguinium está do seu lado — A voz séria e grossa de Drake ecoa pelo cômodo 

— É sobre isso que queria conversar… Precisamos de mais gente, precisamos de seguidores… — Respiro fundo e encaro Drake — Preciso entrar em contato com os Loupgriz

Todos se emudeceram, o silêncio preenche a sala. 

— Eu preciso deles…

— Nunca entramos em contato com eles, Aloy! — Drake exclamou, soltando a minha mão

— A Mack conhece um deles!

— Aloy!

— O que? É a verdade! 

— Isso é verdade, Macária? — Drake indaga friamente

— Eu não o conheço… Apenas bebemos no mesmo bar!

— Eu preciso deles, a Revolução precisa deles...

— Aloy… — Ragnar tenta me interromper mas apenas o ignoro

— Não pedirei sua permissão Drake, sou grande demais para isso… — Me viro para os outros integrantes da mesa — Preciso deles… Altair e Aurora contam com isso e não as deixarei na mão!

— A seita continuará do seu lado, meu amor — Abigail fala serenamente 

Assinto e direciono meu olhar para Drake.

— Eu e Mack sairemos esta noite, não nos espere

Me levanto da cadeira e me afasto da mesa

— Vamos, Mack?

— Mas a torta… 

— Agora! — Digo rispidamente

Macária se levanta e me segue. Descemos até a área de treinamento em silêncio. Ao adentrar o cômodo me lembro da conversa com Drake que iniciou isso tudo. Meus sentimentos estavam tão confusos.

Com a ausência de Mack, pude me concentrar em Ragnar, mas agora que ela está de volta, tudo parecia mais difícil, nebuloso. Soco um saco de areia com força e depois de novo.

— Vai acabar quebrando sua mão de novo! — Ela pontua procurando as luvas de proteção

Bufo e volto a minha atenção para o saco de areia. Troco socos fortes e velozes. Quando treinava todas as minhas preocupações parecem desaparecer. Minhas mãos estavam ficando feridas, mas eu não ligava. Precisava espairecer, me desconectar do mundo real.

A mão forte e macia de Mack toca o meu ombro, me virando para si e vejo sua mão fechada vindo em minha direção. Agacho e atinjo sua costela, fazendo-a se afastar.

— Esta lerda demais, Mack… Deve ser a quantidade absurda de comida que… — tento falar, mas ela me interrompe me dando uma rasteira

Caio de bunda no chão e suspiro. Me levanto e rapidamente tento socá-la, mas ela desvia de meu golpe e agarra a minha mão. Sou puxada para perto de seu corpo e, com uma chave de perna, ela me derruba novamente. Entretanto dessa vez ela para em cima de mim, com um sorriso orgulhoso no rosto.

Seu cabelo cor de fogo caía como as águas de uma cachoeira mágica, serena e lentamente. Seu corpo musculoso pendia sobre mim, me transmitindo um calor reconfortante e familiar. Me sinto corar ao perceber como ela me olhava…

— Mack…

Sua boca me cala com um beijo longo e calmo. Seus dedos, mais quentes que o normal, tocam a pele da minha bochecha, me fazendo corar ainda mais. Meu coração acelera tanto que eu tinha certeza que ela era capaz de ouvir. Mack segura o meu pescoço de leve e aprofunda o nosso beijo.

Me perco em seus lábios.

Me perco em seu calor.

Macária desce suas mãos até a minha cintura, me puxando para cima de si e me fazendo sentar em seu colo. Sua boca encontra a pele nua do meu pescoço e a morde levemente, em seguida a beija com voracidade.

Céus, eu estava derretendo.

Não!

Ragnar…

A empurro e me levanto rapidamente.

— Não posso!

— Porque não? Não é como se estivesse namorando outra pessoa… —  Ela fala limpando um pouco da saliva em seu lábio inferior

“Sim! Estou… Eu acho”, penso “No caso não estamos, mas estamos… Isso nem faz sentido”

— Ou está?

— Não! — “Sim! Mais ou menos...”, minha mente grita

Olho ao redor e passo a mão em meu cabelo, nervosa.

— Foi tão ruim assim? — Mack indaga se levantando.

— Não, foi ótimo… — Deixo escapar.

— Então por que paramos?

— Eu… Loupgriz… Precisamos estar preparadas… — Minto

— Certo! — Ela fala prendendo seu cabelo em um rabo de cavalo baixo e em seguida o trançando — Que horas saímos?

— De noite… — Digo num suspiro

— Vou arrumar as nossas coisas, te vejo mais tarde, combinado?

Assinto e Macária sobe as escadas, me deixando sozinha com os meus sentimentos.

Sozinha com toda a confusão do meu coração.

Perdida em minha própria mente.

Afogando em mim mesma.

 

Seis horas depois

 

O relógio marcava sete horas, mas Serry parecia muito mais escura. Macária me esperava na sala de estar e Drake e Ragnar conversavam (No caso, discutiam em alto e bom som).

— Você não vai! 

— Pai…

— Não vai! Pronto! Essa discussão acaba aqui!

— Ainda bem que chegou, já estava querendo cortar as minha orelhas… — Mack comenta num suspiro, me entregando algumas armas, munições e meus coldres — É o bar do Killian, um conhecido meu. Não é longe, mas temos que pegar os becos

— Certo… E eles, por estão brigando? — Indago vestido-me com minha capa preta

— Ragnar quer ir conosco… — Ela comenta inclinando sua cabeça em minha direção — Mas não ganhou a permissão, obviamente.

Nós duas nos aproximamos da porta e Drake segura a minha mão.

— Queria que ao menos passasse a noite aqui — Ele fala e em seguida repousa sua boca em minha testa, beijando-a fraternalmente

— A revolução não pode esperar! — Sorrio um sorriso amarelo, falso.

Não estava nem um pouco a fim de ir atrás dos Loupgriz, mas precisava de aliados.

— Se cuida, Aloy… — Ragnar choraminga

— Onde está a Abby? — Pergunto vasculhando a sala com o olhar novamente

— Ela não quer se despedir novamente… Apenas quer que volte sã e salva

Assinto e fecho a porta atrás de mim.

Não iria decepcioná-los. Nunca.

Macária me guia com maestria pelos becos tortos e obscuros de Serry. Andava cabisbaixa e pensativa, planejando exatamente o que e como falaria com o chefe da Loupgriz. Deveria falar com calma e seriedade, explicar a gravidade da situação e como eles seriam muito bem recompensados com o dinheiro que essa Revolução poderia nos gerar.

Não demorou muito para chegar no bar. O local se encontrava em decadência. Bêbados agarrados a suas rameiras, homens inconscientes no chão e música exótica tocando alto. Respiro fundo e me guio até a mesa que Mack nos arranjou.

— Homem novo, cabelos brancos, com a moça de vestido decotado vermelho. Ele é o nosso cara

Ele parecia muito jovem, com certeza mais novo que eu. Seus cabelos brancos estavam presos em um coque extremamente frouxo. Era magro e baixo, de nariz pontiagudo. Tinha sua face praticamente enterrada nos seios da moça em vermelho. Suspiro, esse tipo de homem me cansava mentalmente.

— Como sabe que é ele?

— Escarificação cicatrizada em seu braço, consegue ver? — Ela fala enquanto pede uma cerveja

— Cerveja? Sério?

— Temos que nos misturar! — Mack revira os olhos — Consegue ou não?

Estreito os olhos e vejo a cicatriz em alto relevo. LPGZ: LouPGriZ.

— Ainda não acredito que eles fazem isso ainda… Não tinha sido proibido esse tipo de marcação?

— Tinha, mas parece que o chefe deles conseguiu revogar a decisão…

— Vou até ele… Precisamos acelerar isso

— Cuidado — Mack fala segurando a minha mão com força e depois dando gole em sua jarra de cerveja

Sorrio e me encaminho para o garoto. Solto o meu cabelo e o bagunço um pouco para criar volume.

Entretanto, antes que eu pudesse me aproximar do garoto, três homens altos e parrudos se aproximam de mim. Engulo em seco e tento disfarçar a minha ansiedade.

— Macária, uma Sanguinium e uma acompanhante, que linda noite! — Um deles fala

Escuto Mack se engasgar com sua cerveja. Tento sacar uma das minhas armas, mas sou impedida. Um dos homens segura a minha mão e a força para trás, empurrando meu cotovelo para frente. Gemo de dor.

Mas a dor passar num piscar de olhos, porém minha visão fica turva e me sinto vacilar. Tudo ao meu redor fica escuro e frio.


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