Rato escrita por Killer Q


Capítulo 1
Rato




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Rato

Todo o dia a mesma coisa.

Todo dia a mesma sujeira, a mesma imundice.

Aquele líquido nojento espalhado pelo chão e até pelas paredes, os corpos apodrecendo no piso frio.

Não poderia estar melhor, afinal sou um rato, é um paraíso.

A carne não é fresca claro, às vezes tenho que roer aquelas roupas besuntadas em podridão,  mas quem se importa? Sou um rato.

Não me lembro da última vez que apareceram ou como eu fui parar aqui, sou o único vagando nesses corredores infestados de pulga e esgoto, mas ei, comida farta, não é mesmo ?

Consigo correr de um cômodo para o outro em questão de segundos, afinal sou um rato.

Petisco um pedaço de um dedo caído.

Ruídos. Fujo.

Bebo as gotas d’água que saem do cano velho e enferrujado.

Ruídos.

Os dias não são longos, as vezes olho da janela e vejo uma poeira cinza claro, pouco depois subo de novo e uma poeira e escura está lá, presumo ser a noite.

Paro num canto daquela sala imunda, e fico de costas ofegante.

Que cheiro horrível. 

Perco a noção do tempo. Escuridão e frio não me incomodam mais, e eu gosto.

Foi quando então uma tempestade começou a se formar, eu sabia porque senti o cheiro vindo da janela quebrada e a água invadindo os corredores.

Trovão.

Um baque seco explodiu a porta da frente e então a ventania invadiu todos os cantos.

Eu corri, fugi, e tentei me esconder,  mas algo me puxou antes que eu pudesse tentar.

Mordi a mão grande que me apertou e um gemido de dor ecoou pelo corredor.

Corri mais uma vez, e então um clarão de luz refletiu ao mesmo tempo em que parei com uma dor insuportável.

Não consegui me mexer.

Uma gritaria começou e então a mão grande me puxou mais uma vez.

Sou só um rato, há tanta comida por aqui nessa espelunca, peguem o que quiser.

Eu queria apenas voltar para meu canto  e encarar aquela parede e o silêncio de novo.

Desprezível, asquerosa.

— Pegamos ela!

Torpe, repugnante.

— Assassina! Tirem ela daqui!

Através do caco de vidro eu pude ver, e o reflexo me atingiu com a verdade que eu já sabia.

 

Afinal, eu sou um rato.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura!



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