Wolverine contra os X-Men - 2020 escrita por lslauri


Capítulo 5
Esse é o título: eu contra os X-Men!




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Eu olho novamente pro todo, milhares de mutantes em festa, sentindo-se protegidos e parte de uma família, sem preocupação alguma. Várias crianças brincando, correndo, nunca ouviram falar de Sentinelas, de vírus Legado, de dia M ou nada dessa bosta que nem eu devia me lembrar! Meus olhos terminam no palco onde os mandatários de Krakoa estavam. Podia ser estranho mas não era momento pra recuar, não agora que eu sabia... Ah! Que merda! Eu não sabia mais do que antes daquele sonho maluco com a minha filha de outra dimensão! Onde eu menos espero vou encontrar a Moira, um lugar que ninguém visita? Vamos lá, Universo! Me dá uma pista, uma dica, qualquer coisa! Eu sou o mocinho da história!... Nenhum relâmpago surgiu, ou nenhuma voz me indicou o caminho. Como tudo na minha vida, teria que “dar o sangue” pra conseguir resposta. Fosse meu ou de outros, eu não imaginava uma resolução sem conflito...

Magneto é o primeiro a nos perceber, ele não precisa de telepatia pra sentir a quantidade enorme de metal que se aproxima dele, meu e do Ômega Red. Seu olhar é de ódio pra mim, acho que ele ainda guarda rancor de eu ter feito o capacete dele de penico. Eu sorrio ao lembrar disso. Alguns minutos depois, vejo o capacete do Charlie se virar pra nossa direção. Era um saco não saber as expressões faciais dele. Isso o tornava bastante perigoso...

Sou obrigado a virar o rosto, quando minhas narinas sentem o cheiro adocicado da Jean e o cheiro almiscarado do Scott, eles estavam num palco a frente daquele e, pela cara da ruiva, ‘tava rolando um papo mental entre o Profs. e ela. Sorrio bobamente ao vê-los e volto a realidade quando sinto uma mão no meu ombro:

— Logan! Onde você estava? Ficamos preocupados, Jean me disse que você agiu estranhamente antes de desaparecer!

— Putz, Charlie! ‘Cê sabe que eu tenho meus lances paralelos, né? Mas eu ‘tava atrás de uma dica quente e o Ômega aqui acabou me ajudando no final...

Fui vago de propósito. Eu precisava testar se meu crânio de adamantium me blindava da telepatia. O novo Charles sempre ostentava sua onisciência. Se ele pudesse ler minha mente, ia completar as lacunas que eu deixei, sem pestanejar. Mas não aconteceu isso. Ele hesitou alguns segundos e se virou pro Ômega antes de dizer “interessante” e complementar:

— Então vocês dois conseguiram acabar com a ameaça vampírica?

Erik se espantou:

— Como assim? Onde?

Eu cruzei os braços, esperando a descrição do Charlie da nossa empreitada e ela começou apenas da parte que o Ômega sabia. Eu percebi uma inquietação vinda do maior telepata do mundo. Ele suava medo. E eu fiquei bem alerta, pois a qualquer momento ele poderia colocar mais de mil mutantes contra mim...

Magneto comentou alguma coisa sobre nossa utilidade e eu aproveitei o momento para cumprir minha promessa:

— Bom, eu tinha prometido pro Ômega aqui entregar o detonador do sintetizador de carbonádio pra ele. – e peguei o medalhão no bolso, entregando pra ele – Mas eu precisava de testemunhas e, de quebra, Arcady, dou um conselho: Procura o Hank pra ele tirar do dispositivo qualquer traço do explosivo, manja?

O russo não me responde. Rosna alguma coisa e pega o medalhão como um lobo arranca o primeiro naco de sua presa, sumindo em meio à multidão de mutantes.

Cruzo os braços, tentando pensar na charada da Ravena, sinto a tensão aumentar, até o momento em que percebo uma conversa telepática entre o Professor X e Magneto. Ouço os corações acelerados, vejo a pupila dilatada do Erik e penso por que eles estão se dando tanto ao trabalho? Podiam me matar ali mesmo, arrancar o adamantium dos meus ossos – e um arrepio percorre minha espinha, pedir pro Caolho me vaporizar com uma rajada óptica, enfim, eram tantos os meios que eu não entendi os escrúpulos dos dois... Até que a voz do meu ego disse o quanto eu era inspirador e importante pro quadro geral e me matar na frente de todos não seria um plano sensato. Mostraria uma falha no sistema, afinal, eles teriam que dar uma desculpa... Eu mesmo rebati dizendo que o Charlie podia me apagar da memória de todo mundo, num estalar de dedos e surgiria outro mutante com a capacidade de fazer o que deve ser feito, sem muita moral, como eu. O mundo ‘tava cheio de Wolverines potenciais, não?

Depois de alguns minutos de silencio constrangedor, o senhor dos metais resolve se retirar:

— Meus caros, já vou para meus aposentos... Essas festas são um enfado para alguém como eu, que apesar de otimista com o presente, não consigo escapar do passado...

— Espero que seu otimismo sobrepuje seu passado um dia, meu amigo! Eu também não ficarei muito mais, preciso me preparar para o discurso de amanhã.

— Que discurso, Charlie?

— Nas Nações Unidas, Logan.

— Caracas! Já é amanhã? Vai precisar que eu faça sua segurança pessoal?

Ele demorou um pouco para responder. Sorriu e sentenciou:

— Não desta vez. Precisarei que fique aqui, cuidando das crianças...

— ‘Tá certo, Charlie. O que tu precisar, ‘tô aqui.

E foi então que percebi o significado daquele sorriso. Meu cérebro o cruzou com vários outros sorrisos dados, especialmente, pelo Dentes-de-Sabre! Era um sorriso de supremacia, de sarcasmo, de loucura antes de um evento cataclísmico... O meu defeito era não ser capaz de ler mentes pra saber o que ‘tava rolando! Mas... Eu conhecia alguém muito habilidosa pra isso!

Começo a pesquisar onde estava Emma com meu olfato, busco também qualquer uma das Cuckoos, elas estão quase sempre juntas e não demoro muito a ver todo o Clube do Inferno numa plataforma distante. Desço as escadas e inicio minha caminhada até ela; passo por onde estão Ororo, Jonathan, Anne, Remy, Jean, Scott, Hank, Kurt e Warren, cercado de mutantes jovens. Percebo o olhar de Jean para mim e sinto seu cheiro se aproximando enquanto continuo a caminhar até Emma.

— Ei! Ei, Logan! Espera aí! – grita a voz da ruiva em meio aos sons das várias festas.

Eu paro, sem me virar e fico esperando. Só o cheiro dela era capaz de ativar receptores em mim que me deixavam mais relaxado, mais sedado da realidade... Que pena, Jean... Eu queria poder me entregar a isso, curtir contigo por muitos anos! Mas nessa hora eu lembro de uma citação que o Kurt me disse, do apóstolo Paulo: “tudo posso, mas nem tudo me convém”... Se eu amarelar agora, se for só pelo ego, muitos vão perder e a gente não tem esse direito. Eu queria que você me entendesse... Mas não posso me arriscar.

— Ei, gatão! Passou direto pela gente! Andou sumido. Está com problemas? Precisando de alguma ajuda? Sabe que pode contar com a gente, né?

Ela me abraça por trás e eu retribuo, respirando fundo, sabendo que toda aquela sensação, no futuro, ia achar um jeito de chegar até mim de novo, como as várias lembranças que eu tive nesses últimos dias. Se escorregando para a frente, ela me enlaça num abraço e me beija. Finco meus dedos nos cabelos volumosos dela e depois de retribuir superficialmente seu beijo, puxo seus cabelos:

— Hoje não, Jean... – falo tão baixo que nem acredito em mim mesmo, pigarreio, me recomponho e falo normalmente: Tenho meus lances, ‘cê sabe, gata! Nem todos eu curto compartilhar com a galera. Mas sei que ‘cê me entende, né?

O rosto dela se entristece enquanto eu falo, ela morde o lábio inferior e balbucia: “Achei que confiasse em mim, Logan...”

— Claro que eu confio, ruiva! Mas ‘cê precisa entender que eu faria qualquer coisa pra proteger você e o Magrão, mesmo que isso pareça que te machuque, às vezes. – eu volto a abraçá-la enquanto desisto de ir ver a Emma, ao menos naquela noite. Dou um selinho nela, sei que isso não a convence, mas era o que eu podia fazer pra não acabar a noite nos seus braços. – Vou pra cabana essa noite, ‘tá? – e saio, sem esperar ela me responder, precisava deixar claro que não queria companhia e a cabana era o lugar ideal.

Ela era uma réplica da casa onde eu vivi com a Raposa Prateada. Ficava um pouco afastada dos complexos principais, no meio de uma floresta. Quando falei da cabana senti um estalo! Fazia muito tempo que não ia lá, e ninguém visitava o lugar. Será?... Que a Moira estava tão perto de mim e eu não tinha me tocado antes?

Conforme vou me aproximando daquela simulação tão conhecida, imagens dos momentos com a Raposa Prateada invadem minha mente. O quanto eu aprendi com ela sobre união e amor... Grunho relembrando o quanto eu odiei o Dentes-de-Sabre por tirar ela de mim. Em seguida, seguro a cabeça com as mãos, parece que lanças de adamantium estão atravessando meu cérebro, imagens dela viva, de que tudo não passou de um golpe! Que eu fui manipulado pelo Governo! Ela ‘tava viva e tinha seguido em frente, por que o Charlie mandou construir essa cabana?? Por que ele tentou apagar essa parte da minha memória? Puta que pariu! Ele tirou de mim as maiores lembranças de manipulação pelo simples fato de que ele também ‘tá me manipulando! E agora, as crianças ‘tão em perigo!...

Sinto o cheiro de algumas pessoas que não gostaria, não aqui, não agora: Ororo, Hank, Kurt e Ciclope.

— Boa noite, galera! ‘Tão perdidos por aqui, é? – e ninguém responde. Eu os ouço se mover, formando um semicírculo que me impulsiona a não continuar a caminho da cabana... Sei que esses caras ‘tão ali pra me fuder, e sei que não têm consciência disso. Graças ao novo jogo do Charlie, também sei que não preciso me segurar pra lutar contra eles, porque todos podem voltar, sendo clones... Nunca minha fera interior sentiu tanto prazer! Eu sorrio enquanto sinto o cheiro do Hank e do Kurt chegando. Kurt dando banfs pelo ar e Hank correndo pelo chão.

O peludão me acerta com um chute no peito, se não fosse a caixa de adamantium protegendo meu coração, teria ficado sem fôlego. Voo alguns metros até bater numa árvore, é quando Kurt me pega e leva pra mais longe ainda da cabana, numa clareira entre onde estávamos e pra onde eu ia. Scott tá numa ponta dela, já com a mão nos óculos e desfere uma rajada na minha direção. Meu fator de cura, depois de tantas viagens com o Kurt, não ficava mais zuado na reentrada, aproveitei que ele se esqueceu disso pra dar um sossega leão nele, usando-o de escudo contra a rajada óptica que era só pra atordoar. O alemão só tem tempo de dizer “Scheisse!” antes de cair desacordado.

Não espero nada, corro na direção do Scott, desviando das rajadas dele, sendo acertado por algumas, chego bem perto e, quando vou ejetar as garras, o maldito do Charlie sai do comando e deixa o Magrão perplexo, olhando pra mim, sem entender nada! Hesito nessa hora e só percebo meu erro quando sinto o abraço forte do Hank, tentando me dar um golpe. Eu não tenho chance em campo aberto. Preciso sair dessa clareira e lutar num lugar onde o Charlie não possa contar com a visão e nem com a telepatia pra cima de mim. Junto minhas forças e levanto o Hank do chão, jogando-o sobre o Scott. Minha visão lateral vê que o Kurt ainda está desmaiado e eu ainda não tinha visto a Ororo, ela deve estar voando sobre nós ou guardando a cabana...

Aproveito a confusão dos dois e corro pras árvores, em direção a cabana. Scott usa sua rajada para derrubar várias árvores atrás de mim. Agora ele não ‘tava se segurando. Será que antes o Scott conseguiu lutar contra o controle do Professor? Eu nunca vou saber. Mas o que eu sei é que ‘tô na pista certa, senão ele não se daria ao trabalho de tudo isso.

— Tu não vai me segurar, Charlie! Eu preciso falar com ela, saca? Ter uma conversa séria! Pra que mentir e dizer que a guria morreu?

Ele responde através da voz de Ororo:

— Não há nada a falar, Logan. Você é uma decepção, mesmo clonado e com alteração cerebral você sempre dá um jeito de estragar tudo!

Tento localizar a africana, mas ela está voando bem rápido. Fazendo movimentos aleatórios acima de mim. Eu ia ter que chegar mais perto pra tirar ela da jogada. Um raio dela e eu poderia ficar alguns minutos inconsciente!

Ejeto as garras *snikt* e subo uma das árvores, tendo como vantagem minha camuflagem mental. Ouço o movimento do Scott e do Hank bem abaixo de mim e quando alcanço o cume me mantenho escondido ainda entre as folhas, vendo Ororo me procurar enquanto conversa telepaticamente com os outros. Ela estava vindo de costas pra minha direção e quando consigo perceber que tenho uma chance, mesmo mínima, subo com avidez o pouco que falta e me lanço pra cima dela, a surpresa a faz gritar e denunciar nossa posição. Scott envia uma rajada, dessa vez, uma rajada forte o suficiente pra matar, que acerta Ororo, a atravessa e passa pelo meu braço esquerdo. Um belo estrago! Estava com o braço inutilizado... Que bom que eu não sou só canhoto!

Aproveito o corpo dela, minha amiga, pra aparar a queda e entendo que o Charlie que conheci não existe mais. Teria que perder meu controle também, se quisesse ganhar essa luta. Caio e sinto como se meus músculos fossem carne moída. É uma das desvantagens de ossos de adamantium... Já que eles não quebram, sobra sempre pros músculos e órgãos absorverem os impactos. Sinto uma ruptura de baço e de fígado. Eles teriam que se arrumar logo! Vai, fator de cura, trabalha, meu querido!

Não demora muito pros dois chegarem.

— Eu não consigo saber se você morreu, Logan, por isso, toma! – Charlie fala pela voz do Scott, mandando uma rajada a queima roupa.

Eu rolo de lado bem a tempo. O Charlie não era bom em lutas corpo a corpo. O negócio dele era ficar tramando, arrumando os peões. De que adiantava ter sob seu controle dois lutadores exímios se ele não sabia como usá-los?

Hank pula sobre mim e começa a me esmurrar, eu protejo meu rosto com o antebraço direito e projeto minhas pernas pras costas dele, nessas horas, seria ótimo se eu tivesse o par de garras da Laura... Ele sente o golpe, mas não para de esmurrar. Com isso, vou ficando tão irado que já não consigo raciocinar corretamente, sinto o sangue subindo, dou um uivo e uso novamente minhas pernas para tirar o azulão de cima de mim, enquanto, num movimento rápido o desequilibro, noutro enfio minhas garras em seu ombro esquerdo e dilacero suas articulações. O deixo grunhindo enquanto parto pro Scott, não ia hesitar dessa vez, nem que eu quisesse. As rajadas dele são muito boas para ataques de meia a longa distâncias, mas perto assim, era fácil saber onde seriam dadas e mais fácil ainda de desviar. Se eu estivesse lúcido, agradeceria por meu fator de cura estar tão “jovem”, já quase consigo mexer meu braço esquerdo; mas com a besta tomando conta, eu não conseguia pensar em nada além de matar.

Dou uma rasteira nele e, enquanto ele cai ainda atirando, pulo pra mais perto e uso uma de suas pernas para virá-lo e deixá-lo de cara no chão. Ele tenta se desvirar, mas meu peso era demais pra ele. Tento ejetar minhas garras esquerdas, mas ainda não consigo. Ejeto as outras e enfio na lombar do Ciclope, deixando-o paraplégico e com muita dor!

Minha vista turva de vermelho vai ficando cor-de-rosa e eu vou tomando o controle, devagar. Vou até o Hank e o ouço chorando ao lado da Ororo, abraçando-a:

— Minha Santa Aquerupita! O que aconteceu aqui? Quem fez isso? Quem?!

Desisto de continuar naquela direção. Pelo visto, o Charles estava achando que eles não eram mais necessários e havia abandonado seu controle mental e, em pouco tempo, eu teria mais mutantes me caçando. Afinal, ele tinha quase um estoque infinito deles!

Corro para a cabana e só paro quando é tarde demais. O cheiro dela me acerta em cheio, quente, vermelho, adocicado. A voz é da Jean, mas a fala é de um covarde que não luta suas próprias lutas:

— Não posso deixar essa conversa acontecer, Logan... Além de você, Moira é a única que consegue bloquear minhas tentativas de aproximação telepáticas... Eu a deixei em prisão domiciliar, sabe? Para o bem dela *

Eu o interrompo. Estou sem culhões pra ser enrolado pelo vilão!

— Poupa nosso tempo, Charlie. Eu VOU falar com a Moira, você colaborando ou não. ‘Cê sabe que eu posso ser bem focado quando eu quero! ‘Cê matou a Ororo, cara... Cruzou uma linha que não tem mais volta...

— Fala o animal que já matou milhares de pessoas e mutantes! Você não tem moral para me dar sermões, Logan! – e usando a telepatia da Jean, ele me levantou e começou a me matar,  arrancando minha pele.

A dor é imensa, mas eu sinto algo no fundo dela, como o Scott quando estava se segurando pra não me matar. Eu não podia tentar entrar em contato com a Jean telepaticamente, senão o Charlie ia saber todo meu plano... Mas eu podia tentar falar, mesmo que gemendo. E foi o que eu fiz:

— Gata! Tu é a mutante mais poderosa que eu conheço! Sei que depois do teu renascimento, não tá mais com a Fênix, mas tu não era forte por ela, ela te escolheu pela tua força! Jean, eu sei que tu pode me ouvir, né? – argh! – Jean, Jean, sou eu, o cara que mais te atazanou na vida! Ruiva, não deixa ele te manipular – argh! – Não, não! Eu não posso desmaiar! Eu não vou desmaiar! Cacete, Jean! ‘Cê sabe que ‘tô certo! Eu – argh! – te amo!

Nessa hora a vivissecção para e eu sou depositado lentamente no chão. Uma pequena parte das minhas tripas ‘tá pra fora, mas eu sinto a telepatia da Jean colocando elas pra dentro. Também sinto a puta força que ele ‘tá fazendo pra não sucumbir ao maior telepata da Terra, com seu poder ampliado por um Cérebro top de linha.

— Logan, eu não sei quanto tempo vou conseguir segurá-lo! Também não sei o que tem aí dentro, só sei que você deve entrar, agora!

Consigo apertar meu abdômen com o braço direito, mas não me sinto capaz de levantar. Tinha sido demais... Olho pra ela, sabendo o quanto já ‘tava se sacrificando e uso o dedo indicador esquerdo pra dizer se ela podia esperar um pouco mais. Ela sacode a cabeça, arranca todas as paredes da cabana e, no que seria o quarto dela, tem um portal, só Deus sabe pra onde. Ele era diferente de todos que já tinha visto e, antes mesmo que eu pudesse dizer algo, ela me levanta com a telecinesia e me leva na direção dele, dizendo:

— Assim que passar por ele, vou destruí-lo, Logan!

Eu aceno com a cabeça, era a coisa mais acertada a se fazer mesmo! Vejo seus olhos verdes pela última vez, envio um olhar de gratidão e sou arremessado pelo portal, caindo no que eu considero uma garagem de uma típica casa norte-americana.

Assim que desabo lá, o portal do meu lado começa a perder o brilho, depois perder os galhos e, em seguida, ficar ressecado como se não recebesse irrigação há anos. Fico deitado um tempo, deixando meu corpo se recuperar. Sinto o cheiro da Moira em tudo ali e fico feliz, ao menos, essa parte da missão tinha sido cumprida. Eu precisava desses checklists pra me manter com sanidade mental.

— Ó, meu Deus, Logan! É você? – ouço o sotaque irlandês carregado. – Vou pegar meu kit de primeiros socorros!

Eu rio dessa frase, mas não ‘tava a fim de gastar saliva dizendo que não precisava. Deixo ela fazer curativos em mim, enquanto a analiso e vejo que tipo de vilã ela se tornou.  Moira me ajuda a subir até a sala e, de lá, consigo perceber que estamos na Lua! Mais precisamente na face escura da Lua... Criaram um  habitáculo lá, longe de qualquer outro habitáculo existente e a deixaram sozinha, num sobrado com quintal e varanda. Que coisa doentia!

— Que bom te ver, Logan! Muito bom!

E a voz dela também acompanhava essa alegria, seus odores eram legítimos, ela ‘tava exultante, o que me deixou um pouco acanhado... Eu decido falar:

— Eu não ‘tô nada feliz em te ver, Moira! Quase morri pra chegar aqui e deixei uma amiga morta e vários amigos feridos em Krakoa. O portal foi destruído, estamos presos aqui... O que há de bom nisso?

Ela ri das minhas perguntas, ri na minha cara e isso me deixa irado! *snikt*

— Dá pra parar de rir e passar a explicar que merda ‘tá acontecendo aqui?!

Ela levanta os dois braços, se rendendo, para de rir e faz gestos de que vai sentar na poltrona na minha frente.

— Vai parecer loucura, eu sei... E até agora, eu tinha certeza do que eu era e do que devia fazer, mas a partir daqui, não sei como será...

— Se der pra deixar de ser vaga, vai me ajudar muito, saca? Apesar de eu ter todo tempo do mundo, ‘tô de saco cheio...

Ela sorriu nervosamente:

— É muito mais fácil de explicar quando o outro é telepata, sabe?

— Que nem o Charlie? Explicar pra ele que ‘cê pode renascer várias vezes, com consciência da vida anterior?

A cara da irlandesa era indescritível! Ela até abriu os lábios, de surpresa. Eu sorrio:

— Que foi? Também tenho minhas fontes...

— Eu fico muito feliz que tenha, Logan! Dessa vez, eu tentei uma aproximação diferente e quando fui perceber o quanto seria bom ter você ao meu lado, eles me exilaram!

— Quem são eles, Moira? Eu sei alguma coisa sobre você, mas não manjo tudo que aconteceu nessa vida presente...

— Ah! Certo! O Charles e Krakoa! Eles me exilaram. Aliás, fico contente pelo portal ter sido destruído, senão acho que Krakoa poderia destruir esse habitáculo... O que não seria nada além do merecido pra mim, mas eu espero ainda conseguir fazer diferente com você, dessa vez!

Quando ela diz isso, várias imagens de vidas diferentes dela passam pela minha mente, eu reajo como alguém recebendo vários socos do nada. Ela se assusta e eu também! Isso dura menos de um minuto, mas é o suficiente pra eu dizer:

— Mas que porra... Sempre que convivemos próximos, eu te mato, Moira?!

— Como é que você sabe disso? Você não devia saber, Logan...

— Tu não ‘tá esperando uma resposta metafísica minha, né? Não me importa! Importa que eu sei! E, ao que parece, serve muito bem como um botão de “reiniciar” essa merda toda, né?

— Calma, calma aí, Logan... – ela levanta, preocupada, da poltrona – A Irene me disse que essa é minha última vida... Se isso for verdade, não vai adiantar me matar e eu cometi um grande erro...

— Tu não faz ideia... – ela me encara, sem entender. Explico resumidamente que, dessa vez, ela tinha acabado com a chance de sextilhões de vidas, se tudo continuasse como está e a supremacia mutante se instaurasse.

— Isso é ruim! Muito ruim... Pés-si-mo... – ela chuta alguns móveis, soca algumas coisas e eu deixo ela extravasar esse momento de raiva.

Depois disso, ela começa a chorar, convulsivamente e, novamente, eu faço o que sei. Me aproximo devagar, não sei há quanto ela ‘tá aqui sem ninguém e coloco minha mão no ombro dela. Seu olhar de fúria me penetra como uma adaga e, em seguida, ela me abraça e continua a chorar. Eu respondo o abraço, passo uma das mãos nas costas dela e vou nos levando até o sofá. A deixo lá e pego um copo de água na cozinha, junto com uma caixa de lenços de papel.

Coloco as duas coisas na mesinha na frente dela e quebro o silêncio:

— A água ‘tá sem açúcar, eu não sei onde ele fica...

Ela libera uma risada abafada, usa o lenço pra assoar o nariz e toma a água devagar, me encarando:

— Você é mesmo real? Ou eu já estou alucinando? Há tempos que estou sozinha aqui...

— Bom, não de todo sozinha, né? Senti seu cheiro no Erik há algum tempo...

Ela corou levemente, suas pupilas dilataram e pela aceleração de seu coração, entendi que as visitas de Magneto não eram somente políticas.

— Ele veio me avisar do quanto crescemos como nação, do plano estar funcionando e de que, em breve, não teríamos mais humanos para nos preocupar. As flores de Krakoa só cumprem o que prometem dentro dos limites de Krakoa. Fora dos seus limites, elas enganam momentaneamente e depois, intoxicam e matam!

Eu solto um grunhido.

— Eu não sabia, eu juro! Vim até o Charles com toda a informação das minhas nove vidas anteriores, de todas as alianças que tentei formar para que o sonho dele fosse real e, eu não percebi quando isso mudou, mas o sonho desse Charles não é o mesmo de união entre as espécies...

— Tu se lembra dele como Massacre, né? – ela acena positivamente – O Charlie sempre teve esse lado sombrio, como todos nós, Moira... E dependendo do momento que você chegou nele, a balança ‘tava pendendo mais pra um lado. Eu acho que todas as tentativas que tu fez, todo conhecimento que concentrou, servem muito mais pra você do que pras pessoas que fazem parte da tua jornada. O que tu acha?

— Até que esses apontamentos foram bem metafísicos, hein, Logan?


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