O Anjo escrita por Amanda Lis


Capítulo 1
Capítulo 1




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Seokjin – ou Jin, como sua mãe o chamava – era um garoto nerd. Era o típico bom aluno, tirava sempre notas altas, participava do grupo de xadrez da escola, colecionava figuras de ação de seus personagens favoritos e não possuía nenhum tato com as garotas. Curtia piadinhas e as vezes tentava flertar usando frases prontas. Nunca deu certo.

Nunca foi popular, não tinha muitos amigos e nem era notado pelas garotas. Infelizmente, mesmo com seu histórico de ‘nerdão’, gostava da garota mais popular da escola. Ela era a mais bonita, é claro, e namorava o garoto mais popular da escola. Mas ela também era inteligente e gentil com todos, mesmo com os mais nerds, como ele. Não que ela batesse altos papos com ele ou o convidasse para suas festas, porém ela nunca zoou ele por ser quem é e o cumprimentava pelos corredores. Só isso já era motivo para fazê-lo se apaixonar. Seu nome era Angel, anjo, e com toda certeza o nome combinava muito com ela.

Dizer que Seokjin havia ficado chocado com o repentino convite seria um eufemismo: ele havia ficado extremamente perplexo. O convite aconteceu muito rápido, de forma casual, tão inesperado que ele nem havia percebido. Angel e ele estavam encarregados de limpar a sala ao final das aulas do dia, deveriam arrumar as carteiras, apagar o quadro e tirar o lixo. Nas poucas ocasiões em que Angel havia ficado sozinha com ele, ela terminava por puxar assunto. Falavam em sua maioria sobre jogos que ambos jogavam ou sobre como havia sido a aula do dia, uma vez que eram da mesma turma. Foi durante uma dessas conversas que Angel, num tom calmo e doce, o chamou para ir a casa dela.

Neste momento, Seokjin estava de costas para ela apagando o quadro, que era alto demais para ela alcançar. Angel era baixinha e muito fofa, se parecia com uma fada. Já Seokjin era um bocado alto e tinha ombros muito largos. Assemelhava-se a uma porta. De toda forma, foi necessário que Angel perguntasse mais uma vez, pois Jin não havia acreditado naquilo que ouviu. “Seokjin, você quer ir lá em casa sábado a noite para jogar?” Ao ouvir novamente a pergunta, dessa vez mais alto, precisou piscar algumas vezes para testar se não era delírio. Como ele não era idiota e esperava há muito tempo que algum tipo de mágica ou loucura a fizesse se apaixonar por ele, ele aceitou. “É CLARO! Quer dizer... Tudo bem. Quero sim. É... Preciso levar alguma coisa? Alguma comida, algum jogo?” Angel riu de sua resposta, mas o disse que não, bastava ir. Jin estava tão empolgado – e nervoso— que qualquer conversa depois disso foi uma mera tentativa de ficar frio.

O convite aconteceu numa terça. Nos três dias seguintes, Jin agiu como um rapaz bobo-apaixonado – que é exatamente o que ele é. Sorriu todas as vezes que a viu, treinou suas falas ‘másculas’ e até fantasiou um beijo, após ter descoberto sobre o término de Angel com seu namorado. Seu ex-namorado.

E hoje já era sábado. Havia passado mais rápido do que esperava e o rapaz estava pensando se conseguiria ir. Sua ansiedade era tão grande que mal havia dormido. Mas esse momento era de glória e não deveria jogar essa grande oportunidade fora. Será que ele deve tentar uma de suas piadas?

 

Quando chegou a hora, Jin foi para a casa de Angel. Sabia onde ela morava e não teve problemas para chegar ao local, apesar do céu estar escuro e armando para chover. Uma chuvinha qualquer não o atrapalharia! Era próximo das 7 horas e ele estava levando pizza para os dois como jantar.

Ao chegar, Jin deixou seu meio de transporte – uma bela bicicleta – na grama e tocou o interfone. Nunca havia reparado em como as casas eram afastadas uma da outra nesta parte da cidade, os moradores deviam ter uma maior privacidade desta forma. Foi enquanto pensava nisso que Angel abriu a porta e o convidou para entrar. “Seokjin! Você veio!” O rapaz entrou, cumprimentou a amiga. “Onde estão seus pais?” Angel sorriu. “Viajaram. Voltam na segunda.”

Jin ficou surpreso com a informação. Será que havia um motivo a mais para esse convite? Um motivo... sexual? Como a ideia já parecia absurda demais, até para ele, deixou para lá. Queria aproveitar ao máximo o tempo com ela, mesmo que fosse apenas jogando. Angel o levou até seu quarto e pediu que ele esperasse ali, que ela traria as bebidas. Jin aproveitou o tempo sozinho para observar o quarto e apoiou as pizzas em uma mesinha no canto. O quarto era mediano e bonito, com fotos e desenhos pendurados nas paredes. Alguns desenhos eram de coisas conhecidas, como flores e o céu ao entardecer, outros eram símbolos malucos. Havia vários deles, todos diferentes. Nunca havia visto nada parecido e se perguntava o que eram.

Sem muita demora, Angel retornou. Trazia consigo duas cocas, já num copo. Entregou uma para Seokjin e ficou com a outra. Decidiram comer e conversar antes de jogarem. Jin comeu, bebeu, conversou e se divertiu. Sentia-se solto e serelepe, talvez até meio tonto. Angel era tão bonita e simpática, sempre o tratou tão bem...

Quando Jin acordou, ouviu o barulho forte de chuva. Não sabia onde estava, pois estava escuro. O corpo estava numa posição péssima e seu pescoço doía. Para completar, sua cabeça estava latejando.

De repente uma luz vermelha se acendeu. A luz era pequena e só iluminava o centro do cômodo, mantendo os cantos na escuridão. Ele se encontrava bem no meio da sala, preso a algum tipo de tronco. Seus braços e pernas estavam amarrados de tal forma que ele assemelhava uma estrela. Em sua boca havia uma mordaça e no chão em sua volta, pinturas. Não conseguia ver bem o que eram.

Respirava com dificuldade devido ao medo, mas ainda estava tonto. A luz não ajudava, tornava tudo mais assustador ainda. Viu de canto de olho uma figura se aproximar pela esquerda. Era Angel. Estava nua, mas cheia de símbolos desenhados por seu corpo em tinta negra. Os símbolos na parede! Começou a falar como se ele nem estivesse ali. “É nesta noite de Lua Negra que eu faço meu ritual! Trago como sacrifício este humano, virgem e de boa alma. Espero que seja de seu agrado.” Seokjin não tinha forças para tentar falar, muito menos se soltar. Apenas pode observar com horror a garota. Ela o havia usado! Toda aquela pose de boa pessoa, era tudo uma farsa!

A garota se dirigiu ao centro da sala, diante de Jin, com uma faca na mão. “Eu, Angel, com o sangue desta vítima, inicio meu ritual.” E usando a ponta da faca, fez um corte em todo o antebraço de Jin. Ele tentou gritar, mas a mordaça abafou o som dos gritos, e lágrimas escorreram de seus olhos. A garota sujou as mãos de sangue e espalhou por seu corpo, como se fosse uma espécie de unguento. Em uma língua estranha, começou a cantar e a gritar, enquanto dançava. O sangue se misturava a pintura de seu corpo, os gritos faziam a mente de Jin girar e o quarto parecia cada vez menor e menor, como se encolhesse em volta dele. A chuva continuava, cada vez mais forte, parecia acompanhar o cântico da garota e de repente uma névoa se espalhava pelo quarto. A luz piscou algumas vezes, porém a garota não parava. Gritava mais e mais, a chuva caía sem parar, e de repente não havia nada mais que Jin pudesse fazer, a não ser desmaiar.


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