Na Medida Do Possível escrita por Mah


Capítulo 6
Capítulo 5




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O sol estava a pino, o silêncio os rodeava e Veronica e Aidan andavam lado a lado alerta sem conversarem para não atraírem a atenção indesejada. Ela tinha sua arma travada firmemente em sua mão apenas esperando o que viesse. Havia insistido para que Aidan ficasse com uma arma também, mas ele estava relutante. Os dois estavam andando à horas e a cidade parecia morta. Encontraram poucos monstros que nem se aproximaram dos dois.

Eles finalmente haviam chegado à zona comercial e precisavam tomar cuidado. Esse era o local mais movimentado, então deveriam haver vários monstros por aquela área. – Fica atrás de mim e faça o que tiver que fazer, mas não faça barulho. – Veronica sussurrou para Aidan e passou por sua frente. As janelas quebradas tornavam cada passo perigoso, mas o sol estava causando um calor excessivo que afastava até os monstros. Veronica queria tomar um banho poderoso. Porém, apenas ignorou o caminho de suor descendo pelas suas costas.

Não havia pessoas na rua além dos cadáveres. E os prédios estavam providenciando umas sombras para impedir queimaduras de sol, mas já era tarde, a dor viria com certeza. Tudo estava muito calmo, não que qualquer um dos dois quisesse lidar com um monstro no momento. Mas sempre é melhor saber a posição do inimigo do que a situação contrária. Talvez fosse o calor, ou o sol, ou o fato de não parecer que tivera passado uma alma viva naquele lugar em horas.

Eles precisavam parar um pouco. – Vamos entrar ali. – Aidan apontou para o shopping center da cidade e levemente puxou a Veronica. O shopping parecia um deserto ou o final de um apocalipse. Muitas lojas foram assaltadas e pessoas mortas estavam espalhadas no chão, vítimas de tiros – provavelmente policiais. "Cara, seja lá o quem for que causou isso, a pessoa será caçada até a morte." Veronica pensou. Mantiveram-se em silêncio até entrar na praça de alimentação e sentar em uma das mesas. – Você não acha estranho não termos encontrado um monstro até agora? – Perguntou ele enquanto abria um sanduíche de sua mochila e uma garrafa da água.

— Estava pensando nisso, acho eles são sensíveis ao sol... E lá fora está muito quente. – Veronica ainda sussurrava, mas estava bebendo água como se sua vida dependesse disso. Ela estava um tanto distraída, lembrando de quando os dois iam naquele mesmo shopping apenas para se divertir. – Acho que já estamos perto. Deve ter mais umas 20 ou 30 quadras daqui, se mantivermos o ritmo chegamos lá em um tempo razoável. – O sanduíche de Aidan tinha um cheiro forte de carne e estava congestionando sua respiração.

Ele tirou mais uma mordida e mastigava aproveitando o breve tempo sentado. Não queria admitir, mas andar todo esse caminho tinha causado calos nos seus pés e uma dor que sentiria depois. – Sim, daqui a pouco nós vamos. Só descansa um pouco. – Ele disse mais por ele do que por ela.

O silêncio se instaurou novamente, apenas ouvindo o barulho de goles e mastigadas. Aidan estava quase terminando quando Veronica notou pelo canto de seu olho. – Não se mexe. – Ele paralisou e apenas esperou as próximas direções. – Há três monstros parados ali. Quando eu disse já, coloque tudo na mochila e corra, ok? Nós vamos passar na loja de celulares, descer a escada correndo e sair em direção à rua 3. Se nos separarmos, me encontra perto da estação de bombeiros no final da rua. Entendeu? – Ela disse tudo enquanto observava o movimento dos monstros e guardava lentamente as coisas em sua bolsa. Ele concordou. – Já! – Ela gritou quando os viu indo em sua direção.

Em movimentos rápidos, ele guardou tudo enquanto ela atirou derrubando os três monstros, porém o barulho fez muitos outros aparecerem. Quando estava pronto, Aidan correu para a loja da esquina que ela tinha mencionado desviando dos infectados correndo para ele. Então, se virou brevemente para encontrar Ronnie e ela estava cercada. Não podia continuar, precisava ajudá-la. Criando uma distração, Aidan começou a jogar coisas pelo vidro do shopping causando um barulho enorme e abrindo espaço para ela sair.

Aproveitando a janela, Veronica correu na direção oposta aos monstros e encontrou Aidan a seguindo. Tiveram que fazer um caminho diferente do planejado e precisavam descer pelas escadas rolantes, mas eram muitas e apesar do que qualquer um pensa: descer uma escada rolante parada é diferente de descer uma escada normal. Os dois estavam juntos perto da porta por onde tinham entrado quando dois infectados agarraram Aidan por trás e o puxaram. Sem nem hesitar, ela pegou a arma e atirou na cabeça dos dois perfeitamente. Os dois correram porta afora para o sol que os aguardava.

Continuaram com a velocidade alta porque vários outros apareceram e não tinham munição suficiente. Veronica estava mantendo a conta e tinha apenas mais uma bala antes de precisar recarregar. Precisava ser "a bala" para um momento de vida ou morte.

Passaram por muitas lojas conhecidas e ela podia jurar que tinha visto pessoas normais em algumas delas. Mas não podiam parar e checar. Já tinha um tempo que estava sentindo-se seguida e isso a incomodava. Não eram os monstros, isso ela tinha certeza.

Os dois utilizaram toda a estamina que tinham para correr dez quadras desviando de carros e pessoas caídas. A respiração deles começou a falhar e precisavam parar. À distância, Veronica viu um beco que sabia dar em outra rua. Era estreito e passava despercebido para alguém com má visão. Segurou mais firme em Aidan e entrou.

Assim que fizeram a curva, o cheiro repugnante impregnou suas narinas, mas o beco estava vazio. Exceto por um ou outro rato, muitas latas de lixo transbordando e alguns carros abandonados. Eles cruzaram a rua o mais rápido possível, ela girou os dois e pressionou Aidan contra a parede. Pelo canto do olho, os monstros os perderam.

Eles podiam respirar. Veronica tomou alguns segundos, antes de notar o quão próximos estavam um do outro. Fato que Aidan já havia percebido. Ele sorria para ela e tentava se recompor. – Você está bem? – Ela perguntou quando conseguiu se afastar.

Ele estava sob efeito da adrenalina e seus ouvidos pulsavam muito alto, então levou alguns segundos para se recuperar. – Sim. Acho que sim. E obrigada. – Disse com uma voz cansada, mas sincera.

Veronica olhou em volta e sentou-se no chão sujo, sem se importar. – Pelo que? – Ela estava com uma dor de cabeça forte. Podia sentir uma veia no seu crânio pulsar enlouquecidamente.

— Por salvar a minha vida. Se não fosse por você, aqueles dois monstros teriam me matado. – Aidan falou como sendo a coisa mais óbvia que já tinha dito enquanto sentava ao seu lado.

— Nesse caso, obrigada também. Afinal, foi você que distraiu os outros para que eu pudesse fugir. – Os dois pareciam crianças apaixonadas. – Vamos dar uns minutinhos e aí a gente continua. Não estamos tão longe, eu acho. – Ela disse pegando seu celular para checar a distância. A bateria já estava na metade e ela não estava conseguindo sinal.

— Sim, estamos perto. O prédio está a umas doze quadras naquela direção. – Ele falou apontando para a direita. – Só mais uns minutinhos, por favor. – Ela apenas assentiu. Estava cansada também, seu corpo inteiro doía e precisava de um banho gelado urgente. Mas estavam em uma missão.

Tudo acalmou e aproveitando o silêncio, os dois ficaram observando seus arredores por segurança. Quando sentiu que já haviam relaxado demais, Veronica utilizou toda sua vontade e levantou desengonçadamente. Ao ficar de pé, esticou uma das mãos para ele. – Vamos, acho que está na hora. – Os dois retomaram o caminho, o sol já havia enfraquecido e o calor amenizado, então haviam mais infectados rodando o lugar.

Quando eles chegaram na praça próximo ao prédio, Veronica começou a se sentir incomodada. – Por que eu ainda me sinto observada? – Ela sussurrou para Aidan. Ela apertou a arma e gira em torno de si mesma paranoica. Seu sexto sentido lhe dizia que havia alguém ali, talvez ainda mais de uma pessoa. "Se fosse um monstro já teria atacado, certo?"

Aidan estava preocupado e segurou o braço de Veronica. – Acho que você não está bem Ronnie.

Continuaram a andar e já podiam avistar a CFCDG.

— Relaxa. Já estamos chegando. – Assim que terminou de falar, um barulho alto explodiu ao seu lado e depois veio outro. Alguém estava atirando neles.

Os dois saíram correndo enquanto vários outros tiros vinham. "Monstros não atiram. Quem está fazendo isso?!" Eles se esconderam atrás de uma árvore. – Não podemos ficar aqui ou seremos mortos. Talvez não por essas pessoas, mas pelos monstros que definitivamente ouviram. – Ela disse trocando a munição da arma.

— E o que você sugere? – Ele perguntou quando os tiros cessaram. – Por que não há um lugar seguro aqui perto.

— Podemos correr para o prédio... Mas acho que seria melhor resolver isso antes, porque não podemos já chegar atraindo atenção. – Havia um mercadinho ali perto, daria para sair por trás e chegar na rua do prédio. Talvez essa fosse a melhor opção. – Eu cubro você enquanto corre para aquele mercado. Você sai por trás e acha a sua mãe, ok?

Aidan se assustou com a ideia, então agarrou a mão dela. – Sem chance. Nós vamos juntos, é o único jeito. – Com o canto do olho, Veronica viu vários monstros aparecerem. – Ei, olha para mim. É tudo ou nada, somos uma equipe e é assim que sobreviveremos.

— Não temos tempo para isso Aidan! Eles estão bem ali e o que será que atirou na gente deve estar bem perto também. – Ela ajeitou a mochila nas costas. Aidan não estava convencido, agarrou a mão dela e correu.

— Então, atire! – Ela conseguiu derrubar dois monstros enquanto disparavam até o mercado. Desviaram como conseguiram, mas os tiros voltaram.

Aidan continuou correndo com a mão dela. Em sua mente, se ele o soltasse, ele a perderia. Ela iria fugir ... ela seria pega ... E qualquer cenário que ele pudesse imaginar seria desesperador e imperdoável.

Ao cruzarem a porta, eles fizeram barricadas com o que puderam encontrar e ainda estavam de mãos dadas. – Você deveria ter ido sem mim. É muito perigoso e eu preciso saber que, se necessário, você será capaz de fazer qualquer coisa para salvar a sua vida. – Veronica estava com raiva, agitada e extremamente estressada.

Aidan ficou furioso com o que acabara de ouvir. – Está vendo isso? – Ele levantou a mão dos dois. – Isso é o que vai salvar a minha vida! Nós! Porque não importa nada mais! Qualquer outro cenário em que eu sobreviver e você não, também acaba comigo! Você mesma disse que somos mais fortes juntos. Então, nunca mais sugira algo tão horrível. Se vamos fazer isso e sair vitoriosos, então temos que estar juntos até o fim. Me entendeu?

Veronica estava sem palavras. A intensidade com que ele falou foi muito forte. – Tudo bem, mas pelo menos se defenda melhor. Eu tenho a arma e eu vou salvar você. Por que se tiver que escolher entre mim e você, será você. Toda vez. – Ele respirou fundo tentando aguentar as emoções e a puxou até o corredor do mercado, que já fora claramente assaltado, onde tinha equipamentos de cozinha e pegou um dos facões disponíveis. – Já serve. – Não servia, mas é um começo. – Agora vamos.

— Sabe, esse foi um discurso emocionante. – Uma voz disse por trás deles. Os dois se viraram em um pulo e Veronica apontou a arma para a fonte. Um homem forte, com uma barba mal feita, de camisa xadrez vermelha e calças jeans surradas saiu de trás de uma estante ainda em pé. – Ei, não mate o mensageiro. Estou aqui apenas para ajudar vocês.

— Quem é você? – Veronica estava pronta para atirar. Entrou em frente a Aidan e se manteve firme.

O homem apenas os observou. – Vocês são muito fofos juntos. Alguém já lhes disse isso? – Ele levantou as mãos e segurou a arma dela. Antes de Veronica pudesse desviar, algo havia acertado a lateral de sua cabeça com força e ela caiu no chão.

— Ronnie! - Aidan tentou acertar o homem com a faca, mas quando ele se inclinou teve que parar, pois sentiu uma arma sendo pressionada contra a sua têmpora e a trava ser removida.

— Não se mexa. Apenas, faça o que eu disser e nada acontecerá com ela. – Alguém com uma voz fina disse atrás de si. E um homem gigante pegou Veronica no colo e passou a carregá-la em uma direção. – Siga-os.

 


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