A Segunda Onda escrita por Pandora Ventrue Black, Ella


Capítulo 11
Capítulo 10: Coragem é importante, mas a sorte é essencial


Notas iniciais do capítulo

"Coragem é a resistência ao medo, domínio do medo, e não a ausência do medo." - Mark Twain



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P.O.V Altair

 

— Primeiro, precisamos de números. Pessoas que já sabem como e estão dispostas a lutar — Começo já arquitetando o plano — Dinheiro, para comprar armas, pagar transporte, comida…

— Eu posso convencer minha Seita a participar — Prontifica Aloisia— E talvez alguns membros de uma outra. 

— Quantas pessoas exatamente?

— Por volta de 20.

Assinto em concordância, calculando mentalmente quantas eu conseguiria. Violet apoiaria essa ideia? Entrisk já tinha sido impossível…

— Eu consigo pelo menos metade das forças da Irmandade, que são por volta de 25 pessoas — concluo por fim — Aurora…?

— Eu definitivamente consigo pelo menos mais dois navios. Contando com minha própria tripulação, são por volta de 60 pessoas. 

— Bom, eu definitivamente consigo pelo menos 80 — Responde Natanael sorrindo desafiadoramente para Aurora que parece se irritar. Antes que ela pudesse responder eu volto a falar. 

— Bom, isso nos dá quase duzentas pessoas — Pondero em voz alta — Se escolhermos uma das ilhas com guardas menores, acho que talvez conseguimos fazer um estrago com esse número, desde que conseguíssemos convencer ao menos a mesma quantidade de locais a se rebelar. Eu consigo algum dinheiro, mas vai ser apertado. Precisamos tomar a cidade de primeira, por que sem os recursos do cofre real não conseguiremos tentar novamente. 

— Bom. Eu não estava com intenção de falhar de qualquer forma — Aloisia responde com uma expressão entediada que me irrita. 

— Vocês têm dons? — pergunto ignorando a assassina.

— Eu controlo líquidos — Replica a pirata prontamente.

— Uma habilidade útil para uma pirata. Eu consigo controlar metais. Aloisia?

— Eu tenho poder sobre a escuridão. 

— Três dons bem variados. Acho que isso pode nos ajudar a decidir quem vai fazer o quê durante a revolução… Bom de qualquer forma, isso nós decidimos mais tarde — Concluo — Por agora, o mais urgente é transporte, armamento e comida.

— A irmandade consegue produzir armamentos suficientes para pelo menos 500 pessoas, mas deve levar por volta de duas semanas. Menos, se você convencer Violet a atrasar todos os outros pedidos previstos para a próxima semana — Enryx fala pela primeira vez desde que chegamos na ilha. Seus olhos azuis parecem me estudar, esperando pela minha resposta. 

Apesar dele ser relativamente novo na Irmandade, ele sabe o mesmo que eu: Violet nunca arriscaria a reputação da organização dessa forma, assim como ela nunca cederia as 25 pessoas que eu prometera. 

Mas eu teria que arrumar alguma forma de convencê-la. Esse governo já fora longe demais. 

— Eu me viro com Violet — Digo por fim, fechando os olhos e rezando para que fosse verdade — Quanta comida conseguimos com os locais em Saranska? 

— O suficiente para alimentar duzentas pessoas por uma semana no máximo. Talvez dez dias, se racionarmos — Ele responde prontamente — Não que soldados famintos sejam uma forma esperta de se iniciar uma guerra. 

Pressiono meus lábios em uma linha fina, deixando minha irritação transparecer. 

— Eu posso conseguir provisões suficientes para os meus homens e meus aliados ao menos — Diz Aurora. 

— Temos comida para mais um dia, eu acho — Conclui Enryx — Teremos que nos mover rápido, e a ilha que atacarmos terá que ser perto de Saranska. 

Assinto com a cabeça em concordância. 

— Sim. Talvez Desnburry…. Bem, os detalhes decidimos depois de termos os aliados definidos e um plano mais estruturado. 

— Mais alguma precisa ser discutida? — Pergunta Aurora impacientemente. 

— Na verdade sim — Respondo, olhando na direção de Oceana — Você conheceu vários membros da revolução, certo? Você sabe quais estão vivos e onde eles estão? 

— Alguns. Mas um em especial seria o mais útil: Jadred Orthion. Ele era responsável pela rede de contatos e informações da primeira revolução. Conhece os pontos fracos de diversos palácios, os nobres de cada local, tem informações sobre os membros antigos da revolução… tudo que você pode querer em um só pessoa. E o melhor: ele está preso em Petrea. 

— Petrea… a prisão de Saranska — explico ao notar a confusão nos olhos das outras duas meninas. 

— Isso não é uma boa notícia! — Exclama Enryx — Petrea é impenetrável, não é atoa que a Irmandade nunca tirou nenhum de seus contatos aprisionados de lá. 

— Talvez — concorda Oceana — Mas se vocês já vão voltar lá para reunir seus aliados, significa que ao menos não teriam que se deslocar para outra localidade. 

— Eu consigo — falo com firmeza — Além de ao menos metade da irmandade… vou trazer Jadred comigo. 

— Isso é loucura, Altair! Ninguém nunca invadiu a prisão e saiu com vida! 

— Isso é porque eu ainda não tentei! Ninguém nunca tinha roubado o banco de Saranska antes de mim também!

O encaro desafiando-o a contestar minhas palavras. Ele mantém os olhos firmes em mim, mas por fim desvia. 

— Se você morrer eu reservo o direito de “eu te avisei!”

— Se eu morrer, você estará muito ocupado tendo que lidar com Violet para dizer qualquer coisa — Debocho com um sorriso sacana no rosto — Mas não se preocupe, Enryx. Eu não me tornei vice comandante de uma organização criminosa aos 21 anos me comprometendo a fazer coisas que eu não consigo. 

— Eu aconselho a você liberar vários prisioneiros. Se o Rei imaginar que alguém está libertando antigos membros da revolução, ele pode começar a investigar vocês, e a última coisa que precisamos é que ele no nosso encalço! — Oceana diz e eu assenti em concordância.

—  Pode deixar. Vou fazê-los pensar que o objetivo eram os mafiosos e que eu liberei mais pessoas para tirá-los do meu rastro. 

— Essa ideia é perigosa, Altair, você não pode fazer isso sozinha — Me irrito com as palavras dele, já pronta para rebatê-las quando ele volta a falar — Leve Harmonia com você. Todo mundo sabe que vocês funcionam melhor em dupla.

Reviro os olhos, mas deixo passar. É claro que eu levaria Harmonia, a prisão era muito grande para fazer uma fuga em massa com só um infiltrado de qualquer forma.

—  Então nos separamos e buscamos nossos aliados, e nos reunimos novamente em…. quanto tempo? — Questiona Aloy.

— Duas semanas — Digo — Mas onde? Precisamos de algum lugar que caibam muitas pessoas e que não seja muito vigiado. Também tem que ser litorâneo, para facilitar a chegada de Aurora…

— Que tal Isher? — Sugere Natanael — É apenas dois dias de viagem partindo do porto de Saranska, é um vilarejo então não é muito vigiado, mas temos uma forte base de apoio por lá. 

— Perfeito! Então Isher, em duas semanas. Mas antes… Aurora, pode me levar de volta para Saranska? — Pergunto

— Posso. Aloy, posso te levar para Serry também, se quiser. 

— Eu aceito — ela diz mas com uma pequena careta que quase me faz rir. 

Honestamente, que tipo de assassina não conseguia viajar em barcos? É um dos meios de transporte mais comuns e práticos! 

Mantenho, entretanto, essas opiniões para mim. Ela já não gostava muito de mim (e, honestamente o sentimento era mútuo) mas não havia porquê antagonizar ela ainda mais. 

— Bom, então terminamos por hoje? — Pergunta Enryx.

— Acho que sim — respondo por fim.

— Bem, tem dois quartos seguindo esse corredor. Vocês podem ficar com eles. Tem comida na cozinha, por favor se sintam a vontade — Diz Oceana se levantando e seguindo pelo corredor. Os outros também se dispersam, deixando apenas eu e Enryx na mesa. 

Eu evitara ele por meses… só para acabar nessa situação, onde ele era a única pessoa que eu não queria de fato evitar. 

— E então, vice comandante? Vamos explorar a ilha ou você quer ficar aqui se estressando? 

— Que pergunta difícil — Ironizo — Vamos, a praia parecia linda e eu adoro o mar. 

— Todos nós sabemos disso. Existem milhares rumores na Irmandade de como você chantageou Violet para construir a base na frente da sua praia favorita. Ou ameaçou. Ou-

— Cala a boca, Enryx.

— Me obrigue — Ele desafia com um sorriso gigantesco no rosto.

Eu travo por um segundo, sorrio cruelmente e antes que ele possa reagir passo meu braço pelo pescoço dele em um mata leão. 

— Não e-era isso que eu tinha em mente — ele fala enquanto respira com dificuldade.

— Oh? É mesmo? — o solto e me afasto, continuando com um tom falsamente doce — O que você tinha em mente?

Ele engole em seco, me olhando nervosamente. 

— N-nada. Vamos para a praia.

— Foi o que eu pensei!

Passamos a tarde na praia, conversando sobre nada e observando a bela ilha. De noite, voltamos para a casa, e dividimos o quarto. Enryx deita no colchão do chão e cai no sono em poucos segundos, enquanto eu encaro o teto, refletindo sobre tudo que acontecera nas últimas semanas. 

O massacre. 

Encontrar Aloy. 

A batalha no porto. 

O caminho até aqui. 

Acontecera centenas de coisas nas últimas semanas, em especial nos últimos dois dias. Ao mesmo tempo que eu me sentia exausta, uma raiva sem tamanho crescia em mim a cada segundo. Saber o que acontecera no passado, tudo que meu pai tinha passado, só tornava essa raiva ainda maior. 

Eu não era uma pessoa temperamental. Manter minhas emoções sob controle sempre fora uma das prioridades, uma das regras que Violet me fez seguir até que se tornasse minha natureza. Eu mantivera minha empatia, minha vontade de ajudar aqueles que não tem como se ajudar sozinhos, mas apenas isso. Harmonia fora a única exceção que eu me permitira, a única com quem eu contava, simplesmente porque após a morte de minha mãe, ela se tornou meu único pilar, praticamente minha irmã. 

Mas agora, milhares de emoções batalhavam dentro de mim, e eu não conseguia enfiá-las atrás da porta que eu tinha criado e jurado que nunca abriria. 

Os dons eram diretamente ligados a emoções: elas podem nos fortalecer ou enfraquecer, controlar ou descontrolar, e você nunca saberia o que cada emoção faria com o dom até o estrago já estar feito. 

Eu estava a beira de uma batalha e não havia momento pior para essa fraqueza aparecer: eu tinha que entrar sob controle. 

Mas eu não sabia como. Assim como eu não sabia como convenceria Violet a me deixar levar a Irmandade para batalha, ou invadir a Petrea. E essa dúvida, essa incerteza e esse medo deixavam a situação ainda pior. 

Ainda refletindo sobre tudo isso, caio no sono. 

 

Aurora acorda a todos ao amanhecer, comemos rapidamente e em menos de uma hora já estamos de volta em seu navio. Quando a pirata anuncia que a viagem duraria por volta de catorze horas, Aloy solta uma série de palavrões e vai se esconder em algum canto do navio, sua fiel sombra em seu encalço. Enquanto a tripulação de Aurora se move por todo o convés, acertando o curso e as velas, eu e Enryx nos sentamos no chão encostados na proa. 

— O que você vai fazer? Quanto a Violet?

— Vai depender de como ela reagir depois que eu pedir — Eu respondo — Talvez ela concorde. Talvez ela apenas reclame…

— Se ela se recusar?

Eu fecho os olhos.

— Então eu vou ter que assumir o comando da Irmandade no lugar dela. 

— Não foi ela quem te salvou das ruas?

— Foi. Mas isso...isso é maior do que eu. Maior do que ela, maior do que minha lealdade ou meu senso de honra. Se chegar nesse ponto, eu vou fazer a escolha que salve mais vidas, que ajude mais pessoas. Mesmo que isso signifique que o preço seja que ela-

Me corto, não tendo coragem de terminar. 

— Sabe, Altair, às vezes eu acho que o seu coração é muito gentil para alguém que está tão alto em uma facção criminosa. 

— Você é o único que pensa assim — minha voz sai fria. 

— Não, eu não acho que eu seja. Você pode fingir que não se importa com ninguém, que é fria e calculistas, que nos odeia, me odeia em especial. Mas suas ações não refletem o mesmo que suas palavras. Entrisk era prova disso. 

— Talvez seja verdade. Talvez eu não seja exatamente fria. Mas se eu tiver que escolher entre Violet e a Revolução, eu não vou nem mesmo hesitar. Mesmo que ela tenha me salvado. 

Ele me encara por alguns segundos e por fim assente. 

— Eu acredito em você. Espero que não chegue a isso.

— Eu também — solto as palavras em um quase sussurro. 


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