Louis sempre teve sentidos aguçados quando se tratava de Legosi. E quando ele ainda estava na escola, ele dizia a si mesmo que obviamente era porque seu kouhai era um lobo, fazia todo o sentido para ele estar hiper ciente de sua presença.

Ele sempre foi capaz de notar quando Legosi entrava num ambiente, mesmo que o lobo tentasse tanto se misturar na multidão. Ele não conseguia enganar Louis. O som de seus passos, muito pesado para ser um herbívoro e muito inseguro para ser qualquer um dos outros carnívoros grandes, e até mesmo os movimentos de sua cauda sempre o denunciavam. Embora ninguém mais parecesse notar coisas assim.

Mas uma coisa ainda o está incomodando. Evitando que ele se lembrasse daqueles momentos da escola como o instinto de autopreservação de um herbívoro.

Ele conseguiu sentir o cheiro do sabonete de Legosi quando o abraçou há algum tempo. Quando ele pediu a Legosi para socá-lo e o lobo estúpido apenas deu um grande abraço nele.

Ele ainda consegue sentir o cheiro dele. Mesmo agora, muito fraco em seu terno, que ele estupidamente segura no escuro enquanto está deitado em sua cama sem conseguir dormir. Já faz um tempo, então ele realmente não sabe se o cheiro ainda está lá ou se é apenas sua imaginação. Sua memória do cheiro.

Ele nem mesmo tem um ótimo olfato para começo de conversa. Ele não é um predador. Bem, quebra o galho o suficiente para reconhecer outros veados-vermelhos ou mesmo distinguir entre espécies, entre herbívoros e carnívoros, mas ele costumava confundir animais da mesma espécie o tempo todo. E ele nunca se concentrou tanto em cheiros específicos. Ainda assim, ele consegue se lembrar deste muito bem.

É estúpido porque não é nem um odor muito característico, nem mesmo algo tão bom. Mas ele ainda não consegue evitar se lembrar exatamente como era. De quando ele nem pensava que era algo especial, quando cheirava isso todos os dias no pelo de Legosi, quando sua vida era muito mais simples.

Agora ele não vê mais Legosi com aquela frequência. Já faz tanto tempo que ele parou de contar os dias.

O fato é que, quando Legosi o abraçou, não cheirava apenas a sabonete. Cheirava a preocupação, alívio e felicidade. Cheirava como o lugar ao qual ele pertencia.

E talvez seja por isso que ele continua abraçando seu próprio paletó. Talvez seja por isso que ele ainda pode sentir o cheiro daquele lobo idiota.