Tempo Perdido II

A cabeça de Akane estava uma bagunça, seu coração, ao mesmo tempo, estava destruído. Uma dor que ela jamais imaginou que sentiria se alojou dentro dele. E não era para menos. Afinal, o amor de sua vida morreu, seu melhor amigo, confidente, se foi. Nada o traria de volta, nunca mais o veria sorrir, escutaria sua risada, suas piadas. Quando algum filme de herói estreasse no cinema, ele não apareceria ansioso em seu portão segurando os ingressos como sempre fazia, nem traria o Playstation 4 para jogar na sala com ela quando comprasse algum jogo novo. O perdeu. Para sempre. 

 Amanheceu, o dia do enterro dele chegou. Pessoas entravam e saíam de sua casa. Familiares dela. A única família de seu namorado era o irmão dele, com quem ele morava, o pai morreu quando eles eram crianças e a mãe os abandonou quando os dois passaram dos dezesseis anos. Minoru também tinha um melhor amigo, Hiroki, que mudou para outra cidade há um ano, mas há meia hora mandou mensagem para Akane dizendo que estaria no enterro do amigo e que iria na casa dela para vê-la. Desde então, ficou sentada no sofá quieta, esperando ele e seu cunhado — este último disse que tinha algo para dar a ela.

Ninguém sabia o que lhe dizer. Todos vinham, a abraçavam e comentavam o feito de seu namorado, que pulou na frente de um caminhão para salvar uma criança. Virou notícia no país inteiro, estava sendo chamado de herói por todo mundo. Quando escutava alguém se referindo a ele como herói, Akane repassava na cabeça uma das últimas conversas que tiveram. Minoru lhe contou sua "morte dos sonhos". Por ironia, tudo aconteceu exatamente do jeito que ele descreveu. Ignorando os protestos dela, que dizia a ele que parasse de pensar nisso, porque os dois ainda viveriam juntos por muito tempo, noivariam, se casariam, teriam filhos e netos, Minoru revelou que sonhava morrer para salvar uma vida, "talvez a de uma criança".

 Akane pôs as mãos nas pernas, abaixou a cabeça, escondeu o rosto atrás dos longos e negros cabelos e chorou intensamente. Se recusava a crer que aquilo tinha acontecido. Por que você foi fazer isso?, ela o atacava. Por que tinha que ser tão idiota? Morrer por outra pessoa. Era um idiota. Um idiota, o xingou, mordeu o lábio inferior com força e esmurrou o joelho. Quem faria algo assim, por um desconhecido? Minoru era um em um bilhão. Não devia ter se apaixonado por ele. Se odiava por amá-lo tanto. 

Seu rosto, naturalmente branco, estava mais claro do que nunca. Akane não dormiu a noite toda, nem se alimentou. Só pensava em Minoru. Pensava que perdeu a pessoa que mais amava no mundo todo. Alguém tocou a manga de sua camiseta branca. Seu cunhado chegou. Levantou-se de um salto, enxugou o rosto e o abraçou. 

Ao afastar-se dela, Inao meteu a mão dentro da sacola preta que trazia e tirou de lá de dentro o que prometeu. A capa branca e vermelha do Quarto Hokage. Minoru adorava Naruto e o Yondaime era seu personagem predileto.

— Isso é seu. Ele iria querer que ficasse com você. — Disse Hikari.  

Akane segurou o manto junto ao corpo, sentiu o doce perfume dele e deixou as lágrimas caírem. Eu entendo, Akane reconheceu o gesto do amor de sua vida e o compreendeu. O amaria por toda a eternidade, sentiria saudades dele até o último dia de sua vida, mas compreendia. Foi muito feliz, namorou o melhor homem do mundo, ele sempre aceitou suas decisões e a apoiou, por isso, agora, precisava fazer o mesmo por ele. Hiroki chegou em sua sala, mas não estava desacompanhado.

A criança que Minoru salvou e a mãe dele vieram com o melhor amigo de seu namorado, o menininho tinha uma rosa em mãos. Akane andou até o pequeno, se agachou, segurou a rosa e abraçou o garotinho. Estava decidida a ficar do lado dele e a garantir que ele se tornasse um homem tão bondoso quanto seu Minoru.