Wolverine contra os X-Men - 2020 escrita por lslauri


Capítulo 7
Epílogo




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Não vejo nada, estou num escuro sem fim, mesmo com a força de abrir os olhos, eu nada consigo. Tento mexer meus braços para alcançar meus olhos e ver se tem algo cobrindo minha visão, mas meus braços não alcançam. Eles parecem curtos, assim como meus pés. Sinto como se minha cabeça fosse enorme e, ainda assim, tenho a sensação de ser toda pequena em relação ao que me rodeia. Também sinto sono, muito sono...

Já tive essa sensação antes, na verdade, outras dez vezes! Logan estava certo! Eu estou presa na minha mutação pra sempre! Sempre que eu morrer eu vou reiniciar todo o processo e, como eu me comportar no dia a dia, as escolhas que fizer, será o que moldará o futuro da humanidade e, agora eu sei, até de outras dimensões... É peso demais para alguém suportar... E esse sono não me deixa continuar.

Os primeiros anos são os mais difíceis, eu não tenho com quem conversar... Tenho somente a voz da minha mãe, a voz do meu pai e vários ruídos do mundo que não reconheço com os outros sentidos. Tenho somente meu próprio pensamento para me fazer companhia.

Revejo minhas escolhas e percebo que eu estava tentando mudar o mundo, um mundo que, como bem disse Logan, não precisa e não pode ser alterado, pois vai ressoar em várias outras realidades que não tenho condições de avaliar... Então, qual meu propósito na vida? Se eu não posso mudar o destino dos mutantes, será que posso mudar o meu próprio destino? Sina me disse que se eu morrer antes de completar 13 anos, momento onde minha mutação se manifesta por completo, então eu terminaria esse ciclo...

O sono toma conta de mim novamente, fico alterando momentos de lucidez e de torpor dentro do útero, mas sei que aqui estou segura e isso me conforta.

Quando acordo novamente, penso que já havia estabelecido o seguinte: se eu não agir ativamente na realidade, vou morrer aos 74 anos, com uma família linda, filhos, netos e bisnetos. E repetir isso incansavelmente, até o momento de decidir dar um fim, antes dos 13 anos. Isso não é vida! Acumular tanto conhecimento para nada? E se eu mudar meu foco para ajudar as pessoas ao meu redor, de modo sutil?

Sono...

Eu sabia que quanto menos sono tivesse, mais perto estava do nascimento e, nesses dias, eu praticamente não dormi. Sentia que meus braços podiam explorar meu rosto e que minhas pernas estavam compridas o suficiente para que eu fosse capaz de correr! Sorri diante desta perspectiva.

Passo os meus próximos 19 anos me preparando academicamente para ser uma geneticista de sucesso. Já tinha visto o Charles na Universidade, mas não me aproximei dele desta vez. Não mais do que o usual. Queria que ele fosse capaz de me contar sobre seu sonho, sem influenciar nesse pensamento. Queria que ele contasse com minha capacidade de pesquisadora, quando precisasse falar sobre a existência de mutantes.

Eu sempre quero apressar essa parte, sempre quero que ele confie mais em mim do que ele está preparado para confiar e me conte sobre sua descoberta e sobre sua condição antes do prazo. Me segurei, esperei, paciente... Quando fiz a festa de cinco anos da construção do laboratório na Ilha Muir, ele me contou. Depois que eu, provocativamente, disse aos cientistas do local ter descoberto o próximo passo na evolução humana. Vejo os olhos dele brilharem e espero por sua aproximação:

— E então, senhor Xavier? Espero que a festa esteja de seu agrado.

— Eu não poderia estar mais feliz, Moira. Tenho feito umas descobertas pessoais nessa área que você somente mencionou, sem aprofundar.

— A da evolução genética do ser humano, eu suponho?

— Sim, essa mesma! Veja, eu tenho analisado alguns padrões mentais e... bem, existem alterações genéticas fenotípicas também, nesse sentido.

— Hum, interessante. Você quer dizer seres além de humanos que podem ser identificados por sua aparência?

— Sim, mas também alterações exclusivamente genéticas, que dão aos portadores dessas mutações, se assim podemos chamar, outras capacidades além das normalmente conhecidas.

— E o senhor teria como provar isso? A comunidade científica é ávida por provas, senhor Xavier.

E foi então que senti a voz dele em minha mente dizendo: “Pode me chamar de Charles, Moira.”

Eu finjo fascinação, perplexidade e alegria. Depois desta revelação, trabalharemos juntos por décadas, até o momento em que a Mística vem atrapalhar meus planos quando estou tentando achar a cura pro vírus Legado...

Dessa vez, me aproximo mais de Charles no sentido de conhecer seus X-Men. Me faço presente na avaliação dos genomas, das habilidades, das fraquezas; sofro quando não conseguem vencer a Ilha Krakoa, mas me regozijo quando ele chama para o time Ororo, Kurt e Logan para lutarem contra essa Ilha.

E assim vou vivendo, sem me prender a ninguém, sempre presente para todos os mutantes da Mansão X, sem alterar drasticamente o futuro deles, mas deixando a vivência mais esperançosa, já que eu tinha mesmo isso: esperança! De poder ficar com eles o maior tempo possível, ajudando sem ser notada.

Numa tarde de verão, quando vários mutantes relaxavam na piscina e outros faziam uma churrascada, Logan se aproxima de mim, com uma bermuda toda florida e sem camisa. Trazia duas cervejas e dois sanduíches:

— Ei, Moira, posso me sentar? Aceita?

— Mas claro, Logan. Não tem que pedir permissão, eu que sou uma intrusa na casa de vocês...

Aceito uma cerveja e um sanduíche, sorrindo para ele.

— Eu sei o que tu ‘tá fazendo, ruiva. E só posso dizer que aprovo 100%, sabe?

— Como assim, Logan? Eu não estou fazendo nada demais... Ajudo o Charles nas questões genéticas, mas não me atrevo a fazer muito mais do que isso.

Ele dá uma boa mordida no sanduíche e vira a cerveja logo em seguida. Olha os mutantes mais jovens que estão na piscina e assim que engole, ele me diz:

— Por isso mesmo. Nada de querer mudar o mundo dessa vez, né? Eu já disse e repito: ‘tava de saco cheio de te matar...

Eu arregalo os olhos, sorrio e sinto uma vontade imensa de dar um grande abraço nele, mas isso não seria prudente na frente dos outros. Poderia gerar questões que não estava a fim de responder.

— É, eu imagino, deve ser um alívio ter com quem conversar sobre essa loucura! – ele completa.

— Mas como? Quando você soube?

— Eu tenho tido uns “déjà-vu” e até sonhos sobre os nossos outros dez encontros... Algumas vezes é uma frase sua que desencadeia a memória, outras é um cheiro, um som. Fato é que eu achei que ‘tava ficando doido, mas o Hank garantiu que está tudo bem com meu corpo e o Professor garantiu que está tudo bem com a minha mente também.

— Espera, você falou com o Charles sobre isso? Isso não pode ser um problema?

— Eu não dei acesso à minha mente, gata. Eu só disse o que ‘tava acontecendo comigo. Sabe, estranhamente, nessa realidade, é conhecimento geral que eu sou imune a telepatia. Eu só entendi o motivo quando tive meu primeiro sonho. Sonhei com a sua vida anterior e com meu encontro com a minha filha de outra dimensão onde ela me explicava sobre o adamantium e a capacidade de eu deixar entrar quem eu quero. Mas de algum modo, meu subconsciente sabia e eu vim pra cá sem dar a chance ao Charlie de ler minha mente. Estranho, né?

— Estranho e super legal! Ter essa consciência inconsciente foi muito útil, não é mesmo?

— Vou pegar outra cerva, ‘cê quer?

Aceno positivamente com a cabeça e respiro aliviada. Ele sabia, ele me entendia e ele me apoiava! Eu estava no caminho certo desta vez! Encontrei meu sentido pra vida, finalmente! Ele aparece com um engradado de cervejas:

— Ei, se está querendo me embriagar, pode pensar duas vezes... Eu fui criada com uísque. Essas cervejas são como água pra mim, Logan.

— O que eu ‘tô pensando não ia ser legal se você tivesse bêbada, gata...

Arregalei meus olhos e soltei uma risada:

— Adoro seu riso, Moira. E de todas as vezes que estivemos juntos, essa é a que mais você tem conseguido sorrir. Isso não é maravilhoso?

Eu coro e dou um gole na cerveja. Conhecia Logan o suficiente para saber que ele não era homem de uma só mulher. Será que eu seria capaz de lidar com isso, sem parar de sorrir e sem fazê-lo miserável?

— Ei, que foi?

— Como você sabe?

Ele aponta pro nariz e pros ouvidos:

— Mudou tudo em você, senti até um pouco de medo. É isso?

— Sim... Medo porque te conheço bem demais e não sei se meu estilo de vida tem a ver com o seu. A gente pode estar se aproximando pelo passado que tem em comum, mas será que o futuro não seria pior? Não iríamos nos magoar?

— Olha, ruiva, eu não penso no futuro, só vivo o presente. Mas quem sabe eu não posso ter mudado um pouco vendo as mudanças que você faz em todos ao seu redor, sabe? Você me conhece sob outras circunstâncias. Do mesmo jeito que eu te conheço sob outros caras. Me desculpe o jogo de palavras! – ambos riem – Fato é que a gente não se conhece daqui pra frente. Já que você não vai repetir suas últimas dez vidas e eu vou, se você me permitir, estar com você, isso muda tudo. Aliás, não valendo a pena, eu sempre ‘tô aqui pra te matar, né?

Ele diz essa última frase já aos risos. Eu faço bico. Se ele soubesse o que é ser morto por garras, tantas vezes. O metal frio penetrando sua pele e revirando seu coração, enquanto você fita os olhos daquele que poderia te proteger e te amar. É... Isso pode dar certo. Quem sabe?

— Eu não quero que seja aqui, Logan. Vou me despedir de todos e ir pro meu apartamento. Fico te esperando mais tarde, tudo bem?

— Tudo ótimo. Estarei lá antes da meia-noite. – e ele abre um sorrisão.

Volto pro meu apartamento com uma sensação de colegial no peito. Estou tão ansiosa que nem me reconheço! Eu já tinha estado com tantos mutantes e não-mutantes nessas dez vidas, que diferença fazia estar com mais um nessa décima primeira? Nós nos conhecíamos tanto! Seria correto fazer isso? E se fôssemos só amigos? Amigos com benefícios? Esse último pensamento me dá uma relaxada. Eu não podia colocar tantos senões nos ombros daquele homem e nem naquela situação. Estava minando qualquer chance de dar certo pelo simples motivo de esperar demais.

Troco os lençóis, escolho uma bebida e me banho, escolhendo um lindo vestido. Ligo a televisão e fico esperando, não consigo focar em nada, mudo os canais até colocar no de música. Escolho a estação dos hits dos anos 90 e vou me acalmando de novo. Beberico um uísque, abro uma batata chips. Às 23h45 ouço o ronco da moto dele debaixo do meu apartamento. Estava no 2° andar de um conjunto com quatro andares. Não tínhamos elevador e a campainha logo toca. Aperto pra abrir a porta da recepção, deixo minha porta entreaberta e corro pro banheiro, pra escovar os dentes e checar o cabelo. Algum tempo depois, a voz dele surge na porta:

— Oi! Tem alguém aqui?

Eu solto um “hum, hum”, fazendo bochecho com Listerine e ouço as passadas dele vindo na minha direção. Quando me viro, ele está no umbral da porta, encostado, com os braços cruzados:

— Não sou um cara de luxos, Moira. Não precisava.

— Se com isso quer dizer que não escovou os dentes desde aquele sanduíche, eu insisto que faça ao menos um bochecho, por favor...

— Vem cá, vem! Se depois você tiver alguma queixa, eu anoto e prometo não fazer de novo!

Quando se beijam, ambos sentem uma energia tão boa que, ao contrário do que normalmente faria, o canadense continua beijando a irlandesa, sem pressa. Entre um descanso e outro, eles acabam no sofá, trocando carinhos e beijos.

— Sabe... Eu tenho que te dizer que você tem algo de diferente, ruiva... Eu sinto uma energia tão gostosa que não tenho pressa, ‘cê ‘tá sentindo alguma coisa diferente. Sincerão, vai?

— Senti também, Logan... Que coisa. Como se fosse pra irmos devagar, mas sem deixar de nos tocarmos. Desculpa, não quero te assustar, mas me veio como uma sensação de plenitude. Sabe?

— Hum... É... Algo assim. Que estranho, né? – e ele pega um copo de vinho e o bebe de um só gole.

A noite transcorre de modo natural. Como se ambos soubessem como deixar o outro o mais a vontade possível, mesmo essa sendo a primeira vez dos dois juntos. Eles caem no sono. Moira dorme abraçada a Logan, que em muitos anos, consegue dormir o sono dos justos. Já no início da manhã, ele se lembra de uma frase, parecia ter sido dita por alguém fora de seu tempo, um grande amor, seria a Jean? “quanto de sofrimento alguém precisa ter para que outro possa viver a felicidade?” Ele olha pra mulher em seus braços e tem a sensação de ter conseguido equilibrar uma parte de sua vida, de estar recebendo em felicidade o quanto já teve de sofrimento e, por isso, não pretendia deixá-la tão cedo. Não nessa vida e, certamente, não nas futuras.


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