Flowers escrita por SmileyPops


Capítulo 1
Capítulo Único




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Bakugou Katsuki é a pessoa mais arrogante que se pode conhecer entre os heróis recém formados da U.A. Ele é resmungão, grita e chinga todos em quilômetros de distância aos quatro ventos, para que escutem, e não liga para a opinião alheia. Ele é um grande homem, mas poucos realmente o conhecem. Poucos, como por exemplo, seu ex amigo de infância, Midoriya Izuku, ou sua mãe Bakugou Mitsuki, e talvez até mesmo seu atual melhor amigo - que se auto proclamou assim - Kirishima Eijirou.

 

Os poucos que realmente o conhecem, sabem que ele é muito diferente do que se permite mostrar. Quando em casa, passa uma estranha sensação de tranquilidade - se não estiver discutindo com a mãe - e é tão quieto que sua casa pode ser confundida com um templo.

 

Ele gosta de ler, usa óculos para isso, embora não permita que as pessoas reparem esses pequenos detalhes. E tem um conhecimento extenso - e perturbador, pensa Eijirou - sobre todos os tipos existentes de flores e seus significados, assim como gosta de ler todos os tipos de lendas.

 

Então, parando para pensar, não é surpreendente que Bakugou conhecesse Hanahaki Byou, a lenda da doença do amor, como é popularmente conhecida, mas doença das flores, para algumas outras pessoas.

 

Entre todas as lendas que Katsuki conhece, essa sem dúvida, sempre foi sua favorita, e provavelmente continuará sendo por toda a eternidade que ele tem pela frente. Afinal, como não achar linda a ideia de amar tanto alguém, a ponto de preferir morrer a perder suas memórias com a pessoa amada, escolhendo sufocar até a morte, sentindo galhos crescendo dentro de sua carne, te rasgando de dentro para fora, te fazendo cuspir as flores mais lindas, manchadas de sangue vermelho brilhante, flores que transmitem os medos e os anseios da pessoa amada.

 

Ele sempre quis entender, como pode o amor ser um sentimento tão poderoso, à ponto de existir gente disposta a morrer, antes de perde-lo?

 

Mas também, como poderia ele entender? Logo ele, tido como arrogante, insensível e incapaz de amar alguém se não a si próprio? Ele estava verdadeiramente cansado dessas pessoas, que não o conhecem mas ainda insistem em rotula-lo.

 

Qual não foi sua surpresa, quando, durante uma missão, ele se viu obrigado a parar. O caos se espalhando ao seu redor, os gritos ecoando ao fundo, e ele, parado no meio de tudo. Vendo seus amigos, ex colegas de classe e outros heróis profissionais, salvando pessoas, enquanto ele estava lá, totalmente paralisado, com uma sensação estranha na boca do estômago. Ele sentiu algo subir, direto da bile e grudando na garganta, ele tossiu e tossiu, para tirar a incômoda sensação, e foi quando saiu, uma pequena pétala amarela, totalmente limpa, sem nem mesmo uma gota de saliva.

 

Naquele momento, Bakugou não entendeu o que estava acontecendo, presumiu que tinha engolido a pétala sem querer em algum momento e ignorou, a jogando fora e voltando a lutar rapidamente, sem nunca perceber os pensamentos degradantes que rondavam sua mente, desestruturando sua saúde psicólogica, pensamentos esses tão frequentes, que já tinham virado rotina.

 

Mas não parou por aí. Alguns dias se passaram, era dia de folga e ele estava organizando a casa, um dos únicos momentos em que ele se permite ser vulnerável e deixar sua mente vagar para longe, para um mundo degradado e triste que só existe em sua cabeça.

 

Nesse mundo tudo era em tons de cinza, e qual não é a surpresa que os únicos pensamentos que rondam por lá, sejam exatamente aqueles, minúsculos pensamentos, que trazem destruição sem que Katsuki sequer perceba.

 

Aquele era o lar de seus pensamentos mais bem escondidos. Como o pensamento de que não importa o quanto ele tente, ele nunca vai melhorar, ele será sempre medíocre. Ou o pensamento de que não importa o quanto ele busque, ele nunca vai encontrar amor próprio.

 

Ele é só Katsuki, um ser humano falho, arrogante, desdenhoso de si mesmo, rejeitando a si mesmo, enojado de si até a última gota de sangue, odiando cada detalhe mínimo de sua existência, repudiando desde seu próprio cheiro até sua própria voz. 

 

É então que acontece outra vez, a estranha sensação no estômago, que pode ser facilmente confundida com borboletas batendo suas asas e tentando alcançar vôo, falhando repetidamente, caindo e levantando para tentar outra vez.

 

Ele tosse, e sente subir algo por sua garganta, arranhando, é doloroso e parece subir seco. Cai de sua boca, e ele vê duas flores inteiras. Uma é um cravo amarelo, representando o desdém, e também a forte rejeição, a outra é um lírio laranja, representando não só o desdém que sente por cada gota de seu sangue mas também o ódio que sente de si mesmo, seu fraco eu, e o falso orgulho exibido tão frequentemente. Ele não demora a compreender. Ele tem Hanahaki, ele vai morrer. O pensamento não o assusta, surpreendentemente, mas o deixa eufórico, como se a ideia de deixar esse mundo tedioso, essa rotina, lhe parecesse extremamente tentadora.

 

Ele para para pensar, e não compreende. Ele tem certeza de que não está apaixonado, então por que está com Hanahaki? Ele então para, pensa no significado das flores anteriormente cuspidas. Elas não definem ninguém que conheça, mas se encaixam perfeitamente em si, ele percebe.

 

Não demora a reparar, que o amor que o Hanahaki procura, não é amor carnal, romântico e digno de cantigas, como costuma ser em sua maioria, mas amor próprio. Para se curar, ele teria que amar a si mesmo, acima de tudo, porém isso é impossível, ele nem faz questão de tentar. Seria uma tentativa falha e totalmente fútil, pois para ele, amor próprio é um sonho distante, inalcançável por séculos e mais, se não, por toda a eternidade.

 

Mais dias passam, ele está com dor, tem galhos e raízes crescendo em seu interior, se forçando para fora, rompendo veias, criando buracos e cortes em sua pele, apenas para sair e tomar um pouco de Sol.

 

Durante os dias passados, mais flores inteiras foram tossidas junto com várias pétalas, todas incharcadas em sangue. 

 

A única flor não antes tossida, foi o gerânio de cor escura, vinho com os detalhes em rosa claro, representando a tristeza presente em todos os dias da vida dele desde que pode se lembrar.

 

Ele sabe que já não tem mais tempo, e ainda assim, está aliviado que finalmente está acabando, sente a dor em seu corpo aumentar, é difícil respirar, seus pulmões cheios de buracos e sendo espremidos por raízes e galhos cheios de flores, a esse ponto, já tem galhos saindo de seu interior e é possível ver as flores florescendo sobre sua pele.

 

Ele tosse novamente, saem flores lindas, manchadas em sangue carmesim, representando sentimentos profundos e anseios secretos, nunca ditos a ninguém.

 

Ele tosse um cravo amarelo, um gerânio de cor escura, um lírio laranja, uma rosa vermelha, uma tulipa vermelha, uma gypsophila e uma rosa de natal.

 

Prestes a morrer, ele pega um papel e uma caneta - ironicamente vermelha, ele percebe - e escreve um pequeno bilhete.

 

Depois de escrever, deixa o bilhete em sua escrivaninha, posicionada ao lado de sua cama, junto com as flores recém tossidas.

 

Ele finalmente deita e fecha os olhos. Uma dor alucinante o acomete, mas ele não solta sequer um grito, ele sufoca lentamente, morrendo, enquanto os galhos crescem rapidamente, e diferentes tipos de flores não param de sair da sua boca. Sem nunca parar de sorrir, seu último suspiro, enfim, se vai, esvaindo entre seus lábios. Sua expressão, suave e agora fria, denotando quão aliviado ele se sente em seu leito de morte.

 

O bilhete, deixado na escrivaninha, para ser facilmente achado, diz:

 

" Hanahaki Byou não é uma doença fictícia, e não existe apenas em lendas. Sendo uma doença causada não apenas por amor não correspondido mas também por falta de amor próprio, é uma doença trágica e ainda sim muito bela. Sufocando a pessoa em flores e raízes, que transmitem de seu jeito único, sentimentos que não devem ser esquecidos. Na minha ocasião, essas foram as flores e seus respectivos significados:

 

Cravos amarelos= representando o desdém que direcionei a mim durante todos os meus dias, e a rejeição que me auto submeti por não ser o que eu achava que devia;

 

Gerânios de cor escura= representando a tristeza presente em todos os momentos da minha vida, embora bem mascarada;

 

Lírio laranja= representando o meu falso orgulho e o ódio que senti por cada molécula do meu ser;

 

Rosas vermelhas e tulípas vermelhas= representando todos os tipos de amor que eu desejei ter um dia;

 

Gypsophila= representando a felicidade que almejei até o momento do meu último suspiro

 

E as Rosas de natal= representando a paz, o alívio, que encontrei em minha morte."

 

Bakugou foi encontrado no dia seguinte, em uma cama de sangue carmesim e belas flores, estava pálido, exatamente como um cadáver deve ser, tinha um suave sorriso no rosto, mais relaxado agora em sua morte do que esteve em toda a sua vida.

 

Ele foi enterrado junto com todas as flores que tinham saído de si, sua mãe tendo entendido o significado daquelas flores para ele, exigiu que não as removessem, e ele as levou com ele. 

 

Ninguém colocou flores em seu túmulo, entendendo sem palavras que Katsuki teve flores demais em sua vida. Sua mãe, porém, levou flores, sabendo que ele jamais enjoaria delas.

 

Mesmo depois de morto, as flores continuaram crescendo, pois mesmo após a morte, sua alma não encontrou o amor próprio, seja lá para onde tenha ido. Cresceu tanto, que em um ano, onde era seu túmulo, virou um pequeno canteiro de flores, mostrando a todos que iam visitar, as dores e os anseios de Katsuki.

 

Aquele mini jardim, encantador em sua pequena forma, era só uma amostra, dos jardins, em que Bakugou, era livre para estar pela eternidade, a partir de agora. Livre das dores e mesmo não se amando ainda, podendo sorrir verdadeiramente.

 

 


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