Wolverine contra os X-Men - 2020 escrita por lslauri


Capítulo 3
Mortos-vivos, recompensas e alianças




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A vida numa embarcação pode ser o que você quiser que ela seja. Eu não ia deixar esses dias, enquanto meu corpo se recuperava, serem nada menos do que fantásticos!

Aproveito pra ajudar a limpar, a cozinhar, a caçar e, eu confesso, essa foi a parte que mais gostei! Tudo relacionado à caça, à morte me fascina. Eu desço em apneia o mais fundo e, com a ajuda do meu peso natural e das trincas de adamantium, consigo fazer os marujos e marujas provarem peixes que nunca tinham experimentado antes. As gêmeas me ensinam vários truques, inclusive na cozinha – risos – elas, nesse sentido, lembravam muito o Gambit; sua cozinha era temperada e sofisticada ao mesmo tempo.

— Eu não tenho que correr o risco de perder duas das minhas melhores atiradoras quando você se for, né, Logan?

— Qu’é isso, Kitty! Elas amam, mais do que a mim, o mar! Não se iluda, somos o passatempo uns dos outros, só isso... – cocei minha nuca com uma das mãos, enquanto a outra segurava uma das cordas de uma das velas – Tu sabe que não sou homem de uma mulher só, ou no caso, de duas! – e rimos alto.

— Nesse caso, quando quiser aceitar o convite da Ada, ele sempre vai estar de pé. E me entenda: esse convite não me inclui, você é uma figura paterna pra mim e aí fica complicado demais, sabe? Mas eu sempre tenho alguma outra cabine pra passar a noite, quando necessário.

Eu agradeço pelas explicações. Sou sincero a ponto de dizer que minha parte racional pensa o mesmo, mas que não podia dizer isso a respeito do meu lado instintivo:

— Quando vocês se cumprimentaram há dois dias... Bom, tu sabe, né? Não deu pra esconder...

Ela sorriu de lado, virando o timão com uma segurança enquanto gritava aos marujos:

— Acabei de receber ordens vindas da Rainha Branca, em Krakoa! Vamos precisar interceptar um barco há algumas milhas daqui, icem as velas, preparem os canhões e as armas, não sabemos o que vamos encontrar, amigos!

Eu não ouvi nada, nenhum dispositivo fazendo barulho para avisar sobre essas novas ordens e, por isso, entendi como ela recebeu essa novidade... A Rainha Branca envia telepaticamente o que precisa para ela. Eu não escondo minha agitação e lanço:

— Eu tô numa emboscada?

— A Emma mandou dizer que não, Logan... – a antiga Lince Negra me informa – Ela diz que é fascinante você não aparecer nos radares telepáticos e que, mesmo sabendo de seus planos e de sua desconfiança, vai deixar tudo como está, porque nenhuma ação sua seria capaz de alcançá-la... – e me olha como quem diz “estou só retransmitindo ordens, desculpe...”

Foi muito bom saber que meu crânio de adamantium e o treinamento que o próprio Charles me deu estavam me mantendo longe dos radares. Eu já tinha me fortalecido o suficiente nesses dias e, aproveitei o fato de que iam se distanciar da costa para me despedir.

— Eu sei que tu fez mais do que podia, guria! E eu agradeço por isso, mas eu vou só precisar mesmo de um bote e das trincas para prosseguir no nosso plano.

Estendendo um sinalizador pra mim, ela completa:

— Se precisar de alguma coisa, pode tentar esse sinalizador e eu decido se é hora de arriscar tudo ou de te deixar partir. – eu aceito o presente, checo se está completo e ajusto entre o cinto e a calça – Você sabe onde estão os botes, pode pegar qualquer um, Logan e eu desejo muito sucesso em sua empreitada.

Eu juro ter visto uma lágrima num dos olhos dela, mas ela me abraça antes dela cair e molhar minha camisa xadrez. Eu também encarava aquela como uma despedida quase eterna...

— ‘Tô muito orgulhoso de quem você se tornou e, ainda mais, dos caminhos que escolheu trilhar. Se cuida, guria! E tenha certeza que sempre vai poder contar comigo! – não espero por nenhuma resposta, dou uma piscadela e vou na direção de um dos botes, descendo-o até a água e pulando no mar em seguida.

Como sou péssimo em despedidas, resolvi não dizer nada pras gêmeas, envio um pensamento de gratidão pra elas e sei que o Universo dará um jeito delas receberem esse recado. Como já tinha colocado um par de remos, água, combustível, um binóculo e uma bússola naquele bote, assim que me sento nele, ligo o motor e desapareço nas águas.

Graças à minha memória fotográfica e ao truque sobre a temperatura da água que aprendi com a Kitty me mantive o mais longe possível dos limites de Krakoa. Ao invés de explorar o terreno mais perto do palácio do Rei Preto, escolhi ir o mais distante que conseguisse, inclusive usando os remos.

A visão do local era mesmo como descrita pelo dragão: inóspita. Como se tivesse que existir o contrário de Krakoa por toda a vida que ela era capaz de criar, saca? Ying e Yang? Luz e Trevas? Todo esse papo que, de tão antigo, tem que ter um fundo de verdade, né? Eu penso no tipo de forma de vida que conseguiria prosperar ali e, infelizmente, o que me vem na mente é só osso duro: zumbis de todos os mutantes mortos e ressuscitados em Krakoa ou outro tipo de seres das trevas: vampiros! O que, aliás, faz muito sentido, já que os asseclas do Drácula tinha reaparecido no mapa, mas não se sabia nada dele e aqui, literalmente, era o ponto sumido do mapa...

Paro de pensar em hipóteses quando uma lufada de ar vem, curiosamente, da ilha pro mar. Um cheiro de podridão e morte que só poderia vir mesmo desses mortos-vivos!

“Que bosta, Logan! ‘Cê se jogou nos braços do Draculino de novo?!...”

Me preparo pra passar a noite no mar, seguro dentro do bote. Remo para mais longe da praia e mergulho pra colher vários tipos de algas; deito numa cama feita delas, esperando que isso fosse o suficiente para encobrir meu odor. Aproveito pra fazer estacas com toda madeira que tinha em excesso e me deslumbro com o céu estrelado. Olhando pra dentro de mim, não tenho mais nenhuma dúvida na minha mente. Eu estou de volta! Posso enfrentar uma horda de vampiros, porque eu sou o Wolverine! O melhor naquilo que eu faço e, o que eu faço, nem sempre é liberado pra todos os públicos!

Acordo alguns minutos antes do amanhecer e uso o binóculo para ver se detecto algum movimento. Durante a noite não captei nenhum som e, olhando mais detidamente agora, percebo uns dois pontos luminosos se movendo em rochas altas, mas nada na praia. Os pontinhos somem quando o sol desponta no horizonte.

Mergulho pra comer alguma coisa e faço um “sanduíche” de sashimi com algas, tomo um pouco d’água e espero o Sol firmar de vez antes de remar para a praia. Interessantemente, a água não altera a temperatura conforme me aproximo daquele ambiente árido. Krakoa não faz ideia daquele espaço, ou não quer saber... Nunca fui muito chegado nessa ilha! Desde que ela apareceu, querendo acabar com os X-Men, peraí... Como eu tenho essa lembrança? Isso realmente aconteceu?

Sacudo a cabeça, começo a achar que as memórias estão voltando até demais! Ao que parece, essa memória é de um tempo antes da última vida da Moira, como eu poderia?... Será que eu sou o único que lembra? Lembra de antes e de todas as misturebas temporais que existiram?

Porque se a Moira renasce a cada vez, na mesma família, com todas as lembranças e ela consegue fazer novos começos pra vida dela, influenciando a vida dos outros, isso quer dizer que eu não devia lembrar de nada antes da “nova ordem mundial”, não devia lembrar de nada antes do Charlie com esse capacete “cabeção”... Mas não. Eu lembro até da morte dele, que ele andava em uma cadeira de rodas, que eu fui professor na Escola Jean Grey para Jovens Superdotados, que eu lutei contra o Ciclope quando ele matou o professor... Para! Caracas! Para de se esforçar pra receber toda essa informação! Você tem que focar, seu canadense! Focar naquilo que veio fazer: encontrar Moira MacTaggert! Bater um lero com ela sobre essa loucura e, se possível, colocar as coisas de volta nos eixos! Foco!

Cerro os dentes e percorro os metros finais pelas ondas da praia. Não tinha onde amarrar o barco, então faço dele o máximo de estacas que consigo, prendo a água doce no cinto e forro a jaqueta com algumas estacas. Pego também meio galão de gasolina que sobrou e rumo pra direção onde vi as luzes sumirem ao nascer do Sol.

O local tinha alguns répteis pequenos, como lagartixas, ou seja, devia existir alguns insetos por aqui também, mas não havia nenhuma vegetação aparente. Tudo parecia rocha escura, da cor do carvão, com uma superfície porosa como a dele também. Eu corro um pouco, ando um pouco e em menos de uma hora chego ao sopé que devo escalar. Bebo meu último gole de água, amarro o galão de gasosa usando uma cordoalha do bote e, depois de bater as mãos uma na outra, começo a escalada sem precisar desembainhar as trincas.

O exercício matinal é revigorante, sinto a gratidão dos meus músculos e tendões, sinto o vento me ajudando a subir e, infelizmente, conforme vou chegando perto da entrada, sinto aquele odor fétido. Ali dentro contaria menos com minha visão e mais com meus outros sentidos. Entro e depois de percorrer agachado por alguns minutos, vejo uma caverna que se abre num salão gigantesco, uma cópia quase perfeita da masmorra onde aqueles vampiros franceses frescos, daquele filme dos anos 90, moravam. Eu não pude deixar de rir da coincidência. O destino deles seria o mesmo: a maioria morreria queimada, depois que eu espalhasse a gasosa pelos caixões e acendesse meu Zippo©.

A coisa boa com os vampiros é que não preciso me segurar, eles não merecem misericórdia, já que não são mais seres vivos e só querem, no fim das contas, transformar todo o mundo no que eles são, instaurando um reinado de terror e morte. Eu sei que nem todos os transformados aceitam viver desse jeito, alguns, como a Jubileu, até conseguiram se livrar da sede de sangue, mas isso era raro e, normalmente, sempre com a ajuda de algum gênio para substituir o sangue por algum outro composto, ou inventar alguma engenhoca nanotecnológica... No caso da Jubbs, ela tinha o Hank; no caso de outros que conheci, eles matavam animais na floresta, o que também acho uma puta sacanagem!

Penso em tudo isso enquanto espalho a gasolina. O cheiro dela acaba ficando mais forte do que qualquer outro cheiro e, por isso, eu não percebo quando os tentáculos do Ômega Vermelho me abraçam! Claro que eles não iam dormir sem deixar algum cão de guarda!

— É sempre muito bom provar a sua energia quase infinita, Wolverine! – ouço sua voz tarde demais, num misto de grito e risada.

Os tentáculos queimam como nunca, marcam minha pele numa velocidade maior do que ela consegue regenerar e não demora muito pra eu sentir o cheiro do meu próprio sangue. Odeio quando isso acontece! Se eu mantivesse distância, o russo estaria em vantagem. Eu me esforço para conseguir a provocação certa:

— E aí, camarada! Como tu ‘guenta trampar com esse pessoal? Eles não tem fama de serem fiéis a quem não é vampiro! Foi pelo cheiro que tu veio, né? Combina com tua colônia?

Ele grunhe e se contorce enquanto eu noto uma peça diferente na armadura dele, algo arredondado, na parte de trás da cabeça, algo parecido com um sintetizador de carbonádio. “Interessante...”

— Tu desceu tão baixo e vendeu a alma pra esses mortos-vivos, foi? Eles devem ‘tá pagando muito bem, Reddie... – eu tento provocar um pouco mais.

Acho que o apelido o lembra de como eu posso ser irritante e por um longo período. Só sei que ele relaxa os tentáculos enquanto eu caio de joelhos.

— Sempre um falastrão, não é mesmo? Como ousa achar que eu faria qualquer acordo com essa corja por dinheiro?! Eles sempre conseguem te dar o que você quer e fazer algo para que fique devendo a eles! Malditos! – e ele cospe para o lado, nitidamente contrariado.

Meu fator de cura vai fazendo a parte dele enquanto o Ômega fala. Eu sinto em cada parte que antes estava sem pele uma coceirinha gostosa enquanto as células crescem ao redor da casca que se formou. Não espero e parto pra cima do russo. Uso meus músculos da perna para diminuir a distância que nos separa com um salto e *SNIKT*  cravo num dos antebraços para que ele não consiga ejetar o tentáculo, enquanto com a outra mão, começo a dar porrada na cara dele do mesmo jeito que recebo minha parte também. Mas eu gosto assim, luta corpo a corpo, sem frescura.

Ele consegue me jogar perto da abertura que leva pra saída, num claro convite para que nos espancássemos lá fora mas, eu não podia! Não antes de assegurar que minha gasolina queimasse! Como um jogador de futebol americano, eu me esquivo dos tentáculos enquanto me aproximo e nos jogo, com minhas garras enfiadas no tórax dele, mais pro meio do salão, rolamos e, como na maioria dos nossos confrontos, nenhum de nós vence... Apenas apanhamos muito um do outro. Eu consigo fincar as garras e girar na coxa direita dele, ele espeta um dos tentáculos no meu braço direito e eu sinto meus tendões perderem a força e o peso do meu braço começa a me atrapalhar. Nessas horas é muito bom ser ambidestro! Pego o sinalizador no bolso esquerdo, miro atrás do Ômega, onde estava o galão de gasolina e dou uma de “Exterminator do Futuro”:

— Hasta la vista, Red!

Eu o ouço gritando algum impropério em russo, “der'mo!”, se não me engano é “seu bosta!” mas não tenho tanta certeza, meu russo ‘tá enferrujado.

Conforme o fogo se espalha eu corro pra saída e fico na espera dos vampiros. Alguns conseguem acordar do torpor e vêm na minha direção, quase soltando enxofre pelas ventas. Mas eles ficam lentos durante o dia e, até ouso dizer, mais burros. Vou matando vários com estacas no coração ou com decapitação, enquanto o russo continua inconsciente pela força da explosão que o jogou contra uma das paredes. O cheiro de carne queimada é nauseante! Mesmo com a grandeza do salão, a fumaça começa a incomodar e numa pausa de atacantes, eu me esgueiro pela saída, aproveito que não surge nenhum vampiro querendo e quando estou já vislumbrando a claridade de fora, sinto algo enrolar no meu tornozelo... “Bosta!”

O puxão é tão rápido e intenso que sinto minha cara esfacelar contra o chão do túnel e me surpreendo quando caio no salão, já que além do Ômega Vermelho, vejo um velho conhecido. Vou falando, enquanto levanto:

— E aí, Drac? Tirando férias numa ilha paradisíaca, é?

Ele não verbaliza nada, mas dá um sinal pro russo me enrolar com os tentáculos e, novamente, sinto minha força diminuir, ser sugada, enquanto Drácula fala:

— Graças a nós, o sr. Rossovich não precisa mais drenar a energia de pessoas para viver, sr. Logan. Mas no seu caso, ele faz isso por puro prazer... Eu também tenho muito prazer em tê-lo aqui conosco. Poderei reforçar nossa legião com seu manancial incessante de sangue mutante regenerador! Mas antes, quero fazê-lo pagar pelas centenas que matou!

E é aí que ele se mostra realmente. Enquanto falava, do lado do Ômega, ele parecia um homem, mais pálido que o normal, mas ainda um homem. Longos cabelos pretos, roupa preta, com uma capa que, aliás, eu sempre me perguntava o por quê dessa capa! Seria só por estilo mesmo? Mas quando vai chegando no final da frase, seu tamanho começa a aumentar e da capa, agora eu entendo, surgem asas de morcego, os dentes dentro da sua boca aumentam de tamanho e ficam pra fora enquanto seus músculos rasgam a blusa e nas suas pernas surgem cascos, como se ele fosse um sátiro elevado à décima potência, com asas.

Eu não tinha força pra falar, mas não parava de sorrir.

— Pare, sr. Rossovich. Eu o quero consciente para o que farei com ele. Vou tirar esse sorriso de seu rosto, nem que seja ao custo de sua vida!

E nem bem os tentáculos afrouxam, uma sombra gigantesca vem na minha direção e me abraça, subindo velozmente pelo ar, enquanto eu sinto presas dilacerando meu pescoço, sem nenhuma sutileza. Também sinto meu corpo lutando contra todas essas lesões, tentando me curar, mas eu não tinha facilitado na alimentação e a falta de proteína devia estar fazendo o processo mais lento. Depois de beber muito do meu sangue ele me solta de uma altura considerável. Enquanto caio penso em como diminuir o estrago, mas meu corpo não obedece a meu raciocínio, e eu caio de cara!

— Venham, minhas crianças! Bebam da fonte quase eterna! Bebam meu sangue e recuperem-se com o sangue daquele que tentou nos matar!

E ao levantar o rosto, com algum custo, vejo vários vampiros aleijados, moribundos, queimados até o osso, saírem de suas covas e caminhar, passando por mim, com olhar de ódio, para o Rei dos Vampiros que tinha descido e agora doava um sangue modificado pela minha mutação e pela capacidade do Drácula! Isso sim, era um elixir de vida eterna! Ou quase, como ele mesmo tinha dito.

Minha mente só consegue pensar em curar logo e no que fazer depois quando sinto a mesma sombra sobre sim, naquele mesmo voo e com a mesma falta de sutileza no outro lado do pescoço ele quase acaba comigo, me soltando do alto eu sinto os tentáculos do Ômega Red amortizarem minha queda, enquanto o vampirão diz:

— Leve-o daqui, para uma das jaulas no subsolo! E fique de olho nele, quando a noite chegar, vamos nos refestelar em seu sangue enquanto aumentamos nosso Reino! E assim será, o quanto esse saco de sangue mutante aguentar!

Acho que poucas vezes me senti tão impotente. Eu dependia totalmente dos tentáculos do russo pra conseguir me mover. As pernas não obedeciam, nem os braços. Eu queria falar, mas só saíam grunhidos... E eu acho que apaguei, porque minha mente me levou pra um momento onde eu estava dentro de um tanque, mas não sentia meu esqueleto tão pesado quanto sinto agora; eu estava mergulhado nesse tanque de uma substância viscosa e com um respirador, tão impotente quanto agora, enquanto ouvia vozes de homens e de uma mulher: Carol Hines. Entendi o que meu cérebro estava me dizendo: se eu passei por algo tão grotesco quanto o Projeto Arma X, com certeza eu passo por isso também! Eu estava impotente naquele momento, tanto quanto estou agora, mas os canadenses queriam algo de mim, assim como esses vampiros também querem e, por isso, eu ainda tenho chance de executar meu plano e, ainda de lambuja, destruir alguns asseclas do Drac! Era só dar tempo ao meu corpo...

— Tenta ficar quieto, seu monte de estrume! – volto a realidade com o grito do Ômega Red, enquanto me joga em algum lugar frio e úmido. – Quanto mais se esforçar pra se mexer ou falar mais vai demorar para curar e eu preciso de você forte e vivo pra acabar com esses chupadores de sangue...

“Hein?” – eu penso, enquanto ouço a porta da cela sendo fechada. Mas, biologia não faz milagre... Sem uma porção de proteína eu tinha pouca chance de recuperação breve. Meu corpo não tinha de onde tirar energia e, se eu não me engano, podia até começar a destruir meus próprios músculos para cicatrizar aquelas feridas e isso não seria legal, viu?...

Não tenho noção do tempo, mas ouço alguns passos no corredor e ouço a porta abrir, já tinha conseguido sentar no chão da cela, mas ainda não conseguia levantar a cabeça! Ela era extremamente pesada pelo adamantium! O cheiro era de sangue e vodka:

— Bol'shoy! Você ainda está com uma aparência de morte!... Espero que não tenha escrúpulos numa hora dessas, Logan! Eu acho que sei por que está demorando tanto para se recuperar... Não se alimentou tão bem esses dias, não é? Aqui tem um cadáver desses que você fritou. Se quiser viver, acho prudente se alimentar dele... Se existissem animais na ilha, eu até traria algum para você, mas esse lugar é mais estéril do que os corações desses vampiros...

E sinto algo sendo arremessado sobre as minhas pernas. Bom, não vou narrar o que aconteceu depois, mas passei a concordar com os vegetarianos que dizem que “carne é tudo igual”... Senti meu corpo responder muito melhor uma meia hora depois, já tinha forças pra levantar e deitar na cama de madeira, passei a mão no meu pescoço e ainda tinha um buraco num dos lados, meu corpo todo formigava e a vontade de coçar era enorme, mas eu me mantinha firme, deixando ele fazer o que faz melhor: recuperar-se de quase toda lesão, refazer vasos rompidos, músculos dilacerados, ossos quebrados, órgãos rompidos, além de todas as células que compunham meu precioso sangue! A medula óssea até ardia de tão rápido que estava produzindo hemácias e as outras células. Começou a me dar uma sede enorme e, ao olhar pro lado, vi uma latrina com água no fundo. Não tava limpa, mas quem ligava pra isso numa hora dessas, né? Consegui pegar um pouco com a mão, mas achei melhor destruir o equipamento pra ver se tinha mais água no cano. O barulho fez o Ômega aparecer e, com uma risada sarcástica é a vez dele me provocar:

— Eu ouvia dos outros que você não passava de um animal, mas nunca tinha tido a chance de presenciar algo assim. Não há muita diferença entre todos nós. Entre você, eu e os vampiros. Somos sobreviventes... E não medimos esforços para isso.

Eu rosno pra ele, não estava gostando do rumo da conversa e não me interessava o que ele tinha pra me dizer. Ele nunca foi alguém muito filósofo e eu não ia aturar isso agora:

— Para com a merda e desembucha logo! Por que tu me ajudou? Ou só quer mostrar pro chefinho que consegue me manter vivo pelo tempo que ele precisar?

— Por mais que me agrade essa sua versão, Wolverine, eu acho que o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Então, proponho uma trégua entre nós. Eu gostei muito do que vi em Krakoa, estar junto com os mutantes, fazer parte de alguma coisa maior que eu e, agora, com o sintetizador de carbonádio, eu não tenho por que não aceitar fazer parte disso. Não preciso mais matar para sobreviver... Era isso que eu fazia: sobrevivia! Aquilo não era vida! Agora*

— Agora o quê, Red?! Vai casar? Ter filhos? Se tu ´tá pensando nisso ficou louco! Eu conheço o que você é, conheço seu interior e não dou alguns meses pra tu cansar da vida de bonzinho e voltar a matar indiscriminadamente!... Tu não era boa coisa antes do projeto de super soldado e usava o carbonádio como desculpa pros teus excessos! A gente não muda o que é... Vai por mim, eu sei...

Ao invés de me fuzilar com o olhar, ele simplesmente se vira e vai embora, enquanto ouço ele sussurrar: “Você pode ter razão, mas eu preciso tentar...”

Tomo tanta água que não demoro muito pra urinar, a felicidade das pequenas coisas pode ser surreal! Penso comigo o quanto é bom ter os rins funcionando! Coloco a mão no pescoço e não tem mais nada faltando, faço alguns movimentos de luta e não sinto nenhuma dor. Ótimo! Já posso sair dali, mas não quero esperar pelo russo. A proposta dele viria, em alguma hora. Deito e dou mais tempo pro meu corpo recuperar.

Ouço passos leves no corredor, não é o cheiro do Ômega Red. É algo mais doce, mais convidativo, mais perigoso. Uma vampira adolescente aparece na porta da cela, me olhando curiosa. Quando me movimento, ela dá um passo veloz para trás, cheirando o ar e se reaproximando. Me movimentei só pra sentar na cama. Fico encarando a miúda, esperando pra saber de que lado ela ‘tá. As roupas não seguiam o que normalmente se espera de um vampiro. Ela usava uma calça branca com pequenas flores e uma camisa social rosa, com um pendente em ouro, muito antigo, daqueles que se colocam fotos dentro, seus longos cabelos loiros estavam amarrados num coque e ela deixou algumas mechas caírem do lado das orelhas. Ambos nos estudávamos, até que ela rompe o silêncio, com um sotaque que parecia ser da Europa Oriental.

— Meu nome é Ravena... O senhor é uma lenda entre nós... Mas até hoje, eu só tinha ouvido sobre o mito do Wolverine.

— Matei algum chegado teu? Veio se vingar? Se for isso, gatinha, vai precisar entrar na fila, saca?

Ao sorrir de lado, a presa dela aparece:

— Eu não tenho amigos aqui, sr. Logan. E não se engane pela minha aparência adolescente, eu sou quase tão velha quanto o Rei...

— Se tu diz, pra mim, todos cheiram igual... – menti descaradamente, já que ela não tinha cheiro de morte e podridão. Por que será que ela era tão diferente?

— Não temos tempo para provocações, ainda mais quando elas não passam de palavras vãs! Estou, em algumas centenas de anos, conseguindo vislumbrar um fim para essa vida miserável e não vou deixar essa oportunidade passar, senhor...

— ‘Tá certo, “senhora”... Qual é o plano?


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